1.3.25

Respect

 


Empresas temos muitas

 


«A discussão em torno da apetência de uma significativa parte de governantes e deputados para a criação e participação em empresas do negócio imobiliário e os argumentos que vão sendo expandidos em torno desta controvérsia exigem reflexão.

O primeiro-ministro (PM) meteu-se num atoleiro. Não é vítima de um “caso mediático”, ou de qualquer complô. Não está em causa ter tido uma empresa e, muito menos, o direito a não ter de abandonar “tudo o que foi a minha vida profissional”. Montenegro optou por não esclarecer, nos tempos e espaços devidos, o que devia ter esclarecido e, entretanto, evidenciaram-se expedientes que imporão novos desenvolvimentos políticos, jurídicos e éticos. O desgaste do Governo parece imparável. Também porque vários dos seus elementos estão em situações potencialmente idênticas à do PM. Veremos, este sábado, a decisão que toma e que passos se perspetivam da parte do presidente da República, hoje atascado em incoerências.»


Montenegro reage à manchete do Expresso

 



A saúde e uma vassoura

 


«Após a demissão de 13 conselhos de administração, Ana Paula Martins é a ministra da saúde que corre saudavelmente, não para pódios de mérito, mas para uma medalha de recordista. É difícil mudar tanto em tão pouco tempo, mas não há desafios que a ministra não abrace no que concerne à mutação. Com mais ou menos tempo de contrato, todos os administradores das unidades locais de saúde (ULS) procuram portos de abrigo em calmantes ou noites bem dormidas porque podem mesmo acordar exonerados sem noção de causa-efeito no processo de exoneração. Independentemente dos resultados, não há unidades a salvo. O que se passou no afastamento dos conselhos de administração das ULS de Gaia/Espinho e Tâmega e Sousa pode ser o caso mais gritante e terá seguramente muito mais a ver com quem sai do que com quem entra. Ninguém garante que não será possível fazer melhor, mas a questão é de saber se não se estava a fazer bastante bem ou o bastante.

Na ULS de Gaia, Rui Guimarães sai do cargo a saber pelos jornais sobre a sua exoneração, enquanto aguardava orientações da tutela sobre um mandato que terminara em dezembro. E esse é todo um modus operandi da tutela que resiste, por razões que se desconhecem, a mostrar atempadamente e à transparência o que quer e ao que vem. Não está em causa a nomeação de um novo conselho de administração para o Hospital, algo que estará sujeito à boa apreciação que o futuro julgará. O que mais espanta é a falta de noção de equilíbrio na gestão da substituição que só adensa a polémica sobre a forma como alguns braços do Governo de Luís Montenegro têm gerido nomeações e destituições, às vezes parecendo que se tomam decisões à revelia do primeiro-ministro ou não lhe dando total conhecimento sobre o que está em causa.

Um dia antes de completar um ano de serviço, João Ferreira, administrador da ULS do Algarve, é demitido por mail. Um caso de pontualidade e timing para evitar (por 24 horas) uma indemnização de um ano de serviço. Se o erário público agradece, o manual dos bons costumes torce-se. Não há previsibilidade nem moral que aguente num fim de linha tão precipitado. Há uma responsabilidade política de que Luís Montenegro não se pode alhear, mas é indesmentível que nenhum dos seus ministros pode alegar que tem no primeiro-ministro um gigante chapéu de chuva. E mesmo o caso da greve do INEM, grave e altamente discutível (como o relatório preliminar da IGAS comprova) é varrido pela ministra para debaixo de um tapete sem dono. Haverá mais a fazer pela saúde moral da saúde pública.»


28.2.25

Perfumes

 


Frasco de perfume “La Sirene”. Forma triangular de vidro transparente com uma única figura de sereia em estilo camafeu.
René Lalique.

Daqui e não só.

28.02.1969 – O sismo

 


Para mim, foi assim. Eu dava então aulas na FLUL, o meu salário não chegava a dois contos por mês, acrescido de mais um conto e tal por dar também teóricas – uma vergonha, mesmo para a época.

Mas já devia haver «cativações» na era de Marcelo (o Caetano) e, chegados ao fim de Fevereiro de 69, ainda não nos tinha sido pago um tostão do tal acréscimo precioso a que tínhamos direito. Alguém se lembrou então de pedir uma audiência ao ministro da Educação, José Hermano Saraiva, e, audiência concedida, lá fomos recebidos em grupo ao fim da tarde do dia 27. Saímos com a certeza de que o problema seria resolvido (e foi) e resolvemos acabar a tarde e a noite a festejar em casa do irmão de uma das contestatárias.

A conversa durou até altas horas da noite, cheguei a casa a caí num sono à prova de bala – e de tremor de terra. Ou seja: não senti nada, não acordei. E foi assim que falhei a única hipótese de ver os meus vizinhos em cuecas nas ruas de Lisboa.
.

Passaram oito anos

 


Já houve um 28 de Fevereiro em que cheguei a Sydney ao nascer do dia e que fotografei isto. Numa viagem maravilhosa, ainda bem que não previa o estado deste mundo em 2025.

Banalmirante Gouveia e Melo

 


«Oficialmente, Gouveia e Melo ainda não se candidatou a Presidente da República, mas depois do texto que publicou aqui no Expresso, na semana passada, já não há dúvida nenhuma de que é candidato a Miss Universo. O almirante deve guardar este discurso para quando, em Novembro, receber a faixa e a coroa das mãos da sua antecessora, a dinamarquesa Victoria Kjær Theilvig, ocorrência que me parece inevitável. O texto começa com esta ideia admirável: “Defendo uma Justiça célere.” Outros candidatos talvez tenham receio de repelir todos os cidadãos que preferem uma justiça morosa, mas Gouveia e Melo tem a coragem dos militares. O terceiro parágrafo abre com outra bomba: “Defendo uma administração pública independente e competente.” Desenganem-se os apreciadores de uma administração pública incompetente. Com Gouveia e Melo não contam. Quarto parágrafo: “Devemos ambicionar uma sociedade próspera, com um elevado nível de vida.” Ora, até que enfim. Quem andou a propor sociedades mais pobres, e com níveis de vida baixos, que se envergonhe. Com a ajuda de Gouveia e Melo descobrimos agora que o ideal é termos prosperidade e um nível de vida elevado. Eu bem andava desconfiado, mas a mim ninguém dá ouvidos. Espero que esta ideia seja mais bem acolhida agora que é defendida por Gouveia e Melo. A seguir, o almirante acrescenta: “Devemos combater a pobreza.” Portanto, em vez de promover e incentivar a pobreza, combatê-la. Ao princípio parece estranho, admito. Mas quando se pensa bem no assunto, verificamos que Gouveia e Melo tem razão. Pois a riqueza é boa, e a pobreza não é tão boa. O almirante vai mesmo mais longe: “Importa transformar uma economia estagnada numa economia dinâmica.” É um debate antigo que finalmente se encerra: Gouveia e Melo garante que o dinamismo é melhor do que a estagnação.

Não quero que o leitor pense que adiro acriticamente ao discurso do almirante. Tenho críticas a fazer. Por exemplo, a certa altura, Gouveia e Melo escreve: “Do operário ao empresário, do estudante ao professor, do médico ao Presidente da República, somos um só povo, habitamos o mesmo território e partilhamos um destino comum. (…) Nunca é demais recordar que nas democracias liberais, o poder do Estado está dividido entre um poder legislativo e um executivo, independentes entre si, com tendencial preponderância para o primeiro. Existe ainda um terceiro poder, o judicial, com o fim de administrar a justiça de forma equitativa e independente, com base nas leis promulgadas. (…) No regime semipresidencial português, o Presidente da República é o garante último da Constituição (…). O Presidente não governa.” Incompreensivelmente, o almirante fica por aqui, quando podia acrescentar alguns pensamentos do mesmo género, tais como: “A chuva molha.” Ou: “O dia tem 24 horas.” Ou ainda: “Cair do 10º andar é perigoso.”

No final, o almirante ainda tem tempo para fazer uma forte autocrítica, quando escreve: “Não basta sonhar ou recorrer a discursos elaborados, repletos de fórmulas gastas e banalidades cínicas. (…) É tempo de ir além do óbvio.” Isto é que é humildade.»


27.2.25

Transparências

 


Jarra com malvas e borboletas, de vidro fixo soprado. 1885-1889.
Émile Gallé.

Daqui.

A Paz é um Intervalo

 



«O erro não foi apenas acreditar que era definitiva. Foi acreditar que era gratuita. Que a segurança europeia era um efeito secundário da democracia, um privilégio da civilização, um direito adquirido. Trinta anos de luxo fizeram-nos esquecer uma regra básica: quem não se prepara para a guerra, está a preparar-se para perder uma.

A ilusão durou até 2014. A Rússia anexou a Crimeia, a Europa ameaçou, sancionou, discursou. Putin ouviu e avançou. Em 2022, invadiu a Ucrânia. A Europa hesitou, debateu, avaliou, financiou. Três anos depois, os Estados Unidos da América decidem que a ameaça não é a Rússia, nem a China. A ameaça é a própria Europa.»


Quem fala assim não é gago

 


Eleições presidenciais e melancolia democrática

 


«1. Portugal orgulha-se de ter sido pioneiro da Terceira Vaga de Democratização, tendência que abalou regimes autoritários e totalitários no último quartel do século XX. Mas não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe. Na viragem do milénio instalou-se uma vaga de sinal contrário, levando à des-democratização ou derrapagem democrática. Contrariamente ao período entre as duas guerras do século XX, com os fundamentos da democracia atacados teórica e praticamente por meios violentos, expressos em golpes de Estado, pronunciamentos militares, fraudes eleitorais e afins, o que caracteriza a Terceira Vaga de Autocratização é a apropriação por meios democráticos de postos-chave no aparelho de Estado e a sua captura por actores que desvirtuam o seu funcionamento (limitando a independência do poder judicial, controlando a circulação de informação, manipulando a administração eleitoral, reforçando o carácter repressivo e a arbitrariedade, etc.).

Um exemplo do modus operandi destes novos autocratas vem da Hungria, que deixou ser uma democracia no sentido que a UE lhe confere. A ela se aplica a caracterização do processo feita por Nancy Bermeo: debilitação ou eliminação, a partir de instâncias do próprio Estado, das instituições que caracterizam o Estado de Direito.

2. A vaga autoritária prospera de mãos dadas com o que se tem chamado melancolia democrática. A democracia tem vindo a perder a sua aura de regime bom e governação decente, sublinhando-se o crescente fosso entre promessas e realizações dos sistemas representativos, prontos a acolher comportamentos em clara oposição aos valores que apregoam: atitude diferenciada da Justiça perante ricos e restante população, teias de favorecimento individual em detrimento dos processos legais, etc. A ideia de um Frei Tomás ganha terreno. Este novo mundo de “percepções” – umas com fundamento exíguo, outras com clara base de sustentação – gera frustração, raiva, desespero, desconfiança, desilusão, e o sentimento de que o interesse pessoal da elite – na qual se incluem “os políticos” – se sobrepõe ao interesse colectivo. Bem se pode dizer que uma andorinha não faz a Primavera, e que casos e casinhos são indevidamente empolados: os eleitores que sentem na pele um declínio da sua qualidade de vida estão predispostos a distanciar-se de quem podem responsabilizar por essa evolução negativa, e a dar ouvidos a quem critica “o sistema”. A melancolia democrática não equivale a soluções populistas que condenam a sua essência e atinge tanto monarquias constitucionais como regimes republicanos, sejam eles parlamentaristas, presidencialistas ou semipresidencialistas. Não é o modelo institucional a questão-chave: são as políticas públicas.

Não há dúvida de que se vive melhor em Portugal do que em 1974; mas, depois da Revolução, tivemos períodos de maior prosperidade e melhor agenda redistributiva. O índice de distribuição de rendimentos revela nos últimos anos maior concentração de riqueza no estrato superior da sociedade (após ter tido um comportamento oposto nos anos da “geringonça”). Esta evidência conta na apreciação do “sistema” que uns se propõem substituir ou destruir, e outros conservar com retoques na fachada. Mas isso não é uma fatalidade.

Se na Europa com um desempenho económico anémico o populismo cresce, em Portugal as receitas europeias que reduziram o leque de opções políticas democráticas e conduziram a uma deterioração do Estado Social e à degradação dos serviços públicos dificilmente poderiam ter outra consequência. A democracia, dizia Lincoln, é o governo do povo, pelo povo – e para o povo. Não vive sem uma componente substantiva a par das suas formalidades. No quadro actual, apenas um em cada cinco países que iniciam o movimento de ruptura com o Estado de Direito consegue travar a tempo de cair do outro lado do muro.

3. As visões populistas identificam a elite que abominam com os partidos, sobretudo os que alternam na governação. Disso é testemunho o crescimento da extrema-direita em Portugal, hoje com 50 deputados no Parlamento. Mas também o forte impacto de quem geriu longos meses um silêncio ambíguo com que se quis distanciar do statu quo – ou do “sistema”? – e cujas ideias plasmou agora num artigo-manifesto.

Uma crítica ao (mau) funcionamento dos actuais partidos não é necessariamente uma atitude populista. Essa pressente-se no modo como Gouveia e Melo entende o estatuto e os poderes presidenciais, avantajando-os como é típico dos “salvadores da pátria”, invadindo esferas executivas e legislativas. Lembra a “Síndrome do Palácio Errado” que levou dois presidentes de Timor-Leste, descontentes com os seus (limitados) poderes constitucionais para determinar uma agenda de políticas públicas alargada, tal como a que nos propõe, a abdicar da recandidatura e a optar pela formação de partidos concorrentes ao cargo de primeiro-ministro.

É certo que o semipresidencialismo tem elasticidade para contemplar um leque alargado de equilíbrios de poder, acentuando o pendor presidencial ou pesando mais a conjuntura parlamentar. A função presidencial, seja qual for o hábito que o monge vista, é de natureza eminentemente política, e não, como se apregoa, de índole institucional (dizia Jorge Sampaio que o Presidente da República não é um supernotário). Mas não abarca o exercício do poder executivo nem as competências parlamentares.

4. Perante este cenário, que nos oferece o mercado político das presidenciais? Candidatos com (estreita) base vincadamente partidária – e uma excepção significativa, que toca um ponto sensível do eleitorado. Temos já candidaturas do Chega, da IL, do PSD e é possível que na direita partidária apareça ainda mais alguém; antevemos à esquerda candidaturas do PCP e quiçá do BE. O PS, a quem a divisão da direita permitia sonhar com o regresso a Belém se se dispusesse a apostar numa candidatura agregadora concebida em função da base social, e não do aparelho partidário, parece entretido em desvalorizar o eleitorado que aspira a um outro registo político – que é, aliás, o legado de Soares e Sampaio.

Isso mesmo vai dizendo o almirante Gouveia e Melo, que entende a melancolia democrática e o cansaço com o statu quo – mas parece não se furtar a tentações fora do quadro constitucional. Não compreender o seu eco junto do eleitorado pode ser dramático, e abrir portas para uma aventura com alguém cuja formação o leva a privilegiar a obediência ao comando hierárquico em detrimento da responsabilização perante os pares e em relação àqueles que deve servir – os eleitores. A tradição civilista da II República é de equilíbrio de poderes limitados e responsabilização vertical onde a palavra decisiva vem da base – não do “chefe”.

A esquerda democrática já forjou virtuosas soluções envolvendo diversas formações e a sociedade civil. O PS parece estar empenhado em seguir essa via nas autárquicas de Lisboa. Porquê, então, o afunilamento das opções para dentro do aparelho partidário, reforçando a conotação com uma atitude situacionista em acelerado descrédito e não reformista como se impõe para combater eficazmente os perigos do momento?

D. Sebastião nunca esteve tão perto de ser eleito Presidente da República Portuguesa.»


E se os imigrantes parassem por três dias?

 


26.2.25

Biscoitos

 


Pote para biscoitos de louça azul floriano. Cerca de 1898.
William Moorcroft.


Daqui.

A vitória da «Tourada»

 


Foi em 26.02.1973. Nessa noite, juntaram-se grupos de amigos para assistir à final do Festival da Canção, com pequena esperança de que a «Tourada» vencesse. Mas venceu e as pequenas fintas vitoriosas tinham valor nessa época de triste memória – e eram raras.



Apesar de tudo, a Europa move-se

 


«Um desabafo sobre a triste ausência de Portugal no dia em que a esmagadora maioria dos líderes europeus e das instituições europeias convergiram para Kiev para manifestar o seu apoio inabalável à resistência heróica do povo ucraniano e do seu Presidente, na passagem dos três anos da guerra provocada pela invasão russa. Luís Montenegro estava com dificuldades de agenda, imagine-se. Tentou participar via videoconferência, mas não pôde devido a falhas técnicas. Na quarta-feira da semana passada, também tentou participar na reunião alargada de líderes europeus que Emmanuel Macron convocou para o Eliseu, mas houve de novo falhas técnicas. Nessa altura estava no Brasil.

Das duas uma: ou a assistência técnica do seu gabinete é incompetente ou o primeiro-ministro achou que não valia a pena o esforço. Conclusão: a nossa irrelevância política no quadro europeu caminha para o desastre.»

Teresa de Sousa
Newsletter do Público, 25.03.2025

Gouveia de Melo e Tonicha

Sempre que o primeiro abre a boca, lembro-me disto que podia dar um belo hino de campanha.




Alemanha e a decadência da social-democracia

 



«A AfD teve 20,8% e ficou em segundo lugar, exatamente como se temia. E, no entanto, vejo alguns democratas fazerem uma festa. Porque não foi desta. Este foi o melhor resultado da extrema-direita desde a segunda guerra. E, apesar das doses cavalares de desinformação, Musk não teve grande coisa a ver com isso. A sua intervenção mais direta nas eleições alemãs até parece ter tido um efeito contraproducente. As razões são mais comuns.

A subida da CDU/CSU não é propriamente extraordinária: mais 4,4 pontos percentuais e mais 11 deputados. Menos do que o objetivo de ultrapassar os 30%. Aquilo a que assistimos é à queda de todos os que estiveram no último governo, como tem acontecido um pouco por toda a Europa. O SPD perde 9,3pp (e 86 deputados), sobretudo para a CDU, a AfD, o Die Link e o BSW, por esta ordem. O FDP perde 7,1pp e é varridos do parlamento (as derrotas dos liberais europeus sucedem-se), esvaziando-se para a CDU e a AfD. E os Verdes perdem 3,1pp (menos 33 deputados), perdendo sobretudo para o Die Linke, mas também para a CDU. Em compensação, a AfD ganha 10,4pp (mais 69 deputados), conquistando muitos votos à abstenção e, quase em igualdade, ao SPD, à CDU e à FDP. O Die Linke (Esquerda) ganha 3,9pp (mais 25 deputados), buscando votos aos Verdes e ao SPD, a que se juntam os quase 5% (um pouco abaixo, não elegendo deputados) do BSW, a cisão populista de esquerda de Sahra Wagenknecht que até caçou mais votos ao SPD do que ao Die Linke.

A razão para estes resultados parece ser a mais clássica possível: os preços, o custo de vida, a economia. 83% dos alemães dizem que a situação económica é má, contra 39% em 2022. E o eleitorado em que esse resultado é mais alto é da AfD (96%), bastante concentrado na Alemanha de Leste, o que deveria levar os alemães a fazerem um balanço da forma como fizeram a reunificação. O segundo é da CDU.

Foram as mulheres mais jovens das cidades que impediram que a vitória da direita fosse mais retumbante. Votaram 9% na AfD, 9% na CDU, 12% no SPD, 22% nos Verdes e 34% no Die Linke. A clivagem etária e de género tem sido comum em várias eleições. A Esquerda teve um resultado surpreendente (quase duplica a votação) porque conseguiu liderar e mobilizar o voto antifascista, depois da cedência da CDU na imigração, e porque fez uma campanha centrada na crise da habitação, conquistando o entre os mais jovens (até aos 24 anos), onde conseguiu 25% (a AfD 21% e a CDU, SPD e Verdes entre 11% e 13%).

Quando se olha para a avaliação que os eleitores do Die Linke fazem da situação económica e o seu nível de escolaridade, percebe-se que não foi para aqui que o voto mais popular e trabalhador se deslocou. A Esquerda tem, no entanto, outra vitória: para além de subir quando acontece a sua maior cisão, impede, por 0,03% pontos percentuais, que o movimento populista de Sahra Wagenknecht entre no parlamento. É verdade que tira peso relativo ao conjunto da esquerda, mas pode ter esvaziado a tentativa de ceder ao pior da direita para resolver as dificuldades e contradições da esquerda.

A AGONIA DO SPD

Estrutural é a crise do centro-esquerda e da social-democracia. É, na verdade, a grande questão política da Europa desde a terceira via. Não é a cultura “woke” ou outros assuntos laterais. É a incapacidade da social-democracia e do socialismo democrático representarem os trabalhadores. Porque a social-democracia desistiu de ter um programa autónomo, trabalhista e de defesa do seu modelo social. Deixou de se perceber a sua utilidade, para além da alternância (e, na Alemanha, recorrente convergência) com a direita liberal e conservadora.

É bom recordar que, em 2013, o SPD, que ficou em segundo, perdeu a oportunidade de fazer uma “geringonça” com os Verdes e a Esquerda, preferindo aliar-se a Merkel, que tinha tido um excelente resultado, mas sem maioria. Desde então, não parou de cair, com exceção de 2021, onde, ainda assim, teve exatamente o mesmo resultado de 2013. Até esta tragédia.

No domingo, o SPD teve menos do que em 1933 (18,25%), quando os nazis chegaram ao poder. E a AfD teve três vezes mais apoio entre os trabalhadores do que o SPD. Em 2013, a divisão do voto trabalhador era de 35% para a CDU, 27% para os SPD e 6% para a AfD; em 2017, 25% para a CDU, 24% para o SPD e 5% para a AfD; em 2021, 20% para a CDU, 26% para o SPD e 20% para a AfD; nas vésperas destas eleições era de 22% para a CDU, 12% para o SPD e 37% para a AfD. Em 1998, 54% diziam que confiavam mais no SPD para garantir a justiça social, descendo para 40% em 2021 e 26% em 2025.

NA PIOR ALTURA, SIDECAR DA CDU?

É perante isto que o debate que se segue obriga a clarificações. Com o que aconteceu nos EUA, boa parte da direita democrática começa a perceber que, ao seu lado, está a quinta coluna. Mas a proposta de autonomia militar da Europa levanta um outro debate que, como outros, temo que seja ignorado pelo centro-esquerda: quem paga o investimento em defesa?

A proposta que estará em cima da mesa será a de desmantelar o Estado Social, que a direita liberal e conservadora quer acabar de privatizar. É tratado como um luxo que só podemos pagar por não termos de nos defender, e não como o mais forte instrumento de proteção das nossas democracias e daquilo a que, de forma abusiva, se chama o “nosso modo de vida”. Não é difícil imaginar o que acontecerá se esta opção vencer: os aliados de Trump e de Putin vencerão por dentro enquanto nos tentamos defender por fora.

A escolha entre a Defesa e o Estado Social é a de quem quer poupar os do costume de contribuírem para pagar a fatura. Ou o centro-esquerda tem outra resposta para este dilema, ou pode começar a vender as suas sedes, que a alternância da direita liberal e conservadora será feita com outros, à sua direita.

Friedrich Merz representa uma guinada da CDU à direita. O milionário, que alimentou um forte antagonismo com Angela Merkel, tem uma relação promiscua com os interesses corporativos (sobretudo norte-americanos) e uma visão vincadamente neoliberal da economia e do futuro do Estado Social. Se a opção do SPD for, como tudo indica que será, voltar a ser o sidecar desta CDU, para defender a Alemanha da extrema-direita, é possível que só esteja a preparar a Alemanha para a vitória da AfD, porque deixa de haver alternativa à CDU. A escolha é difícil, mas talvez seja definitiva. E talvez a festa que alguns fazem com a tragédia de domingo seja porque sentem que, para travar a extrema-direita, o centro-esquerda se suicida, dando votos à extrema-direita.»


25.2.25

A Imobiliária é a nova árvore das patacas?

 


Hugo Soares e Aguiar-Branco também detêm imobiliárias





A deficiência ainda é motivo para humilhação e insulto?

 




Temos de ter uma conversa (8)

 




Ucrânia, a solidariedade que se impõe

 


«No início da invasão da Ucrânia, era comum a ideia de que Vladimir Putin se tinha enganado nos cálculos. As tropas russas não tinham chegado a Kiev, nem deposto Vlodymyr Zelensky, como parecia ser inevitável. Pelo contrário, a resistência ucraniana rechaçou o avanço russo, de forma surpreendente, e foi capaz de reconquistar algum território.

A NATO saiu da “morte cerebral” que se encontrava, em 2019, segundo a opinião do presidente francês, Emmanuel Macron, uma conclusão que Donald Trump, no seu primeiro mandato presidencial, considerou ser “desagradável” e uma “falta de respeito”.

Suécia e Finlândia, dois vizinhos russos preocupados com eventuais réplicas da invasão ucraniana adeririam, apressadamente, à aliança transatlântica. A invasão gerou a união ocidental, a reprovação internacional, mas condescendência no chamado Sul Global.

Três anos depois, ninguém o calcularia, Vladimir Putin vence em toda a linha. O plano de vitória de Zelensky tornou-se um plano de derrota. O plano de paz de Trump é um plano de imposição e de capitulação. O presidente dos EUA tem pressa, como se constata por este primeiro mês do seu mandato.

E as condições de um cessar-fogo são as condições impostas por Moscovo. O presidente russo não poderia ter melhor porta-voz. Joe Biden dizia que o presidente Putin era um “criminoso de guerra”, Donald Trump diz que “Zelensky é um ditador”.

No fundo, Putin tem todas as razões para achar que a invasão valeu a pena: a Rússia ganhou mais 20% de território ucraniano, a possibilidade de voltar a atacar será sempre uma ameaça iminente, alargou a sua esfera de influência, reforçou o seu estatuto de potência mundial e a possibilidade de “morte cerebral” da NATO é um diagnóstico mais realista do que nunca.

Não foi preciso vencer a guerra, caída há muito tempo num impasse. Trump deu-lhe tudo isso de bandeja. Os dois têm muito em comum, para além do desprezo que têm pela Europa e a vontade de a minarem por todo o lado.

Há uma nova ordem mundial a nascer, tudo o que Putin e Xi Jinping mais queriam, e o que ela nos diz é que é totalmente contraditória com a organização mundial nascida das cinzas do pós-guerra. Os dois fizeram questão de reforçar a “aliança sem limites” entre ambos, no dia do terceiro aniversário da invasão, e não é de descartar que a aliança até possa ser alargada a três num futuro próximo.

É duvidoso que a estratégia de Trump seja a estratégia de Nixon invertida, quando Washington e Pequim se aproximaram no início da década de 70. Xi Jinping foi, de resto, o único chefe de Estado convidado para a tomada de posse de Trump. A lógica hoje é outra, nada tem a ver com democracia ou valores, a oposição entre duas superpotências em campos literalmente opostos, mas apenas com recursos e território, extorsão e invasão. E nisso Trump, Putin e Jinping terão os seus interesses e cobiças na divisão do mundo e das suas áreas de influência.

Cabe à União Europeia continuar solidária com a Ucrânia e com a salvaguarda dos valores da democracia, sem o apoio dos EUA, que irão acentuar a sua faceta autocrática.

Os líderes europeus, acompanhados pelo Canadá ou Islândia, transmitiram essa solidariedade na efeméride do terceiro aniversário da guerra, deslocando-se à Ucrânia. Embora abandonada, a UE não pode abandonar a Ucrânia. O facto de novas sanções terem sido aplicadas à Rússia e de novas ajudas terem sido dispensadas à Ucrânia é a coerência que é necessária para não desistir, defender um acordo de paz no qual Kiev tenha voz e no qual Bruxelas também participe. O plano de Trump é evidente: cessar-fogo, eleições, acordo de paz e exploração dos recursos. A Europa que pague a reconstrução.

As eleições alemãs, pelo menos, garantiram alguma previsibilidade e alívio, na medida em que a formação de um governo não será uma tarefa esdrúxula e dela não fará parte a Alternativa para a Alemanha (AfD), para desgosto de Elon Musk e de J.D. Vance.

O futuro chanceler Friedrich Merz sabe que, internamente, esta pode ser a última oportunidade para dar resposta a inquietações e problemas do país antes que a extrema-direita radical tome o poder e, externamente, que o melhor é fazer planos de segurança sem contar com os EUA, mas sim com um triângulo Paris-Londres-Berlim. Na prática, não é apenas a NATO que poderá padecer de “morte cerebral”. Seria lastimável se fosse esse também o destino europeu.»


24.2.25

Moedas? Não acerta uma

 


24.02.1927 - David Mourão-Ferreira

 


David Mourão-Ferreira faria hoje 98 anos. Um dos nossos grandes poetas do século XX, ficcionista também (quem não se recorda de Um amor feliz), acidentalmente político como Secretário de Estado da Cultura, de 1976 a Janeiro de 1978 e em 1979, autor de alguns poemas imortalizados pelo fado, na voz de Amália Rodrigues.

Dois poemas ditos pelo próprio:






Amália:




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Ou Milei é idiota, ou Milei é burlão

 


«Pela primeira vez, um chefe de governo promoveu diretamente uma criptomoeda específica. Pela primeira, um chefe de governo está a ser investigado por uma acusação de fraude por causa disso mesmo. Como não podia deixar de ser, o estreante é Javier Milei, o libertário que preside aos destinos da Argentina. O episódio retrata bem como governa – despreocupado com os efeitos dos seus atos –, para quem governa – um círculo próximo que beneficia diretamente das suas ações – e em que se apoia o seu governo – o burburinho caótico das redes sociais e canais de informação de amigos domesticados.

Apenas três minutos depois da sua criação, Milei promoveu uma memecoin junto dos quase quatro milhões de seguidores que tem na rede X. Avalizando a sua credibilidade, indicou que “este projeto privado se dedica a fomentar o crescimento da economia argentina através do financiamento de pequenas empresas e empreendimentos argentinos”.

A $Libra, era esse o nome da memecoin, teve um crescimento fulgurante, chegando aos 4500 milhões de dólares de valorização em apenas três horas. Foi sol de pouca dura. Nove dos criadores da $Libra, detentores de 87% das moedas virtuais, venderam de uma vez o valor que tinham e o valor da memecoin colapsou, tirando todo o dinheiro investido. Pelo menos 5000 investidores perderam mais de 100 milhões de dólares. Seis horas depois da sua publicação original, Milei apagou o tweet e, perante o crescente ultraje e ruído criado pelo seu apoio a um esquema deliberadamente fraudulento, respondeu que “não conhecia os detalhes do projeto”.

Sem valor subjacente e com muito menos mecanismos de controlo, segurança e estabilidade que criptomoedas consolidadas como a Bitcoin, as memecoins são um subproduto altamente volátil e especulativo, dependendo da ligação a uma figura pública com elevada popularidade que lhes dê notoriedade, e, acima de tudo, credibilidade. É por isso que o papel de Milei, sem o qual esta memecoin seria uma das largas centenas ou milhares de ativos virtuais que nunca chegam a ter destaque, é tão central nesta fraude.

FUGA ESTREITA

Apesar de passar a ideia de que quer ser interesse em ser investigado, a sua via de fuga é estreita, para não dizer impossível. O nome da moeda ($Libra) é uma recriação do nome do seu partido, “Liberdade Avança”, a promoção usa o mesmo slogan da sua campanha, e o principal cérebro da operação foi um dos seus assessores económicos, tendo reunido com Milei poucos dias antes do lançamento da criptomoeda. Ninguém promove um projeto, três minutos depois de este estar disponível, sem o conhecer previamente e a ele estar ligado.

O momento que se seguiu, a tentativa de contenção de danos políticos, conseguiu ser ainda mais delirante do que a entrada tresloucada num projeto que cheirava a fraude a quilómetros de distância. Mesmo tratando-se de uma entrevista combinada, e com as perguntas validadas e anotadas pela sua mulher e pelo consultor político, o desastre foi total.

Começa logo, pelo amadorismo com que a televisão, propriedade de um dos seus principais apoiantes, deixou visível na net a versão integral da entrevista, onde o jornalista confessa a forma amigável e combinada como tudo se iria desenrolar. Mesmo assim, as respostas foram tão inconvenientes, que o referido consultor teve de interromper a meio, indicando que estava a ir por caminhos que poderiam dificultar a sua possível defesa perante a justiça argentina e norte-americana.

A denúncia contra Milei, que está a ser analisada por uma juíza federal argentina, acusa-o de fazer parte de uma associação ilícita, fraude e violação dos deveres de um funcionário público por violar a Lei de Ética Pública. O advogado, que se imagina será o primeiro de muitos nos próximos dias, diz que o golpe “foi realizado através de uma operação conhecida como rug pull, que ocorre quando os desenvolvedores por trás de um projeto lançam um token e atraem investidores para aumentar seu valor, depois se retiram abruptamente e levam o dinheiro”.

DIZ QUE É IRRESPONSÁVEL, NÃO DESONESTO

A tudo isto, Milei começa por dizer “não promovi, difundi”, uma curiosa variação semântica para dizer o mesmo. Depois, diz que a conta que usou é a privada e não é oficial, caminho complicado quando todas as suas principais propostas e medidas políticas são anunciadas nessa mesma conta. Por fim, diz não conhecer os detalhes e desconhecer o funcionamento das criptomoedas, sendo apenas um “fanático pela tecnologia” sem conhecimento. Isto vindo de quem, ainda há quatro anos, ganhava a vida vendendo cursos e palestras sobre criptomoedas. Noutra tirada, explicou que encara o assunto como tudo na sua forma de ver o mundo: “se vai ao casino e perde dinheiro, queixa-se de quê?” Só que as regras num casino são conhecidas e não é costume o proprietário vender todos os ativos a meio do dia e todos os clientes ficarem sem o dinheiro. Só que regras estáveis, informação transparente e equitativa, igualdade de oportunidades, é tudo o que estes libertários desprezam. A liberdade em que acreditam é a da selva.

EMBARAÇO PARA OS FÃS NACIONAIS DE MILEI

Corruptos na política argentina, seja à esquerda ou à direita, não são uma novidade. A grande diferença é que Javier Milei é coerente com a sua ideologia amoral e promotora da selvajaria social e económica.

Na última convenção, e depois de hesitações e dissimulações, a Iniciativa Liberal foi mais clara na aproximação ao presidente preferido de Trump. Aquele que melhor sintetiza a extrema-direita do século XXI: autoritária, antissocial e libertária. Na realidade, a aliança entre liberais e autoritários de direita não é nova. Hayek tinha simpatias por Salazar e os Chicago Boys foram fundamentais para política económica de Pinochet. A ditadura (ou o caos social que provoca o desnorte político, como aconteceu na Argentina) torna mais fácil a imposição de políticas antissociais. Que até podem ter resultados passageiros (assim aconteceu na ditadura chilena), mas que não deixarão de ser pagas de forma brutal na crise seguinte.

Esta saída do armário não corresponde, como li, a uma guinada à direita. O liberalismo social da IL sempre foi positiço. O económico sempre se ficou, no essencial, pela descida de impostos e privatização de serviços públicos. Ninguém se lembra dos atuais dirigentes da IL nas lutas pela igualdade, antes da fundação; e nunca os vimos na linha da frente contra monopólios privados e pelo papel regulador do Estado. É um partido tendencialmente libertário, bem diferente do liberalismo, historicamente centrista e moderado. As declarações de amor a Milei, que agora voltarão a ser mais tímidas, demonstram-no. O liberalismo da moda, que a IL representa, é como a criptomeda de Milei: um engodo de curta duração.

NOTA: Deixo para mais tarde, quando forem mais claras as alianças que se podem formar, a análise dos resultados das eleições alemãs.»


Porque não?

 


23.2.25

O “alfaiate” Gouveia e Melo e a farda “catch-all”

 




Sónia Sapage

 

23.02.1987 - 38 anos sem o Zeca

 



Já tudo foi escrito, já tudo foi recordado, nada será esquecido. Mas é sempre uma data para voltar a ouvir algumas das suas canções, entre tantas possíveis, e o extraordinário concerto, no Coliseu de Lisboa, em 1983. Quem lá esteve nunca o esquecerá. E eu estive.











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As redes podem salvar a democracia

 


«A Europa está muito atenta às eleições de hoje na Alemanha e não é para menos. O crescimento da extrema-direita, que esteve adormecida no pós-nazismo, é uma realidade global a que o país não escapa. Depois da reconstrução que se seguiu à II Guerra Mundial e da reunificação no final do bloco soviético, sempre com o alto patrocínio do liberalismo dos Estados Unidos, os alemães encontram-se numa encruzilhada, porque a realidade da política norte-americana transformou-se com a chegada de Donald Trump ao poder, ao ponto de o braço distópico da Casa Branca, Elon Musk, ter tentado interferir na política interna da Alemanha de forma visível, o que é uma novidade, porque às escondidas sabemos há muito que o antigo Twitter, atual X, é uma plataforma capaz de manipular a comunidade e ajudar a vencer eleições. Mas não é só a extrema-direita que cresce na Alemanha. Surpreendentemente, o partido Die Linke (A Esquerda) também regista uma subida acentuada nas últimas semanas. Este sucesso recente merece ser estudado e talvez forneça pistas importantes sobre como os partidos se devem colocar em termos de comunicação para defender os valores democráticos. De uma maneira simplista, a estratégia passou por uma presença fortíssima nas redes sociais, com especial incidência no TikTok, conteúdos muito profissionais e, claro, uma carismática e jovem liderança. A comunicação evoluiu e expandiu-se à velocidade da luz na última década e os partidos tradicionais mantiveram-se acomodados, enquanto extremistas e populistas avançaram para semear ódio e intolerância nas plataformas frequentadas pelos mais jovens. Parece claro que as eleições já não se ganham com arruadas e tempos de antena. Difícil é perceber como há políticos que ainda não repararam nisso.»


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