Um
post que publiquei ontem, sem nenhuma reflexão prévia profunda, bateu asas, foi ter a alguns blogues e esteve sobretudo na origem de uma longa discussão no Facebook, no meu mural e não só.
De tudo o que foi dito, destaco apenas um tema, sem prejuízo de vir a focar mais tarde um outro.
Tudo começou com este parágrafo do primeiro comentário: «O texto (sem cortes) reflecte uma época, uma ideologia, uma política QUE FORAM VIVIDAS por este país, quer se queira quer não! Desvirtuar o texto seria desvirtuar a história, ainda que possa ser curiosa a sua leitura aos olhos de hoje.»
Ora, ao manipular o discurso de Salazar, eu não o apaguei nem sequer pretendi «desvirtuá-lo»: mostrei-o para evidenciar que a realidade mudou.
Mas, daqui, passou-se inevitavelmente para a discussão sobre a legitimidade de mudança de nomes, veio a eterna questão «Ponte Salazar ou Ponte 25 de Abril» e alguém afirmou que «quando há uma revolução, uma das primeiras coisas a fazer é a destruição dos ícones - umas vezes para o bem, outras nem por isso…». Não o diria talvez com tanta veemência mas, globalmente, concordo e recordo: a Espanha, porque não teve uma revolução, mas sim uma complexa e, para meu gosto, muito estranha «transição», anda ainda às voltas para fazer desaparecer alguns imponentes símbolos do franquismo.
Talvez seja mais evidente se se olhar de fora. É absolutamente natural que o nome de Pinheiro Chagas não diga grande coisa aos Moçambicanos e que a sua Avenida, no Maputo, se chame agora Eduardo Chivambo Mondlane. E por mais que se estranhe, acaba por se entranhar que o Massano de Amorim seja hoje a Av. Mao Tse Tung. E alguém esperaria que existisse ainda o Liceu Salazar???
Nada a ver com a alteração de nomes, em Portugal, por causa do 25 de Abril? Tudo a ver: foi a data da nossa «independência» em relação à ditadura e de símbolos vive também o homem. Mudaram-se alguns nomes, muito poucos, tal como depois do 5 de Outubro de 1910: alguém reclama hoje que a actual Av. da República de Lisboa volte a chamar-se Ressano Garcia?
Será uma questão de sensibilidade, distorcida para alguns, mas eu não gostaria de continuar a atravessar a «Ponte Salazar». E, já agora, nem de ser mais papista do que o próprio papa. Antes da inauguração da ponte, em 1966, quando Salazar viu o seu nome num dos pilares, perguntou: «As letras estão fundidas no bronze ou simplesmente aparafusadas? É que, se estão fundidas no bloco de bronze, vão dar muito trabalho a arrancar.»
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