Como previsto, Aung San Suu Kyi deixou de estar em prisão domiciliária, aparentemente (embora ainda sem certezas) com a total liberdade de acção e de movimentos, que exigiu. Apareceu às 5.000 pessoas que a esperaram longas horas perto da sua casa, voltou a entrar para reunir com os principais responsáveis do partido, fará amanhã um longo discurso quando forem 12:00 em Rangun (8:30 em Lisboa).
É grande a expectativa, não só quanto ao carácter relativamente moderado, ou não, do que disser, como às diferentes reacções que suscitará nos seus seguidores, tantas são as esperanças – certamente irrealistas – que, desde há tanto tempo, depositaram no que hoje aconteceu.
Os analistas e os responsáveis pelas organizações ligadas à defesa dos direitos humanos insistem para que a pressão internacional não abrande, não só quanto à exigência de libertação dos mais de 2.000 presos políticos existentes nas cadeias da Birmânia, como também pela segurança da própria Aung e até pela sua liberdade: ao menor pretexto, pode ser de novo detida, como foi o caso, por várias vezes, no passado.
De sublinhar que este «respeito» pelo fim do prazo, que hoje foi atingido, não deve ser interpretado como um sinal de viragem ou de fraqueza do regime, mas antes como um golpe publicitário depois das recentes eleições, destinado a melhorar a sua imagem no resto do mundo.
Não só continuam de pé todas as repressões em termos de liberdades políticas propriamente ditas, como há que ter sempre presentes duas outras realidades, pouco comentadas nos últimos dias.
Por um lado, uma corrupção ímpar a todos os níveis, desde as fortunas dos militares de topo e dos seus amigos, até ao simples acto de tirar um passaporte ou de efectuar um carregamento de telemóvel. E as brutais desigualdades sociais que daí decorrem, obviamente, num país riquíssimo em recursos naturais, onde a maioria esmagadora da população vive miseravelmente.
Por outro lado, «os maus amigos». Para além da Rússia e da China que é, naturalmente, quem mais ordena em termos comerciais, há a Coreia do Norte, com a qual a Birmânia estreitou muitíssimo as relações nos últimos anos e que está a custear a construção de um misterioso conjunto de túneis, suspeitando-se fortemente que os mesmos se destinam a desenvolvimento de programas nucleares.
Situação bem complexa e grave, portanto.
Aguardemos o que diz amanhã a «senhora» - ou a «Tia Suu», como lhe chamavam vários jovens, hoje, perto de sua casa.
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