7.9.11

Se o euro se desintegrar


Na íntegra e sem comentários, um texto publicado ontem no Expresso online por Jorge Nascimento Rodrigues.

Guerras civis e ditaduras se o euro se desintegrar

Um relatório de choque do banco UBS aponta para as consequências políticas da fragmentação e desintegração da zona euro. Saída da zona monetária poderá custar entre 40 a 50% do PIB de um "periférico"

As consequências políticas de uma fragmentação de uma zona monetária são muito sérias. Aos efeitos monetários e económicos associar-se-ão provavelmente um de dois resultados: "Ou se caminha para uma resposta mais autoritária de governo para conter ou reprimir a desordem social - um cenário que tenderá a exigir uma mudança de governo democrático para autoritário ou militar -, ou, em alternativa, a desordem social se misturará com fraturas na sociedade para dividir o país, redundando em guerra civil".

Estes cenários são apresentados num relatório de choque do banco UBS, da autoria de Stephane Deo, Paul Donovam e Larry Hatheway, a que o Financial Times e o Business Insider tiveram acesso.

Apesar do cenário negro, o relatório admite que a zona euro acabará por evoluir, mesmo que lentamente (o ministro das Finanças alemão falava hoje no Financial Times dos alemães serem adeptos de "pequenos passos") e muito dolorosamente, para a integração orçamental e a governação económica.

Mas as conclusões para que o relatório aponta merecem reflexão no detalhe:
1- A zona euro não pode continuar com esta estrutura e com estes membros atuais. "Ou a estrutura atual muda, ou os membros terão de mudar". Mas a fragmentação ou liquidação da zona monetária única tem um custo ainda mais elevado.

2- O custo para um "periférico" ronda os 40 a 50% do seu produto interno bruto (PIB) no primeiro ano depois da saída do euro. Para cada cidadão do país que sai, o custo dessa saída rondará os 9500 a 11500 euros no primeiro ano e entre 3000 a 4000 euros por ano nos anos subsequentes.

3- No caso de um país do "núcleo duro" da zona euro, uma saída do euro implicaria uma bancarrota de empresas de referência, a re-estruturação do sistema bancário e o colapso do seu comércio internacional. O impacto, no caso da Alemanha, por exemplo, seria de 20 a 25% do PIB.

4- Em termos comparativos, para o caso germânico, a saída do euro implicaria para cada alemão um custo de 6000 a 8000 euros no primeiro ano e entre 3500 a 4500 euros por ano nos anos subsequentes, enquanto que um resgate completo da Grécia, Portugal e Irlanda, em caso de bancarrota, custaria, apenas, 1000 euros de uma só vez.

5- Mas o custo económico e monetário deve ser "a última das preocupações dos investidores". Porquê? Porque as consequências políticas são mais gravosas ainda: "Merece a pena salientar que quase nenhuma união monetária moderna se dissolveu sem alguma forma de governo autoritário ou militar, ou guerra civil".

Acresce ainda um outro detalhe que não é referido pelo relatório. Para além das consequências políticas de regime ou de guerra civil, a turbulência nos países "periféricos" da atual zona euro traria consequências geopolíticas, em situações de caos político e desagregação do estado e da sociedade. Estes países encontram-se no que se designa em geoestratégia de zonas de embate (shatterbelt) entre grandes potências, frequentemente sujeitas, ao longo da história, a serem palcos de disputas diretas ou indiretas de terceiros próximos ou longínquos.
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5 comments:

Anónimo disse...

A única maneira de a visão de esquerda vir a ser implementada é precisamente após essa falência do sistema capitalista: nacionalizações massivas, congelamento de grandes fortunas, e quem sabe até onde poderá ir o papel do Estado e sua democratização. E as culpas da crise passada ficarão sempre associadas a um capitalismo podre que falhou.

Já se sabe é que o artigo fala em autoritarismo de "consolidação", de mais "austeridade" e de guerra social com duas saídas possíveis: o fascismo ou o comunismo, no extremo. Enfim, escrevem coisas destas para meter medo à "classe média" e preferem uma saída fascista, não vá a aritmética eleitoral possibilitar pela primeira vez o comunismo numa periferia como Portugal.

José Meireles Graça disse...

Fontes Pereira de Melo fazia a pergunta certa quando ouvia um discurso que não lhe agradava: Ele que quer?
É uma boa pergunta, que devemos fazer sempre. No caso da UBS o que ela quer é não falir, dada a sua exposição excessiva a bancos - a mecânica já anda por aí explicada, por exemplo em http://oinsurgente.org/2011/09/06/salvem-o-euro-ou-salvem-o-ubs/

da Loba disse...

É a primeira vez, que discordo de um artigo neste blogue, ou da Joana Lopes.
Sem argumentos, para o efeito desnecessários, nem sequer sou o único português a defender que era bom para Portugal, abandonar a C. E. e por isso, o Euro.

Zé Santos

Anónimo disse...

Da minha parte e como sendo de Direita, desejo o fim do Euro, por mais doloroso que venha a ser, pois este permitirá a médio prazo o fim da União Europeia também. Reconquistaremos a nossa dignidade como país, voltaremos a ser autónomos e acima de tudo deixaremos de pagar juros a alemães e franceses.


Tenho grandes esperanças na Grécia e na Dinamarca, se bem que por razões diferentes.

Joana Lopes disse...

Vejo que os diversos comentadores estão cheios de certezas, o que não é o meu caso. cada vez estou mais convencida de que não tínhamos condições para ter aderido ao euro, mas sair agora...
Não sei o que vai acontecer, mas creio que não seremos nós a decidi-lo.