(Desenho de Margarida Tengarrinha, onde pode ser visto o percurso da fuga.)
Há 57 anos, deu-se a fuga mais célebre de presos políticos em tempos de fascismo e a utilização da Fortaleza de Peniche regressou agora de novo à ordem do dia, porque o actual governo começou por a incluir numa lista de monumentos a serem utilizados por privados para fins turísticos e acabou por retirá-la – e muito bem – da referida lista.
Se sou de um modo geral extremamente sensível a estes temas da preservação da memória relacionados com o fascismo, Peniche é-me especialmente próximo. Não é meu hábito referir factos familiares relacionados com efemérides, mas hoje é o dia. O meu marido participou, com Rogério Paulo e outros, na preparação da fuga e foi o condutor do carro que transportou Cunhal, e mais alguns que se evadiram, na primeira parte do percurso para Sul. Alguns meses mais tarde foi detido pela PIDE e passou em Peniche a maior parte dos seis anos em que o mantiveram preso. Estes factos são «património» familiar.
(José Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal. O Prisioneiro, Temas & Debates, 2005, p. 722)
Não só por isso, mas assumo que também, me revoltam tanto os milhafres, que parecem pensar apenas em cifrões e em eleições autárquicas à vista e que tanto se esforçam por tentar sabotar uma exemplar decisão do governo em geral e, muito provavelmente, do ministro da Cultura em particular: repensar um destino para a Fortaleza, adequado ao seu passado.
Quanto aos factos, eles são conhecidos mas aqui ficam.
Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Martins Rodrigues, Francisco Miguel, Guilherme da Costa Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares e Rogério de Carvalho fugiram da Fortaleza de Peniche em 3 de Janeiro de 1960, numa iniciativa absolutamente espectacular:
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