1.3.25

A saúde e uma vassoura

 


«Após a demissão de 13 conselhos de administração, Ana Paula Martins é a ministra da saúde que corre saudavelmente, não para pódios de mérito, mas para uma medalha de recordista. É difícil mudar tanto em tão pouco tempo, mas não há desafios que a ministra não abrace no que concerne à mutação. Com mais ou menos tempo de contrato, todos os administradores das unidades locais de saúde (ULS) procuram portos de abrigo em calmantes ou noites bem dormidas porque podem mesmo acordar exonerados sem noção de causa-efeito no processo de exoneração. Independentemente dos resultados, não há unidades a salvo. O que se passou no afastamento dos conselhos de administração das ULS de Gaia/Espinho e Tâmega e Sousa pode ser o caso mais gritante e terá seguramente muito mais a ver com quem sai do que com quem entra. Ninguém garante que não será possível fazer melhor, mas a questão é de saber se não se estava a fazer bastante bem ou o bastante.

Na ULS de Gaia, Rui Guimarães sai do cargo a saber pelos jornais sobre a sua exoneração, enquanto aguardava orientações da tutela sobre um mandato que terminara em dezembro. E esse é todo um modus operandi da tutela que resiste, por razões que se desconhecem, a mostrar atempadamente e à transparência o que quer e ao que vem. Não está em causa a nomeação de um novo conselho de administração para o Hospital, algo que estará sujeito à boa apreciação que o futuro julgará. O que mais espanta é a falta de noção de equilíbrio na gestão da substituição que só adensa a polémica sobre a forma como alguns braços do Governo de Luís Montenegro têm gerido nomeações e destituições, às vezes parecendo que se tomam decisões à revelia do primeiro-ministro ou não lhe dando total conhecimento sobre o que está em causa.

Um dia antes de completar um ano de serviço, João Ferreira, administrador da ULS do Algarve, é demitido por mail. Um caso de pontualidade e timing para evitar (por 24 horas) uma indemnização de um ano de serviço. Se o erário público agradece, o manual dos bons costumes torce-se. Não há previsibilidade nem moral que aguente num fim de linha tão precipitado. Há uma responsabilidade política de que Luís Montenegro não se pode alhear, mas é indesmentível que nenhum dos seus ministros pode alegar que tem no primeiro-ministro um gigante chapéu de chuva. E mesmo o caso da greve do INEM, grave e altamente discutível (como o relatório preliminar da IGAS comprova) é varrido pela ministra para debaixo de um tapete sem dono. Haverá mais a fazer pela saúde moral da saúde pública.»


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