Tudo leva a crer que as grandes empresas ocidentais ainda têm muito a aprender para saberem lidar com as reivindicações, cada vez mais frequentes, dos seus operários chineses.
Falou-se de novo da Foxconn, a gigantesca fábrica que monta dispositivos para Microsoft, Apple, Dell e Nintendo, desta vez porque algumas dezenas de trabalhadores (já vi números entre 150 e 300) terão subido para o telhado do edifício em que trabalham e ameaçado suicidarem-se em massa. Porquê? Porque a entidade patronal começou por recusar um aumento salarial, aconselhou depois o pedido de demissão a quem estivesse interessado em receber um mês de salário e recuou depois na concretização da sua própria proposta.
As autoridades locais conseguiram convencer os potenciais suicidas a desistirem do seu intento e a notícia ficou por aqui. Mas acontecimentos semelhantes continuarão em próximos capítulos, não sendo fácil prever com que enredo, nem quais irão sendo os desfechos. Mas existirão certamente e julgo que assistiremos a evoluções surpreendentes das reivindicações dos trabalhadores chineses. Eles encontrarão os seus caminhos.
Entretanto, não vale a pena, no meu entender, apregoarmos boas intenções de boicotes à compra de produtos made in China – trata-se de puro wishful thinking, por impossibilidade prática de que tenha qualquer efeito, a não ser no eventual sossego ineficaz de consciências (*). Para não ir mais longe, podia o mundo viver sem centenas ou milhares de «Foxconns» de onde saem, como neste caso, iPhone, iPad, Amazon Kindle, PlayStation 3, Xbox 360 e Wii? Claro que podia, mas não seria a mesma coisa… E sejamos honestos: ninguém quer verdadeiramente que isso aconteça.
(*) Ou, em alternativa, se começarmos a rezar, como Santo Agostinho, na célebre história em que um menino queria esvaziar ao ar com uma conchinha e pôr toda a água num buraco na areia.
(Fonte)
P.S. - Entretanto, vão sendo tomadas algumas medidas.
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1 comments:
Gostei do texto. Parabens e obrigado por não teres feito perder o meu tempo. :-)
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