23.4.22

Sempre actual, mesmo se os visados variam

 


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Dia Mundial do Livro

 


Marta Minujín é uma artista plástica argentina que, entre muitas outras obras, concebeu, em 1983, o «PARTENON DOS LIVROS», construído com 30.000 obras proibidas durante a ditadura militar no seu país e que tinham sido escondidas pelos editores.
 
Mais tarde, na Alemanha, no local onde se deu a célebre queima dos livros pelos nazis, Marta Minujín concretizou um projecto semelhante numa réplica do templo grego em tamanho real.
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PCP: ocultar que há um agredido e um agressor

 


«Falar em guerra sem nomear o agredido e o agressor, e tirar daí consequências, é colocar-se do lado do agressor. Quem beneficia na apresentação neutral da “guerra”? O agressor. Quem beneficia numa defesa da “paz” que trata os beligerantes como iguais? O agressor. Quem fala em detalhe dos males de “uns” (os ucranianos) e genericamente e sem pormenores dos males dos “outros” (os russos) não está do lado da “paz”, mas da guerra. Quem justifica, legitima, favorece, protege o PCP com o seu discurso contorcido sobre a guerra? Os russos. Toda a gente percebe, a começar por muitos eleitores, simpatizantes e militantes do PCP, por isso é que esta situação é devastadora para o PCP. Façam-nos justiça de perceber que nós percebemos.

O problema do PCP não é um remake do caso da Checoslováquia, como por aí se diz. Na invasão da Checoslováquia, havia de um lado a URSS e do outro um processo que os soviéticos consideravam ser de subversão do socialismo e do campo socialista. O PCP podia entender que devia estar de um “lado” contra o outro, porque um dos lados lhe era próximo ideológica e politicamente. Onde é que há hoje algo de remotamente parecido com “o lado” da URSS?

O PCP diz que “o lado” ucraniano é péssimo, mas diz também que não se identifica com “o outro” lado com Putin. Se é assim, porque não trata “os dois lados” da mesma maneira e se põe à margem? Se o conflito é entre a NATO e o regime de Putin, que é para todos os efeitos igualmente maléfico, por que razão o PCP acaba encostado a um dos lados, sempre pronto para o justificar pela equivalência? Por que razão, entre aquilo que considera o militarismo da NATO e a “violação do direito internacional” por Putin (um gigantesco eufemismo), entre o lado agressivo da NATO e o autocrata belicista, o PCP sente-se mais confortável com o segundo, que protege até pela terminologia cautelosa e moderada com que o trata? Façam-nos justiça de perceber que nós percebemos.

Não adianta vir com a história de que a “guerra” começou em 2014, porque esta de que estamos a ser testemunho começou em 2022. E, em 2022, não há um único factor que justifique a invasão da Ucrânia, não há motivo forte, nenhuma provocação, nenhum acto novo de envolvimento da NATO, nenhuma colocação de tropas americanas na fronteira, nenhum exercício militar conjunto, nenhuma manobra daquelas que se usam para preparar uma invasão. Nem pouco nem muito, não há mesmo. Façam-nos justiça de perceber que nós percebemos.

Vamos admitir que o que Putin diz é verdadeiro (quase nada é…) e que a Ucrânia é governada por nazis (falso, embora haja demasiados nazis na Ucrânia como na Rússia, e na Europa, os que Putin financia), que são corruptos (verdade, como na Rússia os amigos de Putin), que reprimem o russo e a cultura russa no Donbass (em parte verdade), que perseguem os partidos pró-russos (idem), que assassinaram muitos ucranianos pró-russos (os números são fantasiosos, mas havia uma guerra de fronteiras em curso com a intervenção da Rússia), que querem entrar para a NATO (querer, querem, só que a NATO não os aceitou), e que desde 2014 existe uma guerra escondida naquela parte do mundo (que, se houvesse, seria conforme o direito internacional, depois da anexação da Crimeia e do apoio às milícias pró-russas no Donbass). Pelo contrário, os países ocidentais da agressiva NATO engoliram a conquista territorial russa da Crimeia com o rabo entre as pernas. Nem disso Putin se pode queixar. Façam-nos justiça de perceber que nós percebemos.

Mesmo que se admita tudo isto (insisto que não é verdade a maioria das coisas), que o PCP repete numa lógica que só serve para a legitimação da invasão, o que é que aconteceu de muito grave em 2022 que levou Putin a preparar, negar e depois começar uma invasão maciça da Ucrânia? Nada. É uma pura agressão, uma pura guerra de grande escala que inclui desde início a ameaça do nuclear, o ataque a civis (incontroverso em geral, mesmo que nalguns casos possa haver montagens), e o PCP vem agora falar com neutralidade de uma “guerra” com dois lados igualmente culpados, um muito mais do que outro, o do agredido. Tretas. Façam-nos justiça de perceber que nós percebemos.»

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22.4.22

Inconseguimento?

 


Não têm saudades do «medo do inconseguimento, do não conseguimento»?
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Ainda há gente esquisita

 

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Conselho de Estado: macho, branco, idade média 72 anos

 


«O Conselho de Estado tem atualmente 19 membros. Uma parte substancial tem lugar por inerência: o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro, o presidente do Tribunal Constitucional, a provedora de Justiça, os presidentes dos governos regionais e os antigos presidentes da República. Os lugares por inerência são variáveis, porque dependem dos antigos presidentes da República ainda em vida.

Estas nove pessoas nasceram entre 1935 e 1965. O mais novo é o presidente do Governo Regional dos Açores e vai cumprir 57 anos em junho. Sendo estes lugares ocupados por inerência dos cargos mais importantes do Estado, é normal que as pessoas cheguem a eles numa fase adiantada da sua carreira. Para não falar, claro, dos antigos presidentes que são naturalmente pessoas de idade avançada. Longe de mim questionar a sua legitimidade para se sentarem neste Conselho, ou a importância da sua visão.

De entre os nove, seis são juristas. Há depois um economista (Cavaco Silva), um sociólogo (Santos Silva) e um militar (Ramalho Eanes). Ainda podemos achar natural esta preponderância de pessoas que cursaram Direito, tendo em conta que pelo menos a provedora e o presidente do TC são necessariamente juristas. Adiante.

Se a falta de diversidade etária e de especialidade podem ser compreensíveis, há outras que apenas se explicam pelas discriminações históricas existentes no nosso país. Em primeiro lugar, já se sabe, são todos brancos, à exceção do primeiro-ministro. Em segundo lugar, quis o destino e a discriminação histórica das mulheres que, deste grupo atual de nove pessoas – ou personalidades, como se diz por aí –, oito sejam homens. A única mulher é Maria Lúcia Amaral, provedora de Justiça.

Aceitemos, pois, que os lugares por inerência são naturalmente enviesados – seja pela idade, que é um posto, seja pelos vieses históricos. Acontece que o Conselho de Estado tem mais dez membros – o que, na configuração atual, perfaz a maioria. Cinco são escolhidos pelo Presidente da República e outros cinco eleitos pelo Parlamento. Os mandatos destes membros eleitos têm a duração dos mandatos do Presidente e da legislatura. Sendo os lugares por inerência tão presos a grilhões vários, podíamos imaginar que os outros serviam exatamente para assegurar a diversidade do órgão.

Vamos aos cinco lugares nomeados por Marcelo Rebelo de Sousa. São três homens e duas mulheres. Duas mulheres é pouco. Mas assinale-se que Marcelo Rebelo de Sousa foi até agora o Presidente que mais mulheres nomeou para o Conselho de Estado. Se o Parlamento elegesse outras tantas, já seriam cinco em 19, pouco mais de um quarto do total. Pouco, mas menos escabroso. De resto, dos nomeados do Presidente três são juristas, um é médico e uma é escritora (Lídia Jorge). Quanto a idades, o mais novo é Lobo Xavier e tem 62 anos. Todos brancos, claro está.

O que me traz aos cinco membros eleitos pelo Parlamento: surpresa! – cinco homens, dos quais o mais novo é Rui Rio, com 64 anos. Dois juristas (ou melhor: um deles com “frequência da licenciatura de Direito” como habilitação académica), dois economistas, e um operário, Domingos Abrantes, histórico do PCP. Todos brancos, de novo.

O Conselho de Estado tem assim 16 homens e três mulheres. Onze são juristas. A pessoa mais nova tem quase 57 anos (Bolieiro). A idade média é igual à idade mediana: 72 anos. Quanto a diversidade étnica, zero. Todos, pelo menos que se saiba, heterossexuais. Cada uma destas pessoas tem certamente excelentes qualidades para se sentar no Conselho de Estado. Mas há muitas outras igualmente capacitadas que não obedecem a este cânone do homem branco com mais de 70 anos. Onde estão elas?

Eis que há uma luz ao fundo do túnel. Estamos a poucos dias de renovar um quarto do Conselho de Estado. E se o nosso Parlamento aproveitasse para corrigir um pouco deste cinzentismo? Esta semana foram anunciados os membros que serão propostos – e certamente eleitos, dada a composição parlamentar. E não é que em vez de contrariarem a falta de diversidade, estas nomeações a vêm reforçar? Vejamos: o PS nomeou Carlos César, Manuel Alegre e António Sampaio da Nóvoa. César é repetente: tem 65 anos e é o tal que frequentou o curso de Direito. Manuel Alegre tem 85 anos, é jurista e poeta; já diversifica um pouco. Sampaio da Nóvoa tem 67 anos e é especialista em Ciências da Educação e História.

Será de agora que o Conselho de Estado é esta monotonia? Fui à procura de um registo sistemático da composição do órgão, que infelizmente não existe. Pedi ajuda no Twitter e com a generosidade de várias pessoas consegui puxar o fio à meada.

A última composição vigente do tempo de Cavaco Silva está no site da Presidência. O Conselho tinha uma mulher – uma! – que felizmente vale por muitas: Leonor Beleza. Na página da AR, temos todos os membros do Conselho de Estado eleitos pelo Parlamento. A VII legislatura escolheu cinco ilustres portadores de falos. A IX legislatura ofereceu ao Presidente os bons conselhos de cinco homens. A X legislatura elegeu cinco homens. A XI legislatura idem. Na XII legislatura, outra vez. Na legislatura seguinte, cinco homens. XIV legislatura? Cinco homens, pois claro, que isto do Conselho de Estado é coisa de gente séria. Não fui procurar na Internet as datas de nascimento de todas as pessoas, mas o panorama, assim à primeira vista, não era diferente. E quanto a cor da pele, estamos conversados. Que outras mulheres houve, não escolhidas pelo Parlamento? Tivemos Assunção Esteves, por inerência, enquanto foi presidente da AR. Maria de Jesus Serra Lopes, nomeada por Jorge Sampaio, e Manuela Ferreira Leite, por Cavaco Silva.

O Conselho de Estado tem funções de aconselhamento, incluindo em casos de dissolução da Assembleia da República e das assembleias legislativas das regiões autónomas, demissão do Governo, declarações de guerra e paz e outros, sempre que solicitado pelo Presidente da República. Em princípio, tem poder para influenciar a forma como o Presidente interpreta ou analisa certos problemas. Não faço ideia se historicamente teve de facto influência, nem isso me importa muito. É um conjunto de pessoas que se reúne com o Presidente da República. Logo, é percebido pelas pessoas como um órgão de poder.

A representação da diversidade da sociedade em órgãos de poder – mesmo que meramente consultivo – é fundamental pelo menos por duas razões. A primeira é que a diversidade de experiências de vida permite uma perspetiva sobre os problemas que o monóculo do homem branco com mais de 72 anos simplesmente não traz. A segunda é que as pessoas destes lugares de poder servem de faróis do possível às que estão cá em baixo. As mulheres e minorias deste país sabem que não têm lugar à mesa dos grandes. E quanto aos jovens, com tanto cinzentismo por aí, ou envelhecem antes do tempo para entrarem nos círculos ou emigram.

Senhoras deputadas, senhores deputados: os nomes em que votarem agora vão marcar o Conselho de Estado por mais cinco anos. Nem a inerência, nem a Presidência da República têm pior folha de serviço do que o Parlamento: desde 1999, nem uma mulher foi escolhida por São Bento. Pela decência: chumbem os nomes. Lutem por mais diversidade.»

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21.4.22

PCP: comentários para quê

 


Se o ex-deputado do PCP mais «sensato» de que me lembro escreveu ontem isto no Twitter, não vale a pena dizer mais nada.
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Solidariedade com a Ucrânia

 


Os oportunistas não têm de se esforçar para fazer do PCP alvo. A extrema-direita não tem de fazer números para disfarçar as cumplicidades putinistas dos seus aliados europeus. A direção do PCP, enfiada na sua bolha autofágica, trata de tudo sozinha. Em nome de quê? Não faço ideia.

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Olhar a guerra de fora da Europa



 

«Fora da Europa, há uma parte do Mundo que vê a guerra da Ucrânia com olhos e sentimentos bem distintos dos nossos, como se fosse um conflito local, que não lhes diz respeito, abstendo-se, por isso, de condenar a invasão russa.

Duas situações recentes tornaram isso claro para a União Europeia. A primeira foi a Assembleia Parlamentar conjunta UE-ACP, que reuniu em Estrasburgo no início de abril, na qual participam deputados ao Parlamento Europeu e deputados de países africanos, Caraíbas e ilhas do Pacífico. No final, apesar de se tratar de países que beneficiam de importante apoio ao desenvolvimento por parte da UE, não foi possível aprovar uma posição conjunta sobre a situação na Ucrânia.

O mesmo aconteceu em Buenos Aires, na semana seguinte, no EUROLAT, a Assembleia Parlamentar que igualmente reúne deputados do Parlamento Europeu e deputados de parlamentos de países da América Central e do Sul. Apesar de a maioria dos países latino-americanos terem votado a moção condenatória da invasão da Ucrânia na ONU, não a quiseram reiterar através de uma resolução conjunta com a parte europeia. A razão de fundo desta recusa não terá sido uma especial simpatia pela Rússia, mas uma certa indiferença sobre este conflito intraeuropeu. A ela juntam-se, é claro, outros sentimentos, em especial contra os EUA, que ao longo do tempo exploraram os seus recursos naturais e ajudaram a instalar regimes ditatoriais, cujas marcas de violência ainda estão muito presentes nos casos da Argentina e do Chile.

Estas duas posições - e se olhássemos para Oriente encontraríamos outras semelhantes - servem para mostrar que a UE não dispõe automaticamente do apoio e da solidariedade política internacional de que se julgaria merecedora numa causa que considera justa. Mais do que isso, elas também mostram que, se quisermos reforçar os laços com estes dois continentes vizinhos, geográfica ou culturalmente falando, temos de fazer mais por isso, por exemplo, com políticas de imigração mais abertas, mais intercâmbio de estudantes, professores, investigadores, maior compreensão das suas especificidades culturais e, naturalmente, relações comerciais equilibradas.

É bom que a Europa saia da sua "bolha" e perceba que não é mais o centro do Mundo, mas apenas um continente entre cinco, todos orgulhosos da sua história e lutando pela sua autonomia de decisão política, no contexto internacional.»

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20.4.22

PCP não vai assistir ao discurso de Zelensky

 


«O PCP não participará numa sessão na Assembleia da República concebida para dar palco à instigação da escalada da guerra contrária à construção do caminho para a paz, com a participação de alguém, como Volodymyr Zelensky, que personifica um poder xenófobo e belicista rodeado e sustentado de forças de cariz fascista e neonazi, incluindo de caráter paramilitar, de que o chamado Batalhão Azov é exemplo.»

Sic Notícias
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A origem do mundo

 



A guerra civil da Espanha tinha terminado há poucos anos e a cruz e a espada reinavam sobre as ruínas da República. Um dos vencidos, um operário anarquista, recém saído da cadeia, procurava trabalho. Virava céu e terra, em vão. Não havia trabalho para um comuna. Toda a gente fechava a cara, sacudia os ombros ou virava as costas. Não se entendia com ninguém, ninguém o escutava. O vinho era o único amigo que sobrava. À noite, em frente dos pratos vazios, suportava sem dizer nada as queixas de sua esposa beata, mulher de missa diária, enquanto o filho, um menino pequeno, recitava o catecismo para ele ouvir.

Muito tempo depois, Josep Verdura, o filho daquele operário maldito, contou-me. Contou-me em Barcelona, quando cheguei ao exílio. Contou: ele era um menino desesperado que queria salvar o pai da condenação eterna e aquele ateu, aquele teimoso, não entendia.

Mas, pai — disse Josep, chorando — se Deus não existe, quem fez o mundo?
Bobo — disse o operário, cabisbaixo, quase que segredando. Bobo. Quem fez o mundo fomos nós, os pedreiros.

Eduardo Galeano, O livro dos abraços

Refugiados e outras minudências

 


«Não sei o que é mais insuportável: o complexo de superioridade moral euro-ocidental ou o cachiquismo (neologismo angolano para "subserviência", equivalente ao brasileirismo "viralatismo") de certas elites das nações periféricas, nomeadamente africanas e sul-americanas (talvez seja de acrescentar, também, as do sul da Europa).

Pensei nisso ao tomar conhecimento das notícias relativas ao acordo britânico-ruandês para enviar para o Ruanda os imigrantes chegados ilegalmente à velha Albion. O referido acordo confirma, como se isso ainda fosse necessário, o grau de miserabilidade em que a humanidade está presentemente mergulhada. Quando os povos aceitam tranquilamente ser governados por líderes medíocres e mesquinhos como a maioria dos dirigentes atuais, algo está muito mal e não é apenas no reino da Dinamarca.

Como noticiado pela imprensa, o plano consiste em recambiar para o Ruanda, um pequeno país na África Oriental com reconhecidos problemas de "espaço vital", as pessoas que chegaram ao Reino Unido de forma ilegal desde o passado dia 1 de janeiro. Uma vez chegadas àquele país africano, ser-lhes-á permitido iniciar um processo para se instalarem no país. As autoridades britânicas pretendem avançar com este plano já nos próximos dias, priorizando os homens que chegam sozinhos através do Canal da Mancha em pequenos barcos ou camiões.

Os custos do plano estão avaliados em 145 milhões de euros. A cifra, assim como as questões logísticas envolvidas, suscitaram muitas reservas por parte de funcionários do ministério britânico do Interior. Mas estão igualmente a ser levantadas reservas legais, morais e políticas. Apesar disso, a decisão do governo britânico foi aprovada, graças a uma prerrogativa especial que atribui aos titulares da pasta a responsabilidade individual por certas medidas, em determinadas condições.

A atual ministra britânica do Interior - note-se - chama-se Priti Patel. Com esse nome, não será ela própria descendente de imigrantes? Outra pergunta que se impõe é: o que ganha o Ruanda ao fechar este acordo com o Reino Unido? Seria interessante saber.

A verdade é que o Ruanda é um minúsculo país africano aparentemente bem governado por uma figura controversa que, na hipótese mais benigna, pode ser considerado um "déspota esclarecido". Faz parte dos "autocratas" queridinhos do Ocidente. Um dos seus mais importantes "conselheiros" internacionais (melhor chamá-los, talvez, lobistas) é precisamente um antigo primeiro-ministro britânico.

O país é também admirado por muitos governantes e cidadãos africanos, devido aos seus êxitos relativos no plano económico, bem como à "ordem e disciplina" internas. A maioria dos seus admiradores não fala, por exemplo, da discriminação social e "racial" exercida pelas elites nilóticas do país, que estão no poder, sobre os ruandeses de origem bantu.

O acordo entre o Reino Unido e o Ruanda para o envio dos imigrantes ilegais, além da contestação interna, está também a ser fortemente criticado pelas Nações Unidas, através do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados). O organismo já expressou, assim, a sua "forte oposição" ao mencionado acordo. Para o ACNUR, os últimos arranjos entre as autoridades britânicas e ruandesas acerca do assunto "apenas mudam as responsabilidades de asilo, fogem das obrigações internacionais e são contrárias à letra e ao espírito da Convenção sobre Refugiados".

Por seu turno, mais de 160 organizações não-governamentais classificaram o acordo como uma medida "cruel e mesquinha".

"Pessoas que fogem de guerras, conflitos e perseguições merecem compaixão e empatia. Elas não devem ser comercializadas como mercadorias e levadas para o exterior para tratamento", disse Gillian Triggs, alta-comissária adjunta do ACNUR. Os atuais líderes (?) do Reino Unido e do Ruanda devem ter pensado que ela estava a referir-se aos refugiados ucranianos.

Porca miséria.»

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19.4.22

Manuel Bandeira

 


Nasceu num 19 de Abril (de 1886) e não sei se chegou a ir para Pasárgada.
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Salários e inflação, ainda

 

«Depois de o Primeiro Ministro ter afirmado que o aumento dos salários criaria uma espiral inflacionista, o Ministro das Finanças insistiu, dizendo que aumentar os salários levaria a uma perda de poder de compra.

Sejamos claros: o PM e o MF não têm qualquer base para sustentar esta afirmação. O aumento dos salários só levaria a uma perda de poder de compra se tivesse como consequência um aumento ainda maior da generalidade dos preços, mais do que anulando os aumentos salariais.

Mas há aqui dois problemas:

i) Há décadas que os economistas académicos tentam identificar uma relação robusta entre aumentos salariais e inflação, sem sucesso. Por outras palavras, a melhor ciência internacional não valida a afirmação que é feita pelo PM e pelo MF.

ii) O aumento dos salários tem mais tendência para afectar a evolução global dos preços quando as economias se encontram próximas do pleno emprego e quando os salários crescem acima da produtividade. Nem uma coisa nem outra se verificam na actualidade (nem se verificariam caso os salários aumentassem 2 ou 3%, em vez dos 0,8% previstos na proposta de OE em discussão).

Como o aumento geral dos preços é, em larga medida, resultado de um conjunto de choques internacionais do lado da oferta (associados, em particular, à guerra na Ucrânia e aos confinamentos na China), o contributo da queda dos salários reais para a contenção dos preços será diminuta. Sendo assim, o que leva o governo a insistir nesta via?

As explicações que encontro para a decisão de deixar cair de forma abrupta o poder de compra de quem vive do seu trabalho são duas:

i) O governo quer aproveitar a boleia da inflação para acelerar o ritmo de redução da dívida pública.

ii) O governo quer proteger os empresários das quebras de lucros que decorrem do aumento dos custos de produção.

No abstracto, nenhum destes objectivos seria criticável. Mas nas circunstâncias actuais, esta opção é pouco justa e pouco prudente:

i) Pouco justa, porque faz recair sobre os trabalhadores (dos sectores público e privado) a maior parte dos custos da crise actual, enquanto algumas empresas vêm os seus lucros crescer de forma acelerada.

ii) Pouco prudente, porque a quebra abrupta do poder de compra da maior parte da população leva à estagnação da procura interna, com consequências na actividade económica e no emprego.

As medidas já anunciadas para limitar os impactos na economia do aumento dos preços dos combustíveis e dos bens alimentares são positivas. O mesmo se aplica aos apoios previstos para segmentos da população mais desfavorecidos. No entanto, as medidas em causa ficam longe de resolver as injustiças na distribuição dos esforços ou de prevenir os efeitos recessivos da perda de poder de compra.

Em geral, ter contas certas é uma política de esquerda, estamos de acordo. Saber quando e em que medida acertar as contas ainda o é mais. A opção do governo, à data de hoje, traduz-se no aumento das desigualdades e nos riscos de uma recessão induzida pelas opções orçamentais. Há muito pouco de esquerda – ou de mera sensatez – nesta política.»

Ricardo Paes Mamede no Facebook
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Procrastinação

 


«No virar do milénio, vivíamos um período de enorme otimismo. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio faziam-nos crer que havia uma vontade generalizada de caminhar para um mundo que promovesse o bem-estar de cada um, mas com um objetivo maior, o do bem comum. Os movimentos globais que surgiram à volta destes objetivos foram inúmeros. Na área da saúde, e em particular na da malária, havia um enorme empenho em controlar a doença até 2015. E era claro que o mesmo espírito estava presente em tantas outras áreas. E mesmo quando, meses depois, o 11 de Setembro nos acordava para um futuro certamente diferente, o otimismo não se desvaneceu.

Lembro-me que, imbuídos desse otimismo, sentíamos que era urgente fazer algo de concreto para alcançar um outro objetivo do milénio — garantir a sustentabilidade ambiental. Em 1995, o “Intergovernmental Panel on Climate Change” (IPCC, criado em 1988) havia declarado que os seres humanos tinham responsabilidade nas mudanças climáticas. A lógica dizia-nos que tínhamos de assumir essa responsabilidade e reverter as nossas ações. Dois anos depois, o Protocolo de Quioto era assinado por muitas das nações mais desenvolvidas, que se comprometiam a reduzir em 5,2% as suas emissões em relação aos níveis de emissão registados em 1990, compromisso esse que deveria ser cumprido no período entre 2008 e 2012. Mas, em 2013, quando o IPCC afirmou que os cientistas tinham 95% de certeza de que os humanos eram a “causa dominante” do aquecimento global, nenhuma das promessas feitas 15 anos antes, tinha sido cumprida.

Estamos agora em 2022, e o mais recente relatório do IPCC não pode ser mais claro: “agora ou nunca”. Os milhares de cientistas envolvidos não querem deixar margem para dúvidas: “Sem reduções imediatas e profundas de emissões em todos os sectores, será impossível limitar o aquecimento global a 1,5°C.” Em paralelo, no entanto, novos slogans querem-nos fazer acreditar que basta fazer novas promessas — “zero emissões em 2050” — e desta vez é que é, vai ficar tudo bem. Mas porquê 2050? Quem sente urgência em relação a um prazo definido para daqui a 30 anos? A ideia de um prazo confortavelmente distante é sem dúvida um incentivo claro à procrastinação.

Peter Kalmus, um cientista do clima que se refere a si próprio como “aterrorizado pela inação social”, deixa claro que os fomentadores desta nova promessa apostam o futuro da vida na Terra no facto de que alguém inventará tecnologia de ponta capaz de reduzir as emissões de CO2 em grande escala. A própria ONU, a mesma organização que inscreveu objetivos ambiciosos da passagem do milénio, parece estar farta de falsas promessas. Pela voz do seu secretário-geral, António Guterres, deixou isso bastante claro: “Alguns líderes governamentais e empresariais dizem uma coisa — mas fazem outra. Ou seja, mentem. E os resultados serão catastróficos.”

Mas não estaremos todos nós também a mentir? Culpamos os líderes mundiais de inação, mas queixamo-nos dos preços dos combustíveis. A ciência diz-nos que a sobrevivência do planeta e da nossa civilização está em causa, mas grande parte da população ainda encara os movimentos ambientalistas como algo de periférico e longe dos seus interesses. E hoje, perante mais uma guerra (atroz e selvática como as guerras são!) e a ameaça nuclear, parecemos aceitar a inevitabilidade de continuarmos a procrastinar as soluções necessárias para combater o aquecimento global.

A ciência diz “agora ou nunca” mas estaremos nós preparados para o “agora”? Ou será que preferimos procrastinar e esperar que o “nunca” nunca chegue?»

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18.4.22

A história da gravação de «Grândola Vila Morena»

 


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17.04.1975 – Camboja: os Khmer Vermelho tomam Phnom Penh

 


Foi no dia 17 de Abril de 1975 que a capital do Camboja, Phnom Penh, foi tomada pelo Khmer Vermelho. Seguiram-se quatro anos de terror, num processo brutal que tinha como objectivo a criação de uma sociedade comunista puramente agrária e do qual resultou um genocídio que eliminou 20 a 25% da população (cerca de dois milhões de pessoas, embora não haja números exactos). Uma das consequências absolutamente impressionante e visível, mesmo para o turista desprevenido, é que o Camboja é hoje um país quase sem velhos: a grande maioria dos que teriam actualmente cerca de 70 anos, ou mais, desapareceu.

Estive lá em 2009 e, por muitos ou poucos anos que ainda viva, nunca esquecerei um dos mais célebres «killing fields», situado nos arredores de Phnom Pehn, onde se encontra o Museu do Genocídio de Tuol Sleng.

Para continuar a ler e ver dois pequenos vídeos impressionantes clicar AQUI.
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Trabalhadores, a carne para canhão contra a inflação

 

«Desde 2011 que há um debate semântico e inútil para saber se os orçamentos do Estado são ou não de austeridade. Em resposta a esta acusação, o novo ministro das Finanças, Fernando Medina, fez a lista de medidas sociais que vinham do Orçamento chumbado antes das eleições. Um Orçamento que já estava desfasado da realidade herdada da pandemia e agora está muito para lá disso. Só que o debate que agora conta, e contará por muito mais tempo do que Medina parece acreditar, é a inflação. Como não contribuir para uma espiral inflacionista sem criar um problema social e económico de enormes proporções, com perda radical de poder de compra?

Apesar de se saber que é difícil recuar na redução de impostos, a descida do ISP para compensar a impossibilidade de descer o IVA dos combustíveis é, apesar de efeitos limitados, uma medida correta por tentar mitigar um dos fatores da inflação generalizada – a outra é nos produtos alimentares e, acima de tudo, no preço das rações e fertilizantes. Outras medidas, como a suspensão da taxa de carbono, a redução de tarifas de acesso na eletricidade, apoios ao combustível nos transportes, subsídios à fatura do gás para a indústria ou apoios à agricultura têm exatamente a mesma função e estão corretas.

Mas não vale a pena ter ilusões. A tendência inflacionista é tudo menos passageira e localizada, como quer acreditar Fernando Medina. Vem da pandemia e dos cortes de produção na China (que com o ressurgimento da covid não vai melhorar), de problemas no transporte e da crise dos contentores, dos efeitos da guerra na produção de cereais e óleos alimentares na Ucrânia e na Rússia, do aumento exponencial dos combustíveis que vinha de antes e se agravou com as sanções à Rússia, da forma como a conjugação de todos estes fatores afeta a generalidade da economia. É impossível controlar uma inflação com origem externa tão alargada através de instrumentos direcionados, porque ela tenderá a alastrar a toda a economia portuguesa, que não é fechada ao exterior.

Instalou-se um discurso sobre os salários e a inflação que se baseia numa meia verdade para construir uma injustiça. Que a adaptação dos salários ao novo cenário macroeconómico, impedindo uma drástica redução do salário real, levaria o país a uma espiral inflacionista. Fernando Medina assumiu sem qualquer resistência este discurso – até compara com situações nos anos 80, quando Portugal tinha autonomia monetária e um banco central com poder real –, chamando à atualização de salários “motor interno para a inflação”. Por isso recusa atualizar os aumentos da função púbica – referência para os aumentos no privado. O que corresponde a uma forte redução do salário real.

Para além da contenção dos custos da energia, o Governo irá usar a redução salário real para conter a inflação – tentando reduzir a procura, o que corresponde ao processo de empobrecimento do período da troika. Os trabalhadores serão os únicos a pagar a fatura externa.

Se há sectores que sofrem com aumento de custos, eles não se distribuem de forma simétrica. Aumentar preços e lucros com a justificação da inflação será demasiado tentador para empresas que têm poder de mercado para fixar preços. Estarão completamente à vontade, porque o governo recusa mexer noutros fatores internos para a inflação. Bastou alguém balbuciar a criação de um imposto para lucros excessivos (que existe noutros países), para quem tem espaço no espaço mediático explicar que a fatura não pode ser partilhada. Cortar salários sim, mexer nos lucros nunca.

O que estamos a assistir é a uma redistribuição de rendimento de dentro para fora (que não controlamos) e, em Portugal, do trabalho para o capital (que controlamos). Se Medina for bem sucedido em conter um pouco a inflação por via do salário, sem interferir na formação de preços (considerado uma heresia), isso acontecerá exclusivamente à custa dos trabalhadores.

Baixar os salários reais, usando os trabalhadores como arma contra a inflação, será uma fisga contra um gigante global. Mas tenderá a ser permanente. É bom recordar que, desde 2010, os funcionários públicos, que funcionam como barómetro para os salários no privado, perderam 13% do seu poder de compra. As medidas extraordinárias do tempo da troika tiveram um papel central. Estes cortes no salário real nunca são compensados mais tarde. O que não impedirá apaixonados discursos sobre a necessidade de aumentar o salário médio dos portugueses.

À questão da perda de compra junta-se outra mais estrutural. Se as contas de Medina estão certas – e perante a incerteza quase absoluta, partirei desse princípio –, os salários reais cairão 0,8%, enquanto a produtividade crescerá 3,5%, em 2022. Isto corresponde a uma perda de peso do trabalho no rendimento nacional (que corresponde a uma transferência do trabalho para o capital) de 4,3%. Não há memória de uma coisa assim, neste século. O pior foi com Passos Coelho, em 2012, e ficou-se pelos 2,7%.

Da Europa, não temos razões para esperar boas notícias. É cada vez mais provável que o BCE responda à inflação com a receita clássica: aumentar as taxas de juro. Se esta receita é discutível quando a inflação tem origem na procura, é absurda quando resulta de falta de matérias primas, componentes e do preço da energia. Apenas juntará recessão à inflação. Como em 2009, parece acreditar-se que a melhor resposta para a crise é o inferno.

Este caminho terá efeitos económicos e sociais que rapidamente se tornarão políticos. Putin e os seus amigos de extrema-direita na Europa agradecerão. Em Portugal, quando o principal candidato à liderança do PSD se confessa saudoso de Passos Coelho, percebemos que o partido que lucrará com tudo isto, à direita, será outro: o Chega. Na Europa podemos vir a assistir a um remake de 2008. A mesma cegueira, os mesmos resultados. Em Portugal já começou.»

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17.4.22

Marcelo vai chegar atrasado

 

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Oito anos sem Gabriel García Márquez

 


Ler o que escrevi no dia em que ele morreu AQUI.
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Comam chocolates, comam chocolates!

 

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Volta o corpo, o toque e o beijo

 


«Quase tudo o que de nocivo se previu que iria ser reforçado, mal existisse uma fase de descompressão na gestão conjuntural da pandemia, se tem confirmado, com o agravamento da crise económica, psíquica, ambiental, comunicacional e política. Houve uma altura, no silêncio e desaceleração, que se idealizou que talvez fosse possível um pensamento mais social da economia. Mas nada disso. As compulsões da especulação, acumulação e extracção, que nos conduziram até aqui, regressaram a todo o vapor.

O interesse colectivo foi rapidamente esquecido pela primazia do lucro privado. Radicalizou-se o empobrecimento e o enriquecimento dos super-ricos. Uma certa sobriedade que se julgou possível foi rapidamente substituída pelo consumismo destravado. O espírito de solidariedade que se havia mostrado, foi sendo atropelado pela competição, desaparecendo quaisquer devaneios de sociedades mais justas e igualitárias. Até a adopção de tecnologias não poluentes continua uma miragem e regressou a chinfrineira total, não regulada, caótica, ao espaço urbano, como em Lisboa. Se existiram lampejos de uma outra vida possível em sociedade, percebe-se agora, tudo não passou de projecção demasiado optimista.

Quer a pandemia, como agora a guerra, irão ser utilizadas nos próximos tempos como expediente justificativo para todas as depressões que previsivelmente se irão aprofundar, mesmo sabendo-se que a estagnação económica, a miséria social e os ataques à democracia vêm de trás, sendo a pandemia e a guerra tanto causa, como consequência, do contexto actual.

Mas nem tudo são más notícias. Houve uma altura em que se imaginou que o vírus iria deixar traumas profundos nos corpos, ou que o efeito do medo e do distanciamento físico iriam provocar danos graves nas relações sociais e até na reformulação do inconsciente sexual. Vimos esse processo sobre o inconsciente colectivo nos anos da síndrome da imunodeficiência que afectou profundamente a disponibilidade erótica e a solidariedade afectiva entre grupos de indivíduos. Existia agora a possibilidade de aquilatar se iríamos ficar assustados com a proximidade, seja ela a fugaz e quotidiana, ou a íntima e erótica, e não parece que esteja a acontecer.

Com a pandemia a proximidade da pele tornou-se numa espécie de perigo metafísico. O corpo tornou-se lugar de contágio. Ou então, em algo imune e defensivo, quando em isolamento. A energia transformadora dos corpos deu lugar à luta pela sua sobrevivência. Agora, talvez como reacção ao cansaço da hiperconectividade e ao excesso de comunicação com ausência de significado, parece existir uma explosão de desejo libertador, uma reinvenção do afecto, uma vontade renovada de contacto. Sim, claro, ainda é cedo para grandes conclusões. A sensibilização fóbica em relação ao corpo, ao toque e carícia não desapareceram por completo. Os sinais e impressões são fragmentários, não permitindo avaliações consistentes, não estando também posto de lado cenários que impliquem retrocessos. Não existe apenas um quadro, mas vários, contraditórios e conflituantes.

Mas vai parecendo que as situações mais sombrias — laços humanos desfeitos, o beijo encarado como acto perigoso ou a ausência de ternura ou sensualidade — vão sendo transcendidas. Vislumbra-se isso em tudo aquilo que nos faz sentir vivos, nas sociabilidades, no lazer, na criação de comunidade ou nas manifestações artísticas e culturais. O que acaba por ser também sintoma de alguma esperança. Afinal, falamos de actos humanos norteados pelo prazer e pela vontade de contacto, produtores de sentido e de significado. O contrário de apelos políticos destrutivos.»

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