10.2.24

Mesquitas

 


Mesquita Shah, com simetria perfeita e azulejos azuis persas, Património Mundial da UNESCO. Isfahan, Irão, 1629.
 

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Os debates

 


É inaceitável o que está a acontecer nas estações de televisão no que se refere aos debates que precedem a campanha a eleitoral para as Legislativas.

Quase todos os «moderadores» têm revelado a falta de qualidade profissional requerida para a função, até na escolha das perguntas, mas sobretudo porque atropelam os participantes do debate como se fossem um terceiro elemento ao mesmo nível. (João Adelino Faria, na RTP, ocupa o primeiro lugar no pódio para o pior – na minha opinião e do que tenho visto.)

Mas há mais: o tempo dedicado, antes e depois dos curtos debates, a pré e pós-comentar, está ao nível das noites futebolísticas. São horas e horas (não exagero…) de painéis de três ou quatro tudólogos que escalpelizam cada frase, dão notas (Ai, Marcelo de antanho…) e enquinam tudo para a tendência política que agrada a cada um, quase fazendo esquecer, ao espectador já cansado, o que de facto se passou no debate propriamente dito.

Os OCS, com especial relevo para as TVs neste caso, têm um papel importante em democracia. Estão a falhar.
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Uma velha num banco

 


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Sermos felizes todos os anos

 


«Se quiséssemos ser felizes mais vezes, a melhor (única?) forma seria replicando eleições legislativas todos os anos. Podíamos não ser um país mais desenvolvido, mas o nosso ânimo seria alcandorado aos céus. Durante umas semanas, Portugal olha-se ao espelho e vai vendo coisas diferentes no reflexo que é devolvido. Algumas coisas tristes, típicas de uma nação periférica que não desarma da apatia económica, mas sobretudo coisas maravilhosas. Porque quando estamos em campanha, e esta tem sido particularmente profícua em promessas, entramos no modo leilão. Tudo, claro está, devidamente aditivado pela circunstância orçamental de termos muito, mas mesmo muito, dinheiro em caixa e, politicamente falando, de nos encontrarmos perante a mais do que certa necessidade de formar coligações que garantam a estabilidade.

Lançam-se propostas sonoras vazias de conteúdo, pouco estudadas, intenções benévolas de não deixar ninguém para trás, castigando os ricos e salvando os pobres. Há para todos os gostos: o Estado a fiar casas, os lucros excessivos da Banca a pagar o crédito à habitação, médico de família para todos, subsídios de risco extensíveis a todas as forças policiais, recuperação de tempo de serviço dos professores, baixas do IRS e do IRC, pensões de reforma equivalentes ao salário mínimo, pré-escolar gratuito nos privados. Populistas e não populistas atiram a tudo o que mexe. Os protestos grassam. Ser comedido é ser frouxo.

Os programas políticos (que ninguém lê) apenas servem para dar credibilidade institucional aos números mediáticos dos candidatos a primeiro-ministro. Não queremos ser convertidos, queremos ser convencidos. Tendemos, progressivamente, a gostar mais deste do que daquele não pela justeza e aplicabilidade das suas propostas, mas pela eficácia dos seus gestos políticos como atos de sedução das massas. Valha-nos que um povo feliz é um povo realizado.»

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9.2.24

Copos de Circo

 


«Copos de Circo»: copos de vidro romanos, do século III d.c., encontrados em túmulos principescos na Dinamarca.
O nome deve-se ao facto de serem decorados com imagens de esmalte que representam animais da arena romana.

Daqui.
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O novo "voto útil"

 

«Como acreditar que a nova AD não promoverá acordos com a extrema-direita perante os exemplos dados nos Açores, quando tem um PPM em vírgulas de percentagem a apresentar um líder escondido no armário por vergonha alheia, mas capaz, quando o deixam sair, de verbalizar maior reaccionarismo do que o Chega? Se Luís Montenegro é capaz de se aliar ao PPM por um tão pouco simbólico, porque recusará um acordo com o Chega para viabilizar Governo?»

Miguel Guedes
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Um pouco mais de azul

 


Um podcast com Fernando Alves, Rita Taborda Duarte e Francisco Louçã. 

Já estão disponíveis dois episódios AQUI.
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Deixa Pedro Nuno Santos ser Pedro Nuno Santos

 


«Vivia-se um momento de desalento na Casa Branca. Amarrado ao receio do conflito, sentindo-se enfraquecido por uma vitória pouco expressiva, o Presidente instalou, no seu gabinete, uma cultura obsessivamente cautelosa. Ao fim do primeiro ano de mandato, geria o seu poder, em vez de o usar. Os sinais de alarme ouviram-se quando Jed Bartlet caiu cinco pontos numa semana. O que tinha feito? Nada, exatamente. Este episódio de “West Wing” é feito de becos sem saída, decisões por tomar, com a tática a impedir qualquer controvérsia. Lembrei-me da frase “Let Bartlet be Bartlet", que o seu chefe de gabinete escreve num caderno e pousou na secretaria da Sala Oval, a propósito de Pedro Nuno Santos. Há um sentimento geral, entre admiradores e detratores, que está a usar um fato apertado. Alguém o convenceu, ou ele próprio se convenceu, que pode vencer as eleições sendo o que não é. Só sobreviveu politicamente por ser como é: destemido, determinado, impulsivo e sem receio de ter as suas próprias posições. Sem isto, fica o que correu mal, que ele próprio sublinha demasiadas vezes.

O mal de ter anunciado demasiado cedo que faria este caminho é ter-se tornado, demasiado cedo, um alvo preferencial. Os episódios na TAP que o envolveram, que poderíamos encontrar em tantas empresas públicas e privadas ou ministérios a que dedicássemos igual escrutínio, ofuscaram o sucesso do resgate e marcaram a imagem de Pedro Nuno Santos. No entanto, ele mostrou uma resistência rara, sobrevivendo à saída do governo e à passagem pela CPI. Preparava-se para dois anos de travessia no deserto, até chegar à liderança. A sua hora chegou prematuramente, não dando tempo para que tudo ficasse em perspetiva. Mas, como me disse um ex-primeiro-ministro, na política não se fazem planos porque eles saem sempre furados. É neste tempo, depois de uma queda do governo por um caso judicial, que tem de ir a votos.

Quis ultrapassar a ideia de que é um radical. Uma preocupação de quem ouve demasiados comentadores, que não me parece estar presente no eleitorado popular do PS, mais preocupado com a degradação dos serviços públicos. Resolveu isto nas listas, mais costistas do que Costa. Depois, quis apagar a imagem de impulsividade. Sem isso, fica um boneco de plástico e perde o que o distingue de Costa: não arrastar os pés. O que Pedro Nuno Santos tem de reconquistar, para contrariar a perceção criada no espaço mediático pelos episódios da TAP, é a imagem que tinha quando era o pivô da ‘geringonça’. Que conhece o seu programa e as suas propostas. Quanto ao que lhe costuma ser apontado como defeito, deve aproveitar como virtude. A impulsividade ser combatividade; a radicalidade ser, quando o PS precisa de recuperar eleitores que perdeu, alguma rutura — tarefa que já foi difícil para Fernando Nogueira e Ferro Rodrigues, outros incumbentes que não o eram. É indiferente o que pensam sobre ele os que nunca votariam nele. É aos que podem votar que se tem de dirigir. E esses têm de ver o que fez Pedro Nuno Santos vencer a liderança do PS depois de dois anos tão difíceis.

“Let Bartlet be Bartlet”, que dá o título ao 19º episódio da primeira temporada de “West Wing”, é uma referência à frase “let Reagan be Reagan", usada, nos anos 80, pelos conservadores, que queriam que Reagan fosse, no campo oposto ao do fictício Jed Bartlet, o que foi: o homem que mudou a América — na minha opinião, para pior, mas isso é outro tema. Nenhum primeiro-ministro português tem tanto poder. Mas Pedro Nuno Santos não se pode dar ao luxo de fazer o mesmo que Montenegro. Os marqueteiros do PSD fizeram um vídeo para conhecermos melhor “o Luís”. Com a naturalidade de um ator num anúncio a um banco, responde a perguntas “pessoais”. O prato preferido é o nacional, o cozido, mas do que mais gosta é das couves, para não chatear. Apesar de ter sido do conselho superior do FCP, o seu clube é o de todos nós, “Portugal, Portugal”. O livro e o filme são consensuais e neutros, a série e a música são revivalismo popular. A banda é a que hoje enche estádios. A frase da sua vida é conveniente para o momento político e atribuída ao autor errado. Todas as respostas foram pensadas para que ninguém acredite que Montenegro tem personalidade própria. E a sua maior qualidade é, claro, a “autenticidade”. Aposto que o maior defeito é a teimosia.

Luís Montenegro, que até se tem mostrado combativo, pode inventar-se. Não existia nas nossas cabeças. É uma espécie de marca branca da política. Pedro Nuno Santos é, ou pelo menos era, o oposto. E tem de voltar a sê-lo, se quer bater-se por uma vitória. Na forma e no conteúdo. Não tendo medo de provocar ondas, até dentro do seu partido. Não tendo medo de despertar os ódios que, de qualquer das formas, já desperta. Pedro Nuno Santos é do PS e, do ponto de vista programático, não há risco de radicalismo — faz-lhe essa acusação quem, conhecendo mal o país, acha que vence Ventura atacando-o pela direita económica. Mas, acima de tudo, não tendo medo que digam que Pedro Nuno Santos é Pedro Nuno Santos. Contrariar-se é ficar com o pior dos dois mundos. Tem a próxima semana, ainda nos debates, para regressar a si mesmo.»

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8.2.24

Voltam as janelas

 


Janela da Casa Manuel Felip, Barcelona, 1901.
Arquitecto: Telmo Fernandez i Janot.


Daqui.
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Ai Timor...

 


Mariana Carneiro no Arraial Antifascista e Antiracista, no Largo do Intendente em Lisboa.
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Sebastião Salgado

 


O grande, grande fotógrafo brasileiro chega hoje aos 80.
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De que se alimentam os populismos?

 


«Os populismos alimentam-se, entre outras coisas, da extrema desigualdade e do crescente sentimento de privação relativa, mesmo em países onde as remunerações são mais elevadas do que em Portugal.

O trabalho recente de Pedro Magalhães, “Bases sociais das intenções de voto em 2023”, mostra que a probabilidade de intenção de voto em partidos antissistema é mais elevada entre os jovens, os homens e os eleitores com níveis de qualificação média ou superior. Trata-se, aparentemente, de um segmento da população que, tendo beneficiado de recursos educacionais, cuidados de saúde e acesso a bens culturais, tem expectativas de mobilidade social e económica cuja possibilidade de concretização não vislumbra. São segmentos que alimentam sentimentos de frustração e de privação relativa. Comparam a sua situação com a das elites e não encontram caminho ou lugar, nem propostas políticas de esperança.

Falta muitas vezes às elites sensibilidade e compreensão destes sentimentos, manifesta em declarações públicas com impacto. Como, em tempos da austeridade, as de Fernando Ulrich, “Ai aguentam, aguentam!”, e de Luís Montenegro: “A vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor”. Ou, recentemente, em tempos de inflação e juros altos, a tirada do governador do Banco de Portugal: “Nós exageramos muito as dificuldades em que nos encontramos hoje. Emprego, salários e consumo nunca foram tão altos como agora”.

Vivemos hoje melhor do que no passado. Quando se compara o país atual com o de há 50 anos, o progresso é extraordinário. Porém, a memória disso vai ficando com os mais velhos, mas mais rarefeita, e diz pouco aos jovens que já nasceram em liberdade. Estes comparam-se mais com os de outros países, hoje, e menos com os do Portugal do passado. Aspiram, por isso, a mais oportunidades, a percursos de mobilidade social. Muito se tem escrito sobre a avaria do elevador social movido pelo aumento dos níveis educacionais. Mas a avaria, se existe, só pode ser reparada com políticas de desenvolvimento económico e de diminuição da desigualdade.

Os líderes populistas continuarão a explorar a frustração social. Incendeiam-na. Arregimentam protestos e insatisfações e instigam o ódio às elites e aos que definem como outros. Cultivam uma irreverência mal-educada, colocam em causa os direitos das mulheres, a proteção social dos mais desfavorecidos, a igualdade social. Desvalorizam os aspetos positivos da vida e generalizam a partir de casos selecionados, pintando um quadro de caos, de “bandalheira”, de corrupção. E, perante tudo isto, propõem soluções na aparência simples, independentemente da sua bondade ou possibilidade de concretização.»

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7.2.24

Regressam os vasos

 


Vaso de vidro ametista de alta qualidade, de dez faces, decorado à mão em esmalte com guirlandas e miosótis. 1880-1890.
Moser.

Daqui.
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07.02.1927 – Juliette Gréco

 


Juliette Gréco chegaria hoje aos 97, mas morreu em 2020. Viveu até aos 6 anos em Bordéus com os avós maternos e partiu então para Paris com a mãe e a irmã mais velha.

Numas férias passadas na Dordogne a mãe foi presa pelos nazis por actividade na resistência, o mesmo acontecendo a Juliette, então com 16 anos, e à irmã mais velha. Saiu em liberdade um mês mais tarde e foi viver para Paris em casa de uma antiga professora que morava perto de Saint-Germain-des-Prés – facto decisivo na sua vida! Viveu o entusiasmo do pós-guerra, integrou-se rapidamente em grupos de intelectuais e artistas e acabou por contactar Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Boris Vian, Jean Cocteau ou Miles Davis.

Podem ser vistos cinco vídeos com algumas das suas interpretações clássicas AQUI.
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João Bénatd da Costa

 


Seriam 89, hoje.

Um texto que escrevi já alguns anos AQUI.
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Açores e o cordão sanitário intermitente

 


«Apesar da evidente vitória da coligação de direita, mudou menos nos Açores do que parece. Com exceção do Bloco e do PAN, todos os partidos que elegeram deputados aumentaram a sua votação. Não parece ter havido grandes transferências. Em percentagem, a maioria PSD-CDS-PPM teve mais meio ponto percentual, o mesmo número de deputados e mais cinco mil votos. O PS teve menos três pontos percentuais, menos dois deputados e mais 800 votos. E o Chega quase duplicou a sua percentagem, mais do que duplicou a sua representação parlamentar e teve mais cinco mil votos. Ou seja, Chega e PSD-CDS-PPM parecem ter ido buscar votos à abstenção, que diminuiu. Só a análise mais fina pode tirar conclusões das motivações dos novos eleitores.

PSD-CDS-PPM ficaram oficialmente em primeiro (somadas as votações dos três, nas últimas, já tinham ficado). Isto permite-lhes apresentarem-se como preferidos para governar, ao contrário do que aconteceu em 2020, em que só se aliando depois ficaram à frente dos socialistas. Quanto às necessidades de alianças, a dependência em relação ao Chega até aumentou, porque este, sozinho, consegue garantir uma maioria, coisa que não acontecia em 2020, em que a IL também era necessária. E mudou outra coisa: o mesmo líder que se uniu ao Chega para impedir que o partido mais votado governasse finge esperar que esse partido viabilize o seu governo, agora que teve mais votos, para não ter de recorrer ao mesmo Chega a que voluntariamente recorreu, para governar sem vencer, em 2020.

Deixo para outro texto as razões porque me oponho, aqui e nos Açores, a um bloco central informal que entregue a oposição ao Chega e os votos do PS à governação do PSD, e vice-versa. E não trato disso aqui porque o descaramento do que se está a dizer sobre os Açores (que o desequilíbrio da presença mediática da direita faz que passe como normal) não merece um debate tão apurado. É a pessoa que rompeu o cordão sanitário com a extrema-direita para chegar ao poder que está a pedir que a oposição se anule para ele passar a dispensar a extrema-direita, quando já não precisa dela. Se o PSD dos Açores quisesse romper essa dependência não teria como candidato o homem que a criou, depois de perder as eleições.

Defendi a geringonça e defendo que governe quem constrói maiorias. Mas defender isto tem o preço da coerência. Não serve quando se fica em segundo e deixa de servir quando se fica em primeiro, achando que quem lidera o bloco oposto tem o dever de se abster de ser oposição. Não é à vontade do freguês. Eu acho que o PSD não tem qualquer dever de viabilizar um governo do PS, mesmo que Pedro Nuno Santos fique em primeiro. Nisso, Bolieiro estava de acordo comigo, mas só enquanto lhe deu jeito.

Imagine-se que, em 2019, depois de ter ficado em segundo nas eleições anteriores e mesmo assim ter governado com em entendimento à esquerda, António Costa exigia que o PSD viabilizasse o seu novo governo porque agora estava em primeiro. Imagine-se que o PS não tinha conseguido maioria absoluta em 2022 e, depois de BE e PCP o terem feito cair, vinha dizer que, tendo existido uma coligação negativa entre BE, PCP e a direita, o PSD tinha o dever de viabilizar um governo seu e não, como aconteceu, o BE e PCP. O PSD diria, com toda a razão, que Costa tinha escolhido os seus aliados quando ficou em segundo e não tinha qualquer autoridade para fazer exigências. É o que se está a passar nos Açores. Que autoridade tem para pedir apoio do PS para impedir a influência da extrema-direita a mesma pessoa que se aliou ao Chega para impedir que o PS governasse? Não será descaramento a mais?

José Manuel Bolieiro não se pode aliar ao Chega quando fica em segundo, para conquistar o poder, e exigir ao PS que o livre do Chega quando fica em primeiro, porque sabe que agora será chamado a governar. Se queria que o PS viabilizasse o seu governo agora teria de ter viabilizado um governo do PS em 2020. Foi Bolieiro que decidiu que o PS era oposição quando ficou em primeiro. Oposição tem de ser, por maioria de razão, quando fica em segundo.

O que o PSD tem de fazer é apresentar o seu governo e deixar que o Chega decidir, sem qualquer negociação ou acordo, se quer mostrar ao país que a sua função é impedir que a direita governe, mesmo quando o PSD fica em primeiro. O teste à fanfarronice do Chega é o teste à coragem e determinação do PSD. Mas, quando até já percebeu que o Chega vai viabilizar o governo de Bolieiro, tenta-se aproveitar a oportunidade, reduzindo a pressão sobre o Chega da e transferindo-a para o PS, por cálculo político na campanha nacional. O PSD limita-se a usar o Chega para entalar o PS. É a instrumentalização do Chega que várias vezes critiquei em Costa e Santos Silva.

Se alguma transposição se pode fazer do que se passa nos Açores para o país, é esta: se o PS ficar em primeiro o PSD não viabiliza o seu governo e alia-se ao Chega, se o PSD fica em primeiro o PS está obrigado a viabilizar um governo do PSD para o salvar do Chega com quem, por acaso, esteve aliado durante três anos, nunca se comprometendo a não repetir se voltasse a ficar em segundo. Quando perde, o PSD usa o Chega para impedir que o PS governe, quando ganha, usa-o para impedir que o PS faça oposição. Quem transformou o Chega num partido relevante para o poder foi Bolieiro. Não tem qualquer problema com as ideias do Chega. Só prefere governar anulando a oposição, levantando uma espécie de cordão sanitário intermitente.»

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Debate Mortágua / Montenegro

 



Para quem não viu. Vale a pena.
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6.2.24

Street Art

 


Lenda sobre Gigantes, Białystok, Polónia.
Natalia Rak.


Daqui.
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06.02.1932 – François Truffaut

 


François Truffaut nasceu em Paris e faria hoje 92 anos, morreu muito cedo (com 52), mas deixou vinte e seis filmes que o mantêm connosco.

Com uma infância atribulada, que acaba por retratar parcialmente em «Les quatre cents coups», Truffaut fundou um cineclube aos 15 anos e foi rapidamente descoberto por André Bazin que viria a ter uma influência decisiva na sua carreira, introduzindo-o junto dos grandes nomes da época e nos celebérrimos «Cahiers du Cinéma». Tornou-se um dos principais representantes da «Nouvelle Vague» francesa e, nesses tempos áureos do cinema francês, era sempre com alguma ansiedade que se aguardava a estreia de um novo título.

Pequenos vídeos de alguns dos seus filmes, entre muitos inesquecíveis, AQUI.
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Certo, recebi hoje uma factura

 

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Ou o centro ou as frentes

 


«As eleições açorianas confirmam a aliança profunda da política portuguesa: é a aliança do PSD e do PS. É o centro democrático. É o bipartidarismo. É a alternância: ora governas tu, ora governo eu.

Só governarão juntos em caso de grande emergência, mas sabem que essa possibilidade, a aliança social-democrata, está sempre de atalaia.

Pedro Nuno dos Santos, que esteve muito bem, falou disso, ao explicar porque é que PS e PSD não governavam juntos. É porque um dos dois tem de ficar sempre de fora, para apanhar o descontentamento e preparar a sucessão. Se governassem juntos, disse ele, sabe-se quem apanharia o inevitável descontentamento. Não foi preciso especificar.

O PS e o PSD estão tão mal habituados que nem sequer sonham em vencer as eleições. Dão de barato as maiorias relativas. Só sonham com as absolutas. E isto porque há sempre uma maioria absoluta na política portuguesa: é a maioria do centro, é a maioria do PS com o PSD, de pessoas mais ou menos sociais-democratas, mas sempre democratas, que se hão-de sempre entender e que hão-de sempre ser rivais — para mais ninguém, para mais nenhum partido poder ser.

Luís Montenegro, que também esteve muito bem, não se preocupou com a questão da maioria absoluta, dizendo que, para a AD fracassar nos Açores, o PS e o Chega teriam de se juntar para fazê-la cair.

Os dois partidos grandes gostam de usar os pequenos para se espicaçarem um ao outro. Mas os pequenos estão condenados a viver nas pequenas margens que faltam para as maiorias absolutas do PS e do PSD.

É a política dos interstícios: metem-se por onde podem. É a política do caruncho, a ver se, dando mil dentadinhas por minuto em cada perna, o móvel vem abaixo.

Os pequenos querem transformar o bipartidarismo em bifrentismo. Precisam de uma frente de cada lado, de direita e de esquerda.

Precisam que o PS e o PSD se desentendam de verdade. Querem desmantelar o centrismo.

Mas querem uma coisa impossível: querem radicalizar os sociais-democratas.»

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5.2.24

Mantinhas

 


Portas ou vasinhos Arte Nova, Street ou Land Art? Nada disso: hoje fica aqui isto, que o Inverno ainda não acabou.

Manta em forma de polvo.
Projecto de @designideahub

Daqui.
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Debates Legislativas – só 30?

 


Aqui ficam os horários nas TVs. Que nada vos falte ou ainda se enganam na escolha do voto. Bons serões de Fevereiro!
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Onde está a coerência europeia?

 


«Entretanto, na hora "H" em que é fundamental garantir o futuro da Ucrânia, vemos os EUA manietados meses a fio. O país está profundamente fraturado, na cena interna, do ponto de vista político e social, e enfrenta um número de problemas de política externa que dispersam as suas capacidades de intervenção e confundem a ordem das prioridades. É a fronteira sul. O alinhamento problemático com Israel. A obsessão com o Irão. A competição suicida com a China. O medo da loucura norte-coreana. A imprevisibilidade de Putin. E agora, o espectro de Trump. Tudo isto faz emergir duas grandes conclusões. A Europa, ou seja, a NATO deste lado do Atlântico, não pode confiar no auxílio dos EUA, no caso de um conflito no espaço europeu. E a Ucrânia tem de procurar estabelecer alianças bilaterais com países europeus e outros, no prosseguimento da sua resposta à invasão russa. Essas alianças deverão sobretudo ser estabelecidas com nações vizinhas ou próximas da Rússia. São Estados que mais tarde ou mais cedo poderão entrar na mira dos russos, se a Ucrânia não conseguisse resistir à agressão do Kremlin.»

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O que se passa nas polícias?

 


«Este sábado, dezenas de agentes da polícia apresentaram baixa médica para não se apresentarem ao serviço. A ausência destes homens acabou por determinar o cancelamento de um jogo de futebol, o Famalicão–Sporting.

Nessa noite, o presidente do Sindicato Nacional da Polícia, Armando Ferreira, em declarações na SIC Notícias, ameaçou que a situação se pode alastrar a todo o país. Nem uma palavra acerca da veracidade das baixas médicas. Tratou-as como sendo uma forma de luta legítima. Também equacionou o cancelamento de mais jogos de futebol e chegou a ameaçar a realização das eleições legislativas a 10 de março.

Foram declarações desastrosas e que provocaram alarme. Armando Ferreira apresentou as polícias como sendo um perigo para a ordem pública sem noção do efeito dessa imagem. E mostrou de que lado está o seu sindicato. Estamos conscientes da infiltração da extrema-direita nas polícias, mas ficamos sempre paralisados quando o fenómeno se nota.

E reparem que o Movimento Zero reanimou e que tenta cavalgar a onda. Voltou às publicações nas redes sociais. Na verdade, são verdadeiros apelos à guerra. Depois do cancelamento do jogo entre o Famalicão e o Sporting, o Movimento Zero, que tinha apelado ao cancelamento dos jogos dos três grandes, lamentou a inação no Estádio do Dragão. “Cada momento de hesitação é uma traição à nossa causa. Braga mostrou o caminho – coragem e união - mas no Dragão falhámos.” Isto porque os agentes de segurança não aderiram ao apelo para se juntarem na porta 18 do Estádio do Dragão. No fundo, foi um apelo para não acatarem as ordens e instruções que tinham para garantir a segurança do jogo. É assim a atuação do Movimento Zero.

Na mesma noite, também Paulo Santos, presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP), foi entrevistado numa estação de televisão. Falou no silêncio do Governo e na possibilidade de os agentes de segurança enveredarem por outro tipo de contestação. Paulo Santos foi interpretado como estando, à semelhança do que fez Armando Ferreira, a ameaçar o funcionamento do sistema democrático. Mas digo-vos que tal interpretação é injusta.

Paulo Santos é um dos dirigentes sindicais que tentam proteger as forças de segurança da influência da extrema-direita. Não é farinha do mesmo saco. Temo pensar no que seria das forças de segurança se não existissem homens como Paulo Santos, homens que, na verdade, estão numa posição muito difícil.

Porquê?

Por um lado, estão na luta por melhores condições de vida e de trabalho como todos os restantes. Mas fazem essa luta sem perder de vista valores como a solidariedade e a fraternidade, esses são os princípios fundadores da ASPP. Acontece que, por mais que se organizem e que façam manifestações com milhares de homens, nada acontece. Ao não reagir às formas de luta convencionais, o Governo dá razão aos agentes das forças de segurança que estão minados pelo Chega e que só acreditam em ações de guerrilha. Os sindicalistas como Paulo Santos perdem força negocial e perdem terreno perante os seus homens; começam a ser substituídos por novos atores. Isto está a passar-se. Se Paulo Santos assumir um discurso frontalmente crítico em relação, por exemplo, aos agentes que apresentaram baixas médicas fraudulentas vai perder a mão e a autoridade no sindicato mais representativo das polícias. Volto a dizer que homens como Paulo Santos estão numa posição difícil.

A especial permeabilidade ao ideário de extrema-direita por parte das forças de segurança não resulta apenas da sua situação remuneratória ou da recente injustiça que viveram ao terem sido satisfeitas as reivindicações da Polícia Judiciária mas não as suas. Não, esta permeabilidade tem outras causas profundas. Quem vai para as forças de segurança quer ter autoridade. Este desejo de ter e exercer autoridade sobre o outro é uma fraqueza. É também por aqui que se deixam contaminar. Ventura fala-lhes do reforço dessa autoridade e de inimigos que é preciso combater. Os agentes e guardas que caíram no embuste de Ventura estão amotinados e prontos para a guerra. São, neste momento, homens perigosos.

As reivindicações das polícias extravasam o que pode ser decidido por um Governo de gestão. Mas, mesmo nessas circunstâncias, António Costa, se quiser, sabe puxar aqui o travão de mão. E é a pessoa certa para o fazer. A indiferença do Governo é gasolina para o fogo que consome quem pode salvar as polícias.»

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4.2.24

Saudades de vasos?

 


Vaso «Avallon», 1927.
René Lalique.


Daqui.
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Rosa Parks nas ceu num 4 de Fevereiro

 


Seriam hoje 111.

Mais informação AQUI.
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04.02.1961 – Quando Angola começou a deixar de ser nossa

 




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Um mundo invisível

 


«As conclusões do Censos 2021 foram cristalinas: a sangria de população no Interior contrasta com o crescimento em apenas dois ou três núcleos urbanos do país. Cerca de metade da população concentra-se nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e 257 municípios estão a perder residentes desde 1970. Houve algum sobressalto político e cívico com estes dados? Sinceramente, não dei por nada.

O estado de asfixia sentido pelos agricultores tem muitas causas, algumas delas transversais aos parceiros europeus. É o caso das políticas de resposta às alterações clim«áticas, que obrigam a mudar o atual modelo de produção e afetam a rentabilidade, já de si baixa. Há também desequilíbrio e concorrência desleal gerados por alguns programas comunitários. Mas a somar a todos esses fatores temos um particular desinteresse no nosso país pelo chamado mundo rural ou, para usar outro eufemismo, pelos territórios de baixa densidade.

Politicamente, o mundo rural é um tema sobre o qual convém sempre falar (tal como fica bem afirmar o amor ao Interior), mas ao qual têm sido dadas muito poucas respostas de peso. Aliás, até mediaticamente a agricultura tem pouco poder de atração e o léxico de apoios, medidas agroambientais e candidaturas é desconhecido pela grande maioria dos portugueses. O setor é notícia quando há protestos ou quando fatores externos como a inflação a agravar custos de produção nos pesam diretamente no prato.

Os protestos dos últimos dias, que suscitaram imediata reação de uma ministra apagada e sem força política, colocam sobre a mesa duas questões essenciais às quais teremos de dar resposta. Uma é que, se quisermos ter mais qualidade e segurança alimentar, teremos de pagar por isso. Outra, mais vasta e complexa, prende-se com o país assimétrico e desfigurado que somos. A crise na agricultura e o êxodo rural são uma peça de um quadro maior, de um território invisível com um rendimento per capita inferior à média nacional, piores resultados em vários indicadores sociais, acesso difícil a serviços públicos e culturais. De tempos a tempos, lançamos umas lamúrias e promessas. Para que tudo fique tragicamente na mesma.»

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