«Passos Coelho tem estado a licenciar-se, durante este último ano, num novo curso de aviação. O "brevet" chama-se "voar como Ícaro" e o líder do PSD está a comportar-se como um digno sucessor do filho de Dédalo.
Tal como estes na mitologia grega, Passos Coelho construiu o seu labirinto do Minotauro. Mas como o Minotauro foi morto por Teseu, Dédalo construiu asas artificiais com cera para se poder libertar da reclusão. Alertou Ícaro para não voar muito perto do Sol, mas este não ouviu os conselhos do pai e despenhou-se no mar. Passos Coelho segue o voo de Ícaro. Diz que não se demite se perder as eleições autárquicas, mostrando a sua vontade irredutível. Rui Rio, o eterno futuro ex-líder, já percebeu isso e sentou-se ao seu lado para abençoar o candidato à Câmara do Porto. Mas, enquanto o sonho comanda a vida de Passos, as sondagens dão a dimensão da tragédia: um dia destes o PSD dissolve-se sem remissão.
Este é um país de desculpas e alguém será culpado do desaire que Passos Coelho não quer ver. Tal como se buscam culpados para o divertimento militante de jovens finalistas em Torremolinos. Quando, na verdade, se evita questionar o essencial: como é que adolescentes têm no contrato com o hotel bar aberto das 9 às 23 horas? É uma nova forma de educação? Neste país de desculpabilizações entende-se melhor como António Costa leva facilmente a água ao seu moinho. Com inimigos assim quem é que precisa de muitos aliados? Já se percebeu que os dislates do senhor Dijsselbloem servem às mil maravilhas para o Governo português ter um bombo da festa para consumo interno enquanto em Bruxelas se discute, no pacato mundo dos bastidores da burocracia europeia, quem poderá conduzir a carroça do Eurogrupo. Outras coisas importantes deixam assim de ter importância. A relatividade da política atinge em Portugal o seu momento de consagração. Portugal sabe há muito como consegue evitar ser Ícaro: cai, mas não se afoga no oceano. E, até agora, essa política cíclica deu sempre resultados.»
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