8.7.10

Palmas para Cuba?


Vão sair das prisões cubanas os últimos 52 dissidentes do Grupo dos 75, detidos desde 2003. Cinco seguirão em breve para Espanha, os outros ao longo dos próximos meses.

Anúncio feito pelo governo de Raúl Castro e publicado no Granma, órgão oficial do partido comunista cubano? Não: o jornal apenas mostra as fotografias da reunião do presidente com o cardeal Ortega e com o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol e remete para uma nota do Arcebispado de Havana. Primeira perplexidade: Cuba terá deixado de ser um estado 100% laico, já que delega na autoridade eclesiástica a divulgação de uma decisão governamental?

Segunda estranheza (ou nem por isso): trata-se de uma libertação com exílio forçado. Os ex-presos só poderão regressar a Cuba, mesmo para uma simples visita, com uma autorização especial. «Liberdade» significaria que pudessem defender os direitos humanos no seu país e não no estrangeiro.

Terceiro factor a ter em linha de conta: a greve de fome de Guillermo Fariñas, iniciada em Fevereiro, valeu a pena. Sim porque é óbvio que, depois do «escândalo» Zapata, foi o medo do fim próximo de Fariñas, que apressou o processo. A nota do Arcebispado termina precisamente com um apelo para que este pare a greve de fome, iniciada em Fevereiro, embora ele já tenha declarado que começará a ingerir alguns líquidos quando partirem os primeiros cinco presos, mas se manterá sem comer até que sigam mais dez ou doze dos mais doentes.

Quarta consideração e agora num outro plano: citei há alguns dias Oewaldo Payá, prémio Sakharov do Parlamento Europeu, quando este lamentou que alguns padres «aceitem o papel de interlocutores únicos do Governo», sobrando para os cubanos apenas o de espectadores e não o de protagonistas da sua própria libertação, como deviam sê-lo. Juntou-se mais tarde o governo espanhol. A dissidência cubana, não a de Miami mas a que luta como pode, com as poucas armas de que dispõe, não fez parte do cenário, pelo menos tanto quanto se sabe. Pragmatismo? Realismo? Humilhação também, no mínimo.

Por fim: há, em tudo isto, uma espécie de cordão umbilical entre colonizador e colonizado, que me impressiona tanto (desculpe-se a comparação…) como ver ontem a alegria de Cavaco e dos cabo-verdianos na inauguração de uma réplica da Torre de Belém no Mindelo. A pátria de Raúl, Ortega e Moratinos será talvez a língua castelhana, mas deveriam demonstrar publicamente que os cubanos merecem mais explicações do que a simples notícia de que uns tantos serão tirados de uma prisão e exportados para Madrid. Mesmo que os três tenham exultado com a vitória da Espanha no jogo de ontem, a que assistiram em conjunto na residência presidencial cubana.

P.S. – Leitura indispensável, no blogue de Yoani Sánchez: El avión de Moratinos.
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1 comments:

Anónimo disse...

Já é um bom sinal dado pelo governo cubano, mas eu não acredito que existam só 75 presos políticos em Cuba, como ontem foi noticiado. São muitos milhares, muitas vezes condenados por outros delitos como "vandalismo", "desordem pública", etc