25.5.13

Para variar



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O Presidente, de «pós-troika» em «pós- troika»



(Expresso, 25/5/2013)

Cavaco não desiste: não conseguiu que o famigerado comunicado da reunião do Conselho de Estado incluísse um compromisso alargado dos senadores da Nação com vista ao período pós-troika, vai tentar agora outra via. 

Segundo o Expresso de hoje (caderno principal, p.9, sem link), «depois dos políticos, o Presidente da Republica quer pôr os economistas a pensar no pós-troika. Em Julho, vai realizar uma reunião no Palácio de Belém com economistas portugueses, alguns dos quais a trabalhar no estrangeiro, para debater a evolução da economia e das finanças portuguesas no quadro das mudanças previsíveis da União Europeia. A ordem de trabalhos não é a mesma (...), mas a preocupação é encontrar e, se possível, consensualizar uma estratégia de médio prazo que tenha em atenção "os problemas e desafios" que o país via ter de enfrentar no final do período de ajustamento e que Cavaco Silva considera de resolução crucial».

Mas talvez não fosse mau que o Presidente tivesse em conta o que Eduardo Pais Ferreira lembra em entrevista ao mesmo jornal (p.6): «Discutir o já é mais importante que discutir o pós. Senão não há pós-troika.»

Foi precisamente essa discussão que Cavaco Silva não conseguiu impedir no Conselho de Estado, mas proibiu que fosse oficialmente divulgada. Saiu-lhe mal a jogada – com efeito boomerang . Mas aparentemente não aprende. 
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Quem não prefere que lhe chamem palhaço?


@Henrique Mende

«Sozinho, completamente sozinho, o dr. Cavaco Silva conseguiu arruinar a Presidência da República. A Presidência da República não tem hoje autoridade, influência ou prestígio.»(Vasco Pulido Valente, no Público de ontem)

Claro que há a distinção entre insulto e crítica, dizem uns tantos - com punhos de renda, como se, em tempos de guerra, se limpassem armas. 
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Regresso ao futuro?



Para além da impossibilidade óbvia de consensos, há tanto tempo que a hipótese de uma coligação PS/CDS parece estar subjacente a muitos episódios de percurso ou à falta deles! E Bagão Félix e Correia de Campos não são, nem nunca foram, emissários inocentes. 

 «Mas mais importante nem foi o que se soube [sobre a reunião do Conselho de Estado], foi o que se foi percebendo. Veio dos relatos dos bastidores a única coisa relevante daquela noite longa em Belém: Cavaco Silva, por mais que insista, nunca conseguirá consensos alargados, durem estes conselhos as horas que durarem. Até porque o CDS está preparado para fazer a sua parte: os recados de Bagão Félix ao PS sobre a disponibilidade dos democratas-cristãos para entrar num novo governo são claros e tiveram eco nas palavras de Jorge Sampaio, ao afirmar que não se pode contar com a esquerda para formar governos. O resto é show-off.»  

Filomena Martins

24.5.13

Cavaco? Não, muito obrigada



(Via Rise Up no Facebook)

Onde estás, Teresa Ricou, quando mais precisamos de ti



Cavaco pediu à PGR para abrir processo crime contra Miguel Sousa Tavares.

E, Francisco Sousa Tavares, também fazes cá muita falta.. Oh se fazes!...
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Jorge Sampaio na Antena 1



Anda aí muita gente a mandar bocas sobre excertos da entrevista que Jorge Sampaio deu ontem à Antena 1, mas talvez seja melhor ouvi-la aqui
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Miguel Sousa Tavares, para além do sound bite do dia



A propósito do seu novo livro – Madrugada Suja –, Miguel Sousa Tavares dá hoje uma longa entrevista ao Jornal de Negócios (sem link). Os órgãos de comunicação social fazem-se eco de um sound bite bombástico, a propósito de Cavaco Silva e Beppe Grillo, mas há bem mais no texto.

Fala muito dos pais, sobretudo do pai, Francisco Sousa Tavares, de quem terá herdado a independência pela qual paga hoje muitas vezes. «Nunca conheci ninguém com a coragem dele. Nem sequer tinha medo da doença. Chegou a estar internado duas vezes nos cuidados intensivos, e fugiu dos cuidados intensivos! Uma vez fugiu de noite, com aquelas batas ridículas, com o soro dependurado. Telefonaram-me do Santa Maria a dizer: “O seu pai fugiu”. Pensando nisso: não sei se seria a mais corajosa das pessoas. Acho que a coragem consiste em ter medo e ultrapassá-lo. Quando não tem medo... (...) Acho que muitas vezes não tinha medo porque não tinha noção do perigo. Ao volante, era um terror. Também não tinha medo dos desastres e teve imensos desastres, a vida toda. Outras vezes achava que o perigo não era razão para o conter. Vi-o fazer coisas extraordinárias... A interromper o sermão de um padre, aos gritos, numa igreja, no tempo da outra senhora. O padre estava a fazer a apologia de Salazar. Mandou um berro: “Se quer fazer política, vá para a Assembleia Nacional”.»
E era assim mesmo, o FST – Tareco para os amigos– , que conheci bem e que se tornou um dos ícones do 25 de Abril quando, impecavelmente vestido no seu fato verde água, pegou num megafone, em pleno Largo do Carmo, e acalmou as massas a pedido dos capitães.

Sobre o país, verdadeiro protagonista do livro, MST cita de novo o pai: «os países não progridem sem elite e que a elite portuguesa morreu toda em Alcácer-Quibir». E acrescenta: « Já tivemos grandes políticos. Basta olhar para a composição do Parlamento há 30 anos. Se havia uma elite política, estava ali. Este constante bota-abaixo em relação à classe política, a eterna desconfiança (“são todos uns ladrões, uns bandidos, bem pagos de mais” – é mentira) faz com que as pessoas de valor se tenham afastado. Por isso estamos hoje reduzidos aos Passos Coelhos e aos Antónios Josés Seguros. Que são o grau zero da política. São aqueles que, não tendo nenhuma outra vida fora da política, fazem política.»

E acrescenta a tal frase que hoje corre nos escaparates: «Já não temos idade para brincar ao generais. O pior que nos pode acontecer é um Beppe Grillo, um Sidónio Pais. Mas não por via militar. Nós já temos um palhaço. Chama-se Cavaco Silva. Muito pior do que isso, é difícil.»

Totalmente pessimista? Talvez não. E ilustra-o com um diálogo que envolve um texano que vai visitar um amigo na Escócia: «“Qual é o segredo da tua relva?” “Semeio, fertilizo o terreno e rego muito.” “Também faço isso e a minha relva não é igual à tua.” “Calma. Depois espera 500 anos.” O problema é que ainda só temos 40 anos de democracia.»

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23.5.13

A tanga



«Em 2002, Durão Barroso disse que Portugal estava de tanga. Entretanto, passaram 11 anos e é difícil negar que fomos perdendo cada vez mais roupa. Eu não sou crítico de moda, mas creio que estamos perante uma impossibilidade.»

Na íntegra AQUI.
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Vão passando para os arquivos da nossa memória



Ainda ontem se celebraram os 89 anos de Aznavour e Georges Moustaki morreu hoje com menos 10.

Para nós, ficará sempre esta pérola que nos dedicou:




E tantas outras:




E sempre, sempre eterno: «Le Métèque».




Era o único sobrevivente destes cinco «monstros sagrados:


 (Ferrat, Brel, Ferré, Brassens e Moustaki)
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Cavaco Silva, o grande derrotado de 20 de Maio



Ao contrário do que as primeiras impressões fizeram crer, sabe-se agora que Cavaco Silva foi o grande derrotado da reunião do Conselho de Estado da passada segunda-feira. As muitas fugas de informação de que os meios de comunicação social se fizeram eco, jamais vistas em tal quantidade no passado, evidenciam:

– que alguns dos conselheiros quebraram, deliberada e extensivamente, o secretismo quanto ao que se passa no órgão a que pertencem, embora não tenham a coragem de dar a cara publicamente (o que pessoalmente não aprecio mas acaba por ser útil) e mostraram ter perdido o respeito pelo presidente;

– que a reunião foi bem tumultuosa e que grande parte do que se passou não foi refletido no comunicado final, por proibição expressa de Cavaco Silva;

– que o apelo ao consenso como cura milagrosa para todos os males, uma das ideias-mestras do presidente para a reunião, não foi incluído no texto por veto de alguns dos presentes.

Com o que é hoje sabido, e mesmo que se desconte uma percentagem significativa do que tem sido divulgado, poderia ser redigido um outro Comunicado, esse sim fidedigno. Mesmo sem ir tão longe, fica aqui (com base em fontes que cito no fim do texto) um «complemento» àquele papiro hieroglífico que um senhor que eu não sei quem é leu, às tantas da noite, a telespectadores resistentes que não queriam acreditar no que estava a acontecer-lhes. Com que objectivo? Um único: rebater a afirmação cada vez mais generalizada segundo a qual «os políticos são todos iguais», «com eles não vamos a parte nenhuma», etc., etc. – porta escancarada para todos os populismos deste mundo. E evidenciar, uma vez mais e se preciso fosse, que temos o pior presidente da República de quatro décadas de democracia.

Então aí vai um resumo para quem estiver interessado.

Assunção Esteves pediu uma voz mais forte ao governo na Europa e fez uma intervenção muito crítica da situação actual, no que foi acompanhada por vários outros conselheiros que classificaram negativamente o governo de Passos Coelho, tendo alguns deles pedido expressamente a sua demissão.

Uma das posições mais veementes foi a do presidente do Tribunal Constitucional, que aproveitou a ocasião para responder às críticas do primeiro-ministro às decisões daquele tribunal quanto ao OE2013, sublinhando que são as leis que têm de se adaptar à Constituição, e não a Constituição que tem de se adaptar às leis, e avisando que o TC não se deixará condicionar em futuras análises de legalidade dos orçamentos.

Já quanto ao sacrossanto tema do consenso nacional, a discussão foi muito acesa e foram vários os conselheiros que afirmaram que ele não existe, nem quanto ao presente nem quanto ao futuro – sobretudo Mário Soares, Manuel Alegre e Jorge Sampaio –, tendo este último considerado que o tempo de negociação e de compromisso já passou (Aleluia!).

Como seria de esperar, Bagão Félix falou detalhadamente sobre a «TSU dos pensionistas», Manuel Alegre e António José Seguro defenderam expressamente eleições antecipadas e Balsemão foi o único que apoiou as políticas do governo de Passos Coelho.

A última das sete horas de reunião foi dedicada à homérica tarefa de redigir o Comunicado final por causa da decisão que o presidente tomou de invocar o regimento, que permite que aquele traduza «a totalidade ou parte do objecto da reunião e dos seus resultados», para omitir a discussão sobre a actual situação do país, que ocupou boa parte do debate. Quando Jorge Sampaio percebeu que Cavaco Silva tinha um texto pronto que não correspondia ao que, de facto, se tinha passado, protestou com alguma fúria, no que foi acompanhado sobretudo por Manuel Alegre e António José Seguro. Cavaco manteve a intransigência quanto ao silenciamento do que fora discutido, mas foi obrigado a riscar um parágrafo em que queria apelar ao consenso. A situação ficou tão tensa que chegou a ponderar-se a hipótese de não se divulgar comunicado algum e acabou por ser Marcelo Rebelo de Sousa a desempenhar o papel de conciliador e a tornar possível a existência de uma prosa oficial.

Nem tudo se passou assim? É bem provável. Mas terá andado lá perto.

O dr. Cavaco Silva ficou muito, muito mal na fotografia de um serão em que a sua única «vitória» foi esconder a verdade por meios burocráticos e talvez pense duas vezes antes de repetir a dose, ou seja antes de convocar novamente o Conselho de Estado. Esta reunião não lhe correu bem e, corajoso como tomos sabemos que (não) é, pode temer que os Conselheiros transformem a próxima numa espécie de Revolta na Bounty.

Fontes – (1), (2), (3), (4) e (5)

22.5.13

Morreu o padre que cantava «Bella Ciao»



Don Gallo, que se tornou conhecido aquém fronteiras pela divulgação deste vídeo em que canta «Bella Ciao» na missa, morreu hoje com 84 anos.


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Charles, Charles Aznavour – 89 hoje



Charles Aznavour − ou, mais exactamente, Shahnour Vaghinagh Aznavourian (Շահնուր Վաղինակ Ազնավուրյան) − nasceu em Paris e é francês, de antepassados arménios embora o seu pai tenha nascido em Akhaltsikhe, no Sul da Geórgia.

Para a Arménia terá sempre a nacionalidade dos seus pais emigrantes e é um ícone nacional, não só pelo êxito como cantor, mas também e talvez sobretudo, pela sua acção após o terramoto de 1988. Percorreu o país pouco depois, criou uma Fundação específica para o efeito, que reuniu mais de 150 milhões de dólares, tem estátuas por todo a parte (vi algumas quando lá estive há um ano) e o governo doou-lhe uma casa em Gyumri, a cidade mais arrasada em 1988, onde funciona agora a referida fundação. Os arménios não esquecem.

Para nós, sobretudo os que crescemos a ouvir sempre e sempre as suas magníficas canções, o seu aniversário é uma prenda que nem a crise consegue roubar-nos.

Duas das minhas preferências:






E a espantosa oportunidade de comparar «La Bohème» interpretada quando foi lançada (1966) e 47 anos depois, há meia dúzia de dias, em S. Paulo (16/5/2013):




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Será bonita a festa, pá!



Se o pai do primeiro-ministro é reservado nos comentários sobre a acção do governo («Não sou político, portanto não faço análise política»), o que diria se não o fosse.

Em declarações ao i, António Passos Coelho disserta sobre tudo e mais alguma coisa, mas retenho apenas isto: «Coitado, sabe Deus o que ele passa. Está morto por se ver livre disto. A gente vai fazer uma festa, cá na família, quando ele se vir livre disto. Vamos fazer uma festa, nem queira saber.»

Queremos saber, pois! E mais: já que, embora a contragosto, teremos feito parte da família durante algum (demasiadamente longo) tempo, consideramo-nos desde já convidados. De Vila Real de Santo António a Vila Real de Trás-os-Montes vai um passo de um anão e estaremos lá todos para uma festa de arromba! Conte connosco. 
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A ceia do Estado



Sabe-se agora, que a reunião do Conselho de Estado foi bem mais do que a discussão do pós troika e voltarei mais tarde ao tema. Mas oficialmente foi mais ou menos isto: 

«A paciência como solução política paralisa. Se não há nada que se possa fazer, senão esperar que o divino dê um sinal, convoca-se um chá ou uma ceia. Ou um Conselho de Estado. Para ler o futuro nas estrelas ou nas cartas, porque o presente ninguém deseja soletrar. (...)

Este Conselho de Estado dá a sensação de que a invisibilidade do PR e do Governo, face à incapacidade de sair da espiral recessiva em que estamos, demonstra uma incapacidade política única. Imagina-se o futuro para tornear o nada que se faz sobre o presente. Parece haver uma única política neste momento: esperar que a troika vá embora. E depois? A austeridade, com esta economia anémica criada pelo Governo e pela troika, vai continuar. (...)

Este Conselho de Estado é uma espécie de meteorologista de serviço. O velho manda-chuva. Diz que poderá haver sol, mesmo que todos saibam que vai chover. Prevê chuviscos quando a trovoada não sai de cima de nós. Estas reuniões do Conselho de Estado são a inexistência do regime em forma de conclave político.» 

 Fernando Sobral

 (O link pode só funcionar mais tarde.)
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21.5.13

Democracias

Terra queimada



«A terra queimada é o que sobra depois do fogo. Dois anos depois de a troika ter entrado em Portugal, sobra um país extenuado e devorado pelas chamas. Dizia-se que o sacrifício seria recompensado. A história é reescrita, a cada três meses, como farsa. A recompensa que se oferece aos portugueses é mais impostos e mais austeridade.
Troika e Governo tentaram que a realidade se adaptasse à teoria. Descobre-se que nem a troika nem Vítor Gaspar eram mestres da teoria e sempre ignoraram a realidade.

Governo e troika conseguiram ser tão persistentes como José Sócrates no delírio. Desta vez desarrumaram a economia interna. Criaram impostos como se fosse uma ceifeira debulhadora, tornaram a segurança social um hospício, destruíram qualquer possibilidade de um português fazer contas para o futuro.

O memorando trocou as voltas ao país. Dois anos e o país parece uma boneca em farrapos.»  

Fernando Sobral

(O link pode só funcionar mais tarde.)
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Um Presidente e 18 pastorinhos?



Sem que haja qualquer razão plausível para se imaginar que o jornalista João Pedro Henriques inventou a notícia, sabe-se agora pelo DN que «vários membros do Conselho de Estado defenderam ontem na reunião (...) que Portugal vive uma situação de crise política que só pode ser resolvida com eleições antecipadas, não podendo o pós troika deixar de ser discutido em conexão com a situação atual». E, também, que «Cavaco Silva bloqueou no comunicado final qualquer referência, mesmo de teor genérico, sobre o facto de a atualidade política ter marcado parte importante da discussão», mantendo-se intransigente neste ponto e invocando mesmo «uma norma do regimento do Conselho de Estado que o autoriza a fazer uma "nota informativa" focando apenas "parte do objeto da reunião e dos seus resultados"».

Sobre isto, ocorrem-me dois comentários:

1 – Pelo menos um dos conselheiros de Estado presentes terá infringido a regra de segredo quanto ao que se passou dentro de portas e soprado para a comunicação social o que Cavaco impediu que fosse divulgado. Mas não terá sido «homenzinho» para se identificar publicamente.

2 – O que teria acontecido se alguns dos que terão insistido na divulgação do relato do conteúdo não truncado da reunião se tivessem demarcado do comunicado final, afirmando precisamente que se tinham batido para que ele fosse fiel e não apenas parcial? Teriam sido expulsos do Conselho? Presos? Acusados de desobediência civil? E daí? Não é o mínimo que podia ser exigido pelo menos a alguns deles? Sentem-se bem como ao-autores «daquilo»? Será que, esta manhã, gostaram de se ver quando olharam para um espelho?
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Consta que houve uma reunião do Conselho de Estado


@Paulete Matos

Muito se especulou quando foi anunciado o tema da reunião do Conselho de Estado, que ontem teve lugar («pós troika»?), mas julgo que ninguém terá imaginado o tipo de documento que os conselheiros dirigiram aos portugueses depois de terem estado reunidos durante sete horas.

Nem interessa se «tudo correu bem», com alguns disseram à saída, ou se houve choro e ranger de dentes – é lá com eles. O tema deixou de ter importância para os portugueses que se deitaram mais tarde para ouvirem a leitura de um texto sobre relações com instâncias europeias e a elas dirigido, numa linguagem gelada de gabinete, incompreensível para uma grande maioria dos mortais (who cares?), onde é impossível encontrar qualquer sopro de solidariedade para com um povo em sofrimento e que, nestes momentos e contra toda a racionalidade, ainda tem expectativas de ouvir algo que lhe dê conforto e esperança. Com cinco malfadados parágrafos, deu-se mais uma machadada para aumentar o fosso entre responsáveis políticos e «os outros».

Fica um conselho: para a próxima, discutam o que quiserem mas não emitam comunicado ou não o tornem público. Escrevam-no directamente em inglês e enviem-no aos verdadeiros destinatários e interlocutores. 


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Conselho de Estado: não, não foi ela



Justiça seja feita: não foi certamente a Nossa Senhora de Fátima que redigiu o comunicado da reunião do Conselho de Estado!

Ou será que houve um engano e isto é o resultado de uma outra reunião que terá acontecido numa outra galáxia?

(Todas imagens de «A Portugueza» são de Henrique Nande) 
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20.5.13

Mal vai um país onde já se rouba água benta!




Água benta? Para substituir a Água do Luso? Porque a distribuição nas torneiras já foi cortada por falta de pagamento? Até os ladrões andam nervosos, é o que é. 
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Subsídio para desempregados?



De vez em quando, tropeça-se por acaso em textos com oito décadas que mostram como há mentalidades que vêm de muito longe e que imprimiram carácter.
Os termos utilizados no discurso são hoje diferentes, a sua concretização talvez mais difícil, mas a «ética» subjacente é fundamentalmente a mesma. Ou não?

«O subsídio sem o trabalho compensador desmoraliza os indivíduos, torna-os indolentes, comodistas, completamente inúteis à vida duma sociedade. O subsídio a troco de trabalho, pelo contrário, não desabitua os homens da sua função natural dentro da vida e enriquece o País com o acabamento e a iniciação de obras públicas que são de utilidade para todos. Desta forma, o imposto do desemprego não se torna tão pesado ao contribuinte, porque, além de sarar uma chaga social que o deve incomodar, vai encontrar-se em melhoramentos que ele próprio reclama há muito tempo.»

António Oliveira Salazar, 1932
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Choque de democracias



El País e outros cinco jornais europeus analisam a situação da União Europeia e os perigos do avanço dos populismos e da força dos interesses nacionais.

Um vasto dossier que inclui, para além do artigo principal - Choque de democracias -, muitos outros textos interessantes, entre os quais La solución para Portugal es una salida negociada del euro, fruto de uma entrevista a João Ferreira do Amaral e No es cierto que estas políticas de recortes sean inevitables, com um testemunho de Bruno Cabral (Que se lixe a troika!).

Vale a pena passar por lá.
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«Pós-troika», última aquisição da novinlíngua



«Lentamente, a expressão "pós-troika" vai-se infiltrando no politiquês nacional. O governador do Banco de Portugal alerta para a preparação do "pós-troika", o Presidente da República dedica hoje um Conselho de Estado ao "pós-troika", no Partido Socialista afiam-se as facas para o "pós-troika", nos jornais já se discute o destino do vilipendiado Vítor Gaspar no "pós-troika" – enfim, o termo propaga-se e será, em breve, uma daquelas modas repetidas nos media até à exaustão. O problema, contudo, é que a mera formulação "pós-troika" engana. A expressão parte de uma interpretação errada do papel da ‘troika' e arrisca alimentar uma esperança infundada sobre o futuro imediato de Portugal na Europa. (...)

Portugal sairá do memorando com um rácio de dívida pública superior a 120% do PIB, um sector privado ainda muito endividado, uma economia devassada por falta de investimento, um músculo exportador muito curto e um Estado praticamente por reformar. O memorando serviu mais para fechar o défice externo à bruta e reconquistar a confiança de quem manda na Europa (confiança que, por sua vez, atrai a dos mercados), do que para resolver o problema económico de Portugal na zona euro. (...)

Com ou sem ‘troika' estaremos, então, totalmente dependentes dos credores. Precisaremos deles para assegurarmos financiamento e para arrancarmos cedências profundas nas condições de pagamento da dívida. Não será fácil. Estes credores europeus são cultural e politicamente hostis face ao que entendem ser o "Sul da Europa", com quem lidam por necessidade e com um paternalismo antigo e sem limites.»

Bruno Faria Lopes

É grande a expectativa e faltam poucas horas


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19.5.13

Provisoriamente, o tempo parou para mim



O vídeo já tem algum tempo, mas só hoje o vi. Numa homenagem por ocasião dos seus 80 anos, Fernanda Montenegro recita parte de uma obra de Simone de Beauvoir.



(Via Luís Januário)
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Encargo



No me des tregua, no me perdones nunca.
Hostígame en la sangre, que cada cosa cruel sea tú que vuelves.
¡No me dejes dormir, no me des paz!
Entonces ganaré mi reino,
naceré lentamente.
No me pierdas como una música fácil, no seas caricia ni guante;
tállame como un sílex, desespérame.
Guarda tu amor humano, tu sonrisa, tu pelo. Dalos.
Ven a mí con tu cólera seca de fósforo y escamas.
Grita. Vomítame arena en la boca, rópeme las fauces.
No me importa ignorarte en pleno día, saber que juegas cara al sol y al hombre.
Compártelo.

Yo te pido la cruel ceremonia del tajo,
Lo que nadie te pide: las espinas
Hasta el hueso. Arráncame esta cara infame, oblígame a gritar al fin mi verdadero nombre.

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Rebobinando com humor



Quando se sabe agora que uma neta de Mao Tse-Tung, Kong Tungmei, de 41 anos, é a 242.ª pessoa mais rica da China (e que há muitos muito ricos na actual China...):

«Se Kong Tungmei tinha de acabar como um qualquer herdeiro Rockfeller III, mais valia ter-se poupado estas tolices e Mao ter enriquecido com os direitos de autor [do seu Livro Vermelho].»
Ferreira Fernandes

Confiança = 0



«A descontracção com que se anunciam disposições para depois se voltar atrás, ignorando olimpicamente as expectativas das pessoas, semeando o pânico e a insegurança na população, faz com que os cidadãos percam qualquer tipo de confiança em quem os governa. Neste Governo não são só algumas das normas acordadas com a troika que são facultativas, é tudo facultativo. Tudo pode acontecer, nada é previsível, tudo pode ser alterado dois minutos depois de ser anunciado. Nada parece ser minimamente estudado, tudo parece ser decidido na base dum qualquer achar ou baseado num compêndio mal estudado. (...)

Nunca um Governo fez tanto pelo desprestígio da política e dos políticos. O cidadão pode não concordar com uma decisão, pode até discordar de toda uma linha política. Outra coisa é não ter a mínima confiança em quem lidera o País, não poder acreditar naquilo que o Governo anuncia, porque o mais certo será ser desdito no dia seguinte. (...)

Um Governo em que não se pode confiar, um Governo completamente descredibilizado e que descredibiliza a política e os políticos, um Governo que luta mais internamente do que com a troika ou a crise, um Governo manifestamente incompetente. Este Governo é em si mesmo uma crise política. Mantê-lo é agravar essa crise. (...)

Valha-nos nossa senhora de Fátima, já que o seu devoto Cavaco Silva prefere ver o País a afundar-se a ter de assumir as suas responsabilidades.»

Pedro Marques Lopes