10.9.11

Pelos domínios de Genghis Khan


Algumas notas telegráficas que o tempo é pouco (e o sono muito).

Este país, o Uzbequistão, está no coração da Ásia Central, tem muitos vizinhos (e alguns «bons»…), como qualquer atlas o representa, cresce 4,6% ao ano, tem 27 milhões de habitantes, dois dos quais aqui na capital e é esmagadoramente de religião muçulmana (mas, curiosamente, vêem-se muito menos mulheres de cabeça tapada do que em Istambul).

Tashkent é uma cidade muito vasta, salta à vista a arquitectura tipicamente soviética assim que se chega, as avenidas muito largas e um sem número de parques e de lagos.

Podia focá-la de vários ângulos, mas hoje fica aqui apenas um: o olhar sobre a magnífica Praça Khast Imom, com a Madrassa Barak Khan, o Museu do Corão e alguns outros monumentos. Lindíssima, com uma cor e uma luz absolutamente extraordinárias!



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Digressões


Confesso que ainda não fui seduzida pelo carisma de Istambul. O trânsito caótico, multidões em tudo o que é sítio e um dos aeroportos mais desorganizados que já vi (e conheço dezenas…) não terão ajudado. Ainda menos, depois de uma noite já de si curta, um despertar mais do que prematuro, num Estado laico mas pouco, onde um imã usa altifalantes para acordar toda a paróquia para a primeira oração do dia às 5h30 (3h30 em Lisboa…).

Mesquitas, basílicas e bazares, certamente. Mas falta o resto. Volto para a semana e então sim, espero que sim…

Entretanto, estou já em Taskhent e vou iniciar agora a «minha» rota da seda. Entrar no Uzbequistão? Ah isso foi uma extraordinária odisseia que talvez venha a contar mas não agora, às 8h30 da manhã e depois de uma directa…



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8.9.11

Olho Azul



À noite todos os gatos são pardos, mesmo em Istambul, e eu ainda nem sequer vi gatos – amanhã é que será.

Mas deixo aqui este Olho do Oriente (Nazar Boncugu) que «protege do mal e atrai a boa sorte». Assim crêem os turcos, desde a Antiguidade, e bem útil pode ser por aí nos dias que vão correndo.
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Próxima etapa

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... próximos posts.




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7.9.11

A Rota


A imagem só mostra uma pequena parte da (s) rota(s) da seda e eu não a farei toda – nem de longe… Mas há muito que esta escapadela era desejada e espero que, desta vez, não existam incêndios como os que me impediram de fazer o Transiberiano, cinzas islandesas que deixem aviões em terra e, já agora, que os funcionários das linhas aéreas turcas não andem em justas lutas com o seu empregador.

Primeiro Istambul (já amanhã) e depois Uzbequistão, numa sequência de meios de transportes variados. Já no fim e fora da dita Rota, Baku, no Azerbaijão. Pelo que leio e vejo, parece ser uma cidade curiosa.


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(In)visível


É uma nova revista que será lançada em breve, unicamente através da net, e que «tem por objectivo principal a criação de novas interpretações acerca de temáticas culturais e sociopolíticas a partir de um tratamento multidisciplinar entre variadas linguagens, de forma a alargar o acesso ao conhecimento a um público mais vasto».

«A relevância de um projecto editorial neste âmbito justifica-se a partir da constatação da ausência de espaços públicos de comunicação que estabeleçam um diálogo acessível acerca de temas que aqui consideramos “invisíveis”.»

Informação detalhada AQUI.
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Tudo explicado


Público de hoje.
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Se o euro se desintegrar


Na íntegra e sem comentários, um texto publicado ontem no Expresso online por Jorge Nascimento Rodrigues.

Guerras civis e ditaduras se o euro se desintegrar

Um relatório de choque do banco UBS aponta para as consequências políticas da fragmentação e desintegração da zona euro. Saída da zona monetária poderá custar entre 40 a 50% do PIB de um "periférico"

As consequências políticas de uma fragmentação de uma zona monetária são muito sérias. Aos efeitos monetários e económicos associar-se-ão provavelmente um de dois resultados: "Ou se caminha para uma resposta mais autoritária de governo para conter ou reprimir a desordem social - um cenário que tenderá a exigir uma mudança de governo democrático para autoritário ou militar -, ou, em alternativa, a desordem social se misturará com fraturas na sociedade para dividir o país, redundando em guerra civil".

Estes cenários são apresentados num relatório de choque do banco UBS, da autoria de Stephane Deo, Paul Donovam e Larry Hatheway, a que o Financial Times e o Business Insider tiveram acesso.

Apesar do cenário negro, o relatório admite que a zona euro acabará por evoluir, mesmo que lentamente (o ministro das Finanças alemão falava hoje no Financial Times dos alemães serem adeptos de "pequenos passos") e muito dolorosamente, para a integração orçamental e a governação económica.

Mas as conclusões para que o relatório aponta merecem reflexão no detalhe:
1- A zona euro não pode continuar com esta estrutura e com estes membros atuais. "Ou a estrutura atual muda, ou os membros terão de mudar". Mas a fragmentação ou liquidação da zona monetária única tem um custo ainda mais elevado.

2- O custo para um "periférico" ronda os 40 a 50% do seu produto interno bruto (PIB) no primeiro ano depois da saída do euro. Para cada cidadão do país que sai, o custo dessa saída rondará os 9500 a 11500 euros no primeiro ano e entre 3000 a 4000 euros por ano nos anos subsequentes.

3- No caso de um país do "núcleo duro" da zona euro, uma saída do euro implicaria uma bancarrota de empresas de referência, a re-estruturação do sistema bancário e o colapso do seu comércio internacional. O impacto, no caso da Alemanha, por exemplo, seria de 20 a 25% do PIB.

4- Em termos comparativos, para o caso germânico, a saída do euro implicaria para cada alemão um custo de 6000 a 8000 euros no primeiro ano e entre 3500 a 4500 euros por ano nos anos subsequentes, enquanto que um resgate completo da Grécia, Portugal e Irlanda, em caso de bancarrota, custaria, apenas, 1000 euros de uma só vez.

5- Mas o custo económico e monetário deve ser "a última das preocupações dos investidores". Porquê? Porque as consequências políticas são mais gravosas ainda: "Merece a pena salientar que quase nenhuma união monetária moderna se dissolveu sem alguma forma de governo autoritário ou militar, ou guerra civil".

Acresce ainda um outro detalhe que não é referido pelo relatório. Para além das consequências políticas de regime ou de guerra civil, a turbulência nos países "periféricos" da atual zona euro traria consequências geopolíticas, em situações de caos político e desagregação do estado e da sociedade. Estes países encontram-se no que se designa em geoestratégia de zonas de embate (shatterbelt) entre grandes potências, frequentemente sujeitas, ao longo da história, a serem palcos de disputas diretas ou indiretas de terceiros próximos ou longínquos.
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6.9.11

Nunca esquecer os horrores do século XX


Morreu Vann Nath, um dos sete cambojanos que sobreviveu a S21, a terrível prisão cambojana nos killing fields, em Tuol Sleng, nos arredores de Phnom Penh. E escapou à morte porque sabia pintar e Pol Pot apreciava os seus desenhos…

Há hoje notícias detalhadas sobre a sua vida em toda a imprensa mundial, mas vale a pena ouvir esta conversa que teve com Jorge Semprún, sobrevivente de um outro genocídio:



Por mais que se leia, será sempre difícil realizar o horror que aconteceu naquela antiga escola primária, hoje transformada em Museu do Genocídio, e onde estão expostas algumas das obras de Vann Nath. Estive lá há pouco mais de dois anos e não esqueci o murro no estômago daquela manhã de Abril de 2009.

O Cambodja passou a ser para mim, desde então, uma das piores realidades da nossa história recente: para além de extremamente pobre, um país que perdeu 20 a 25% da população (cerca de dois milhões de pessoas, embora não haja números exactos), em apenas quatro anos – enquanto nós por cá vivíamos o PREC e os anos que se seguiram, ou seja há relativamente pouco tempo. E uma terra quase sem velhos, já que a grande maioria dos que teriam actualmente mais de 60 anos desapareceu.

Há muita literatura sobre este período negro de uma parte importante do sudoeste asiático, há um grande filme (The Killing Fields, Terra Sangrenta, em português) e muitos pequenos vídeos.



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Hoje acordei assim


Depois da derrocada europeia do dia de ontem, e com o estado em que está a Grécia no horizonte, ao ler a vigésima variante das declarações de Durão Barroso – «Europa vai sair desta crise mais forte» –, não me sai da cabeça a cara daquele senhor que está ali na fotografia.
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«Faça feliz o seu médico»


Na sua crónica de hoje no JN, Manuel António Pina cita «esta casa», referindo-se concretamente a um texto em que eu reproduzi, e comentei, a coluna de opinião de Manuela Ferreira Leite no último Expresso Economia.

Mas vai mais longe e sugere uma Petição com apelo à desobediência civil e intitulada: «Não peça recibo ao seu querido médico. Você não ganha nada com isso, e ele ficará mais feliz.»

Se não se desse o caso de eu deixar esta terra dentro de 48h, e de não me dar muito jeito recolher assinaturas de turcos, uzbeques e azeris, ainda que para uma tão nobre causa, oferecia-lhe os meus préstimos para lançar a dita Petição. Assim, a ideia terá de ficar para o anúncio de novos impostos imaginativos a serem feitos pelo nosso inefável ministro das Finanças – motivos não faltarão.
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5.9.11

Uma bela cidade

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… há pouco mais de 100 anos. Impossível imaginar como será daqui a outros 100.


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Cosas chiquitas


«Son cosas chiquitas. No acaban con la pobreza, no nos sacan del subdesarrollo, no socializan los medios de producción y de cambio, no expropian las cuevas de Alí Babá. Pero quizá desencadenen la alegría de hacer, y la traduzcan en actos. Y al fin y al cabo, actuar sobre la realidad y cambiarla, aunque sea un poquito, es la única manera de probar que la realidad es transformable.»

Eduardo Galeano, hoje, no Facebook.
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Organizem-se, sff

Ele fala e a caravana passa



Mas porquê? Inebriado pelo cheiro das flores? Saudades da Manta Rota? Avisos ao esquerdista Nabeiro? Puros ciúmes de Papandreou, Zapatero, Netanyahu ou mesmo Cameron?

Mais a sério: Jorge Fiel, no JN de hoje, deixa-lhe alguns avisos:

«Agastado com a opinião de correligionários que se comportam como cães que não conhecem dono, Passos chegou a domingo (o dia da homilia de Marcelo) e disparatou, imitando as incursões de D. Quixote contra os imaginários moinhos de vento ao investir contra os que "se entusiasmam com as redes sociais e esperam trazer o tumulto para as ruas de Portugal".

O discurso de Campo Maior foi um tremendo erro político. O primeiro-ministro não percebeu que os cães só atacam quando farejam o medo na sua presa. Não compreendeu que cão que ladra não morde. E desprezou a imensa sabedoria do dito popular "os cães ladram mas a caravana passa".»

P.S. - E a propósito, just for fun, foi criada ontem, no Facebook, a seguinte «Causa»:
O facebook é uma acendalha e eu não sabia
Queremos agradecer a Pedro Passos Coelho as expectativas depositadas nas redes sociais como forma de combater a austeridade e as medidas anti-sociais deste governo. Tentaremos estar à altura. 

Mais vale rir, não?...
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Outros Setembros

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4.9.11

O presidente e os estudantes


Parece haver uma «ligeira» diferença entre o que se passa no Chile e aquilo a que estamos habituados nesta estafada Europa: na sequência dos protestos estudantis, que duram há meses e que se têm concretizado em greves e numerosas manifestações, Sebastián Piñera, presidente da República, de centro-direita, tomou a iniciativa de ter ontem uma reunião de quatro horas, no palácio de La Moneda, com representantes dos estudantes, numa primeira tentativa para desbloquear a situação. Ninguém cedeu, nada ficou decidido e seguir-se-ão sessões de trabalho com membros do governo, já a partir de amanhã.

Podemos sorrir e olhar o facto como um gesto mais ou menos quixotesco e demagógico, típico de países da América Latina, mas julgo que é bem mais do que isso. E talvez valha a pena fazer um esforço e, para não ir mais longe, imaginar o equivalente, por exemplo em Espanha, com Zapatero (ou Juan Carlos…) a quererem falar com os «indignados» da Porta do Sol ou Cavaco a desejar conversar com participantes do Movimento 12M (vulgo «geração à rasca»), numa reunião de trabalho em Belém.

Os problemas lá, como deste lado do Atlântico, nem serão fundamentalmente diferentes. Distinta é talvez, na Europa, a sobranceria dos poderes instalados.

(Notícia)
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De facto...


«Que mais anda Bruxelas a fazer? Depois de ter regulamentado a curva do pepino, os nódulos das cenouras ou listado do que deve figurar nas embalagens de cosméticos, eis que nos obriga a renunciar às velhas lâmpadas incandescentes de 60W (as de 100W são ilegais há dois anos e as de 75W desde o ano passado) e ameaça atacar as cafeteiras eléctricas que consomem muita energia.

Agora que o euro vacila, que a recessão volta a ameaçar, que o desemprego aumenta, que os problemas dos jovens se tornam insuportáveis e que o Mediterrâneo está em ebulição, não faltava senão uma parte de imprensa europeia a lançar a sua ironia contra a eurocracia e o seu empenho em querer regulamentar os mais pequenos detalhes das nossas vidas sem nos consultar nem ser mandatada.»

(Daqui)
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O mundo mudou


… e não está péssimo para todos. Chegou a vez de outros, por mais que isso custe ao (ex-) Primeiro Mundo.

«O Congresso [dos Estados Unidos] propôs diminuir em 1/5 a ajuda económica americana. A ajuda do Brasil para a fome na Somália é superior à da Alemanha, da França e da Itália juntas» (The Economist, 13 de Agosto de 2011, pág. 9).

Do Passa Palavra
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