«O candidato Marcelo Rebelo de Sousa diz bem do atual primeiro-ministro António Costa e mal do anterior Governo do seu próprio partido. Estranho? Mera tática eleitoral? Sim. Mas é muito mais do que isso.
Se Marcelo chegar a Presidente terá como prioridade afastar Passos Coelho e puxar o PSD mais para o centro, mais para a social-democracia. Para quê? Para poder derrubar o Governo da esquerda e permitir que a direita volte ao poder. (…)
Não por acaso Marcelo é conhecido por ser um intriguista, um manipulador, um esquemático. É essa a ideia que tem da política. Lançar a confusão, além de lhe dar um evidente gozo, é a maneira de garantir controlo. (…)
Bem sei que não se pode prestar muita atenção às palavras de um candidato que anda displicentemente pelo país com o bolso cheio de toalhetes desinfetantes. Diz, a cada momento, o que acha que deve dizer e não aquilo que realmente pensa. Mesmo assim há um argumento bastante interessante que tem repetido amiúde. Afirma Marcelo que o país está dividido, entre esquerda e direita, e a sua missão é unir. Ora a esquerda, mesmo historicamente desunida, conseguiu gerar uma forma de colaboração e funcionamento num novo quadro democrático. É a direita que ainda não foi capaz de encontrar o seu lugar. Contínua rancorosa e disfuncional. A fratura do país é um problema exclusivo da direita. Não da esquerda que faz o que lhe compete. A necessidade de expurgar o PSD da direita radical, tornando-o mais aceitável, é uma evidência. Só dessa forma pode reconquistar o poder. (…)
Há uma fábula que explica bem o assunto. Para quem não conhece, reza assim. Um escorpião está na margem de um rio com vontade de o atravessar. Sem saber nadar vê uma tartaruga por perto e diz-lhe: podias levar-me para a outra margem. Ao que esta responde: tenho medo que me piques. O escorpião esclarece: se eu fizer isso morremos os dois. A tartaruga cede. A meio do rio o escorpião pica a tartaruga. Atónita, esta pergunta: porque fizeste isto? Porque é da minha natureza, responde o escorpião.
Marcelo é um escorpião. É da sua natureza picar mesmo quem lhe dá a mão. Mais do que Passos Coelho, sua primeira vítima, arriscamo-nos a que a tartaruga seja afinal Portugal e nos afundemos todos.»
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