15.4.17
Dica (529)
«Once it was unimaginable. Now, thanks to Brexit, the pensioner’s Mediterranean lifestyle may soon be again.»
, Andam loucos à solta
Se eu não soubesse quem é João César das Neves, ter-me-ia sentido desesperadamente estúpida ao ler este texto. Mas como sei, penso que devia ser internado com urgência.
ATENÇÃO: este senhor é Professor catedrático e presidente do Conselho Científico da Católica Lisbon School of Business & Economics.
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15.04.1989 – E assim começou o drama de Tiananmen
Foi no dia 15 de Abril de 1989 que tiveram início os protestos na Praça Tiananmen, em Pequim, desencadeados pela morte de Hu Yaobang, ex-secretário geral do Partido Comunista Chinês, anteriormente afastado por defender a necessidade de uma liberalização a nível político.
Na véspera do seu funeral, concentraram-se na Praça cerca de 100.000 pessoas, de lá os protestos irradiaram para diversas ruas de Pequim e, mais tarde, contagiaram outras cidades chinesas. Foram-se repetindo até que, menos de dois meses mais tarde, aconteceu o que todos sabemos, mas alguns ainda tentam ignorar: no início de Junho, os tanques avançaram brutalmente sobre a mítica praça da capital chinesa e tudo acabou em tragédia.
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Não fiquem cansados tão depressa: o mal é mais tenaz do que o bem
José Pacheco Pereira no Público de hoje:
«Há momentos em que a acalmia é um perigo. Há ainda piores momentos em que o cansaço domina. Não estamos em tempos de acalmia, nem em tempos de ficar cansados perante o que se está a passar. Dois temas de enorme, insisto, enorme relevância, exigem toda a atenção, pouca acalmia e nenhum cansaço: para o mundo, Trump; para Portugal, a Europa.
Trump é um perigo de dimensões mundiais e pode conduzir o mundo ao patamar de uma guerra. Acredito que possa ser travado e que vai ser travado, como já o está a ser em muitas matérias, pelo funcionamento exemplar da democracia americana, mas o risco existe. (…)
Por outro lado, um dos efeitos mais positivos do “efeito Trump” é uma grande melhoria qualitativa dos media americanos, em particular da imprensa escrita e de alguns canais de cabo. Os media “liberais” cometeram grandes erros no modo como acompanharam a campanha eleitoral e como muitos intelectuais e académicos menosprezaram Trump e ignoraram as fontes da insatisfação que o impulsionou à presidência. (…) Hoje, jornais como o New York Times, ou o Washington Post, os “fake news” de Trump, publicam alguns dos melhores artigos de sempre sobre o que se está a passar nos EUA. Já é tarde, mas mais vale tarde do que nunca. (…)
Porém, o homem já lá está. O que é mais perigoso em Trump, mais até do que algumas opiniões isolacionistas e demissionistas das responsabilidades americanas, é o seu carácter errático. O espectáculo assustador do homem mais poderoso do mundo mudar de opinião como quem muda de camisa torna-o um perigo para o mundo, porque introduz uma irracionalidade militante e agressiva no sistema de equilíbrios mundiais, e tal acontece sem qualquer direcção definida e muitas vezes por futilidades. Há muito de artificial no agravamento das tensões mundiais, mas esse agravamento existe e com Trump será sempre assim. (…)
Como sempre acontece, há quem construa um edifício de racionalidade à volta do caos, um “grande plano”, e lhe atribua uma enorme inteligência táctica e para isso tem de estar sempre a interpretar o que ele faz como fazendo parte de um plano brilhante que ele executa milimetricamente, dando apenas a impressão de caos para nos distrair, onde há uma ordem intencional. Talvez, mas duvido. Quando se lê os seus tweets, que, como já referi, são uma maneira de o perceber demasiado bem, vê-se que o homem de sofisticado não tem nada. É bruto, ignorante, mentiroso, dado a fantasias, habituado ao bullying, sem princípios, moral ou vergonha, egocêntrico até ao limite. (…)
Um homem destes suscita uma enorme reacção, mas, mais do que isso, molda a sociedade que o fez e onde habita. Ele radicaliza os seus fiéis a uma aceitação intransigente de tudo o que faz e alimenta uma postura que mimetiza a sua, gera milhares de pequenos Trumps. Esses pequenos Trumps deslocam-se para onde há qualquer fragmento de autoridade que lhes permita imitar o seu mestre: para as polícias, para a segurança, para os lugares de supervisores, de capatazes, de fiscais de qualquer coisa, seja do estacionamento seja de líder de claques ou chefes da praxe. (…)
Trump não é brincadeira nenhuma, é the real thing. Vai exigir muita perseverança, muito trabalho, muito apego à liberdade, e muito amor à decência, para ser vencido. Este tipo de homens e o exemplo que dão são um perigo público, por isso têm de ser contidos e depois vencidos, na opinião, na influência, nos tribunais, pelo primado da lei e, por fim, nas urnas.»
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14.4.17
Dica (528)
Catarina Martins, the Woman Shaking up Portugal’s Political Scene. (Marina Watson Peláez)
«The leader of Portugal’s left-wing Left Bloc party, Catarina Martins, talks about how female politicians are fighting to promote gender equality in her country.»
. Eu também já acreditei no Pai Natal
(Do Expresso de hoje.)
É importante que vozes sensatas, como a do pe. Anselmo Borges, desmitifiquem o que deve ser desmitificado.
. A vida não é bela
«Sean Spicer, secretário de Imprensa e Director de Comunicações do presidente Donald Trump disse em relação a Bashar al-Assad: "Nem Hitler desceu tão baixo ao ponto de usar armas químicas." Dizer "nem Hitler chegou tão baixo" é uma frase difícil de encaixar, seja qual for o argumento. (…)
O secretário de Imprensa de Trump na sua ânsia de se desculpar vai tentando segurar as peças de dominó, mas vai derrubando-as umas atrás das outras, e acaba a dizer que é diferente do Bashar al-Assad porque ele bombardeou gente com químicos e o Hitler levava as pessoas para, e cito - Centros de Holocausto - que, sendo uma designação nova para aqueles locais de horror, nem sequer podemos considerar um eufemismo de Campos de Concentração. Sem saber o que era, se me perguntassem, prefere ir para um campo de concentração ou para um centro de Holocausto? Assustava-me mais a segunda. Nestes pormenores a máquina de propaganda de Hitler era melhor que a de Trump.
Ver o porta-voz do presidente da nação mais poderosa do mundo dizer que é diferente do que fez Assad, porque "Hitler levou-os para centros de Holocausto" e não os bombardeou, é uma espécie de versão cínica do "A Vida é Bela". Tentar arranjar algo de menos desumano do que fez Hitler, em comparação com outro ditador assassino, dá nisto. Nesta versão adocicada do Holocausto nazi, feita por Sean Spicer, Anne Frank, afinal, só sofria de agorafobia.
"Hitler nunca usou armas químicas e não há aquecimento global", eu podia gostar de viver neste mundo do Trump. Ficava mais leve. Não só o passado era menos pesado como o futuro menos complexo. Mas não é isso que sinto. Toda esta suposta ignorância histórica é assustadora porque pode explicar muita coisa. Ficamos com a noção que esta gente percebe tão pouco da Segunda Guerra Mundial que, provavelmente, não tem problemas em causar uma Terceira.»
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13.4.17
Gabo – A Magia da Realidade
A RTP2 transmitiu ontem um programa excepcional sobre Gabriel Garcia Márquez. Vale a pena «rebobinar» a box e não perder!
Quem não tem box pode ver aqui, durante sete dias.
. Os desafios do futuro próximo
«Hipnotizados pelos disparates do senhor Dijsselbloem, Portugal dispensa muitas vezes olhar à volta e discutir o que verdadeiramente importa. (…)
É um tema [sair ou não do euro] para pensar em Portugal. Especialmente quando parece evidente que muita da solução passa por repensar a dívida externa e reestruturá-la. Mesmo que isso seja ruído que doa a muitos ouvidos. Sobre a Grécia já se percebeu que, com a continuação de "reformas" destas o custo social da austeridade vai destruir o país de vez. Os credores salvaram os seus bancos (a começar pela Alemanha e França, que emprestaram para que os seus bancos recebessem os seus créditos) e, eventualmente, os seus contribuintes. Mas já se percebeu que sem alívio da dívida este é um caminho sem fim: empréstimos quando o doente está quase sem oxigénio e, depois, volta-se ao mesmo. Não há futuro. Portugal, não estando na situação da Grécia, tem problemas. Que são visíveis: para se baixar o défice a níveis de conforto dos credores, tem de se cortar no investimento (é divertido ouvir agora a oposição pedir mais investimento público, ou seja aquele que cortou nos anos da troika, e que acha que ideologicamente é dispensável). Os desafios estão à nossa frente.
Até porque eles fazem parte de um quadro mais complexo que tem a ver com a digitalização crescente e as mudanças climáticas, que vão impor grandes alterações no mundo. Ou seja, eles vão impor a criação de um novo modelo económico onde terá de ser garantido um mínimo de rendimento para que o fim do trabalho (substituído por máquinas a curto prazo) não provoque um colapso total da sociedade. Mas, sobre isso, não se fala em Portugal. Num futuro próximo todos seremos menos ricos e teremos de refrear o consumo. Mas isso ninguém quer ouvir. Nem mesmo neste jardim à beira-mar especado.»
Fernando Sobral
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12.4.17
O cordeiro da Europa
«Há poucos dias o antigo imperador da política italiana, Silvio Berlusconi, surgiu na televisão a acariciar e a beijar um cordeiro, pedindo aos seus compatriotas que deixassem de comer carne na Páscoa, como é tradição.
No vídeo, ouvia-se uma voz: "Defendam a vida, escolham uma Páscoa vegetariana." A conversão de Berlusconi pode ser explicada por muitas coisas, até pelo facto de ele, em tempos, também ter sido um cordeiro sacrificado no altar na política europeia. Jeroen Dijsselbloem é, claro, um cordeiro mais difícil de digerir, até porque depois de tantos serviços à pátria que o ilumina, Wolfgang Schäuble já o veio perdoar dos pecados. Isso não invalida o profundo desconforto que este arrogante político holandês causou nos países que gostam mais de olhar para o Mediterrâneo do que para Bruxelas. O Governo português foi o primeiro a surfar a onda do descontentamento, perante o olhar mais silencioso de Espanha, Grécia ou Itália. Afinal, como se viu no conclave dos países do Sul, todos são do Sul, mas há alguns que o são mais do que os outros. França e Itália têm uma costela do Norte e não embarcam em grandes aventuras, até para continuarem a gozar de privilégios orçamentais que não são desculpados a Portugal ou à Grécia.
Por isso a própria política do Governo português face a Dijsselbloem é de máscara de Veneza. Fora do Eurogrupo pede a cabeça do holandês. Dentro dele o som que saiu da garganta do secretário de Estado que substituiu Mário Centeno foi um pio. O que se exigiu a Dijsselbloem foi uma espécie de imposto sem IVA. Ou então pode-se descontar este. Nada que espante. A política europeia exige valsas e óperas bufas. E muitas comédias dell'arte. António Costa sabe-o. Por isso não quer sacrificar Mário Centeno já, num qualquer embate no Eurogrupo. Centeno é um cordeiro político, fácil de ser um menu apetitoso para quem trincha a política europeia. Por isso não foi ao Eurogrupo para cruzar o olhar com Dijsselbloem. A Páscoa é um tempo de paz. Maiores guerras virão a seguir.»
Fernando Sobral
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11.4.17
Entre 10 Brumas e muita Memória
Este blogue faz hoje dez anos, nasceu no tempo da inocência das redes sociais, já viajou pelos cinco continentes e vai crescendo e envelhecendo comigo.
Tem resistido bem ao dinamismo avassalador do Facebook, talvez por este ser o amigo leal que traz um número muito significativo daqueles que aterram aqui. Mas também lhe deve «favores», como espelho do que se passa por lá. Vénia recíproca, portanto…
A todos os que lerem este 12602º post do blogue, muito obrigada.
La nave va! E hoje com música:
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Eles «compreendem»…
… tudo e o seu contrário?
«Os primeiros-ministros dos sete países do sul da Europa (França, Itália, Espanha, Portugal, Chipre, Grécia e Malta), ontem reunidos, como seria de esperar não esboçaram qualquer ato de condenação do ataque lançado pelos Estados Unidos contra a Síria na madrugada da passada sexta-feira. Revelaram até compreensão. E aqui entra a contradição suprema, porque ao mesmo tempo que entendem ser necessário sublinhar que “não pode haver uma solução militar do conflito”, acrescentam que apenas no âmbito das resoluções da ONU e das conversações de Genebra será possível encontrar uma solução política crível, capaz de assegurar a paz, a estabilidade da Síria e a derrota do autodenominado Estado Islâmico. Ou seja, tudo o contrário do que fizeram os EUA e pelo qual estes países mostraram compreensão.»
Valdemar Cruz no Expresso curto de hoje.
. Voar como Ícaro
«Passos Coelho tem estado a licenciar-se, durante este último ano, num novo curso de aviação. O "brevet" chama-se "voar como Ícaro" e o líder do PSD está a comportar-se como um digno sucessor do filho de Dédalo.
Tal como estes na mitologia grega, Passos Coelho construiu o seu labirinto do Minotauro. Mas como o Minotauro foi morto por Teseu, Dédalo construiu asas artificiais com cera para se poder libertar da reclusão. Alertou Ícaro para não voar muito perto do Sol, mas este não ouviu os conselhos do pai e despenhou-se no mar. Passos Coelho segue o voo de Ícaro. Diz que não se demite se perder as eleições autárquicas, mostrando a sua vontade irredutível. Rui Rio, o eterno futuro ex-líder, já percebeu isso e sentou-se ao seu lado para abençoar o candidato à Câmara do Porto. Mas, enquanto o sonho comanda a vida de Passos, as sondagens dão a dimensão da tragédia: um dia destes o PSD dissolve-se sem remissão.
Este é um país de desculpas e alguém será culpado do desaire que Passos Coelho não quer ver. Tal como se buscam culpados para o divertimento militante de jovens finalistas em Torremolinos. Quando, na verdade, se evita questionar o essencial: como é que adolescentes têm no contrato com o hotel bar aberto das 9 às 23 horas? É uma nova forma de educação? Neste país de desculpabilizações entende-se melhor como António Costa leva facilmente a água ao seu moinho. Com inimigos assim quem é que precisa de muitos aliados? Já se percebeu que os dislates do senhor Dijsselbloem servem às mil maravilhas para o Governo português ter um bombo da festa para consumo interno enquanto em Bruxelas se discute, no pacato mundo dos bastidores da burocracia europeia, quem poderá conduzir a carroça do Eurogrupo. Outras coisas importantes deixam assim de ter importância. A relatividade da política atinge em Portugal o seu momento de consagração. Portugal sabe há muito como consegue evitar ser Ícaro: cai, mas não se afoga no oceano. E, até agora, essa política cíclica deu sempre resultados.»
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10.4.17
Dica (526)
«In six months, Germany will go to the polls in a showdown between Chancellor Angela Merkel and her Social Democratic challenger Martin Schulz. One issue is set to dominate the campaign: What to do about the European Union.»
. França: virão as boas novidades de onde menos se esperava?
«Il prendrait ainsi la troisième place à François Fillon, stable à 17 %. Marine Le Pen et Emmanuel Macron subissent tous les deux une baisse de 2 points, à 24 % d'intentions de vote. Benoît Hamon, candidat du PS, baisse pour sa part de 3 points, pour atteindre 9 %.»
. 9.4.17
Dica (525)
The politics of saying sorry. (Mehreen Khan)
«‘My fear is that Muslims, for all our apologies, will always be perceived as Europe’s integrated aliens.’»
, Novo mundo
Hoje almocei num restaurante onde o empregado, mesmo antes de perguntar o que queríamos comer e sem que ninguém lhe pedisse, escreveu na toalha em papel o nome da rede wi-fi e respectiva password.
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E a Polónia amiga do nosso turismo
«O Parlamento da Polónia aprovou na sexta-feira uma resolução por ocasião do centenário das aparições de Fátima, em Portugal. (…)
“De modo particularmente dramático, através do segredo transmitido em três partes e de um espectacular milagre do sol, a Virgem recordou a verdade evangélica de que os homens, para serem felizes, precisam apenas de Deus omnipotente, que os criou apenas para si e deseja partilhar connosco a plenitude da felicidade”, lê-se na resolução aprovada pelos deputados.»
. 09.04.1974 – A última acção armada contra a ditadura
Os principais alvos das organizações de luta armada, que surgiram em Portugal durante o marcelismo, enquadravam-se no protesto contra a guerra colonial. Com uma população desesperada e exausta por partir e ver partir os seus para uma terrível aventura sem fim à vista, tudo o que fosse atingir símbolos da política colonialista da ditadura tinha uma grande repercussão e era objecto de um significativo regozijo, mesmo que discreto e silencioso.
Foi o caso com a acção de sabotagem ao navio Niassa, no dia 9 de Abril, no Cais de Alcântara em Lisboa, no momento em que ia partir para Bissau com um contingente de soldados. Tratou-se de uma iniciativa das Brigadas Revolucionárias (BR) que avisaram a PSP do porto de Lisboa uma hora e quinze minutos antes, para que o navio fosse evacuado.
Há na net vários testemunhos de militares que se encontravam a bordo. Um exemplo:
Outro testemunho aqui.
E os preparativos da acção, descritos por quem neles esteve envolvida:
«A bomba foi dentro de um colete meu. Eu tinha um fato com um colete integrado. Nós cortámos o plástico em fatias e enchemos o forro desse colete, que por sua vez, foi dentro do blusão do militar que transportou a bomba para dentro do navio. Lembro-me de nos preocuparmos com o facto de ele ter de se abraçar à família antes de partir. A bomba não ia explodir, mas a carga plástica ia nesse colete que ele levava vestido e, ao ser abraçado, a família podia aperceber-se de algo anormal.» In Isabel Lindim, Mulheres de Armas, p. 215.
Laurinda Queirós, a «Branquinha», militante das BR, 23 anos em 1974, estudante de Medicina, hoje médica no Porto.
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