14.1.12

As leituras blogosféricas de Manuel António Pina


Manuel António Pina, numa bela entrevista que concedeu a Carlos Vaz Marques e que vem publicada no último número da revista LER:

«O meu problema não é só escrever, é arranjar sobre que escrever. (…) O problema é sentar-me ao computador, ler os jornais que posso na Net e depois passar pelos blogues. Há um conjunto de blogues de que sou afim: Entre as Brumas da Memória, duma senhora com quem até já me correspondi, o Der Terrorist, o Vias de Facto. E depois também frequento outro tipo de blogues: o Blasfémias, que é um blogue de direita, o 31 da Armada, monárquico, o Arrastão, o Aventar, o 5Dias, o Meditação na Pastelaria, da Ana Cristina Leonardo, de quem gosto muito, o Portugal dos Pequeninos…»

Babada fico, evidentemente. E agradecida. Quem lê habitualmente este blogue sabe as vezes que cito aquele que é o meu cronista preferido e como me identifico com grande parte das suas posições. É com muito prazer que fico a saber que continua a passar por esta casa.

(Já tinha lido a entrevista sem a citar. Mas já que o Miguel Serras Pereira acaba de o fazer…)
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Reencontro com o horror


A propósito de um livro de Timothy Snyder (colaborador de Toni Judt) – Tierras de sangre. Europa entre Hitler y Stalin – vale a pena ler uma crónica publicada hoje em El País, onde é recordada uma das maiores séries de crimes praticada na Europa no século XX.

Em Setembro de 1939, os ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha de Hitler e da União Soviética de Estaline assinaram um pacto – «Mólotov-Ribbentrop» – que estabelecia as fronteiras pelas quais repartiam entre si uma parte da Europa.

Entre 1932 e 1945, terão sido exterminadas, em redor desta linha artificial, catorze milhões de pessoas, numa vasta zona abrangendo parte da Polónia, Ucrânia, Bielorrússia e Repúblicas Bálticas.

Leitura na íntegra, com resumo dos factos, mais do que aconselhada.
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Franchisings há muitas

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(Via Fernando Redondo no Facebook)
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Protestar à chinesa


Tudo leva a crer que as grandes empresas ocidentais ainda têm muito a aprender para saberem lidar com as reivindicações, cada vez mais frequentes, dos seus operários chineses.

Falou-se de novo da Foxconn, a gigantesca fábrica que monta dispositivos para Microsoft, Apple, Dell e Nintendo, desta vez porque algumas dezenas de trabalhadores (já vi números entre 150 e 300) terão subido para o telhado do edifício em que trabalham e ameaçado suicidarem-se em massa. Porquê? Porque a entidade patronal começou por recusar um aumento salarial, aconselhou depois o pedido de demissão a quem estivesse interessado em receber um mês de salário e recuou depois na concretização da sua própria proposta.

As autoridades locais conseguiram convencer os potenciais suicidas a desistirem do seu intento e a notícia ficou por aqui. Mas acontecimentos semelhantes continuarão em próximos capítulos, não sendo fácil prever com que enredo, nem quais irão sendo os desfechos. Mas existirão certamente e julgo que assistiremos a evoluções surpreendentes das reivindicações dos trabalhadores chineses. Eles encontrarão os seus caminhos.

Entretanto, não vale a pena, no meu entender, apregoarmos boas intenções de boicotes à compra de produtos made in China – trata-se de puro wishful thinking, por impossibilidade prática de que tenha qualquer efeito, a não ser no eventual sossego ineficaz de consciências (*). Para não ir mais longe, podia o mundo viver sem centenas ou milhares de «Foxconns» de onde saem, como neste caso, iPhone, iPad, Amazon Kindle, PlayStation 3, Xbox 360 e Wii? Claro que podia, mas não seria a mesma coisa… E sejamos honestos: ninguém quer verdadeiramente que isso aconteça.

(*) Ou, em alternativa, se começarmos a rezar, como Santo Agostinho, na célebre história em que um menino queria esvaziar ao ar com uma conchinha e pôr toda a água num buraco na areia.

(Fonte)

P.S. - Entretanto, vão sendo tomadas algumas medidas.
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13.1.12

Com canela


1
«É a "portuguese egg tart" de Colombo: se conseguirmos que o Mundo inteiro, de Nova Iorque a Taipé e a Ouagadougou, se alambaze de pastéis de nata em vez de churrascos Nando's, seguir-se-ão facilmente o galão, o cimbalino pingado, a tosta mista, a francesinha... O céu e a capacidade da cozinha são o limite.
Assim, o ministro Álvaro (evocando outra genial ideia de internacionalização da economia portuguesa, o Allgarve do saudoso ministro Pinho, devemos começar a dizer ministro Allvaro) vai lançar o "slogan" "Portugal Sou Eu". Desenhado a canela.»

2
«Olhando para os homens-chave do governo de Passos Coelho, Vítor Gaspar, Álvaro Santos Pereira, para não falar dos seus conselheiros mais próximos, vemos o olhar brilhante dos convertidos que nenhuma realidade fará recuar. Se o pastel de nata não resultar, podem sempre cortar a hemodiálise aos velhos.»
Nuno Ramos de Almeida

3
E o Álvaro, para que fique aqui para a posteridade, com som e a cores:


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E isto dura pelo menos há 2066 anos!

(Via Fernando Redondo no Facebook
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Trova de um vento que passou


No suplemento Ípsilon do Público de hoje, um longo dossier de sete páginas, coordenado por João Bonifácio, sobre o maiosmo em Portugal durante a última década da ditadura, a propósito do livro de Miguel Cardina recentemente publicado. Inclui muitos testemunhos de ex-maoistas. A comprar e guardar. Para abrir o apetite, parte do primeiro artigo (sem link):

«Entre 1964 e 1974, dezenas de grupos maoistas constituíram-se como alternativa à via ortodoxa da oposição ao regime representada pelo Partido Comunista Português. Desiludidos com as posições do partido de Cunhal em relação à guerra colonial e à Primavera de Praga, animados pelo espírito libertário de Maio de 1968 e pela euforia das infiltrações junto do operariado e do campesinato, muitos portugueses (alguns dos quais hoje com posições de destaque em Portugal e até na Europa, como Durão Barroso) foram maoistas. “Margem de Certa Maneira – O Maoismo em Portugal 1964-1974, de Miguel Cardina, faz finalmente o inventário desses anos.

Clandestinidade, prisão, em alguns casos tortura. Agitação estudantil, infiltração no campesinato e no operariado, mudança radical de vida. Produção constante de textos teóricos. Incitamento à deserção e apoio às lutas na América Latina e às guerras da independência em África. Rejeição da “realpolitik” da União Soviética e um fascínio inabalável pela Revolução Cultural chinesa. É este o retrato da mais fervilhante década de maoismo em Portugal, traçado pelo investigador Miguel Cardina na tese de doutoramento que lhe valeu, em Dezembro do ano passado, o prémio Victor de Sá, que distingue trabalhos de investigação na área da História Contemporânea Portuguesa. Uma tese que acaba de passar a livro, com a edição de “Margem de Certa Maneira, O Maoismo Em Portugal, 1964 a 1974” pela Tinta-da-China.

A existência de grupos maoístas em Portugal não é propriamente um segredo, como o comprova o conhecido passado de algum algumas das mais importantes figuras políticas do país (e já agora da Europa), de Durão Barroso a Garcia Pereira, passando por José Pacheco Pereira e João Carlos Espada (o Ípsilon tentou falar com ambos, mas não responderam aos nossos telefonemas), ministros como Nuno Crato e investigadores como Fernando Rosas. O próprio Pacheco Pereira já havia escrito sobre a época, em “O um dividiu-se em dois”, obra que enquadra os “movimentos próchineses e albaneses nos países ocidentais e em Portugal (1960-1965)”. Ainda assim, “Margem de Certa Maneira” é pioneiro: nunca antes tinha sido tão sistematicamente estudada a profusão destes agrupamentos. É também um retrato da ebulição que se vivia em Portugal na década de 1960, e da necessidade de mudança que se apossou dos jovens, levados à clandestinidade e, em muitos casos, a mudanças de identidade.

Se, numa primeira fase, o maoismo português se reduzia a apenas duas organizações de ex-comunistas, num segundo tempo, tempo influenciado pelo Maio de 68 e pela Revolução Cultural, captou cada vez mais estudantes e gente que nunca tinha estado filiada no Partido Comunista Português (PCP), assistindo-se então a uma explosão de agrupamentos. Olhando para o mapa incluído no livro, são literalmente à às dezenas.»
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12.1.12

Tout ça n’empêche pas…

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(Recordado há algum tempo pelo Miguel Serras Pereira)
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Regressando a um aniversário de ontem

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Além de tonto, é ignorante


O ministro da Economia terá feito a genial sugestão de que se crie um franchising de pastéis de nata.

A não ser que esteja a pensar numa nacionalização da patente dos referidos pasteis, vem tarde: franchisings de pasteis de nata é o que menos falta por esse mundo fora, há anos! Sem contribuírem para o bolo das exportações portuguesas? Azar…


Claro que há mais mundo para além da China e Álvaro Santos Pereira está provavelmente a pensar no Canadá. Mas, ainda nos anos 90, comi exemplares excelentes, tão bons como os de Belém, algures em Toronto. E a foto deste post foi por mim tirada em 2004, numa rua de Xangai.
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Cavaco e as dificuldades


Muito bem visto. Um parágrafo que resume seis anos.

«No dia 1 de Janeiro de 2012, Cavaco Silva referiu a "situação difícil em que o país se encontra", expondo em especial as "dificuldades económicas". No dia 1 de Janeiro de 2011, o Presidente tinha notado: "os tempos que atravessamos são de grandes dificuldades". Acrescentou que "seria faltar à verdade afirmar que essas dificuldades vão desaparecer", sublinhando: "é imprescindível que estejamos unidos para enfrentar as dificuldades". E concluiu: "temos capacidade de ultrapassar as dificuldades". No dia 1 de Janeiro de 2010, Cavaco disse: "tenho a obrigação de alertar os Portugueses para a situação difícil em que o País se encontra", e apontou "a difícil situação das nossas contas públicas", terminando com uma referência a uma conjuntura "de grandes dificuldades". No dia 1 de Janeiro de 2009, o Presidente afirmou que era altura de "enfrentar as dificuldades", disse que não esconderia a verdade da nossa "situação difícil", previu que 2009 seria "um ano muito difícil" e concluiu que aquele era "tempo de resistir às dificuldades". No dia 1 de Janeiro de 2008, Cavaco fez notar que a conjuntura internacional era "difícil" e registou as "dificuldades de crescimento da nossa economia". No dia 1 de Janeiro de 2007, começou por dizer que o "quadro internacional" se apresentava "particularmente difícil", e depois lembrou as "dificuldades por que passam alguns". (…)

Cavaco Silva pode ser um robô.»

Ricardo Araújo Pereira, As dificuldades difíceis de 2012
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11.1.12

Dos guarda-fios às Três Gargantas


Ver mais aqui.
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Onde isto já vai!


(Que fique registado para mais tarde se ver até onde chega.)

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«Provavelmente, Portugal perde mais num dia de greve dos transportes ou dos serviços portuários do que na margem de imposto que a Jerónimo Martins há-de vir a pagar ao fisco holandês em vários anos. Mas enquanto se defende o exemplar escarmento dos bons empresários, as greves são tomadas como um direito absoluto, aceitando-se que minem os alicerces do Estado de Direito e da administração da Justiça e que dêem cabo do quase nada que resta da vida económica do país.»
Vasco Graça Moura, Identidade e teoria do funil


2



3
«Sou economista, estou profissional, tenho um valor de mercado, como o Cristiano Ronaldo tem um valor de mercado, como o Di María tem um valor de mercado (…).»
Eduardo Catroga, ontem. Pode ser ouvido aqui (ao minuto 28:13)
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Ainda sobre Auditoria à Dívida

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Excerto de uma intervenção de Éric Toussaint no debate: «O que é a Auditoria Cidadã à Dívida?» Lisboa, 16 de Dezembro de 2011.
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10 anos de grandes falhas – e de promessas falhadas


Num longo relatório agora publicado, Guantánamo: A Decade of Damage to Human Rights, «a Amnistia Internacional alerta uma vez mais para o tratamento à margem da lei de que são vitimas os detidos em Guantánamo e relembra os motivos por que o centro constitui um verdadeiro ataque aos Direitos Humanos.»

Em 22 de Janeiro de 2009, Obama assinou um decreto segundo o qual «o centro de detenção de Guantánamo objecto desta ordem será fechado o mais rápido possível e, no mais tardar, no prazo de um ano a partir da data da ordem». Actualmente, ainda lá se encontram 171 pessoas, entre as quais 12 que foram «estrear» o campo – uma condenada a prisão perpétua, 11 sem terem sido objecto de qualquer acusação.


Ironia do destino (ou talvez não…): o Público.es lembra hoje que «una de las paradojas en las causas por Guantánamo es que quien inició la investigación por lo allí sucedido fue el juez Baltasar Garzón, ahora pendiente de condena por investigar los crímenes del franquismo:»

Assim vai, tristemente, este nosso Ocidente. Sem que se oiçam os clamores dos (justissimamente) indignados com todas as Coreias do Norte deste mundo.


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10.1.12

Para as Agendas

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35.000 contra a Precariedade


A Iniciativa Legislativa de Cidadãos por uma Lei Contra a Precariedade será entregue na Assembleia da República na próxima 5ª feira, dia 12 de Janeiro. A entrega das mais de 35 mil assinaturas vai ter lugar em audiência com a Presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves.

Cumpre-se assim o primeiro grande objectivo desta iniciativa, depois de vários meses de mobilização em todo o país. Uma enorme adesão em nome de uma proposta concreta, que é parte integrante da indignação que tem exigido nas ruas mais democracia e alternativas, desde 12 de Março de 2011.

Esta iniciativa confronta o parlamento com uma solução concreta para enfrentar a precariedade nas suas dimensões mais frequentes: os falsos recibos verdes, a contratação a prazo para funções permanentes e o recurso abusivo ao trabalho temporário.

Esta é apenas a segunda vez em que uma lei proposta por cidadãos é discutida e votada no parlamento. Inicia-se agora a batalha cidadã pela aprovação de uma lei que efectivamente combate a precariedade. Dentro e fora do parlamento, lutaremos por esta proposta e pela sua ampla discussão na sociedade.

Mais informações aqui.


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Digam-me que hoje é dia 1 de Abril


… e que o jornal i está a gozar-nos.

«Eduardo Catroga terá uma remuneração anual de quase 639 mil euros caso seja eleito presidente do Conselho Geral e de Supervisão eléctrica portuguesa na assembleia geral de 20 de Fevereiro. (…) O ordenado será de 45 mil euros por mês, que acumulará com uma pensão de mais de 9600 euros. (…) Sobre a pensão da Caixa Geral de Aposentações, Catroga frisou que descontou “40 anos para o sector privado e 20 para o sector público”.»

E a cereja em cima do bolo: «Quanto mais ganhar, maior é a receita do Estado com o pagamento dos meus impostos, e isso tem um efeito redistributivo para as políticas sociais.»

Repetindo que alguém escreveu ontem num outro contexto: isto já não é descaramento, é descarrilamento. E sobretudo uma afronta.
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9.1.12

Derecho laboral


Rocinante, el corcel de don Quijote, era puro hueso:

— Metafísico estáis.
— Es que no como.
Rocinante rumiaba sus quejas, mientras Sancho Panza alzaba la voz contra la explotación del escudero por el caballero. Él se quejaba del pago que recibía por su mano de obra, no más que palos, hambres, intemperies y promesas, y exigía un salario decoroso en dinero contante y sonante.

A don Quijote le resultaban despreciables esas expresiones de grosero materialismo. Invocando a sus colegas de la caballería andante, el hidalgo caballero sentenciaba:

— Jamás los escuderos estuvieron a salario, sino a merced.

Y prometía que Sancho Panza iba a ser gobernador del primer reino que su amo conquistara, y recibiría título de conde o de marqués.

Pero el plebeyo quería una relación laboral estable y con salario seguro.
Han pasado cuatro siglos. En eso estamos todavía.

Eduardo Galeano, Espejos: una historia casi universal
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Para além do descaramento


Na página oficial da EDP, capítulo «Conselho Geral e de Supervisão», lê-se que «Os membros do Conselho Geral e de Supervisão são na sua maioria independentes e preenchem os requisitos de formação e competência, previstos nas normas legais ou regulamentares em cada momento aplicáveis à EDP».

Devia ouvir-se, com estrondo, as gargalhadas de quem vê a lista dos 23 nomes propostos para o dito Conselho Geral (*). Chineses à parte, «independentes» só se for dos espanhóis, desde 1640 – e ainda assim…

Como muito bem diz Pedro Santos Guerreiro, em artigo publicado no Jornal de Negócios e que está a espalhar-se rapidamente na net, «isto não é uma lista de órgãos societários, é a lista de agradecimentos de Passos Coelho». «Só falta uma proposta na Assembleia Geral da EDP: mudar o nome de Conselho Geral e de Supervisão (CGS) para o de Loja do Governo.» «Podíamos dizer que não está em causa o mérito pessoal de cada uma destas pessoas, mas está. Porque o mérito que está a ser recompensado não é o técnico ou sentido estratégico, é o da lealdade e trabalho político.»

E infelizmente, muito infelizmente, PSG tem toda a razão quando conclui: «Já não é descaramento, é descarrilamento. A indignação durará uns dias, depois passa, cai o pano sobre a nódoa. A nódoa fica.»

E ficamos nós também. Com a nódoa, debaixo do pano.

(*) Eduardo Catroga, Celeste Cardona, Paulo Teixeira Pinto, Ilídio de Pinho, Carlos Santos Ferreira, José Maria Espírito Santo Ricciardi, Jorge Braga de Macedo, Rocha Vieira, Alberto Coraceiro de Castro, António Gomes Mota, Fernando Herrero, Manuel Alves Monteiro, Vítor Gonçalves, Rui Pena, representantes de cinco empresas e quatro chineses ligados à China Three Gorges Corporation.

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Entretanto no Porto

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…não falta activismo nem imaginação.

Depois queixem-se se os restaurantes se mudarem para a Holanda


… ou será mais um convite à emigração?

«A mais recente proposta anti-tabaco passa agora por banir completamente o direito a fumar nos lugares públicos para, imagine-se, tornar a nossa legislação parecida com a que vigora no estado de Nova Iorque. A ideia de que isto é um assalto à restauração (para não falar de uma violação do direito de um fumador a jantar fora) não passou, pelos vistos, pela confraria anti-tabagista.

Os proprietários de restaurantes investiram imenso dinheiro há muito pouco tempo para adaptar as suas instalações à nova lei. No meio de uma crise terrível, com as consequências do aumento do IVA para 23% ainda por identificar, o governo decidiu agora que o dinheiro que os donos dos restaurantes e bares gastaram em alterações por causa da lei foi deitado à rua e que mais lhes valia terem estado quietos. Agora, vem aí uma nova lei para mudar tudo outra vez.»

Ana Sá Lopes, no i.
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8.1.12

Una casa portoghese

e.


(Via Paulo Almeida no Facebook)
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Meios complementares de defesa do SNS

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Por Sandra Monteiro, no último número de Le Monde Diplomatique (edição portuguesa):

O estado de saúde dos portugueses e a saúde do Estado português são duas das maiores preocupações que assaltam os cidadãos neste início de 2012, um ano em que os efeitos da crise atingirão novos patamares, sobretudo ao nível do emprego e do rendimento disponível das famílias, e em que só a acção colectiva poderá forçar os governos, nacionais e europeu, a inverter o desastre que se anuncia com este rumo austeritário e com esta arquitectura europeia.

É verdade que existem fortes ligações entre a saúde dos portugueses e a do Estado, como ainda recentemente veio lembrar um estudo comparativo da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), intitulado «Health at a Glance 2011». Analisando os sistemas de saúde de 34 países, o relatório mostra o excelente desempenho que durante três décadas o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem tido na generalidade dos indicadores, com excepções como a despesa com medicamentos. Apesar de Portugal ser o terceiro país em que a despesa pública menos cresceu entre 2000 e 2009, o SNS ainda é capaz de assegurar elevados índices de saúde à população, sinalizando a eficácia do serviço público na utilização de meios e na adequação aos fins.

Quando se fala na qualidade do desempenho do SNS fala-se das provas dadas, inscritas nos nossos corpos e no corpo da democracia, por um serviço público assente no acesso universal e gratuito e cujo financiamento é assegurado através de impostos progressivos (e não pelo co-pagamento pelo utilizador, como agora tenderá a ser com os brutais aumentos das taxas moderadoras — ver nesta edição o artigo de Isabel do Carmo). Em Portugal e noutros países assiste-se há muito tempo à corrosão destes princípios por interesses privados, como os que estão plasmados nas tão lesivas parcerias público-privadas. Essa corrosão assume várias formas: cortes orçamentais; bloqueios ao acesso que atingem várias camadas da população; imposição de experiências de degradação da qualidade dos serviços; transformação de utentes em clientes de um negócio que, globalmente, tende a garantir piores índices de saúde… O processo corrosivo irá acentuar-se com a presente crise, mas não é novo. Tal como não é novo que as lógicas neoliberais contem com o desconhecimento dos seus efeitos negativos e com o manto de silêncio (desde logo mediático) com que conseguem encobrir os bons desempenhos dos serviços públicos. Tanto os já verificados como os que poderiam verificar-se.

Continuar a ler aqui.
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Era bom que o dr. Portas tivesse mais cuidado com as palavras

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… porque a «atitude nacional» que nos pede, «sem nos precuparmos nem com grupos, nem com cliques, nem com partidos», traz à mente outras lembranças:

«Nem divisões, nem ódios, nem lutas, nem particularismos de pessoas ou de grupos.»
Salazar, 28 de Maio de 1936

Antes que cheguemos a algo de parecido com uma outra frase do mesmo discurso, que ficou célebre: «Não discutimos Deus e a virtude; não discutimos a Pátria e a sua História; não discutimos a autoridade e o seu prestígio; não discutimos a família e a sua moral; não discutimos a glória do trabalho e o seu dever.»
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