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24.8.19
24.08.1916 – Léo Ferré
Nasceu no Mónaco em 24 de Agosto de 1916, o pai trabalhava no Casino, a mãe era costureira e Léo, com 7 anos, já cantava no coro da catedral.
Deixou-nos preciosidades que resistem a todas as décadas, com letras suas ou de Aragon, Rimbaud e mais uns tantos. Quatro dessas «preciosidades», entre muitas outras:
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Costa na aldeia de Astérix
«Portugal é “uma espécie de aldeia de Astérix da estabilidade”, afirma António Costa na entrevista de hoje ao Expresso. Não é uma mera presunção de oásis, é uma proposta de concentração de votos, por oposição à dispersão eleitoral de outros países. Para o PS, as eleições vão disputar-se à esquerda, o que leva o seu secretário-geral a uma afirmação simples: votem PS, mas se não votarem PS, votem PCP. Costa não tem apenas medo de que o céu de uma crise internacional lhe caia sobre a cabeça, receia uma subida forte do BE. Por isso, descredibiliza-o sem subtilezas. E se desqualifica o BE, nem qualifica a direita: em dez páginas de entrevista, o PSD é nomeado três vezes, o CDS apenas uma. A campanha começou hoje.
Ao contrário de uma entrevista de televisão, que tem mais audiência direta, mais imediatez, é mais rápida e tem menos edição de jornalistas (é, tipicamente, em direto), numa entrevista de jornal há mais tempo para aprofundar, explanar, confrontar. Nos mesmos três anos de mandato em que Marcelo não deu uma só entrevista ao Expresso (por falta de timing? De coragem?), Costa deu três. Todas em agosto. Todas como anúncio político dos seus argumentos para o ano que se seguia. Assim é a entrevista anual publicada hoje: se bem lida, ela revela o essencial de uma argumentação política em vésperas de eleições. Haverá aumentos para a função pública, não há compromissos para pensões; não haverá cedências às carreiras especiais mas os professores terão melhorias na carreira; a economia (não se ria) cresceu em contraciclo com outros países mas, se piorar (não chore), será por causas externas; o camião de investimento público financiado por fundos comunitários suportará o crescimento dos próximos anos, etc.
Mas é no quadro partidário que a entrevista se centra. E se a entrevista ignora, e nisso humilha, a direita, ela é dedicadíssima a elogiar Jerónimo de Sousa e a rebaixar o Bloco de Esquerda.
Se o PCP tem maturidade institucional e é um partido de massas, o Bloco, subentende-se, é um partido com a “angústia de ser notícia todos os dias ao meio-dia”; se o PCP é gente de bem a quem basta apertar a mão, o Bloco, supõe-se, é o contrário disso, diz uma coisa em privado e outra em público, e mais apetece a Costa apertar-lhe o pescoço. Costa não confia nem gosta do BE, que na prática parece qualificar como um partido superficial e populista. É dele que Costa tem medo. Porque, como aqui já foi escrito há algumas semanas, as próximas eleições irão repor o voto útil de uma forma perversa, entre quem, à esquerda, quiser dar mais força ao PS e quem quiser controlar-lhe o poder votando noutros partidos. Segundo as sondagens, é o Bloco que parece estar a capitalizar esse efeito de voto útil à esquerda, de quem não quer dar ao PS uma maioria absoluta. Sim, a maioria absoluta não está entre o PS e o PSD, está entre o PS e o BE. Consciente desse efeito, Costa ataca o Bloco e tenta reencaminhar o voto útil para o PCP.
Não é amor à primeira vista, é acordo político à segunda eleição. A ideia alimentada pelo próprio Jerónimo de Sousa de que a ‘geringonça’ nasceu na noite das eleições em 2015 é uma fábula, pois é evidente que ela já estava pré-negociada entre Jerónimo e Costa antes das eleições, tanto que o Expresso a noticiou em manchete uma semana antes. É especulação mas não é loucura admitir que agora já estará também pré-negociado um acordo entre ambos.
Com um PS fraco e um Bloco forte, há risco de ingovernabilidade e mesmo de formação de Governo, como acontece em Espanha com o Podemos, afirma Costa. É um argumento político de peso, na mesma resposta em que surge a imagem pop da aldeia de Astérix. Costa é o chefe da aldeia, que se passeia no escudo carregado por dois pajens. Um deles, mais baixo, às vezes amua e deixa-o cair. Costa não quer depender deste apoio volúvel: elegeu o Bloco de Esquerda como alvo. O Bloco usará isso a seu favor. E quanto a Rio e a Cristas, é melhor que montem uns campozinhos romanos à volta da aldeia, nem que seja para aparecerem na imagem. E nos boletins de voto.»
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23.8.19
23.08.1927 – Sacco & Vanzetti
Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti foram acusados do homicídio de duas pessoas, nos Estados Unidos, e acabaram por ser condenados à pena de morte e electrocutados em 23 de Agosto de 1927, apesar de, cerca de dois anos antes, uma outra pessoa ter confessado ser autora dos crimes.
Na sessão do tribunal em que a sentença da condenação foi lida, Vanzetti incluiu o seguinte nas suas longas declarações finais:
«I would not wish to a dog or to a snake, to the most low and misfortunate creature of the earth. I would not wish to any of them what I have had to suffer for things that I am not guilty of. But my conviction is that I have suffered for things that I am guilty of. I am suffering because I am a radical and indeed I am a radical; I have suffered because I am an Italian and indeed I am an Italian...if you could execute me two times, and if I could be reborn two other times, I would live again to do what I have done already.»
Nunca pararam as reacções e os protestos contra um caso que, com toda a sua trama, passou a funcionar como um símbolo de desrespeito flagrante pelos princípios da justiça na América.
Deu origem a um filme, inspirou escritores, pintores, músicos como Woody Guthrie . Joan Baez viria a consagrar uma das canções mais divulgadas, até Dulce Pontes interpretou «The Ballad of Sacco e Vanzetti», etc., etc.
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A ignorância é o instrumento usado pelas ditaduras para formar escravos
«EU NÃO QUERO QUE A NOSSA HISTÓRIA SEJA OCULTADA. QUERO QUE ELA SEJA ENSINADA PARA EVITAR NOVOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE E A DEMOCRACIA:
A petição contra a criação de um museu dedicado a Salazar foi já enviada ao Primeiro-Ministro com 15.000 assinaturas. No momento em que escrevo, o número já ultrapassou as 15660. [16.390, às 15:00 de 23.09]
Lamento muito que, entretanto, tenha sido organizada uma outra petição, mas para exigir a criação de um museu dedicado à figura mais sinistra da nossa História contemporânea, na sua terra natal e a partir de objetos pessoais do ditador.
Essa petição está a ser assinada por fascistas e por ignorantes, mas também, infelizmente, por democratas, e espalha a mentira de que a petição que nós assinámos se destina a encobrir uma parte da nossa História. Quem leu a nossa petição e os comentários de quem a promoveu e assinou sabe que isso é uma mentira sem vergonha. Nós sempre defendemos a criação de museus que ensinem o que foi a ditadura fascista que governou Portugal durante quase meio século, dirigida por um ditador que mandou perseguir, torturar e assassinar os seus opositores políticos e que enviou milhares de jovens para uma guerra colonial duplamente injusta: para os portugueses e para os povos colonizados.
Não há museus dedicados a Hitler, Mussolini e Franco. Há museus que expõem os seus crimes. Fazer um museu em Santa Comba é um insulto à memória de todas as mulheres e de todos os homens que foram perseguidos, torturados e assassinados.
Aos fascistas nada tenho a dizer a não ser que, se por algum equívoco, forem meus “amigos” do Facebook, que me desamiguem rapidamente. E que onde quer que estejam eu estarei no lado oposto.
Aos ignorantes que queiram deixar de o ser, aconselho a que leiam e se documentem sobre a História de Portugal do século XX. A ignorância é o instrumento usado pelas ditaduras para formar escravos.
Aos democratas, recordo o que eles têm obrigação de saber: que os defenderei sempre, se preciso for, contra as investidas de todas as modalidades de fascismos e nazismos que paulatinamente se vão organizando por essa Europa fora com o apoio político e financeiro de Trumps, Steve Bannons, Bolsonaros, Orbans, Salvinis e Le Pens, acolitados pelos pequenos criminosos locais como Mário Machado e outros.
Abílio Hernandez, professor da Universidade de Coimbra (ontem, no Facebook)
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O tempo dos estúpidos
«A incerteza de viver numa época governada por idiotas faz temer os tempos vindouros. Não porque a democracia vai acabar, como muitos vaticinaram, mas porque há eleitores a colocar no poder pessoas inaptas para as funções para as quais foram eleitas.
Jair Bolsonaro está irritadiço. Mas a paciência de todos nós, especialmente a dos cidadãos brasileiros, está a atingir os limites. Até quando vão carregar o presidente que elegeram? O pulmão da Terra está a arder, e, tal como noutras situações tragicamente conhecidas, a culpa nunca recai sobre quem tem responsabilidades governativas. A narrativa é mais ao menos conhecida. Fenómenos naturais e mãos criminosas são os argumentos que nos vendem na tentativa de isentar erros, incúrias e negligências. Jair Bolsonaro escolheu, desta vez, o argumento mais estúpido de que alguém se poderia lembrar para sacudir a água do capote no que diz respeito aos fogos na Amazónia. Acusa as organizações não governamentais de atearem fogo à floresta devido aos cortes de financiamento público. "Perderem a teta deles", diz.
Quando os números provam (aumento de 83% dos incêndios num ano) que a política ambiental brasileira favorece os proprietários de terras e a exploração mineira e agrícola, Jair Bolsonaro não só ameaça a maior floresta tropical do Mundo. Ameaça cada um de nós.
Depois do amuo de Donald Trump, que cancelou a visita à Dinamarca por não lhe venderem a Gronelândia, e do extremista Matteo Salvini, que deixa milhares de migrantes dentro de um barco e força a queda do Governo italiano, Jair Bolsonaro mostra-nos que provavelmente nunca tivemos tantos líderes de índices cognitivos e humanos tão inferiores à média.
Estes novos dirigentes mundiais podem não ser o "demónio de calças", mas o facto de em cada cinco frases apenas meia fazer sentido revela um mundo cada vez mais queimado.»
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22.8.19
15.000
MUSEU de SALAZAR, NÃO!
Por motivos de ordem técnica, o abaixo-assinado só hoje, 22.08.2019, pelas 18:30, foi enviado ao primeiro-ministro. Com uma vantagem colateral: seguiu com mais assinaturas: 15.000.
(A Petição continua aberta AQUI e este número já foi ultrapassado.)
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«Aliança»? Desgraçados…
Foram buscar a fotografia a um site que mostra uma praia da URSS em 1967. Registemos esta «aliança» entre o Menino Guerreiro e Brejnev .
(O original está AQUI.)
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Serviços máximos: primeiro estranha-se, depois entranha-se
«Como temia, a greve cirúrgica dos enfermeiros abriu a Caixa de Pandora. A exigência de fortes serviços mínimos, primeiro, e de uma requisição civil, depois, era inevitável. Antes de tudo, porque sendo uma greve por procuração, em que a esmagadora maioria trabalhava e pagava a outros para fazerem greve, ela nunca teria de chegar ao fim. Não tinha qualquer custo. Não era realmente uma greve. Depois, porque era, pela sua natureza cirúrgica e pelo alvo, uma greve desumana que nenhum Governo, por mais de esquerda que fosse, poderia tolerar que se eternizasse. Mas a verdade é que abriu um precedente. Os serviços mínimos deixaram de ser mínimos e a requisição civil, um gesto sempre extremo, não causaram qualquer indignação ou resistência. Ao isolar os enfermeiros do resto da sociedade, a bastonária enfraqueceu os instrumentos sindicais que, aliás, está legalmente impedida de utilizar.
Depois, veio a segunda greve dos motoristas de matérias perigosas. Fui, como sabem, crítico da liderança desta greve que tinha, à partida, reivindicações mais do que justas. O destino de uma greve por tempo indeterminado que acabou em sete dias veio confirmar a irresponsabilidade de quem levou os trabalhadores a um beco sem saída. Não chega agitar plenários e falar bem na televisão para ser um bom sindicalista. A qualidade da liderança de uma luta confirma-se na capacidade de chegar a um bom acordo. De ter uma estratégia. De ser realmente sindicalista. A verdade é que o Governo aproveitou a impopularidade da greve para ir um pouco mais longe. Os serviços mínimos já se aproximaram ainda mais dos máximos e a requisição civil, que deve ser o último recurso, foi usada ao fim de 19 horas de greve.
E agora, cereja em cima do bolo, vemos serviços mínimos a ser decretados em favor de uma companhia aérea multinacional low-cost, especialmente selvagem na relação com os trabalhadores e até com os países onde opera, por sinal. Esta não é uma greve por procuração, desumana, irresponsável ou por tempo indeterminado. É uma greve por cinco dias num sector que não põe, se falhar, os serviços fundamentais do país em perigo. Em que há concorrência em grande parte das rotas que os trabalhadores foram obrigados a continuar a garantir parcialmente, como as ligações de Lisboa com Londres, Paris ou Berlim. Passo a passo, banaliza-se a redução do direito à greve a um mero ato simbólico, funcionando o Governo como protetor dos interesses económicos das empresas em causa. Considerar que uma greve de cinco dias tem uma “duração relativamente longa” é transformar a greve num ornamento. Não há emergência energética ou questões humanas que justifiquem os serviços mínimos impostos à greve na Ryanair. Há a sensação de que se pode.»
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21.8.19
13.200 assinaturas
A Petição MUSEU de SALAZAR, NÃO! foi dada como encerrada com 13.200 assinaturas, embora estivesse a ser acelerado o seu crescimento e pudesse vir a ter muitíssimas mais (e nem sequer tentámos contactar quem não usa internet). MAS:
1 – É MUITO URGENTE que chegue ao destinatário, já que está previsto que as obras, em Santa Comba Dão, tenham início no fim do corrente mês.
2 – Não é por haver mais ou menos uns milhares de nomes que aqueles que podem evitar o que não deve acontecer tomarão decisões, mas sim pela consciência do poder que têm para o fazer.
3 – O objectivo que tínhamos foi altamente ultrapassado pelo impacto que teve, nomeadamente nos órgãos de comunicação social, televisões incluídas. Saiu das redes sociais, chegou a muitíssimos portugueses.
Esta luta vai continuar, não desistimos e estaremos sempre prontos para combater.
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21.08.1968 – Era primavera em Praga
(Texto e fotos de Josef Koudelka, Invasion of Prague, Thames & Hudson, 2008.)
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20.8.19
Ryanair
Quando um governo de esquerda define serviços mínimos para uma greve como a da Ryanair, derrete mais um icebergue na Islândia.
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Museus de Ditadores
Há sete anos, estive em Gori, na Geórgia, terra onde nasceu Estaline e se pode visitar um Museu que lhe é dedicado – grande, cheio de fotografias, documentos e objectos bem-apresentados. Mas, da primeira à última sala, passa-se por um verdadeiro «monumento» laudatório e glorioso, no mínimo aterrador e que me dispenso de descrever… Antes de sair, através de uma intérprete que falava espanhol, perguntei à guia se não lhe parecia que faltava uma parte das histórias e da História − em 2012, num país orgulhoso de ser independente há mais de duas décadas, etc., etc., etc. Disse-me então que o edifício iria encerrar em Outubro, durante dois anos, por decisão do ministro da Cultura, e que reabriria totalmente reformulado com o nome alterado para Museu do Estalinismo e incluindo o que de «menos bom» o homem tinha feito nesta vida…
Mas, não, não fechou, nem foi remodelado, já que a Assembleia Municipal de Gori decidiu o contrário: que devia ficar tal como está. A maioria dos «filhos da terra», orgulhosos do seu herói, bem ao contrário dos outros georgianos que conheci, querem que o Museu e a casinha logo ao lado, onde Estaline nasceu e se guardam alguns dos seus pertences sem qualquer interesse, continuem a homenageá-lo como sempre.
(Lembrei-me disto tudo por razões óbvias. Mas é escusado dizerem-me que o que está em causa, ali pela Beira, é diferente, porque eu sei. Como sei também que o seguro morreu de velho e que a vida, por vezes, anda «às arrecuas».)
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Petição – Museu Salazar, Não!
Fui ontem contactada telefonicamente por um jornalista do «i», jornal que dedica hoje algumas páginas ao tema. Claro que a conversa durou vários minutos, mas a minha frase que foi posta em destaque não me desagrada.
Junto a capa e um parágrafo sobre os desejos, bem elucidativos, do presidente da câmara de Santa Comba Dão.
E depois da greve?
«A greve dos motoristas chegou ontem ao fim, na sequência de um pré-acordo assinado entre a associação patronal e a Fectrans e da reabertura de negociações com o Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas. São boas notícias, se esse processo possibilitar um acordo que respeite os direitos até agora negados aos trabalhadores.
É verdade que esta greve, como todas, afetou a vida do país. Mas esse é o seu papel, e o seu poder: dar visibilidade a profissões e abusos que de outra forma não seriam vistos, ouvidos ou reconhecidos. São justas as reivindicações dos motoristas - horários seguros ou salários justos e pagos por inteiro, sem esquemas dos patrões para fugir à Segurança Social - e hoje sabemos que os graves problemas laborais, e mesmo ilegalidades, por eles denunciadas são do conhecimento governamental há anos.
Esteve mal o Governo quando definiu serviços mínimos que não o eram, e na forma desproporcionada como geriu a requisição civil. A pensar nas eleições, o Governo do PS aplicou uma visão restritiva do direito à greve e uma interpretação absurda da lei do trabalho.
Esteve mal, em particular, António Costa, que ontem escolheu agradecer em primeiríssimo lugar, não à larga maioria dos motoristas que exerceram o seu direito respeitando serviços mínimos excessivos, mas aos militares chamados a intervir na requisição civil. Não está em causa o desempenho destas forças, mas o sinal político dado pelas palavras do primeiro-ministro e o precedente que abre a porta a que no futuro se esvaziem formas semelhantes de luta através da imposição de serviços máximos.
Mas mal esteve também o porta-voz do Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas, quando isolou a greve daqueles trabalhadores, tornando o processo e os objetivos negociais incompreensíveis aos olhos das pessoas. Ambições profissionais e políticas de Pardal Henriques terão prejudicado a condução de uma luta que é justa.
Agora, resta esperar uma real disponibilidade para a negociação, de todas as partes, e em particular do mediador, a quem se exige imparcialidade. O Governo é responsável por assegurar soluções negociadas que corrijam injustiças há muito diagnosticadas e por garantir a eficácia de medidas de fiscalização num setor onde ficaram evidentes os sistemáticos abusos patronais.»
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19.8.19
Lorca & Cohen
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Federico García Lorca foi fuzilado em Agosto de 1936, entre os dias 17 e 19, pelo seu alinhamento político com os Republicanos e por ser declaradamente homossexual.
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Federico García Lorca, «Pequeño Vals Vienés»En Viena hay diez muchachas, | ¡Ay, ay, ay, ay! |
un hombro donde solloza la muerte | Toma este vals que se muere en mis brazos. |
y un bosque de palomas disecadas. | |
Hay un fragmento de la mañana | Porque te quiero, te quiero, amor mío, |
en el museo de la escarcha. | en el desván donde juegan los niños, |
Hay un salón con mil ventanas. | soñando viejas luces de Hungría |
por los rumores de la tarde tibia, | |
¡Ay, ay, ay, ay! | viendo ovejas y lirios de nieve |
Toma este vals con la boca cerrada. | por el silencio oscuro de tu frente. |
Este vals, este vals, este vals, este vals, | ¡Ay, ay, ay, ay! |
de sí, de muerte y de coñac | Toma este vals, este vals del "Te quiero siempre". |
que moja su cola en el mar. | |
En Viena bailaré contigo | |
Te quiero, te quiero, te quiero, | con un disfraz que tenga |
con la butaca y el libro muerto, | cabeza de río. |
por el melancólico pasillo, | ¡Mira qué orillas tengo de jacintos! |
en el oscuro desván del lirio, | Dejaré mi boca entre tus piernas, |
en nuestra cama de la luna | mi alma en fotografías y azucenas, |
y en la danza que sueña la tortuga. | y en las ondas oscuras de tu andar |
quiero, amor mío, amor mío, dejar, | |
¡Ay, ay, ay, ay! | violín y sepulcro, las cintas del vals. |
Toma este vals de quebrada cintura. | |
En Viena hay cuatro espejos | |
donde juegan tu boca y los ecos. | |
Hay una muerte para piano | |
que pinta de azul a los muchachos. | |
Hay mendigos por los tejados, | |
hay frescas guirnaldas de llanto. |
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Costa no rescaldo da greve
Concordo plenamente com aquilo que Paulo Pedroso escreveu hoje no Facebook, em reacção a esta notícia:
«A resposta de António Costa sobre o dispositivo posto em marcha face à greve dos combustíveis sofre de dois erros de abordagem significativos, quando se fala de um primeiro-ministro de esquerda que comenta o seu dever de arbitragem entre direitos num conflito laboral.
O governo não ganhou 3-0 à greve porque, se quisermos ir pela analogia futebolística, era árbitro e não equipa no terreno. O seu papel era o de impedir que o direito à greve não colidisse com a satisfação de necessidades fundamentais e a sua alegria por tê-lo conseguido deveria ficar contida a ter sido um árbitro eficaz.
A escolha de um agradecimento aos militares pelo seu contributo na redução dos efeitos da greve para início de périplo aos que diminuíram os efeitos da greve, sendo provavelmente merecida, é também um erro de perspectiva para um Primeiro-Ministro de esquerda. Os primeiros a quem há que agradecer é aos trabalhadores que acataram os serviços mínimos - e parecem ter sido bastantes - senão a requisição civil não seria tão limitada e circunscrita.
Quando um Primeiro-Ministro agradece antes de mais e primeiro que a todos os outros aos militares o seu papel na limitação dos efeitos de uma greve, desculpem, mas a minha alma de esquerda fica dorida.»
Paulo Pedroso
E acrescento: António Costa tem inegáveis qualidades para ser PM, mas revela que nunca tem qualquer espécie de empatia para com o que lhe causa incómodo – neste caso, os trabalhadores.
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Nada está ok
«O Okjokull, ou glaciar Ok, derreteu. Morreu. A Islândia fez ontem o primeiro funeral ao seu primeiro glaciar.
Em 1980, o gigante de gelo tinha 16 quilómetros quadrados de superfície. Em 2012, já só 0,7 quilómetros quadrados. Em 2014, deixou de ser classificado como glaciar. A morte adivinhava-se. E chegou.
Ontem, no local do Okjobull foi descerrada uma placa. Diz "415 ppm CO2", em referência ao nível recorde de concentração de dióxido de carbono (CO2) registado na atmosfera em maio passado.
Mas podia dizer outra coisa. Podia dizer "a humanidade destruiu-me". Como vai continuar a destruir outros glaciares. A destruir e a matar o planeta. Ou simplesmente dizer "nada está OK".
O tema das alterações climáticas entrou na agenda política. Em Portugal também. Quer se goste ou não, muito por influência do PAN. E a maioria dos partidos percebeu (tarde) que não são só os cães e os gatos que dão likes nas redes sociais. Por arrasto, as alterações climáticas, que todos sentimos na pele, ocuparam lugar nos discursos e nas intervenções políticas. Algumas vezes com hipocrisia. Atrás do voto, é certo. Mas melhor assim do que nada!
A morte lenta do glaciar Ok já era esperada. No seu lugar fica a mensagem para as gerações presentes e futuras. Sim, também precisamos de mensagens. De esperança.
Às portas da rentrée política vamos com toda a certeza escutar promessas, ideias e soluções. Da Esquerda à Direita. Dos novos partidos também. Promessas e garantias de combate ao aquecimento global, apostas nas políticas de economia verde, descontos nos veículos não poluentes, etc. Também já não é mau.
O tema pode dar votos, pode ser popular e viral. Pode ser tudo isso. Mas é sobretudo mais do que urgente. Já não basta consciencializar as pessoas acerca da crise climática.
É preciso agir. E já. OK?»
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18.8.19
Fim da greve
«No sétimo dia, "Deus" já havia terminado a obra que determinara; nesse dia descansou de todo o trabalho que havia realizado.» (Génesis 2:2)
(Substitua "Deus" por aquilo que entender.)
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Para evitar romarias de fascistas
Bom texto no Expresso:
«Inicialmente assinada por um grupo de 18 subscritores — entre os quais se encontram o analista político Pedro Adão e Silva, a ex-eurodeputado do Bloco de Esquerda, Alda de Sousa, o ex-reitor da Universidade de Lisboa, José Barata Moura, a escritora Maria Teresa Horta, e Margarida Tengarrinha [viúva de José Dias Coelho, assassinado pela PIDE] — a petição é uma carta aberta ao primeiro-ministro António Costa».
A petição tem agora mais de 4.600 assinaturas, continue-se a assinar e a partilhar, a partir DAQUI.
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Como se fossem escravos
«As atenções viram-se para Matteo Salvini, ministro do Interior de Itália: o homem que recusa receber no porto de Lampedusa um barco com 134 migrantes a bordo. Ontem, obedecendo a uma ordem do primeiro-ministro, Giuseppe Conte, não escondendo a má vontade, Salvini autorizou o desembarque de 27 menores que viajavam sem companhia. Uma atitude de pura desumanidade, mais uma do governante de extrema-direita.
Parece cómodo, todavia, voltarmos as nossas atenções unicamente para o indesculpável Matteo Salvini. É hora de se reclamar algo mais dos responsáveis políticos europeus. Não basta, pontualmente, ir aceitando receber migrantes como deverá acontecer neste caso - Portugal, França, Alemanha, Luxemburgo, Roménia e Espanha já se disponibilizaram - e depois continuar, como se nada fosse, até à próxima emergência ou tragédia.
O "Open Arms", um navio humanitário há semanas ao largo de Lampedusa com 134 migrantes salvos de um naufrágio, faz lembrar um barco negreiro, do tempo em que as embarcações portuguesas e espanholas cruzavam os mares com mão de obra escrava. A situação é explosiva, relatam os voluntários, também eles retidos num navio sob um sol escaldante, com escassos meios de subsistência e praticamente nenhumas condições de higiene.
Não podemos continuar a ver nestas pessoas o outro, como os nossos antepassados olharam para os escravos, sem qualquer gesto de humanidade - como se eles não fossem seres humanos em tudo iguais a nós.
É tempo de a União Europeia definir uma política séria de imigração. Também é tempo de colocar um ponto final na hipocrisia cúmplice: alimenta, como sabemos, conflitos que conduzem ao êxodo destas pessoas em busca, não só de uma vida não digna, mas apenas melhor. E, sobretudo, à procura de um refúgio onde as armas não substituam as palavras.»
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