10.7.10

Cubanos em Espanha - Emigrantes? Exilados? Deportados?


São dez os presos a quem o Arcebispado de Havana já comunicou que partirão em breve para Espanha, os primeiros cinco no início da próxima semana. Directamente da prisão para o aeroporto (atenção: não poderão ir a casa…), onde serão emitidos os documentos necessários, ao mesmo tempo que se despedirão dos familiares que não os acompanharem na viagem.

Entretanto, são muitas as dúvidas quanto aos exactos pressupostos em que serão libertados. Para Espanha, serão imigrantes e não exilados. Também não se considera tratar-se de uma deportação, já que funcionários da embaixada espanhola em Cuba, bem como autoridades eclesiásticas, estarão a entrevistar cada preso para garantir que partem todos voluntariamente e, também, porque não está excluída a possibilidade de regressarem um dia a Cuba, se forem autorizados.
Para Cuba, são exactamente o quê? Não se sabe: Raúl Castro continua ruidosamente calado.

Mas a pergunta a que ninguém responde, apesar de simples e directa, é pura e simplesmente a seguinte: o que acontecerá na hipótese, nada improvável, de alguma das 52 pessoas elegíveis neste processo se recusar a sair de Cuba? Continuará na prisão? «Después, cuando ya esté en marcha, veremos cómo se resuelven los problemas y qué sucede con los que quieren quedarse en Cuba», terá dito uma fonte diplomática.

Modo um tanto «levezinho» de tratar o problema? Talvez não, tudo deve estar rigorosamente previsto.

P.S. – São muitas as fontes de notícias da dissidência e muitas as reacções, como por exemplo esta:
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CLPL?


No Público de hoje, duas páginas com vários textos, bem elaborados, sobre a adesão da Guiné Equatorial à CPLP, que poderá concretizar-se já no próximo dia 23 (*).

Esta antiga colónia espanhola quer unir-se à pátria de Fernando Pessoa e conta já com o apoio de Lula e de alguns dos membros africanos. Com duas línguas oficiais – castelhano e francês – está disposta a introduzir uma terceira e o seu presidente, Teodoro Obiang, contratou, por um milhão de dólares / ano, um assessor de imagem que foi conselheiro de Bill Clinton, numa tentativa de apagar a má reputação que merecidamente foi ganhando.

Segundo a Amnistia Internacional, a Guiné Equatorial é um país «tão rico em recursos minerais como em violações dos direitos humanos», 77% da população vive abaixo do limiar da pobreza, o nível de corrupção é elevadíssimo, o presidente é uma espécie de deus, há detenções arbitrárias por razões políticas e outras. Mas… tem muito petróleo e não só!

Como acabará a história? Não se sabendo ainda qual será a posição de Portugal, há que ter em conta uma série de factores e aceitam-se apostas (ou consulte-se o polvo...):

«Em 2011 o país organizará a cimeira da União Africana e em 2012 realizará, com o Gabão, o Campeonato Africano das Nações, eventos que prometem aumentar os investimentos em infra-estruturas. Não admira que também empresas portuguesas e brasileiras queiram participar nas oportunidades de negócio. Espera-se que a integração na CPLP lhes facilite a competição pelos contratos lucrativos.
A solicitação de Obiang já tem o apoio do Brasil e dos países-membros africanos que esperam beneficiar da riqueza da Guiné Equatorial. Resta saber se Portugal estará também pronto a ignorar os próprios princípios da CPLP para aceitar a ditadura de Obiang no seio da comunidade lusófona. Uma vez integrada na CPLP qualquer influência sobre a ditadura na Guiné Equatorial é impossível, visto que outro princípio da comunidade é a não-ingerência nos assuntos internos de cada Estado.»

Fosse a Birmânia deste lado do mundo, e não tivéssemos por lá tido pouco mais do que missionários e aventureiros a roubar sinos para fazer canhões, e poderia bem ser o próximo candidato à CPLP. As riquezas naturais também são muitas, Aung San Suu Kyi aprenderia português e o ópio ajudaria a esquecer muitas das nossas mágoas.

O PS e a Esquerda


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Walk up



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9.7.10

Vão-se os dedos, ficarão alguns anéis


Este post foi escrito a convite do Delito de Opinião, onde foi hoje publicado. Aproveito para agradecer a hospitalidade e, também, para exprimir de novo o meu apreço por um espaço que visito diariamente e que é um dos locais mais apreciáveis da blogosfera, em termos de qualidade e de civismo.

Para os mais optimistas, a «crise» já passou, para outros o pior ainda virá. Tanto faz porque ela aí está, forte e dura, e os factos não permitem que ninguém consiga escondê-la.

Se, aparentemente, os gregos não venderão nem Corfu nem a Acrópole para acalmarem as empresas de rating, já Berlusconi não pestaneja e está disposto a encaixar uns belos milhões de euros por mais de nove mil «pedaços» de Itália, que serão colocados no mercado internacional. Não será (para já?) o Coliseu de Roma ou a catedral de Milão, mas muitos palácios, praias e ilhas inteiras. Ainda poderemos re-imaginar «A Morte em Veneza» na praia do Lido, mas, bem perto, na ilha de Sant'Angelo della Polvere, veremos em breve um pagode chinês e um templo budista ou um enorme palácio de um qualquer magnata do petróleo.
E quem instalará o quê no antigo palácio real de Palermo? Ou na Villa Giugla, do século XVI, em Roma?

É óbvio que estes territórios continuarão italianos e não serão anexados nem por Hu Jintao, nem pelo rei Abdullah, mas não deixa de fazer alguma impressão antever estas «dentadas» em heranças culturais europeias, porque aparecem um pouco como premonições de um qualquer fim à vista. Nós, europeus, não só encolhemos em número, como alienamos agora partes do nosso corpo e parecemos reduzidos à condição de contabilistas preocupados com deficits e contra-déficits, sem grandes rumos e com poucos horizontes.

Não que isso me incomode especialmente porque sei que sempre existiram declínios e fins das civilizações e nem sequer considero que se trate de uma desgraça para a humanidade - bem pelo contrário. Mas creio que é disso que se trata, a médio prazo, num continente que se considera ainda o centro do mundo e se recusa a reconhecer que já deixou de o ser.

Há algum tempo, aterrei em Frankfurt, vinda de Pequim, numa tarde chuvosa de um Sábado de Novembro. Na minha cabeça, estavam ainda as ruas cheias de multidões, os milhares de bicicletas e automóveis, o movimento que não parava durante vinte e quatro horas. Tive medo quando cheguei ao centro da cidade alemã: tudo era cinzento, chuviscava, não se via rigorosamente ninguém, até um gato preto fugiu alucinadamente quando encarou alguns seres humanos. A sensação que tive foi que a Europa tinha acabado durante as duas semanas em que eu estivera na Ásia e que ninguém me tinha avisado.

Pessimismo radical? Nem por sombras, apenas necessidade de perspectivar a realidade um pouco de longe. De perto, a vida continua, as férias estão à porta, os portugueses continuam a ir para Varadero, Cristiano Ronaldo é pai, o mais provável é que seja uma equipa europeia a ganhar o Mundial e o engenheiro Sócrates diz-nos que o futuro será risonho daqui a meia dúzia de dias!
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Memória de uma Cooperativa Cultural


É lançado no Porto, no próximo dia 19, um livro de Mário Brochado Coelho sobre a «Confronto», uma  cooperativa que foi uma peça importante no puzzle da resistência à ditadura durante os seus últimos anos - sobretudo a Norte, mas não só.

Já conheço bem o texto porque vou dizer algumas palavras na sessão da sua apresentação e, também, porque o autor me deu o prazer (e sobretudo a honra…) de me pedir que escrevesse o Prefácio. Trata-se de um trabalho notável de pesquisa exaustiva de actividades, protagonistas e documentos, que permite a  reconstituição de uma história e a preservação da memória - ou não estivéssemos a falar de Mário Brochado Coelho...

Passo-lhe a palavra:

Contrariando a nossa habitual tendência de «fazer história» com base num ponto de vista único centrado exclusivamente em Lisboa, procurei recuperar e dar a conhecer os principais traços do nascimento, actividade, encerramento e significado de uma instituição político-cultural do Porto denominada «Confronto, Cooperativa de Promoção Cultural, SCRL».

Tentei fazê-lo com o rigor possível e fugindo à forte subjectividade e emoção dos que – como eu – viveram intensamente o dia-a-dia desta cooperativa. O discurso tem, pois, um estilo enxuto.

Serão, porventura, muitos os que poderão encontrar neste trabalho algumas referências importantes sobre as suas vidas, a sua formação pessoal e os seus sonhos de um futuro melhor. Procurei retirar do silêncio iniciativas, pessoas, factos, indignações e resistências que marcaram de modo significativo a vida política de vários sectores da intelectualidade portuense e nortenha da segunda metade dos anos 60 e início dos anos 70 do século passado (1966-1972) e que serviram de escola para variados e diferentes ramos de pensamento inovadores, alguns dos quais foram determinantes, por vezes, nas práticas política e social nacionais durante a(s) década(s) seguintes.

A Confronto foi um lugar de diálogo entre pessoas, ideias e grupos diferentes mas que se situavam dentro de um quadro mínimo de defesa dos direitos humanos e oposição política ao regime fascista de Salazar e Caetano. Colocou em «confronto» perspectivas diversas de intervenção cívica, ética e social, ensinando cada um a conhecer e respeitar as diferenças dos demais ao aprender a descobrir nelas todos os seus tesouros escondidos. Mostrou que a realidade é rica em diversidades e que ninguém é portador de uma qualquer verdade absoluta. Provou, por fim, que o ser humano é simultaneamente uno e complexo.

(N.B. - MÁRIO BROCHADO COELHO é autor das obras Em Defesa de Joaquim Pinto de Andrade, 1971, Porto, Edições Afrontamento; Uma Farsa Eleitoral – O Caso do Sindicato Metalúrgico de Aveiro, 1973, Porto, Edições Afrontamento; Lágrimas de Guerra (diário), 1987, Porto, Edições Afrontamento; Cinco Passos ao Sol (poesia), 1991, Porto, Edições Afrontamento; A Liberdade Sindical e o Quadro Estatutário das Associações Sindicais (separata), 2004, CEJ/IGT, Coimbra Editora.)
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Forçados a sair de Cuba?


Nasce uma possível nova polémica a propósito da libertação de 52 presos políticos pelo governo de Havana, conseguida devido à intervenção eclesiástica com o apoio do governo espanhol: serão eles obrigados a deixar Cuba rumo a Madrid?
  • O comunicado do Arcebispado diz que «podem» sair do país, não que a tal estejam obrigados.
  • Fontes diplomáticas espanholas terão garantido que «Espanha não aceitará no seu território nenhum ex-preso que não aceite viajar voluntariamente».
  • A Amnistia Internacional emitiu ontem um comunicado em que refere que «forçá-los a deixar o país seria uma nova tentativa de suprimir a liberdade de expressão e de movimentos em Cuba.»
Ignora-se, para já, a posição do governo cubano, mas não é difícil prever que tudo fará para que NEM UM dos que serão libertados possa passear livremente pelos passeios do Malecón… .

Entretanto, Yoani Sánchez deu esta pequena entrevista à CNN, quando foi conhecido comunicado do Arcebispado:


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8.7.10

Para a rua



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Sinais da crise?

Num restaurante onde por vezes almoço, as pataniscas passaram a ser «de peixe», o pato deu lugar a «aves» no respectivo arroz e hoje vi, pela primeira vez, «Atum à Brás». Quando o «coelho à caçador» passar oficialmente a «gato», mudo de poiso.
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Palmas para Cuba?


Vão sair das prisões cubanas os últimos 52 dissidentes do Grupo dos 75, detidos desde 2003. Cinco seguirão em breve para Espanha, os outros ao longo dos próximos meses.

Anúncio feito pelo governo de Raúl Castro e publicado no Granma, órgão oficial do partido comunista cubano? Não: o jornal apenas mostra as fotografias da reunião do presidente com o cardeal Ortega e com o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol e remete para uma nota do Arcebispado de Havana. Primeira perplexidade: Cuba terá deixado de ser um estado 100% laico, já que delega na autoridade eclesiástica a divulgação de uma decisão governamental?

Segunda estranheza (ou nem por isso): trata-se de uma libertação com exílio forçado. Os ex-presos só poderão regressar a Cuba, mesmo para uma simples visita, com uma autorização especial. «Liberdade» significaria que pudessem defender os direitos humanos no seu país e não no estrangeiro.

Terceiro factor a ter em linha de conta: a greve de fome de Guillermo Fariñas, iniciada em Fevereiro, valeu a pena. Sim porque é óbvio que, depois do «escândalo» Zapata, foi o medo do fim próximo de Fariñas, que apressou o processo. A nota do Arcebispado termina precisamente com um apelo para que este pare a greve de fome, iniciada em Fevereiro, embora ele já tenha declarado que começará a ingerir alguns líquidos quando partirem os primeiros cinco presos, mas se manterá sem comer até que sigam mais dez ou doze dos mais doentes.

Quarta consideração e agora num outro plano: citei há alguns dias Oewaldo Payá, prémio Sakharov do Parlamento Europeu, quando este lamentou que alguns padres «aceitem o papel de interlocutores únicos do Governo», sobrando para os cubanos apenas o de espectadores e não o de protagonistas da sua própria libertação, como deviam sê-lo. Juntou-se mais tarde o governo espanhol. A dissidência cubana, não a de Miami mas a que luta como pode, com as poucas armas de que dispõe, não fez parte do cenário, pelo menos tanto quanto se sabe. Pragmatismo? Realismo? Humilhação também, no mínimo.

Por fim: há, em tudo isto, uma espécie de cordão umbilical entre colonizador e colonizado, que me impressiona tanto (desculpe-se a comparação…) como ver ontem a alegria de Cavaco e dos cabo-verdianos na inauguração de uma réplica da Torre de Belém no Mindelo. A pátria de Raúl, Ortega e Moratinos será talvez a língua castelhana, mas deveriam demonstrar publicamente que os cubanos merecem mais explicações do que a simples notícia de que uns tantos serão tirados de uma prisão e exportados para Madrid. Mesmo que os três tenham exultado com a vitória da Espanha no jogo de ontem, a que assistiram em conjunto na residência presidencial cubana.

P.S. – Leitura indispensável, no blogue de Yoani Sánchez: El avión de Moratinos.
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Deve ser a isto que chamam uma decisão estratégia


Mas alguém sabe o que poderá ser um sistema de pensões daqui a 50 anos? Nem o polvo!
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7.7.10

Entretanto, na África do Sul: balanços e contestação


À margem do Mundial de Futebol, têm sido dadas a conhecer muitas das terríveis realidades desse complexo país que é a África do Sul, algumas delas relacionadas com o próprio campeonato.

É o caso num longo artigo divulgado hoje pelo «Passa Palavra», da autoria de Patrick Bond que dirige o «Center for Civil Society», em Durban, e que tem publicado diariamente notícias do «Observatório do Campeonato Mundial» sobre exploração politico-sócio-económica do evento e perigos de xenofobia que está a gerar.

Segundo o autor, em resumo, «além de protegida pela polícia, a FIFA não paga impostos, ignora os controlos de divisas e, de caminho, prepara-se para deixar a África do Sul à beira de um crash cambial».

Na íntegra aqui.

Um dos vídeos da contestação:


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Hoje, alerta vermelho no Mundial


Mensagem de Merkel á equipa da Alemanha: «Se vocês não ganham esta merda, eu dispo-me!»
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De remendo em remendo


Não leio pela cartilha de Baptista Bastos, nem sou especial admiradora do que escreve, mas uma parte da sua crónica de hoje, no DN, serve-me de mote.
«O PS promoveu as suas Jornadas Parlamentares. Os seus notáveis, assim como os menos notáveis, identificaram as raízes dos nossos problemas contemporâneos com a maldade do sistema financeiro. Nenhum dos oradores que me foi dado ouvir analisou o fundo da questão. (…)
Nos discursos de mera circunstância, somente Ferro Rodrigues, pelo qual desejo manifestar consideração, se aproximou da génese da crise, denunciando, timidamente, o carácter predador do capitalismo e da fase de domínio sobre todas as formas sociais em que se encontra. Mas ficou-se pela superfície. É pena.»
Note-se que eu não esperava nada de significativo ou importante do que fui sabendo das ditas jornadas parlamentares do PS e nem vale a pena voltar a falar de socialismos e de gavetas.

Mas julgo, sim, que personalidades, com alguma distância e muitas obrigações, podiam – e deviam – situar-se num plano diferente. Estou a pensar no que Mário Soares tem escrito e tem dito nos últimos tempos e, sobretudo, na entrevista que Jorge Sampaio deu ontem à SIC N (pode ser vista aqui).

Remendos, mais remendos e… toda a esperança na convergência e em consensos entre o PS e tudo o que está à sua direita. Nenhuma análise das razões teóricas da crise, nenhuma referência, mesmo que passageira, a uma esperança, ainda que muito ténue (não consigo pesar mais as palavras…), de um sistema menos injusto, mais equitativo do que o capitalismo que nos trouxe à situação em que nos encontramos. Nada no «horizonte»!

Estamos em fase de imediatismo e não é tempo para grandes reflexões teóricas e ideológicas? É assim em toda a parte, dada a gravidade da situação e a urgência de encontrar soluções «para ontem»? Não é verdade. Basta percorrer a imprensa estrangeira, mesmo só a que é acessível em linha, para verificar o contrário. Por cá, ficamos ao nível dos analgésicos. Também aprecio não ter dores de cabeça nas quatro horas que se seguem, mas espero que o meu médico procure a raiz do problema e me explique minimamente o diagnóstico.

Opinadores? Temos às centenas. Pensadores?
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6.7.10

Big Bang Big Boom



«An unscientific point of view on the beginning and evolution of life ... and how it could probably end.»

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É a cultura, estúpido!


A notícia vem em todos os jornais: ontem, centenas de profissionais ligados a diferentes áreas de actividade cultural reuniram-se em Lisboa e elaboraram uma Plataforma Geral, concretizada numa Petição que se encontra agora em fase de recolha de assinaturas.

Este é o texto que pode ser lido e subscrito aqui.


Petição Plataforma Geral da Cultura - Teatro Maria Matos (Lisboa) - 5 de Julho de 2010
Para:Primeiro-Ministro; Ministra da Cultura; Ministro das Finanças

O sector da Cultura – as actividades culturais e a criação artística em geral – tem vindo a sofrer ao longo dos últimos dez anos, um sistemático desinvestimento por parte do Estado Português. 

A situação atingiu uma tal degradação, que o próprio Primeiro-Ministro o reconheceu na última campanha eleitoral, comprometendo-se a que na actual legislatura o sector da Cultura seria prioritário e veria o investimento do Estado consideravelmente aumentado: é isso que diz o Programa do Governo. 

E no entanto, desde o passado dia 18 de Junho, com a publicação do Decreto-Lei nº 72-A/2010 e as medidas que aí são impostas ao Ministério da Cultura - uma cativação geral de 20% e a retenção de 10% nos contratos celebrados e a celebrar - a situação abeira-se da catástrofe. 

Por isso queremos hoje e aqui reafirmar:
1. Estamos conscientes da crise que o país atravessa, mas há dez anos que o sector da Cultura vive com sucessivos cortes orçamentais, com verbas cada vez mais reduzidas: para a Cultura, a austeridade não está a começar agora, começou há já muitos anos.
2. Os profissionais das actividades culturais e artísticas há muito que fazem sacrifícios para manter a sua actividade e a sua profissão: trabalham com orçamentos cada vez mais escassos, trabalham com contrapartidas cada vez mais reduzidas.
3. Ao contrário do que diz a Senhora Ministra da Cultura, são os próprios profissionais e criadores, que vivem nesta situação, que em larga medida financiam eles próprios a actividade cultural em Portugal.
4. A criação cultural contemporânea portuguesa é uma das actividades que mais projecção internacional tem dado ao país. E internamente, como foi reconhecido num estudo independente, as indústrias culturais têm um peso cada vez mais significativo na economia portuguesa.
5. Os cortes que o Governo agora pretende fazer terão consequências dramáticas para os projectos actualmente em curso, com a sua paralisação e consequente fecho de empresas, estruturas, desemprego entre os trabalhadores sem protecção social, desencorajamento entre os criadores.
6. A falta de comunicação e de informação clara por parte do Ministério da Cultura e das suas Direcções-Gerais sobre a situação agora criada gerou um clima de inquietação e insegurança absolutamente inaceitável. 

Por isso não podemos hoje deixar de exigir:
1. A revogação imediata do artigo 49º do Decreto-Lei nº 72-A/2010, e da cativação de 20% das verbas do Ministério da Cultura, para a qual é suficiente a vontade política do Primeiro-Ministro.
2. Com a consequente revogação da redução em 10% sobre os contratos em curso ou a realizar durante o corrente ano, bem como do orçamento de Direcções-Gerais e Institutos do Ministério da Cultura directamente relacionados com os apoios à criação.
3. Mas exigimos sobretudo que o Estado Português assuma de forma clara o Direito à Cultura e o investimento na Cultura e nas Artes.
4. E que os profissionais da Cultura sejam encarados e tratados com o respeito que o seu trabalho merece, que se acabe de uma vez por todas com o discurso dos subsídio-dependentes, que se respeitem os criadores e os artistas portugueses.

Ada Pereira - PLATEIA – Associação de Profissionais das Artes Cénicas
Luís Urbano - Plataforma do Cinema
Pedro Borges - Plataforma do Cinema
Rui Horta - REDE – Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea
Tiago Rodrigues - Plataforma do Teatro
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Em Espanha: aborto e polémica

Entrou ontem em vigor a nova «Ley de Salud Sexual y Reproductiva», que aguarda agora a resposta do Tribunal Constitucional a um recurso interposto pelo PP.
E os cartoonistas não faltaram à chamada.

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5.7.10

Do baú


Há três dias, no Facebook, discutiu-se leituras da Condessa de Ségur até às 3 AM. E repescaram-se estas capas
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O capitalismo neoliberal em estado zombie?


Tenho vindo a divulgar uma série de textos recentemente publicados, nomeadamente da imprensa espanhola, que podem ajudam a reflectir para além da espuma dos dias e das crises, independentemente de se concordar ou não com as opiniões e os diagnósticos que veiculam.

É hoje o caso para uma entrevista em que Antoni Castells, economista, conselheiro de Economia e Finanças da região da Catalunha, anuncia o inevitável «fim do capitalismo», não tanto pela crise actual mas pelos seus próprios valores e características.

Aconselho a leitura na íntegra e retiro alguns excertos:

«El capitalismo liberal es incapaz de superar su propia crisis. Para empezar, tiene como objetivo el crecimiento ilimitado. En sí mismo, no es sostenible. Se basa además en el sometimiento del resto de actividades sociales a la suya y a sus reglas y valores: la apropiación de la plusvalía, el individualismo, el deseo ilimitado de agrupar riqueza y la competitividad, que no tiene nada que ver con la competencia. (…)

Se ha llegado a la decrepitud, que a largo plazo conduce a la muerte. Es cuestión de tiempo. Hay quien habla de hundimiento inmediato, otros vislumbran brotes verdes. El capitalismo neoliberal vive ya en un estado zombie.(…)

El problema es la generalización de los valores del capitalismo, que eran inicialmente los de la burguesía. Se han impuesto sobre la creatividad social. Asumimos la generalización de la corrupción, incluso pensamos que hubiéramos echo lo mismo. Cuando esos valores se convierten en los de todos el sistema se vuelve insostenible.

Como tal aún puede durar bastante tiempo. Que esté muerto no significa que desaparezca. Antes es necesario que surja otro tipo de sociedad que lo sustituya.»
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Será?


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Ide e sede felizes


Quais foram algumas das grades realizações da humanidade? Inventar a roda, a máquina a vapor, electricidade, a imprensa, o telefone ou mesmo a internet? Desenganem-se: foi o casamento, a «única forma eficaz de transmitir a civilização» - para César das Neves, como já deve parecer evidente.

Somos péssimos: admiramos e promovemos «promiscuidade, adultério, divórcio e união de facto», inovamos «furiosamente em contraceptivos e procriação artificial». Contribuímos para «a decadência social», porque «não só a fertilidade atingiu na Europa níveis de extinção da espécie, mas a solidão, depressão, traumas infantis, agressividade, suicídio chegaram a níveis patológicos».

Last but not the least, a situação a que se chegou é pior ainda do que aquela em que os pais tudo decidiam pelo «futuro do clã, alianças tecnológicas ou interesses de herança», porque o que se faz hoje «implica a extinção da sociedade».

Tivéssemos nós, os culpados dos males do universo, um mínimo de escrúpulos nas nossas mais que conspurcadas consciências e estaríamos armadilhados com cilícios, na fila de espera de um qualquer confessionário – digo eu, apesar de tudo muito intrigada por César das Neves não ter falado hoje do crime da homossexualidade. Algo de podre se passa neste reino longe da Dinamarca.
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Grande Argentina!


«Selecção argentina recebida em festa apesar de afastamento.»

Eu não disse?
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4.7.10

July 4th



Cat: «Whre's the fireworks?»
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Assim nos (des)entendemos


Uma das experiências profissionais mais gratificantes que tive foi trabalhar três anos com pessoas de dezenas de nacionalidades, num centro europeu de uma empresa multinacional. Não se discute e não se negoceia do mesmo modo, no dia-a-dia, com belgas, americanos, franceses, japoneses e... alemães. Sobretudo, é radicalmente diferente, mesmo com uma cultura empresarial comum, chefiar um grupo homogéneo e um outro multifacetado, tanto no plano colectivo como no individual (fazer uma entrevista de Avaliação de Desempenho a um italiano é uma verdadeira aventura, absolutamente inesquecível…).

Tudo isto é hoje mais ou menos trivial, mas o tema retoma importância quando o mundo inteiro está a habituar-se a trabalhar com chineses.

M. Gao, vice-presidente da Siemens na China, estudou e trabalhou vinte anos na Alemanha e sublinha alguns factos a ter em conta: «Na Alemanha, define-se um objectivo a atingir e deixa-se o manager à vontade. Os alemães precisam de se sentir livres na concretização do trabalho. Na China, é necessário explicar o que fazer para atingir o dito objectivo», porque a responsabilidade é considerada colectiva e não individual. Outra diferença: na Alemanha, existe uma cultura de feedback e de diálogo, enquanto os chineses não opinam, sobretudo junto dos superiores, para evitarem qualquer tipo de conflito.

Um francês, há mais de vinte anos em Pequim, lembra que, por lá, se começa por ser amigo antes de se falar de negócios: um chinês quer conhecer o seu interlocutor ao acordar, à noite, lúcido e em estado de embriaguez. E só depois confia nele. Além disso, os franceses tendem a ser muito directos nas suas afirmações ou críticas, o que é frequentemente considerado como pura má criação pelos chineses.

Esta última observação fez-me regressar à minha experiência pessoal. Tão ou mais «directos» que os franceses, somos nós, sulistas europeus, e eu cheguei a essa minha experiência internacional bem habituada às reuniões portuguesas, onde se fervia em muito pouca água, com o «não concordo» a sair na primeira curva. Algumas semanas depois, um colega indiano, radicado há décadas em Londres, deu-me um conselho que nunca mais esqueci: «Joana, don't say “No” (to xxx): “Yes, but” has the same effect and it’s much better».

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Alucinações


Metida há pouco em intermináveis filas de carros a caminho da Ponte 25 de Abril, impôs-se-me um estranho sincretismo que envolvia o engenheiro Sócrates em visita à Autoeuropa e este vídeo, encontrado por puro acaso há dois dias. E «vi» aquela gigantesca massa multicolor de caixotes, substituída por um exército destas espantosas maquinetas.



Em 1 de Outubro de 1908, foi lançado o primeiro. Viriam a ser fabricados mais de 15 milhões.
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«A Crise do Capitalismo»


O primeiro vídeo tem sido largamente difundido na blogosfera e no Facebook. Mas vale a pena ouvir também o segundo (31 minutos), onde David Harvey pergunta se não é tempo de olharmos para além do capitalismo, na procura de uma nova ordem social «que nos permita viver num sistema responsável, justo e humano».

Uma sugestão para quem decidir escapar à vaga de calor deste Domingo e ficar em casa de persianas bem corridas.







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