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A leitura do primeiro romance de João Paulo Guerra é um prazer e também uma excelente surpresa porque vem cobrir uma grave lacuna do que (não) se vai publicando entre nós: ficção de qualidade, baseada em factos reais do nosso período revolucionário de 74 e dos tempos que se seguiram.
O tema central do livro é a descrição detalhada de uma conspiração ligada à Gládio, uma rede internacional de serviços de informações, de origem italiana mas que actuou em vários países, Portugal incluído. Factos, e consequências dos mesmos, muito pouco divulgados e desconhecidos mesmo de quem julga ter vivido por dentro revoluções e contra-revoluções e que se passaram não só em Lisboa mas, também e muito, em Madrid, Luanda, Itália e Açores.
O texto parte de um facto, também real, e esse sim na memória de muitos: a morte de um homem em 1 de Maio de 1964, nos Restauradores, durante as habituais correrias de fuga à polícia, em mais uma tentativa de manifestação, proibida mas «sagrada» todos os anos naquela data. No romance, esse homem é pai de Paulo, a figura central do livro, então com 12 anos e que assiste à cena que o vai marcar para o resto da vida. Na realidade, trata-se de um episódio presenciado por João Paulo Guerra, na altura estagiário do Rádio Clube Português, que registou os sons mas viu o gravador ser apreendido pela polícia.
O 25 de Abril, o assalto à PIDE no dia seguinte, o 1º de Maio e muitas outras descrições, através dos olhos de «Paulo», levarão uns a recordar e muito outros, mais novos, a conhecer detalhes e ambientes.
A não perder. À espera do que certamente se seguirá na obra do autor.
João Paulo Guerra,Romance de uma conspiração, Edições Oficina do Livro, 236 p
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1 comments:
Concordo, embora tenha ficado cheio de vontade em ler uma reportagem com os mesmos factos.
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