26.7.10

A condenação de Douch


Foi conhecida hoje a sentença do julgamento de Kaing Guek Eav, mais conhecido por «Douch», director de um dos principais killing fields dos Khmers Vermelhos no Cambodja - Tuol Sleng, nos arredores de Phnom Pehn. Numa antiga escola transformada em prisão e nos terrenos que a rodeiam, terão sido torturadas e assassinadas mais de 10.000 pessoas – homens, mulheres e muitas crianças. Hoje essa antiga prisão é um Museu do Genocídio, onde estive há pouco mais de um ano - muito simples, impressionantemente pobre, mas terrível. Um murro no estômago.

Foram necessários doze anos de negociações e de procedimentos judiciários, desde a morte de Pol Pot, em 1988, para se chegar ao fim do primeiro julgamento (outros se seguirão) de um dos principais responsáveis pelo genocídio que tirou do mapa um quarto da população do país – cerca de dois milhões de pessoas – em apenas quatro anos, de 1975 a 1979. O Cambodja é hoje um país quase sem velhos, já que a grande maioria dos que teriam actualmente cerca de 60 anos, ou mais, desapareceu, pura e simplesmente. Douch foi condenado a 35 anos de prisão mas, porque já passou onze legalmente preso e mais alguns que o tribunal considerou que terão sido cumpridos indevidamente, restam-lhe 19 para cumprir – pelos 86, poderá voltar a gozar em liberdade os que lhe sobrarem. Pouco provável num país em que a esperança de vida ronda os 60 anos, mas nunca se sabe: pode ser que o remorso seja bom agente de longevidade.

Desde esta manhã que não me sai da cabeça uma fantasia perfeitamente irrealizável: os 19 anos de pena que Douch tem a cumprir deviam ser passados em Tuol Sleng, numa das celas como a que se vê na foto. Com todas as condições de dignidade e, obviamente, sem exposição ao público. Mas os filhos, os netos e os irmãos das suas vítimas deveriam ter o «direito» de saber que era ali que ele estava e que acabaria, muito provavelmente, os últimos anos da sua vida. Porque é também com símbolos que se faz a história e se vinga a memória.




Fonte, entre outras
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5 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Não, Joana, devia ser entregue aos sobreviventes e aos familiares dos que morreram... com aquelas instruções para uso dos interrogados que estavam afixadas, suponho que nessa prisão: dar respostas directas e sucintas, não chorar, não gritar, e por aí fora...

Joana Lopes disse...

Os sobreviventes tiveram 20 anos - de 1979 a 1999 - para se ocuparem dele. (Não sei onde esteve, na verdade.) Agora é tarde.

São disse...

Verdadeiramente inesquecível.Já para não falar no cheiro a sangue nos campos da morte...

Joana Lopes disse...

Exacto São: esta visita e os túneis de Cuchi no Vietname nunca sairão da memória desta nossa viagem.

Francisco Castelo Branco disse...

Faz-me confusão estas atrocidades à liberdade humana.

Não sei como é que é possivel viver consciente com isso..

apanhou.se o assassino e condenou-s!