23.1.16

Da série «Grandes Títulos»



Também podia ser: «Despiste em Lisboa faz duas vítimas mortais em Xangai e Ushuaia».

Leia-se a notícia.
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Voto útil




Republico este texto porque hoje, sim, é dia de reflexão e o resultado da minha continua a ser o mesmo.
  
Agora que as quatro sondagens sobre presidenciais dão Maria de Belém em queda e Sampaio da Nóvoa como o único possível adversário de Marcelo Rebelo de Sousa numa hipotética segunda volta, acabou o mito da necessidade do voto útil no antigo reitor, certo?

Ou seja: quem se identificava mais com Marisa Matias ou com Edgar Silva, mas tinha decidido «sacrificar-se» votando em Sampaio da Nóvoa para não se arriscar a ver passar Maria de Belém, pode regressar ao seu «primeiro amor». Claro que isto não se aplica àqueles que sempre subscreveram a candidatura de Sampaio da Nóvoa como sua.

O voto útil, à esquerda, é não ficar em casa no próximo Domingo. 
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Segunda volta carnavalesca?



Se houver segunda volta nas presidenciais, o último fim de semana antes das eleições é… Carnaval. Imagino os desfiles em Celorico de Basto e na alameda da Reitoria de Lisboa.

Mãos à obra para a confecção dos artefactos, olhem que se faz tarde! 
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Em profunda reflexão


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22.1.16

Marisa, pois claro


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Nuno Teotónio Pereira e Edmundo Pedro numa fascinante conversa




Há pouco mais de sete anos, em 2008, juntei Nuno Teotónio Pereira e Edmundo Pedro numa conversa de mais de duas horas, que guardo religiosamente gravada e a partir da qual elaborei três posts publicados então nos «Caminhos da Memória» e também, em parte, neste blogue. Quando NTP nos deixou agora, julgo adequado disponibilizá-los para uma leitura absolutamente fascinante, no meu entender. Aqui fica hoje o primeiro.

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Edmundo Pedro tem neste momento oitenta e nove anos, Nuno Teotónio Pereira oitenta e seis. O primeiro nasceu três dias antes do fim da Primeira Guerra Mundial, o segundo no ano em que Mussolini organizou a célebre marcha sobre Roma, que o conduziria à chefia do governo italiano.

Conhecem-se bem, são amigos, participam em múltiplas actividade de carácter cívico. Continuam imparáveis, grandes resistentes durante a ditadura, militantes persistentes em tempos de democracia. Têm hoje, sobre o mundo e sobre a vida, posições muito semelhantes.

Juntei-os, no passado dia 27 de Maio, numa conversa da qual tenho quase duas horas de gravação. Utilizarei hoje apenas uma pequeníssima parte de tudo o que ouvi e guardei – nem chegarei sequer à idade adulta destas pessoas que nasceram ambas em Lisboa, mas em contextos que dificilmente poderiam ter sido mais diferentes.

Edmundo Pedro (EP) vem do meio operário, tinha seis anos quando o pai foi deportado para a Guiné por actividades subversivas e aderiu muito cedo ao Partido Comunista. Nuno Teotónio Pereira (NTP) nasceu numa família burguesa, conservadora, monárquica e católica, mas nem por isso alheada de preocupações sociais.

Curiosamente, a vida viria a reuni-los, durante a adolescência, num mesmo quarteirão de Lisboa – facto que só descobriram na conversa que agora tiveram comigo. Com efeito, EP frequentou a escola industrial Machado de Castro, nas traseiras do liceu Pedro Nunes, onde NTP fez todo o secundário. Pelas minhas contas, terão coabitado assim, sem o saberem, paredes-meias mas de costas bem voltadas, durante dois ou três anos. «Via os vossos desafios de futebol, era o campo que separava as nossas escolas», lembra EP. «Havia uma diferença de classes bem visível», comenta NTP: «O meu liceu dava para uma bela e larga avenida, a tua escola para uma rua estreita e feia».

Comecei por ler excertos de textos que escreveram sobre o que foi, para cada um, o ano de 1936.

Em Fevereiro, EP, então com dezassete anos, foi preso pela terceira vez. Passou algum tempo numa esquadra em Benfica, foi transferido depois para o Aljube e mais tarde para Peniche. NTP continuava no Liceu Pedro Nunes e, em Maio desse mesmo ano, viveu intensamente a criação da Mocidade Portuguesa:

«Com alguns colegas do liceu, logo corremos a uma loja da Rua das Portas de S. Antão para comprarmos as fardas. (…) A partir dai, fiz uma carreira fulgurante na Mocidade, envergando orgulhosamente o uniforme com a camisa verde e o S de Salazar na fivela do cinto, e participando nas marchas pela Avenida da Liberdade abaixo fazendo a saudação fascista (…) Salazar era criticado por nunca ter vestido uma farda e só timidamente fazer uma ou outra vez a saudação fascista». Muito mais curioso é perceber como ambos viveram, em posições absolutamente antagónicas, o grande acontecimento desse ano de 1936: o início, em Julho, da Guerra Civil de Espanha.

Escreve NTP:
«Apaixonei-me, acompanhando meu Pai, pela causa nacionalista. Ouvíamos sofregamente todas as noites o noticiário do Rádio Clube Português, dirigido pelo major Botelho Moniz (…). Amante da geografia, arranjei rapidamente um mapa da Península, onde ia registando os avanços das colunas franquistas na direcção de Madrid».

Escreve EP, então preso em Peniche:
«Vivemos o primeiro mês da guerra civil sob uma enorme tensão. (…) Acabámos por dispor de um rádio rudimentar que nós próprios construímos (…) que nos permitia, com alguma dificuldade, ouvir as emissões do Rádio Clube Português. (…) Arranjámos rapidamente um mapa onde assinalávamos as posições dos dois lados. (…) Saltava à vista que a área controlada pelas forças da República era muito maior do que aquelas que os fascistas detinham».

Riem-se ambos quando lhes leio estes textos. Quase nem querem acreditar e repetem, várias vezes: «É curioso, muito curioso!»

EP faz notar que teria certamente combatido em Espanha se não tivesse sido preso pouco antes da data em que deveria partir para a União Soviética, para uma estadia planeada pelo PCP. Como tantos outros, teria vindo combater ao lado dos republicanos, «onde se julgava estar a decidir-se o percurso e o destino da revolução mundial».

Em Lisboa, NTP envolveu-se na organização de uma grande coluna de camiões que levou até Sevilha mantimentos para as tropas franquistas.

Estranhos paralelismos.

Passaram-se, entretanto, mais de setenta anos e está quase tudo por contar: como viveram o desenrolar dos acontecimentos durante a Segunda Guerra Mundial (EP no Tarrafal, NTP já anglófilo), a campanha de Humberto Delgado em 1958 (quando NTP inicia a tua caminhada em direcção à esquerda e uma longa actividade de resistente católico), as invasões da Hungria e da Checoslováquia – e por aí fora.

Outros textos virão.

Deixei o Edmundo sentado ao computador, quase no fim do segundo volume das Memórias, que quer lançar em Novembro por ocasião do seu 90º aniversário. Atravessei a cidade para levar o Nuno a uma sessão sobre Lisboa, que iria prolongar-se pela noite dentro.

Incansáveis, preocupados com a situação actual do país e do mundo, transmitem força e determinação a todos os que os rodeiam – com uma simplicidade desconcertante, corações do tamanho do mundo e cabeças cheias de projectos. 
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No adeus a Nuno Teotónio Pereira



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A última intrigalhada



«Chegámos ao momento da escolha do novo Presidente da República. A emoção perante a perspectiva de um novo PR é largamente suplantada pela felicidade na saída do antigo.

O último debate foi uma espécie de despedida. Há candidatos que nunca mais vamos ver e outros que não vamos ver mais como víamos. Não é odioso dizer que só a carreira política de Tino cresceu com esta campanha. (…) O Henrique Neto ficou mais velho entre duas perguntas. O Tino nem na quarta classe passou tanto tempo seguido sentado numa sala sem se mexer.

O debate ficou marcado pela preocupação com a independência, com candidatos a negarem qualquer tipo de apoios. Em breve haverá um candidato que vai ter honra em afirmar que é tão independente que nem tem o apoio de um único cidadão. Zero. Nem ele próprio se apoia para não haver interferências. (…)

Não sou de previsões - "excepto de aguaceiros graças a uma lesão num cotovelo aquando da guerra da lampreia de 82/84" -, mas sou capaz de arriscar que Marcelo vai vencer as eleições à primeira volta. Mas, se chover, não ganha à primeira. Mas isso só o meu cotovelo saberá no sábado.

Resumindo, já todos sabemos o que irá fazer Marcelo, mas não fazemos ideia de como será o futuro dos outros. Ainda em formato palpite, imagino que, se perder, Cândido Ferreira vai para navegador solitário. Faz "curriculum navegação" à volta do mundo. Tino faz o tal partido que Marinho e Pinto ia fazer, mas em giro. Maria de Belém nunca mais tira o luto. Neto vai ficar ainda mais chato e vai começar a embirrar com ele próprio - "Eu bem te tinha avisado para não deixares a janela aberta. Agora estás com os mamilos gigantes. Vou ter de pôr a camisola interior de cortiça". Paulo Morais vai frisar o cabelo, Edgar Silva é canonizado pelo PCP, Jorge Sequeira é preso por mandar piropos, Marisa Matias junta-se à Juve Leo e Nóvoa vai fazer uma licenciatura. E nós? Nós estamos tramados.»

22.01.1961 – O assalto ao Santa Maria



Em 22 de Janeiro de 1961, algures no mar das Caraíbas, 12 portugueses e 11 espanhóis, comandados por Henrique Galvão, assaltaram um navio em que viajavam cerca de 1.000 pessoas, entre passageiros e tripulantes, e protagonizaram aquela que foi, muito provavelmente, a mais espectacular das acções contra a ditadura de Salazar.

Mesmo sem atingirem os objectivos definidos – chegar a Luanda, dominar Angola e aí instalar um governo provisório que acabasse por derrubar as ditaduras na península ibérica – conseguiram chamar a atenção do mundo inteiro que noticiou, com estrondo, a primeira captura de um navio por razões políticas, no século XX. (Em Portugal, julgo que as primeiras notícias só foram publicadas no dia 24!)

Os aliados da NATO não reagiram como Salazar pretendia ao acto de «pirataria» e só cinco dias mais tarde é que a esquadra naval americana localizou o navio. Depois de várias peripécias e negociações, o Santa Maria chegou ao Recife em 2 de Fevereiro e os revolucionários receberam asilo político.

Volto à questão da repercussão internacional, que foi muito grande, porque a vivi pessoalmente. Estudava então em Lovaina, na Bélgica, e acordaram-me às primeiras horas da manhã para me dizerem que um navio português tinha sido assaltado por piratas, em pleno alto mar. Entre a perplexidade generalizada e o gozo («ces portugais!…»), os poucos portugueses que então lá estudávamos passámos horas colados a roufenhos aparelhos de rádio, sem conseguirmos perceber, durante parte do dia, o que estava concretamente em jogo, já que não eram identificados os piratas nem explicados os motivos da aparatosa aventura. Quando, já bem tarde, foi referido o nome de Henrique Galvão, e descrito o carácter político dos factos, respirámos fundo e pudemos finalmente dar explicações aos nossos colegas das mais variadas nacionalidades. Houve festa e brindou-se à queda da ditadura em Portugal – para nós iminente a partir daquele momento, sem qualquer espaço para dúvidas...

A ditadura não caiu mas levou um abanão. O assalto ao Santa Maria foi o pontapé de saída de um annus horribili para Salazar, ano que iria terminar com a anexação de Goa, Damão e Diu. (Pelo meio, em Fevereiro, começou a guerra colonial...)

Vivemos hoje numa outra galáxia, tudo isto parece quixotesco e irreal? Mas não foi.: Henrique Galvão, Camilo Mortágua e companheiros foram «os nossos heróis» daquele início da década de 60.



A ler: O desvio do Santa Maria e o princípio da Guerra do Ultramar.
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21.1.16

Voto útil?



Agora que as quatro sondagens sobre presidenciais dão Maria de Belém em queda e Sampaio da Nóvoa como o único possível adversário de Marcelo Rebelo de Sousa numa hipotética segunda volta, acabou o mito da necessidade do voto útil no antigo reitor, certo?

Ou seja: quem se identificava mais com Marisa Matias ou com Edgar Silva, mas tinha decidido «sacrificar-se» votando em Sampaio da Nóvoa para não se arriscar a ver passar Maria de Belém, pode regressar ao seu «primeiro amor». Claro que isto não se aplica àqueles que sempre subscreveram a candidatura de Sampaio da Nóvoa como sua.

O voto útil, à esquerda, é não ficar em casa no próximo Domingo. 
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Mais plástico do que peixes



«Ontem fui almoçar ao Futuro e não gostei. O estabelecimento está com um ar desleixado, a lista é pouco variada, o serviço demorado e a clientela escasseia. A comida ainda é aceitável mas já foi melhor. Não recomendo o Futuro aos meus amigos. Nem se recomenda o Futuro que vamos deixar às novas gerações.

No Fórum Económico Mundial de Davos, que reúne anualmente a elite empresarial e política do planeta, um estudo da fundação da velejadora britânica Ellen MacArthur, em parceria com a consultora McKinsey, deixa qualquer um muitíssimo preocupado sobre o futuro do planeta azul. De acordo com o estudo, o aumento da utilização de plásticos é de tal forma significativo que em 2050 os oceanos vão ter mais detritos plásticos do que peixes.

Segundo o relatório, a proporção entre as toneladas de plástico e as toneladas de peixe registadas nos oceanos era de um para cinco em 2014. Em 2025, será de um para três e em 2050 irá evoluir de um para um.»

Nicolau Santos no Expresso curto de 21.01.2016

Marisa Matias e os rendimentos dos eurodeputados




A propósito de umas «bocas do dia».
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Faltam três dias


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20.1.16

Dica (207)




«O Royal Bank of Scotland, hoje uma divisão do Santander, emitiu um alerta nos termos mais catastrofistas: vendam tudo, 2016 é para a desgraça. (…) Uma nova crise financeira não é uma possibilidade. É uma certeza. E essa certeza tem consequências para o euro, para a Europa, para as economias emergentes, para as relações internacionais de poder. Como terá para o Orçamento do Estado português para 2016.» 
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Nuno Teotónio Pereira



A quem possa interessar:

Velório amanhã, 5ªf, a partir das 16h30, na igreja do Sagrado Coração de Jesus (entrada pela rua de Santa Marta). Funeral na 6ªf, com saída às 13:30, para o cemitério do Lumiar.
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Morreu Nuno Teotónio Pereira


Repubico este «post» escrito por ocasião dos seus 90 anos.

Nasceu em 30 de Janeiro de 1922, numa família burguesa, monárquica, católica e afecta ao salazarismo, facto que viria a marcá-lo profundamente na primeira parte da vida.

Arquitecto de mérito reconhecidíssimo, mestre de gerações que com ele colaboraram num quase mítico atelier de Lisboa, publicamente louvado e premiado em sessenta anos de actividade profissional dedicada à «arquitectura e cidadania»; a partir do fim dos anos 50, também militante incansável na oposição à ditadura, preso mais do que uma vez pela PIDE, torturado e libertado de Caxias no dia seguinte à revolução de Abril – é esta a pessoa de Nuno Teotónio Pereira, que importa hoje referir, embora muito resumidamente, sobretudo para os mais novos e para os que não se cruzaram com ele na sua longa vida.

O seu percurso foi muito especial e pouco comum. Com 14 anos, viveu entusiasticamente a criação da Mocidade Portuguesa, nela fez uma carreira fulgurante, envergou orgulhosamente a farda em desfiles na Avenida da Liberdade e não evitou a saudação fascista – faz questão de não o esconder. Nesse mesmo ano de 1936, seguiu apaixonadamente o avanço das tropas franquistas no início da Guerra Civil de Espanha e  envolveu-se na organização de uma grande coluna de camiões que levou até Sevilha mantimentos para as mesmas.

A grande viragem sem retorno começou durante a II Guerra Mundial, por influência do pai, profundamente anglófilo, mas viria a concretizar-se, decisivamente, durante a campanha de Humberto Delgado, em 1958. Não só por todo o ambiente criado em torno desta, mas também por uma grande influência de sua mulher Natália e de Francisco Lino Neto, a quem Nuno Teotónio Pereira afirma ter ficado a dever a sua «conversão». E é já com entusiasmo que segue a vitória de Fidel de Castro, em Cuba, em 1959…

A partir de então, e até ao fim da ditadura, foram anos de uma militância intensíssima, sobretudo nos diversos campos de actividade dos que vieram a ser designados como «católicos progressistas». Desde os primeiros anos da década de 60 e até ao 25 de Abril, a oposição dos católicos ao regime político e à guerra colonial, e a revolta crescente que manifestaram em relação às posições oficiais da Igreja portuguesa, deram origem a plataformas de luta que adoptaram estruturas diversas, mais ou menos maleáveis conforme os casos, mas que envolveram, directa ou indirectamente, milhares de pessoas. Nessa teia de iniciativas e instituições, houve quem tivesse um papel especial na dinamização e agilização de contactos e na concretização de acções conjuntas. Vários nomes podiam ser citados, mas, se fosse necessário escolher apenas um, seria sem dúvida o de Nuno Teotónio Pereira. Com a sua simplicidade desconcertante, tenacidade férrea e pragmatismo à prova de fogo, deitava as sementes, estabelecia todas as pontes possíveis e acompanhava detalhadamente as realizações.

Qualquer lista de iniciativas peca por (grande) defeito, mas citem-se, a título de meros exemplos, a criação do primeiro jornal clandestino que difundiu notícias sobre a guerra colonial (Direito à Informação, 1963), a fundação da cooperativa Pragma (1964), o papel preponderante nas vigílias pela paz (igreja de S. Domingos, 1969, e capela do Rato, 1972), os cadernos GEDOC (1969), a participação na Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos (1970), o Boletim Anti-Colonial (1972). E muitas, muitas outras realizações que, sem ele, nunca teriam existido ou ficariam aquém da amplitude que tiveram.

Em finais de 1973, foi preso pela última vez, durissimamente torturado pela PIDE e só o 25 de Abril o restituiu à liberdade. Foi depois um dos fundadores do MES, nele se manteve até à sua extinção e nunca deixou de ter, desde então, uma participação cívica muito activa, nomeadamente a nível da cidade de Lisboa.

Há pouco menos de três anos, a vida deu-lhe um golpe cruel: cegou, mais ou menos repentinamente. Mas continuou preocupado com tudo e com todos.

Há cerca de um ano, a pretexto do lançamento de um livro sobre uma cooperativa lançada no Porto nos anos 60 (a Confronto), um grupo de amigos decidiu prestar-lhe uma espécie de homenagem e foi sem surpresa que viram encher-se um auditório com várias centenas de pessoas. Para todas elas, o Nuno foi – e é – uma referência, um marco de vida e objecto de uma enorme gratidão.

A encerrar a referida sessão afirmou: «Estou velho, estou a chegar aos 90 anos. Há órgãos que me estão a falhar. Um deles é a memória, que se está a desfazer como pó, o que me causa um certo sofrimento. (…) Além da perda da visão. Estou emocionado, mas estou muito contente, porque esta sessão, tendo sido anunciada como de homenagem à minha pessoa e não deixando de o ser, fez também justiça a todos aqueles que eu conheci na luta contra a ditadura, naqueles anos difíceis. (…) Os dias de hoje, e porventura os de amanhã, vão exigir acções múltiplas, fortes, convictas. e por vezes decisivas, para que o mundo seja melhor para todos. (…) Muito obrigado.»

Neste vídeo, a sua intervenção na íntegra:


P.S. - Post republicado por:
* Centro Nacional de Cultura
* Forum Abel Varzim
* Esquerda.net

* Não Apaguem a Memória!
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20.01.1554, D. Sebastião



Reza a história que D. Sebastião nasceu num 20 de Janeiro, no ano da graça de 1554. Ficou a esperança de que um dia reaparecesse, numa manhã com nevoeiro ou sem ele, mas já lá vão mais de seis séculos e a esperança-espera continua.

Daqui a quatro dias teremos um outro Sebastião, ou dois em duelo por mais três semanas. «Sebastiõesinhos», no máximo. Ou não assistiram ao debate de ontem?


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19.1.16

Almeida Santos



Aprendi muito sobre a História de Portugal relativamente recente com a leitura destes dois livros. 
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19.01.1942, Nara Leão



Nara Leão faria hoje 74 anos e morreu, em 1989, com apenas 47. Estreou-se em 1963, mas a sua verdadeira consagração deu-se depois do golpe militar de 1964, em «Opinião», um espectáculo de crítica à repressão policial. Foi passando de musa da Bossa Nova a cantora de protesto.

Canções? Muitas, com destaque para «O Barquinho», «Com Açúcar e com Afecto» e a inesquecível interpretação de «A Banda» com Chico Buarque da Holanda.






E em 1966: ainda hoje como se fosse ontem.


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Tribunal Constitucional: uma decisão envenenada, mesquinha, inconsistente e vergonhosa



«Envenenada, mesquinha, inconsistente, vergonhosa - a decisão do Tribunal Constitucional as pensões dos titulares políticos.

É um assunto envenenado, antes de mais. Resulta de uma iniciativa de deputados até agora anónimos, mas certamente do PS ou do PS e do PSD. Se forem só do PS, problema para Nóvoa e Belém, que nos últimos dias disputam acirradamente o concurso de eu-é-que-sou-mais-PS-do-que-tu e vão ter que responder aos seus correlegionários. Se os deputados anónimos forem do PS e do PSD, pior ainda, é a casta a mover-se pelas sombras e a lembrar a sua unidade por cima de qualquer diferença. Podem aliás ter sido os mesmos que tentaram aprovar a restituição das pensões há um ano, que falharam no parlamento e na opinião pública e que agora se arriscaram a envenenar a campanha eleitoral com este assunto, sempre mantendo um prudente silêncio sobre os nomes dos autores da diligência junto do Tribunal.

É um assunto mesquinho, depois. Tudo se resume a isto: a norma agora em vigor determinava que um ex-titular de cargo público não receberia a pensão se já tivesse outros 2 mil euros mensais de rendimento (ou que receberia a diferença até esse valor) em vez de acumular com a pensão ou com o salário (porque, pela regra inicial e só abolida em 2005, até poderia ter havido um jovem de 26 ou de 30 anos com uma pensão vitalícia). Agora passam a poder acumular a pensão com qualquer outro rendimento, nos termos da decisão do Tribunal.

É uma posição inconsistente, ainda. Alguns e algumas destas deputadas defendem a alteração do regime eleitoral para os círculos uninominais, em nome da “aproximação aos eleitores”. No entanto, não hesitam, num assunto melindroso, em esconder-se dos seus eleitores, e menos hesitam em reclamar um direito especial para si próprios, bem longe da vida dos seus queridos eleitores.

É um assunto vergonhoso, finalmente. A ideia de que os ex-titulares de cargos públicos devem ter um regime especial de privilégio, ou que devem escapar às restrições da segurança social que abrange todos os cidadãos, é sinistra. É estúpida, alimenta o ódio populista contra os políticos e estes beneficiários merecem estar na berra. É errada, porque os autores das leis que se declaram universais criam uma lei só para si. Por isso, a lei acabou em 2005, mas ficou a lista dos que até então beneficiavam, alguns dos quais se batem ardorosamente pela salvação do seu pecúlio.

Tenho orgulho de ter feito parte do único grupo parlamentar que nunca aceitou privilégios deste tipo, como os subsídios de reintegração.

(Excluo desta lista, como sempre o fiz, os ex-presidentes da República, que acho como sempre achei que deviam ter um salário permanente depois de exercerem o cargo referencial do sistema democrático, para evitar que fiquem na condição de trabalhar para uma empresa ou de emprestar a sua imagem a uma marca ou a interesses particulares.)

Francisco Louçã no Facebook

P.S. – Entretanto, foram conhecidos os nomes dos deputados que apresentaram a questão ao Tribunal Constitucional. 
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A Europa, Angela Merkel e o resto



«Há pouco mais de um ano foi editado em França um livro incendiário: "Submissão" de Michel Houellebecq. Foi para as livrarias no preciso momento do ataque ao Charlie Hebdo e o seu âmago, uma França controlada politicamente pelos filhos do Islão, tornou-se incandescente e foi esquecido rapidamente.

Mas confrontava os franceses com uma dura possibilidade: o berço do Iluminismo estaria ameaçado pelo multiculturalismo? Resvalaria isso para um conflito aberto? Os atentados do Bataclã, um ano depois, colocaram Paris a ferro e fogo. Tudo isto já no meio de uma chegada de refugiados à Europa sem memória, que buscavam sobretudo o "paraíso prometido" da Alemanha e dos países do Norte da Europa, longe da guerra. Com fronteiras cada vez mais rígidas nos países do Leste Europeu, os refugiados encontraram uma Angela Merkel de braços abertos, que tinha também outros contornos económicos e de envelhecimento da população alemã. (…)

A passagem de ano em Colónia (e agora os atentados de Istambul que atingira sobretudo turistas alemães) é o último golpe na política de asilo de Merkel. Cada vez mais fragilizada na Alemanha e dentro do seu próprio partido. (…)

A paz social está irremediavelmente posta em causa, por esta emigração maciça e pelos atentados terroristas que geram o medo na Europa. O Iluminismo vive agora com medo do seu próprio espelho. Na Dinamarca, acabou de ser aprovado um acordo legislativo que prevê a confiscação de objectos de valor aos refugiados para financiar a sua estada. Como pano de fundo, a Europa defronta-se com os fantasmas que durante muito tempo tentou esconder com guerras longe de portas e um "humanismo" conveniente: é a coexistência possível neste clima de medo e de radicalismo em que os europeus estão colocados? (…) O idealismo e o realismo têm agora de encontrar um porto comum. De outra forma, o Iluminismo europeu apagar-se-á de vez.»

18.1.16

Dica (206)




«As guerras intestinas dentro do Partido Socialista levaram o partido a “distribuir-se” entre dois candidatos da sua área, desaparecendo enquanto partido das presidenciais. A ideia de que a não-desistência facilita a captura de votos dos respectivos eleitorados é uma falácia quando está pela frente um candidato como Marcelo Rebelo de Sousa que entra em todos os eleitorados. O que estamos a assistir no eleitorado de centro-esquerda é uma luta fratricida entre Nóvoa e Belém que chega a ser deprimente.» 
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É isto


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O 18 de Janeiro na Marinha Grande



Em reacção à Constituição que Salazar começou a preparar desde que chegou ao poder, em 5 de Julho de 1932, e que acabou por ser promulgada em Abril de 1933, à criação da polícia política (PVDE) e à legislação que neutralizou as organizações operárias, fascizando os sindicatos, gerou-se um amplo movimento operário que, depois de alguns acidentes de percurso, culminou na convocação de uma «Greve Geral Revolucionária» para 18 de Janeiro de 1934.

Porque na véspera a PVDE prendeu alguns dos principais responsáveis e activistas, o impacto foi menor do que esperado. Apesar disso, explodiu uma bomba no Poço do Bispo em Lisboa, na noite de 17, e o caminho-de-ferro foi cortado em Xabregas, em Coimbra, explodiram duas bombas na central eléctrica e houve movimentações em diversos outros pontos do país (Leiria, Barreiro, Almada, Sines e Silves). A mais significativa deu-se na Marinha Grande, onde grupos de operários ocuparam o posto da GNR, os edifícios da Câmara Municipal e dos CTT.

Mas a repressão foi forte e uma das suas decisões concretizou-se na criação de uma colónia penal no Tarrafal, para onde acabaram por seguir, em 1936, muitos dos detidos do 18 de Janeiro. Nove acabaram por lá morrer.

Estes acontecimentos puseram fim a décadas de sindicalismo livre, apesar de todos os condicionalismos persecutórios. Além disso, o falhanço que constituíram e a repressão que se seguiu liquidaram a liderança do movimento operário pelo anarco-sindicalismo.



Conselho de leitura: Fátima Patriarca - O «18 de Janeiro»: uma proposta de releitura.

[Republicação]

Ary dos Santos morreu há 32 anos



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17.1.16

O Inverno é frio em NY, mas ainda assim


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Que idade é que nós tínhamos quando foi o 25 de Abril?




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17.01.2016 – Françoise Hardy, 72



Françoise Hardy faz hoje 72 anos. Foi anunciado há seis meses que pôs fim à carreira, de mais de 50 anos, enquanto luta há muito tempo com um maldito cancro.

Quando desaparecer nunca encherá os murais das redes sociais. Mas nós, «les garçons et les filles de son âge», ficaremos para sempre a dever-lhe memórias de ternura e de inocência. Voltar a ouvi-la, nos seus primeiros tempos, devolve-nos uma ingenuidade que parece hoje irreal, quase impossível que alguma vez tenha existido. Mas existiu, marcou uma parte do que em nós se foi sedimentando e que nos faz, ainda hoje, seguir em frente.




Do seu último álbum, de 2012:




E, inevitavelmente, o início de tudo (1962), a canção ícone que ficou para sempre, com letra e música de sua autoria:


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Dica (205)




«Llamamiento para construir un espacio de convergencia europeo contra la austeridad y para la c«onstrucción de una verdadera democracia.» 
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O escorpião e a tartaruga



«O candidato Marcelo Rebelo de Sousa diz bem do atual primeiro-ministro António Costa e mal do anterior Governo do seu próprio partido. Estranho? Mera tática eleitoral? Sim. Mas é muito mais do que isso.

Se Marcelo chegar a Presidente terá como prioridade afastar Passos Coelho e puxar o PSD mais para o centro, mais para a social-democracia. Para quê? Para poder derrubar o Governo da esquerda e permitir que a direita volte ao poder. (…)

Não por acaso Marcelo é conhecido por ser um intriguista, um manipulador, um esquemático. É essa a ideia que tem da política. Lançar a confusão, além de lhe dar um evidente gozo, é a maneira de garantir controlo. (…)

Bem sei que não se pode prestar muita atenção às palavras de um candidato que anda displicentemente pelo país com o bolso cheio de toalhetes desinfetantes. Diz, a cada momento, o que acha que deve dizer e não aquilo que realmente pensa. Mesmo assim há um argumento bastante interessante que tem repetido amiúde. Afirma Marcelo que o país está dividido, entre esquerda e direita, e a sua missão é unir. Ora a esquerda, mesmo historicamente desunida, conseguiu gerar uma forma de colaboração e funcionamento num novo quadro democrático. É a direita que ainda não foi capaz de encontrar o seu lugar. Contínua rancorosa e disfuncional. A fratura do país é um problema exclusivo da direita. Não da esquerda que faz o que lhe compete. A necessidade de expurgar o PSD da direita radical, tornando-o mais aceitável, é uma evidência. Só dessa forma pode reconquistar o poder. (…)

Há uma fábula que explica bem o assunto. Para quem não conhece, reza assim. Um escorpião está na margem de um rio com vontade de o atravessar. Sem saber nadar vê uma tartaruga por perto e diz-lhe: podias levar-me para a outra margem. Ao que esta responde: tenho medo que me piques. O escorpião esclarece: se eu fizer isso morremos os dois. A tartaruga cede. A meio do rio o escorpião pica a tartaruga. Atónita, esta pergunta: porque fizeste isto? Porque é da minha natureza, responde o escorpião.

Marcelo é um escorpião. É da sua natureza picar mesmo quem lhe dá a mão. Mais do que Passos Coelho, sua primeira vítima, arriscamo-nos a que a tartaruga seja afinal Portugal e nos afundemos todos.»