18.4.09

Um outro Cambodja

Três dias entre templos e uma rua com hotéis para turistas mantiveram-me provisoriamente afastada do pais paupérrimo que vi a poucos quilómetros. 'A beira de uma estrada e de um canal, e sobretudo num extensissimo lago, muitos milhares de pessoas vivem numa situação absolutamente inimaginável. Em barracas sobre estacas ou flutuantes, acumulam-se famílias cheias de filhos e até de animais, sem quaisquer condições de higiene, com esperança de vida abaixo dos 50 anos e onde as crianças que morrem todos os dias são pura e simplesmente atiradas ao lago.

A percepção da pobreza extrema continua em Phnom Penh que viu a sua população aumentar para dois milhões de habitantes desde que duzentas fábricas de têxteis aqui se instalaram, muitas como resultado de deslocalizações dos nossos países. Maná caído do céu, mesmo quando se trabalha 364 dias por ano, com condições e salários que não é difícil imaginar.
As belas teorias sobre o que não devia acontecer continuam de pé, mas a realidade, bem mais dura e bem mais crua, faz-me rebobinar o filme da globalização e não me deixa muito optimista. Novidade? Nenhuma, mas uma coisa é saber e outra, bem diferente, é VER.
Enquanto nós continuamos a tentar (em vão?) manter os nossos privilégios de ricos que ainda somos, os muitos Cambodjas deste mundo procuram apenas sobreviver - no sentido mais estrito da palavra.

Amanhã, antes de apanhar o avião de regresso, verei os killing fields dos khmers vermelhos e o Museu do Genocídio - será a cereja em cima do bolo.
Nunca me esquecerei deste país.

17.4.09

Cambodja’ digest

* 14 milhões de habitantes.
* 1975-1979 Genocídio de 3 milhões de pessoas pelos Khmers vermelhos.
* 1979-1990 Guerra civil.
* 2004 - Abertura ao Turismo que é já primeira fonte de receita (invasões…)
* Taxa de natalidade altíssima. Não consegui números (4 filhos em média por família?), mas é impressionante: só se vê crianças e jovens, não há velhos - muitas das vítimas de Pol Pot deveriam andar ainda normalmente por aqui…

País impressionante mas o resto fica para mais tarde.

15.4.09

Aqui pelo Sudoeste

Já no Cambodja, ainda duas ou três notas sobre o Vietname.
"Vaut le voyage", sem qualquer espécie de dúvida, como dizem, ou diziam, os velhos guias Michellin - viagem a ser feita, se possível, enquanto o inevitável turismo não altera definitivamente a paisagem. A lindíssima costa de Danang, por exemplo, está a ser arrasada por quilómetros de hotéis em construção ou em projecto, praticamente em cima das praias.
Pedem-me impressões "políticas". Dez dias como turista não servem para tirar conclusões, mas confesso que não senti por lá qualquer "socialismo" - nem no que se vê, nem no que é contado, nem nas respostas vagas, nem nos significativos silêncios. Depois de algumas insistências, os vietnamitas dizem sistematicamente que o sistema é parecido com o chinês mas mais "soft", no bom e no mau sentido. Já mais evidentes parecem ser as ambiguidades relacionadas com a reunificação entre o Norte e o Sul, que tem menos anos do que a nossa democracia e onde nem todas as componentes parecem estar assimiladas. Saigão continua a ser Saigão, Ho Chi Minh é nome de crisma que fica pelos papeis e pelas placas oficiais.

No Cambodja, tive hoje uma tarde de estadia em Angkor, que vai prolongar-se por mais dois dias. Arrasador em todos os sentidos: pelo que se vê e pelo clima, qualquer coisa da família do calor mas para a qual haveria que inventar um outro nome!
Para já, apenas uma referência: os principais templos (incluindo o Angkor Wat, ali em cima no cabeçalho deste blogue) foram construídos quando Afonso Henriques andava por ai a semear castelos contra os mouros. Small differences...

13.4.09

Terra de ferro, cidadela de bronze

Diz de si própria Cu Chi, localidade a 60 quilómetros a Noroeste de Saigão / Ho Chi Minh, com o orgulho de ter contribuído de um modo muito especial para a vitória da "Guerra anti-Yankees" ("do Vietname", chamamos-lhe nós, mas não os vietnamitas, já que guerras não lhes faltaram...).
É em Cu Chi que se encontram os tais 200 quilómetros de túneis que serviram de vias de comunicação, de esconderijo, de hospitais e até de salas de parto. Tinha lido varias descrições, mas o que vi hoje toca os limites do inacreditável ou mesmo do inconcebível. Deixo aqui um vídeo, as fotos - da época e não só - ficam para mais tarde.



Estou portanto em pleno cenário de guerra, vou amanhã ao delta do Mekong e estive hoje no palácio onde foi assinada a reunificação entre o Norte e o Sul.
Aqui, ao vivo e a cores, ainda é mais difícil perceber como é que os americanos acreditaram alguma vez que poderiam ganhar esta guerra, apesar dos dois milhões de mortos que deixaram para trás...

Mil coisas ficam por dizer, mas o dia foi longuíssimo, com um calor indescritível, talvez haja mais amanhã...
Saigão tem oito milhões de habitantes, quatro de motorizadas - comentários para quê... Mas não me queixo.