7.7.18

Dica (780)



Dreams of a Better Mexico (Roger Lancaster) 

«Violence, corruption, inequality — AMLO has the chance to attack all three and transform Mexico for the better.»
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Morrer como um touro




Este belo texto do Paulo Varelo Gomes tem 8 anos, mas reganhou actualidade:


Amanhã virá outro tema e ninguém falará de touradas no próximos tempos, mas estou certa de que nem o mais convico dos seus defensores lá no fundo, nos estertores do seu espernear, acredita que elas, as touradas, não têm os dias, os meses ou os anos contados. Por mais que os partidos políticos conservadores finjam que não o sabem e que a discussão vá acesa nas redes sociais.
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Viagens? Big Brother is watching you




«O governo quer que a Autoridade Tributária, a GNR, a PSP, a Polícia Marítima (PM) e o SEF tenham acesso às informações dos passageiros portugueses e estrangeiros dos aviões comerciais. O objetivo é a investigação do terrorismo e da criminalidade organizada e grave e estava previsto, por isso, que esta base de dados estivesse apenas ligada à Polícia Judiciária (PJ), que tem competência exclusiva nestas matérias. Porém, numa reviravolta discreta e eficaz, o governo decidiu criar uma unidade especial, na tutela do Sistema de Segurança Interna (SSI). Os inspetores da PJ dizem que "o governo cedeu a pressões securitárias".
O primeiro-ministro, António Costa, foi mais sensível aos argumentos de Eduardo Cabrita, o ministro da Administração Interna, e de Helena Fazenda, a secretária-geral do SSI, do que aos de Francisca Van Dunem, a ministra da Justiça, que tutela a PJ. O xeque-mate da Segurança Interna à Justiça foi refletido numa proposta de lei, transpondo uma diretiva europeia, aprovada na generalidade esta sexta-feira no parlamento, com o apoio do PSD, os votos contra do BE e do PCP e a abstenção do CDS. Está em causa uma recolha e tratamento de informação em massa, quer de suspeitos ou não suspeitos, que pode ficar armazenada até cinco anos.»

Isto é muito mais perigoso do que possamos imaginar. Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos.



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Por que é que a vida política portuguesa está um pântano?



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«No programa de debate que tenho com os meus companheiros na SIC, a Quadratura do Círculo, existe um problema que me leva a protestar (injustamente às vezes), e que se pode definir assim: está-se sempre a discutir as mesmas coisas. Exemplos: a saúde ou falta dela da “geringonça”, “não há dinheiro”, dívida e deficit, há ou não austeridade, etc.

Reconheço que não é por falta de outros temas ou de imaginação em trazer outros menos discutidos, mas sim pela necessidade de discutir os temas da actualidade semanal. Esta necessidade é muitas vezes perversa, porque nos faz depender da muito pobre agenda política ou mediática, embora a ordem correcta seja em primeiro lugar mediática e depois política, ou político-mediática, porque é um conjunto inseparável. Mas a verdade é que o problema está a montante da Quadratura, está na efectiva estagnação da vida política portuguesa, que se encontra num pântano, em que as águas não se mexem, e, quando se mexem, é por formas de vida pouco recomendáveis. É por isso que não saímos do sítio e estamos sempre a falar do mesmo.

A estagnação das águas do pântano vem da conjugação da nossa dívida, do nosso deficit, com os “constrangimentos” europeus, as “regras” europeias”, emanando das obrigações do Tratado Orçamental e das políticas da troika que estão bastante mais vivas do que se pensa. Perguntem a Centeno. O pântano é vigiado pelos seus cães de fila, de dentro e, particularmente, de fora. Esta fonte inquinada, que verdadeiramente nunca se discute a sério, espalha-se pelo PS, pelo BE e pelo PCP, os partidos da “geringonça” que às claras ou incomodados, aceitam uma governação subordinada ao Tratado, e vai para o PSD e para o PS que igualmente aceitam, com mais gáudio, as mesmas “obrigações”. Com um parlamento desprovido dos poderes essenciais do orçamento, de cima para baixo, para os partidos e para os eleitores emana uma podridão que infecta toda a vida democrática. No essencial torna-a menos democrática. O resultado é que toda a vida política se desenvolve ao lado e fora do centro dos problemas, na periferia do que é mais importante, adiando quaisquer medidas que nos permitissem, em Portugal e para os portugueses, ter uma política mais conforme com as nossas necessidades e com as nossas possibilidades. Assim, estamos condenados a décadas de estagnação, nem muito mal, nem muito bem, na cauda da Europa.

Para se perceber o marasmo em que estamos, basta ver como foram saudadas as intervenções, no recente congresso do PS, da sua “ala esquerda” sem uma palavra sobre os “constrangimentos” europeus. Nem os que as fizeram, nem os que as comentaram, notaram este simples facto: sem se falar das relações entre Portugal e a União Europeia, o discurso ainda que seja neste caso muito de esquerda, é de um impressionante vazio. O problema que vai mais longe do que considerar existir um tabu para se discutir a Europa, é o de se achar com toda a naturalidade, que a Europa se tornou numa coisa não nomeável, que não precisa de ser discutida no âmago da política portuguesa. Eu percebo que tal é a tradução no discurso político de uma impotência, da absoluta noção de que é uma matéria sobre a qual não temos qualquer poder, nem soberania, e por isso aceita-se como um hábito, um mau hábito. É a interiorização do protectorado, um certificado de castração. E isso é particularmente destrutivo em democracia.

O argumento mais importante da servidão é sempre a aceitação da força, daquilo que a direita chamava a “realidade” numa demonstração única de arrogância… filosófica. A variante para justificar ter as cabeças dentro do pântano, é da não existência de alternativas. O “não há nada a fazer” é uma espécie de bomba atómica do pensar e do fazer, destrói qualquer impulso para defrontar os problemas de atraso e desenvolvimento do país, que não seja o de obedecer ao que se nos impõe. Quando sequer se suscita esta questão, é ver de imediato uma argumentação de 8 e 80, frases ad terrorem, um efectivo bloqueio da discussão. É aquilo que podemos chamar o “argumento de Vichy”, os alemães ocupam a França, logo é patriótico aceitar essa ocupação porque não há volta a dar.

Infelizmente, vai haver, e não será muito longe no tempo, uma entrada abrupta destes temas, - “constrangimentos” europeus, dos mercados, das agências de rating, dívida e deficit, poderes transnacionais sem controlo democrático, - na discussão pública. Digo infelizmente, porque eles chegarão de repente e de forma dramática, resultado do mundo de tempestades que se estão a alinhar um pouco por todo o lado, entre a América de Trump e a Europa da “união” em decomposição (visto que com a Europa de Salvini e de Orban ele não tem problemas), na Europa entre a Alemanha, a França, a Hungria e a Itália, com o Brexit, com as “fronteiras” com duas autocracias agressivas, a de Putin e a de Erdogan. A isso se acrescenta a actual política portuguesa, do PSD-CDS ao PS, que é inerentemente instável.

Portugal não conta para nenhuma destas tempestades, mas será atingido e duramente por elas. Então se verá como seria, pelo menos prudente, deslocar a discussão e a política para fora do pântano.»
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6.7.18

Bélgica – Oui! Ja!



2-1 e chegou!
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PCP, António Costa e «O Padrinho»



Longe de mim pôr em causa a contestação dos partidos à esquerda do PS no que se refere ao Acordo de Concertação Social. Mas escolher como música de fundo a melodia de «O Padrinho» para criticar o primeiro-ministro de um governo que se apoia ultrapassa todas as minhas capacidades de compreensão.


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Horário de Verão sempre?



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«A Comissão Europeia lançou uma consulta pública que estará ativa até ao dia 16 de agosto: pretende avaliar se vale a pena mudar a hora duas vezes por ano para estar mais adaptada aos padrões da luz do dia.»

Eu prefiro o de Verão, mas fico com curiosidade de saber como responderiam os islandeses se pertencessem à UE: mudar ou não a hora deve fazer-lhes uma diferença do caraças!
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África é um país?



«Como moçambicana migrante, procuro acompanhar os desenlaces políticos no meu país e na região, o que nem sempre é fácil. Das páginas disponíveis on-line, uma das minhas favoritas é Africa is a country [África é um país], um espaço de sátira à persistência de representações coloniais e sobre a diversidade de problemas do continente no presente. Há alguns anos, Binyavanga Wainaina num artigo cáustico desvelou as heranças coloniais presentes em muitas descrições sobre África, sobre um continente com cerca de 1,2 mil milhões de pessoas e culturas muito diferentes entre si, e que são frequentemente tratadas como uma só, como um único país. No campeonato mundial de futebol, a decorrer ainda, participaram várias equipas africanas, representando vários países. Porém, na maioria das análises eram apresentadas como ‘equipas africanas’. Só que a Coreia ou o Japão, selecionados pelo continente asiático, mas não são chamados de ‘equipas asiáticas’.

PUB Uma discussão sobre as representações de alteridade sugere que se trata de representações políticas, com um largo lastro histórico. O conceito predominante de África é por demais homogeneizante, contendo realidades diversas e bastante heterogéneas. De modo semelhante, não existe uma Europa ou uma Ásia como entidade única.

A história hegemónica de África contem ainda uma forte carga de violência epistémica, fruto da persistência das referências da biblioteca colonial. As omissões, os esquecimentos, as ausências, as fabricações e os estereótipos, que resultam na distorção e negação da historicidade da humanidade africana, impossibilitam uma leitura mais complexa das decisões, intervenções, resistências e autonomias. Falar sobre África significa questionar e desafiar crenças de estimação, pressupostos declarados e múltiplas sensibilidades.

A construção de representações sociais do continente africano é reificada pelo uso de categorias conceptuais como tribo(s) e etnia(s), tradicionalismo(s), doenças endémicas, atraso, subdesenvolvimento, instabilidade política, categorias que exigem uma reflexão sobre o seu conteúdo. Um denominador comum é a pobreza da África na produção de conhecimento. A ‘pobreza’ de África está relacionada, como vários sublinham, com a sua produtividade intelectual. Este facto pode ser avaliado a partir das referencias a África em publicações internacionais (muito alta, mas maioritariamente produzida fora do continente) e os fracos investimentos (por governos africanos) em pesquisa e desenvolvimento. Numa das suas crónicas, o escritor moçambicano Mia Couto referia-se à situação de Moçambique, dizendo que “a maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos”. A pobreza no campo da produção de conhecimento representa um perigo para o futuro de Moçambique, atingindo diretamente a atual geração de moçambicanos e as gerações futuras. Por outro lado, é também verdade que muito tem sido escrito sobre a complexidade social e histórica de Moçambique. Podem os moçambicanos ser ouvidos, também, como agentes ativos de produção de conhecimento sobre o seu país, sobre o continente e o mundo?

O moderno colonialismo atuou simultaneamente como ‘missão civilizadora’ e ideologia baseada numa epistemologia que procura legitimar a dominação e a exploração do ‘outro’. Este projeto assentou na conceção do ‘outro’ não como indivíduo ou parte de uma comunidade - com as suas economias, estruturas de poder e saberes -, mas como uma representação homogénea, imaginada em função dos objetivos políticos e das fantasias dos colonizadores. Esta é a visão dominante sobre ‘África’, reiterada por Nicolas Sarkozi (então presidente de França), num discurso proferido no Senegal, em 2007, onde afirmou que:

A tragédia da África é que o homem africano não entrou ainda o suficiente na história. O camponês africano, que há milénios convive com as estações do ano, cuja vida ideal é estar em harmonia com a natureza, conhece apenas o eterno recomeço do tempo pontuado pela repetição sem fim dos mesmos gestos e ações. Mesmas palavras.

Pensar o continente africano, como parte do mundo, requer uma outra perspetiva epistemológica, em que a diversidade do continente encontre eco e dê forma ao sentido de ser e sentir África no plural. Este desafio encontra eco nas Epistemologias do Sul, a proposta de Boaventura de Sousa Santos para que se ultrapasse o peso das representações sobre os outros, para que se reconheça o Sul global na sua diversidade. Esta proposta, como o autor sublinha, tem por objetivo permitir que os grupos sociais oprimidos representem o mundo por si mesmo, nos seus termos, pois somente assim serão capazes de mudá-lo de acordo com suas próprias aspirações. A luta pela história, arte, literatura, e outras formas de conhecimentos africanos continua, pois, no século XXI, ecoando o desafio de vários políticos e académicos africanos, pela descolonização mental, pelo reconhecimento do lugar das múltiplas Áfricas no mundo. Significa conhecer as histórias e os desejos dos jogadores das várias equipas nacionais africanas que participaram no campeonato do mundo de futebol de 2018.»

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5.7.18

Claude Lanzmann (1925-2018)



O seu célebre filme Shoah, que dura mais de nove horas, pode ser visto AQUI (Parte I) e AQUI (Parte II).


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Dica (779)




«If the Union wants a sustainable solution to its migration crisis, it must channel a healthy share of its tariff revenue from global commodity trade to finance development in labour-sending countries. In other words, stop migration at its origin by eliminating the push factors at source. Migration decisions are always economic: individuals and families, when they decide to move, are not irrational; they risk their lives for a chance at a better life abroad. When they choose to overpay human traffickers, they weigh the risks and dangers against expected benefits in a new land.
Clearly, there are no short-cuts. To its credit, the 29 June EU conclusions on migration call for increased investment in Africa to help the continent achieve a “sustainable socio-economic transformation” to raise African living standards. But that is just the start of the complete rethink that is required.»
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França – os pobres que esperem: há futebol




«Emmanuel Macron avait prévu de le présenter à la mi-juillet. Pour des questions de calendrier et de Coupe du monde de football, l’Elysée préfère attendre la rentrée.»

Qual é a pressa?
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A cimeira da capitulação



Daniel Oliveira no Expresso diário de 04.07.2018:

«Quando foi a crise financeira convencemo-nos que era por causa da Alemanha que nada se podia fazer. Em parte é verdade: o euro foi desenhado à medida das necessidades e receios de Berlim, a resposta à crise foi limitada pela necessidade de resgatar a banca alemã e francesa da exposição às dívidas soberanas dos países periféricos e muito do que se decide no Banco Central Europeu é, apesar de algumas momentos excecionais, determinado pelos tabus alemães. Mas é otimismo pensar que a vontade de um Estado é mais importante do que todos os interesses privados, sobretudo os do poder financeiro, que se movem em Bruxelas. Foi a confluência do poder dos Estados mais fortes da Europa e do poder financeiro que determinou aquilo que a Europa fez e não fez para enfrentar a crise de 2008-2011. E foi o que fez e o que não fez que criou as condições para o crescimento exponencial de movimentos de extrema-direita.

Mas tivemos, na última cimeira do Conselho Europeu, a oportunidade para relativizar o poder alemão. Merkel precisava de um acordo mas, como se viu, estava disposta a ceder em toda a linha, externa e internamente. Podemos disfarçar, mas António Costa explicou de forma clara: “O Conselho não fez mais do que mandatar a Comissão e o Conselho para dialogarem com as Nações Unidas, com a Organização Internacional para as Migrações, com países terceiros para explorar uma ideia, e nada mais do que isso”. E o que se empurrou com a barriga não é mau, é péssimo. Quando o primeiro-ministro do Governo italiano, um fantoche da Liga e dos idiotas úteis do 5 Estrelas, diz que “este Conselho Europeu marca o início de uma Europa mais responsável” estamos conversados.

O que sai desta cimeira são as plataformas de desembarque, os centros controlados e o reforço da vigilância das fronteiras. Não é qualquer política de solidariedade entre Estados para acolher os refugiados, até porque a extrema-direita do Leste deixou claro que não daria nada para esse peditório. A maioria das plataformas de desembarque deverão funcionar em países exteriores à UE. A ideia de garantir um circuito oficial que seja uma alternativa ao negócio dos passadores seria excelente. Mas a “estreita cooperação com países terceiros” denuncia a repetição do vergonhoso acordo com a Turquia para que países sem qualquer respeito pelos direitos humanos recebam os refugiados, em troca de dinheiro, para os conter fora da Europa, em centros de detenção degradantes. Não é difícil imaginar o que é ter o Egito, a Líbia ou a Argélia a garantirem a segurança destes migrantes.

Os centros controlados, para receberem pessoas resgatadas em operações de salvamento e selecionar refugiados entre os migrantes irregulares (a serem recambiados ao seu destino), parecem encaminhar-se para centros de reclusão de imigrantes. E os meios financeiros e materiais da UE serão canalizados para o controlo de fronteiras. Perante a tragédia humana que está à nossa frente, a prioridade é para impedir a entrada e “intensificar significativamente o regresso efetivo de migrantes irregulares” à sua origem. É para políticas de regresso que se podem meios e nova legislação. Todos os problemas são para ficar para lá das fronteiras europeias. Quanto a uma Europa solidária para receber em conjunto os refugiados, nada.

O que saiu do Conselho Europeu encaminha tudo para a repetição do acordo com a Turquia no norte de África, a contenção de imigrantes do outro lado da Mediterrâneo, a construção de centros de detenção e toda a prioridade à intensificação do regresso compulsivo. A extrema-direita de Órban e Salvini não se limitou a impedir qualquer solução. Foi o confronto entre a extrema-direita do Leste e a extrema-direita italiana que encaminhou a Europa para as suas soluções. E provou que a Alemanha não é imbatível. A diferença é que a extrema-direita é bem mais firme na defesa da sua sinistra agenda do que a esquerda foi quando era preciso garantir a coesão europeia e a solidariedade com os países do sul. Mesmo nesta última cimeira, os governos de extrema-direita foram claros ao explicar que vetariam um conclusão se não fosse a que desejavam. Já Costa bracejou, protestou e assinou. A diferença é que a União que realmente existe está muito mais próxima de Órban do que de Tsipras. O primeiro é integrável sem ceder um milímetro, o segundo só o foi quando se vergou.

E isto aconteceu apesar de, supostamente, Merkel e Macron terem como bandeiras humanistas uma política diferente para a imigração. Continuem a pôr as fichas em quem, na última década, fez tudo para minar qualquer sentimento de dever solidário entre os europeus, impondo às vítimas da crise o egoísmo alemão, e num boneco cheio de retórica cosmopolita desde que a França esteja primeiro, e não iremos muito longe. Quando os seus egoísmos não estão em causa, a Alemanha amocha e a França é a França. Mandam os Salvini, os Órban e todos os que mostram ao Mundo o verdadeiro rosto da Europa. E é por isso que as lições europeias a Trump só me provocam um sorriso amargo. Diz o roto ao nu...»
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4.7.18

Sem sofá? Nããã...


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Dica (778)




«Uma das razões pelas quais a insurreição grega de esquerda contra a ordem estabelecida da UE falhou em 2015 foi a falta de aliados. Os populistas da direita têm uma estratégia diferente. Eles trabalham a partir de dentro da UE formando alianças. A sua ambição é assumir as instituições da UE e destruí-la a partir de dentro. Salvini está de olho nas eleições europeias de maio de 2019 e as suas hipóteses parecem boas.
É possível que os principais grupos de centro-esquerda e centro-direita do Parlamento Europeu sejam aniquilados por dois adversários. Um deles poderá ser um novo grupo liberal pró-europeu, liderado por Emmanuel Macron, presidente de França. O outro poderá ser um grupo variado de populistas e nacionalistas. Eles poderão encenar uma aquisição do Partido Popular Europeu, o grupo de centro-direita. Ou unirem-se num partido europeu independente. De qualquer forma, eles encontrarão maneiras de afirmar a sua influência.»
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Victor Jara – finalmente!



Justiça condena 9 militares pelo assassínio do ativista Victor Jara.

43 anos depois. Mas mais vale tarde do que nunca.


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Mal-entendidos



Isto lembra-me uma história verídica: o meu marido era médico e disse uma vez a uma doente: «Dispa-se e pendure no cabide». Como ela nunca mais aparecia, foi ver e percebeu que a mulher tentava mesmo... pendurar-se no cabide.
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António Costa passou a ser um tipo banal?



«Quando o primeiro-ministro António Costa decide ir cortar uma fita, para publicitar o início das obras de melhoria do IP3, não está a fazer nada de original na história da governação deste país: afinal não há fontanário, estatueta ou passeio público, construídos dentro destes 92.212 quilómetros quadrados de terreno a que chamamos Portugal, que não tenham merecido cerimoniais inaugurativos com a presença das mais altas e prestigiadas individualidades. É uma tradição.

Quando o primeiro-ministro António Costa fica a saber por um dos autarcas presentes no evento, o presidente da Câmara Municipal de Viseu e social-democrata Almeida Henriques, que aquela era já a quarta vez que se fazia uma cerimónia a anunciar o início das obras de melhoria do IP3, não está a ser confrontado com algo de anormal: de certeza que, daqui até ao final de 2022, quando as obras ficarem concluídas, vários grupos de governantes, de hoje e de amanhã, regressarão a essa estrada para cortar outras fitas a um ritmo de, pelo menos, uma dúzia de cada um dos 75 quilómetros de intervenção - e assim tratarão de glorificar para a lente de TV mais próxima a sua proverbial sabedoria na gestão dos bens públicos. Sempre foi assim. É uma tradição.

Quando o primeiro-ministro António Costa garante que os 134 milhões de euros para pagar este arranjo, essencial, são um investimento que serve para o Estado "salvar vidas" ao "assegurar a segurança rodoviária" numa parte da longa tira de alcatrão que leva as pessoas da Figueira da Foz, na costa atlântica, até Vila Verde da Raia, na fronteira com Espanha, não está a ser original: são incontáveis, na história desta nação, os casos de governantes capazes de cobrar à opinião pública medidas capazes de poupar portugueses a um confronto inesperado com a morte. Esta ocasião até nem era das mais disparatadas para o fazer, dado o trágico registo de acidentes dos troços em causa. Os políticos não perdem uma ocasião para mostrarem que se preocupam connosco, é uma tradição.

Quando o primeiro-ministro António Costa afirma que a decisão de avançar com este investimento implica "que estamos, simultaneamente, a decidir não fazer outra obra", para acrescentar que "quando estamos a decidir fazer esta obra, estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos" está a seguir uma velha tendência do breviário político luso, capaz de misturar alhos com bugalhos para obter, nas audiências, um efeito sonante. É uma tradição.

Acontece, porém, que a discursata do líder do executivo liga diretamente os 134 milhões de euros a gastar pelo Estado numa via rodoviária com a limitação da despesa com funcionários públicos. Esta comparação legitima todas as outras comparações equivalentes anteriormente feitas por sindicatos, grevistas, militantes da oposição, dirigentes partidários, adversários, colunistas de cadastro diverso, tantas vezes apelidados pelos governantes de "populistas", "demagógicas", "irresponsáveis" ou, pretensiosamente, "tecnicamente erradas".

Gostaria, portanto, de perguntar ao primeiro-ministro, depois de colocar nos dois pratos da balança a reparação de uma pequena parte dos 279 quilómetros totais do percurso do IP3, precisamente a zona que não é autoestrada (e continuará a não ser) e, no outro prato da balança, os aumentos salariais reivindicados por cenetans de milhares de trabalhadores, o que acha se nessa balança colocássemos outros ingredientes? Dou só três exemplos:



3.7.18

Lá se foi o nosso Verão…



Verão português deslocou-se para o Norte da Europa?

Qualquer dia os nórdicos só querem gajas e copos.
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Alemanha e refugiados




«Chanceler acordou com Seehofer que imigrantes registados noutros países da UE sejam levados para campos de detenção e a constituição imediata de três desses campos na fronteira com a Áustria. Marisa Matias alerta: “ou acordamos a tempo ou seremos cúmplices da barbárie que está a avançar na Europa”.


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Franz Kafka, 03.07.1883

Na situação verdadeiramente kafkiana em que o mundo se encontra, recordemos que Franz Kafka nasceu em Praga, em 3 de Julho de 1883.



Renúncia
Era muito cedo, pela manhã, as ruas estavam limpas e vazias, eu ia à estação. Ao comparar a hora no meu relógio com a do relógio de uma torre, vi que era muito mais tarde do que eu acreditara, tinha que apressar-me bastante; o susto que me produziu esta descoberta fez-me perder a tranquilidade, não me orientava ainda muito bem naquela cidade. Felizmente havia um polícia nas proximidades, fui ter com ele e perguntei-lhe, sem fôlego, qual era o caminho. Ele sorriu e disse:
– Queres conhecer o caminho através de mim?
– Sim – disse –, já que não posso encontrá-lo por mim mesmo.
– Renuncia, renuncia - disse e voltou-se com grande ímpeto, como as pessoas que querem ficar a sós com o seu riso.
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Com pena, com muita pena


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O sabor da corrupção


«No mundo da corrupção não há pós-verdades nem pós-mentiras. Porque, aparentemente, elas são as duas faces da mesma moeda. A operação Tutti Frutti da PJ lança um pouco de luz sobre este intrigante tema. A corrupção, entre nós, é tão comum como os tremoços ou os caracóis. Faz parte do nosso quotidiano e alimenta as nossas teorias da desconfiança. Este é um país de desconfiados. Desconfiamos sempre dos suspeitos do costume e dos outros. Os portugueses conseguem, ao mesmo tempo, desconfiar dos políticos, dos polícias, dos árbitros, dos professores e dos médicos. Em contrapartida há uma desconfiança muito mais sibilina: o Estado desconfia dos portugueses. Desconfia que estes não pagam impostos e que se esquecem de pagar o estacionamento. Portugal é uma espécie de "offshore" da desconfiança. É um gelado feito de muitos sabores sintéticos e químicos, onde não há nada de verdadeiro.

Olhamos para aquilo que vai sendo contado sobre assessores fictícios, trocas de favores, ofertas de peixe ou concursos falseados e chega-se à conclusão de que a corrupção é a essência do país político. E os partidos nada fazem para sossegar os cidadãos, dizendo-lhes que esta é a excepção e não a norma. Envergonhados, calam-se e alimentam a onda da suspeição. Em Espanha, Rajoy caiu por causa da corrupção peganhosa que contaminava os que estavam à sua volta. Em Portugal, quem cai fica em casa à espera do último julgamento divino. Há, intui-se, corrupção para todos os sabores. E há pouca ética. Pensamos no que pensariam hoje Gottfried Leibniz e Spinoza quando estiveram em 1676, em Haia, a discutir durante 48 horas a obra "Ética" do génio de origem portuguesa. Ética? Para algumas elites que cirandam pelo poder, esse é um princípio tão valioso como um gelado Perna de Pau. Para alguns a corrupção é tão saborosa como caviar. Não resistem a isso. Mas é isso que mina a democracia e também promove o populismo. De desconfiança em desconfiança caminhamos, seguros, para o fosso do fim da democracia.»

Fernando Sobral
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2.7.18

Afinal Costa disse mesmo isto assim!



E eu a julgar que tinha ouvido mal…
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Bifes à Madonna



«Perto do Café Império há vários parques de estacionamento.»

Página do Café Império no Facebook
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Dia grande para o México




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Migrações: a extrema-direita não passará !



«Em 2018, já morreram mais de mil pessoas na travessia do Mediterrâneo. Desde 1993, segundo o jornal The Guardian, 34 mil pessoas morreram a tentar chegar à Europa. No preciso momento em que o Conselho Europeu se reunia, um pequeno barco de borracha com 120 migrantes a bordo, ia ao fundo, matando 100 pessoas. A Organização Internacional das Migrações denunciou que a Argélia tinha expulsado e abandonado no deserto do Sara mais de 13 mil migrantes, muito do quais morreram (e recordemos as recentes revelações de que nos campos de retenção de migrantes na Líbia se pratica a escravatura).

Seria um sonho que os dirigentes europeus se tivessem reunido para criar um sistema que acabasse com a tragédia humanitária, que debelasse a cumplicidade europeia e tomasse medidas contra os Estados que não têm cumprido as decisões europeias em matéria de solidariedade no acolhimento de refugiados, como a Hungria ou a Polónia, que apoiasse os esforços das ONG que salvam vidas em operações de socorro naval no Mediterrâneo. Pelo contrário, porém, a agenda foi marcada pelas exigências da extrema-direita italiana anti-imigrantes e seus aliados da CSU alemã.

As conclusões do Conselho são um plano, condenado ao fracasso, para por termo aos “fluxos migratórios”, abrangendo todas as rotas, “existentes e potenciais”, em cooperação com os "países de origem e de trânsito” – leia-se Líbia, um Estado dominado por milícias armadas, e os do Magrebe, nomeadamente Marrocos – e sobretudo a Turquia. Apela-se aos navios de socorro das ONG para que não criem dificuldades às “operações da guarda-costeira líbia”. O Conselho destaca o reforço dos meios financeiros no domínio da segurança interna, concentrados na protecção das fronteiras.

No que diz respeito à solidariedade entre países europeus, nomeadamente com a Itália e a Grécia, que recebem a maioria dos refugiados, não foi reafirmado o sistema obrigatório de quotas, mas afirmado que a relocalização e reinstalação funcionam “numa base voluntária”. A questão dos controversos centros de retenção, na Europa ou no Sul do Mediterrâneo - já se viu o horror que podem ser na Líbia - ficou aberta à iniciativa dos Estados.

No fim do Conselho Europeu, ouvimos os líderes da extrema-direita, como Viktor Orbán, declararem vitória. E esta é a mais perturbante conclusão que se pode tirar deste Conselho – pela primeira vez, a extrema-direita deixou de ser uma força sem peso real, na defensiva, nas instituições de decisão da União, para ser uma força na ofensiva, capaz de obrigar os outros Estados a responder à sua agenda. A extrema-direita já não é uma força marginal, uma espécie de eterna derrotada à última hora. Ter em Itália um Governo populista, em que o homem forte parece ser o líder da Liga, Matteo Salvini, tornou a extrema-direita incontornável.

Foi Salvini que voltou a colocar as questões dos refugiados e das migrações no centro da política europeia – mesmo quando os fluxos estão em decréscimo, longe do pico de 2015.

Começou por recusar a obrigação de ajuda humanitária do direito do mar, forçando o Aquarius a navegar em mar alto até ser recebido em Espanha. Depois, organizou um encontro com o seu congénere da extrema-direita, o ministro do Interior austríaco, a que se juntou o ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, da CSU (que ameaça Merkel, líder do seu governo). Esta coligação reaccionária teve o apoio dos governos da Europa Central, Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia.

A realização do Conselho Europeu é em si mesmo uma vitória para os populistas italianos, mesmo que não tenham conseguido a distribuição pela União dos refugiados que chegam a Itália. Se, no essencial, tudo ficou na mesma, a verdade é que os portos italianos continuam fechados e foram criados obstáculos às acções de salvamento das ONG.

Não nos enganemos, o debate não é sobre imigrantes e refugiados. O que está em causa é a União Europeia, são os direitos fundamentais, é o debate entre uma visão da Europa e do mundo centrada nos valores fundamentais da União e os que defendem o que chamam de democracia iliberal, como Orbán e o seu protector Trump.

A extrema-direita (e a sua xenofobia) pode ser vencida, mas para isso é preciso que os líderes políticos que defendem o estado de direito sejam coerentes na defesa dos seus valores. Macron e Merkel, que procuram organizar a frente antipopulista na União, não têm, hoje, uma posição coerente na questão das migrações.

Os países europeus onde os populistas não estão no poder devem começar por assumir que não são as migrações que favorecem o crescimento da extrema-direita – veja-se a sua força em países com poucos ou nenhuns migrantes, como a Hungria ou a República Checa.

Segundo, que a obsessão com o controlo dos fluxos migratórios está condenada ao fracasso e só serve para alimentar a demagogia da extrema-direita.

Terceiro, que é possível criar vias legais de imigração, correspondendo à efectiva necessidade europeia de migrantes, fruto do envelhecimento da população.

Quarto, e mais difícil, assumir um direito internacional à livre circulação, mesmo que, obviamente, deixando aos Estados capacidades para a limitar, de acordo com as suas prioridades.

Quinto, é necessário reformar os acordos de Dublin e federalizar a política de asilo, criando uma fronteira comum exterior entre os países da União que resistem à extrema-direita.

Acima de tudo, é fundamental abandonar todo o discurso securitário sobre migrações, e optar por uma perspectiva que realce os valores da humanidade comum.» 

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1.7.18

Dica (777)



A preta de merda e o jornalismo de Segóvia (Fernanda Câncio)
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Solidariedade com a(o)s refugiada(o)s e migrantes


Três mentiras


«Na Líbia existem três governos e nenhum governa, na Turquia, o autoritarismo e a repressão vão ocupando o lugar da democracia. As pessoas refugiadas aí deixadas destinam-se à morte lenta. É por isso que a simples possibilidade de se instalarem campos de "internamento" na Sérvia ou no Kosovo só pode ser repudiada.

Por muitas voltas que se dê, à União Europeia foge sempre o pé para fazer o outsourcing do trabalho sujo, rodeando a "fortaleza" de campos de detenção.

O preço que pagamos é incalculável. A validação do racismo e da xenofobia são atos criminosos. O caminho para a desintegração vai já em passo acelerado. As desigualdades, a pobreza e a falta de expectativas no futuro foram tratadas pelos líderes europeus como adereços que custaram a credibilidade. A forma como estão a agir perante os refugiados custa o preço da humanidade. Sabê-lo-emos da pior forma.»

Marisa Matias
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As duas superpotências



«Na nova desordem mundial não há tolerância para com os direitos humanos. A denominada política de tolerância zero na fronteira com o México, a contemporização de Trump para com o supremacismo branco, a desvalorização dos direitos das minorias e o excelente relacionamento com líderes autoritários — os quais jamais confrontará com a violação das liberdades mais elementares nos seus países — aí estão para o provar. Neste quadro, a saída dos EUA do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, por o considerarem um organismo anti-israelita, é, pelo menos, uma decisão coerente. Até aqui as atrocidades cometidas por países amigos eram toleradas em função de interesses económicos ou geopolíticos e as atrocidades cometidas por países inimigos objecto de ingerência em nome do respeito pelos direitos humanos.

Nesta era Trump, regimes democráticos como os EUA ou como os Estados-membros da União Europeia não só não se preocupam com as violações dos direitos humanos em países terceiros como alguns deles começam a adoptar políticas que contrariam todos os princípios básicos nos quais se fundaram. Não vale a pena sequer falar do resto do mundo neste capítulo. Objectivamente, a questão não se coloca na Rússia ou na China, na Arábia Saudita ou na Turquia. É muito mau sinal quando a preocupação com os direitos humanos é um exclusivo de organizações como a Amnistia Internacional ou a Human Rights Watch e quando as catástrofes humanitárias da Síria ou a perseguição dos rohingyas podem ser pretexto para um Pulitzer ou um World Press Photo, mas nada mais do que isso.

Olhando para a Europa, depreende-se que fechar portos e impedir a entrada de imigrantes dá votos. Sondagens em Itália, após o caso do navio Aquarius, davam conta de que duas em cada três pessoas estavam de acordo com a forma como o Governo de Conte geriu este processo. Olhando para os EUA, as políticas de tolerância zero terão, finalmente, sobressaltado a opinião pública: Susan Sarandon e centenas de manifestantes foram detidos durante protestos, em Washington, organizados por movimentos feministas, sob o slogan “as famílias devem estar juntas”. Novos protestos repetiram-se ontem e outros se devem seguir nos próximos dias. Na nova desordem mundial, existem duas superpotências: os Estados Unidos da América e a opinião pública. Não podemos ter muita esperança quanto à primeira; era bom que a esperança não desfalecesse quanto à segunda.»

Amílcar Correia
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