21.4.22

Olhar a guerra de fora da Europa



 

«Fora da Europa, há uma parte do Mundo que vê a guerra da Ucrânia com olhos e sentimentos bem distintos dos nossos, como se fosse um conflito local, que não lhes diz respeito, abstendo-se, por isso, de condenar a invasão russa.

Duas situações recentes tornaram isso claro para a União Europeia. A primeira foi a Assembleia Parlamentar conjunta UE-ACP, que reuniu em Estrasburgo no início de abril, na qual participam deputados ao Parlamento Europeu e deputados de países africanos, Caraíbas e ilhas do Pacífico. No final, apesar de se tratar de países que beneficiam de importante apoio ao desenvolvimento por parte da UE, não foi possível aprovar uma posição conjunta sobre a situação na Ucrânia.

O mesmo aconteceu em Buenos Aires, na semana seguinte, no EUROLAT, a Assembleia Parlamentar que igualmente reúne deputados do Parlamento Europeu e deputados de parlamentos de países da América Central e do Sul. Apesar de a maioria dos países latino-americanos terem votado a moção condenatória da invasão da Ucrânia na ONU, não a quiseram reiterar através de uma resolução conjunta com a parte europeia. A razão de fundo desta recusa não terá sido uma especial simpatia pela Rússia, mas uma certa indiferença sobre este conflito intraeuropeu. A ela juntam-se, é claro, outros sentimentos, em especial contra os EUA, que ao longo do tempo exploraram os seus recursos naturais e ajudaram a instalar regimes ditatoriais, cujas marcas de violência ainda estão muito presentes nos casos da Argentina e do Chile.

Estas duas posições - e se olhássemos para Oriente encontraríamos outras semelhantes - servem para mostrar que a UE não dispõe automaticamente do apoio e da solidariedade política internacional de que se julgaria merecedora numa causa que considera justa. Mais do que isso, elas também mostram que, se quisermos reforçar os laços com estes dois continentes vizinhos, geográfica ou culturalmente falando, temos de fazer mais por isso, por exemplo, com políticas de imigração mais abertas, mais intercâmbio de estudantes, professores, investigadores, maior compreensão das suas especificidades culturais e, naturalmente, relações comerciais equilibradas.

É bom que a Europa saia da sua "bolha" e perceba que não é mais o centro do Mundo, mas apenas um continente entre cinco, todos orgulhosos da sua história e lutando pela sua autonomia de decisão política, no contexto internacional.»

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