3.4.10

O que eu não daria (5)


… para não saber que este franciscano existia e para não ter de ouvir explicações como estas.
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P.S. - Pronto: ele lamenta, pede desculpa, solidariza-se com toda a gente…
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Mais gente como nós


In The Hands of God from Mustafa Davis on Vimeo.

This is a short film I made while in the Mulanje District of southern Malawi. Its the intimate story of a father and son. The film has very little dialogue. I wanted to let the compelling images tell this story so as not to take away from the purity of it.
This film was not scripted. These are real life characters that I was fortunate to have had the chance to meet. I simply turned my camera towards them and the story told itself.
The music is "Over The Pond" by Album Leaf. It a beautiful song that I felt reflected both the beauty and sorrow of the film.


(Via Nene Paraíso no Facebook)

Gente como nós


As notícias foram detalhadamente divulgadas mas não tinha visto ainda a fotografia de Dzhennet Abdurajmánova, uma das «viúvas negras» suicidas, autoras dos atentados em Moscovo. E não me sai agora da cabeça.

Que mundo é este em que uma adolescente de 17 anos, ela própria já viúva, se imola assim num crime tão terrível? Independentemente de todas as razões ou da falta delas, de quem tem culpa ou não, já não deveriam ser possíveis coisas destas, na Europa ou à sua porta.

Leio que trinta destas mulheres foram treinadas numa escola corânica da Turquia, que nove já se imolaram assim. Outras o farão, mais inocentes morrerão.

E nós, impotentes perante isto? Não sei, mas não deveríamos sê-lo.

2.4.10

Abril

Amêndoas amargas

- Então uma bela e santa Páscoa!
- Linda aleluia para si…
- E que os sinos repiquem.
- Bem precisamos!...

Num Pingo Doce, quase ao virar da esquina. Pena foi não ter lata para fotografar as duas dialogantes - santas e lindas, podem crer.
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®evolução?


O cantor cubano Silvio Rodríguez demarcou-se recentemente do governo que entusiasticamente apoiou durante toda uma vida. Até por Angola andou, nos idos de 70, em apoio artístico às brigadas internacionalistas cubanas.

Em declarações que El País publicou há poucos dias, disse que « hay que superar la "erre" de revolución y que el país pide a gritos "evolución"».

Soube-me a pouco, devo confessá-lo, e não consegui bater muitas palmas apesar de reconhecer a importância do acto. E cheguei hoje a este texto de Yoani Sánchez:
«Se le escucha ahora con ese nivel de crítica que trae el desencanto, pero con el sigilo del que tiene demasiado que perder si declara todas sus opiniones sobre el desastre nacional. Sabe que ante nuestros ojos él es “un hombre de ellos”, triste encasillamiento para un trovador que en sus inicios rasgó las cuerdas de la indocilidad.
Durante el lanzamiento de su último disco, Silvio aventuró un juego lingüístico para superar “la erre de revolución” y que primara en su lugar “la evolución”. Como en lugar de excluir a un nuevo inconforme es mejor acogerlo en el bando de los que clamamos aperturas, voy a seguirle la rima y eliminaré la incómoda letra que da entrada a “represión”. Con cierta ligera metamorfosis este vocablo y todo lo que le cuelga podría mutar hacia el de “expresión” libre, que estamos tan necesitados de utilizar. Una “r” muy sonora –instalada en el nombre de quien nos gobierna– también debe salir de escena y dar paso, cuanto antes, a otras consonantes de nuestro plural abecedario.»

Há R’s que alteram tudo, é verdade. Mas nem sempre é suficiente apagá-los.

(P.S.1 – Não está portanto sozinho, Paulo.)

P.S.2 – E há também uma outra notícia: na imprensa oficial cubana Silvio Rodríguez: “Tengo más razones para creer en la Revolución que para creer en sus detractores”e na do Bloco de Esquerda Silvio Rodriguez: "Cuba clama por mudanças". Os títulos são diferentes mas o conteúdo só vem dar razão às minhas reservas...


Angola, 1976
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1.4.10

Poisson d'Avril, April Fools' Day, Pesce d'Aprile


…ou, mais prosaicamente, Dia das Mentiras.

Não fosse uma decisão de Carlos IX, rei de França no século XVI, e estaríamos hoje a festejar o Ano Novo ou, pelo menos, o fim da semana que o marcava, de 25 de Março a 1 de Abril.

Era a chegada da Primavera que comandava a nova vida e não o rescaldo invernoso das festas natalícias. Invernoso aqui pelo hemisfério Norte que era, mas já não é, quem governava o mundo – estival para mim que nasci «lá em baixo», onde 1 de Janeiro era dia obrigatório de praia.

Mas voltando a Carlos IX: foi ele que fixou gregorianamente o novo dia para arrancar o ano, mas muitos não gostaram e continuam a festejá-lo na antiga data. Motivo de gozo para outros que passaram a enviar aos primeiros votos de Boas Festas e convites falsos para inexistentes festividades – des plaisanteries.

E porquê «peixes» de Abril? Porque tinha acabado pouco antes o signo dos ditos cujos e porque, em geral, se estava na quaresma em que é suposto comer-se peixe…

(Tudo isto em várias Wikipedias perto de si.)

Mas eu creio que, este ano, o Poisson d’Avril começou bem antes e que tudo o que temos ouvido nos últimos dias não passa de pura plaisanterie: Paulo Portas e Durão Barroso não têm nada a ver com submarinos, se calhar nem comprámos submarinos, se não há rapazes maus, por que raio é que haveria padres pedófilos, Bento16 é o mais ingénuo de todos os papas desde os tempos de S. Pedro e Sócrates quer mesmo apoiar Manuel Alegre e nós é que não percebemos.
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Durão Barroso e a sua batalha naval


«Como é óbvio, da responsabilidade política pela má escolha estratégica que a aquisição daquele equipamento militar implicou (até a NATO logo o classificou de "desperdício") não pode livrar-se o então Chefe do Governo português. As especulações poderão, quando muito, recair sobre o grau de conhecimento que teria do "modus faciendi" do negócio confiado ao seu Ministro da Defesa. (…)

Todos estes elementos confluem para uma boa maneira de o Dr. Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, mostrar que não é inquietável pelas investigações judiciais em curso em Portugal e na Alemanha, as quais visam apurar responsabilidades criminais: ordenando, sem demora, o desencadeamento de uma investigação ao processo de aquisição de submarinos em que é comprador o Estado português e em que é vendedora uma empresa alemã. Uma investigação pela Comissão Europeia, obviamente.»

Ana Gomes, no Causa Nossa.

Venha mais um

Blogue colectivo e à esquerda. O nome promete e a apresentação também:
«Dizemos "Adeus, Lenine!" mas também queremos dizer Adeus ao "estado a que isto chegou". Sabemos que não chegámos ao "Fim da História" e queremos Mudar o Futuro.»
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Manuel Alegre devia ter convocado um cerco ao Parlamento


Vasco Cardoso no Avante!:

«E se clara está a posição do actual Presidente sobre o PEC, não deixa também de ser necessário assinalar o posicionamento de outros que estão na “corrida a Belém”, designadamente o de Manuel Alegre (previsivelmente o candidato do partido do governo e do BE). O registo crítico com que numa fase inicial abordou o PEC, consciente do descontentamento que estas medidas provocam, acabou por ser secundado pelo seu compromisso de sempre com o PS quando procurou enterrar o assunto com uma esclarecedora frase: “há mais vida para além do PEC”.»

(Na foto, cerco à Assembleia Constituinte, em 12 de Novembro de 1975)
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31.3.10

Fechando o Inverno?

Mais BRIC, menos BRIC


Bem adaptado, o Palácio dos Ventos de Jaipur faria as delícias de um qualquer engenheiro Belmiro. Sempre seria mais bonito do que o Saket Mall, um dos 600 centros comerciais que abriram na Índia, durante os últimos dez anos.

O que é isso para 1.170 milhões de habitantes, mais coisa menos coisa (se não me enganei nos zeros e na terminologia)? Pouco, é verdade. Mas há quem procure defender o pequeno comércio e também demonstrar que o estímulo ao consumo, que as grandes superfícies promovem, é contrário à cultura indiana de «poupe agora para gastar depois».

Nada a fazer, julgo eu. Exportámos missionários e trouxemos pimenta, hoje levamos Prada e importamos software.

Mas a Índia é diferente dos outros BRIC e em especial da China: enquanto esta produz em massa produtos baratos, o que cria muitos empregos, na Índia estamos perante um classe média muito reduzida, proveniente sobretudo de sectores de ponta, como o financeiro e o de produção de software. Acima e abaixo, gente milionária e uma miséria que parece endémica.

Um retrato instantâneo de Delhi: «À noite, brilham mil luzes do luxuoso Saket. Os clientes satisfeitos, com os seus sacos de compras, esperam que o motorista lhes traga o carro. (…) Mesmo ao lado, escondida pelos painéis publicitários, uma série de barracas feitas com restos de chapa: é lá que vivem os operários que trabalham no centro comercial.»

Um pouco mais longe, mas não muito, centenas ou milhares de pessoas dormem dentro de sacos de plástico pretos, iguais aos que compramos para pôr o nosso lixo. Voltarei a vê-los nas ruas de Delhi quando lá chegar, dentro de três semanas. É horrível – garanto a quem nunca assistiu ao espectáculo.

(Fonte)

A música do dia

Corporações


(Via Virgílio Vargas no Facebook)

30.3.10

Roma, cidade fechada


A discussão começou ontem nos comentários a um post que eu julgava inócuo e que deram origem a um texto do Miguel Serras Pereira e a um outro do João Tunes. Tomo-os como ponto de partida, concordando com muito do que ambos dizem, mas tentando abordar a questão de um outro ponto de vista e deixando de lado, pelo menos para já, a questão da pedofilia e de tudo o que lhe está ligado.

Será razoável esperar que a igreja católica enquanto instituição venha a prescindir do poder fortemente centralizado que detém, ou a modificar significativamente as suas características, apesar das declarações cíclicas de descentralização e de autonomias que vai fazendo? Terá isso importância, ou não, na sua contribuição para a construção da democracia dos povos?

A minha resposta à primeira pergunta é negativa e recuo algumas décadas para lá chegar. Durante o Concílio Vaticano II que decorreu na primeira parte dos anos 60, mais exactamente de 1962 a 1965, a grande esperança que alimentou o mundo católico foi precisamente que se estivesse a viver o início de uma nova era em que a primazia do «povo de Deus» vencesse a rigidez de uma estrutura hierárquica, rígida e esclerosada, onde tudo chegava do topo à base em perfeita harmonia, por uma correia de transmissão sem falhas nem desobediências. Ou, por outras palavras em que melhor nos entendemos, para a que a igreja se tornasse uma instituição verdadeiramente «democrática».

48


Soube-se ontem que «48» de Susana de Sousa Dias ganhou o Grande Prémio do Festival Cinéma du Réel.

Trata-se de um documentário absolutamente impressionante, que vi no DocLisboa 2009. Apenas fotografias de vítimas da PIDE – as fotografias oficiais tiradas pela dita PIDE - acompanhadas, em off, pelas vozes dos próprios que contam as suas histórias.

Sobriedade e minimalismo de que resulta um verdadeiro murro no estômago para o espectador, por vezes difícil de suportar. E que atinge o clímax nas últimas e longas cenas em que o ecrã está totalmente negro, porque os arquivos da actividade da PIDE em África desapareceram e não há portanto fotografias – apenas as vozes dos ex-presos.

Prémio merecidíssimo pelo contributo que a Susana dá à memória deste país. Com um travo ligeiramente amargo por se verificar, uma vez mais, que os santos desta casa raramente conseguem ser milagreiros.

Meditação


Se o Largo do Rato ainda tivesse este ambiente bucólico, talvez Sócrates conseguisse um pouco de calma para decidir se apoia ou não Manuel Alegre.

29.3.10

Magister dixit?


Eu gostava que alguém me explicasse o que é que Anselmo Borges escreveu de tão extraordinário, no artigo publicado há dois dias no DN, para que tantas almas - cristãs, agnósticas ou ateias - o citem e louvem com incomensurável veneração. Disse o mínimo e o óbvio que milhares de pessoas repetiram, nos últimos dias e no mundo inteiro.

A diferença reside apenas no facto de ser do conhecimento público que ele é padre, eu sei, e é isso que contesto, porque é o velho argumento de pseudo-autoridade, que vem nestes momentos ao de cima, incrustado que está no mais profundo das nossas entranhas. Pseudo-autoridade já que, segundo julgo saber, ele não exerce qualquer função de chefia que lhe permita, amanhã, entregar um eventual padre pedófilo aos tribunais ou afastá-lo de funções. O cidadão Anselmo Borges - teólogo, filósofo e professor universitário -, limitou-se a escrever, e bem, um artigo de opinião, que não assina como padre. Mas o que passou a ter importância foi o que se sabe acerca do mensageiro e não propriamente a mensagem. Sem que  o dito mensageiro tenha qualquer responsabilidade, como é óbvio.

Se amanhã o padre Anselmo Borges vier dizer que, enquanto tal, se recusa a participar em cerimónias durante a visita de Bento16 a Portugal, ou pedir a resignação do papa e explicar porquê, aí, sim, citá-lo-ei com a maior das admirações.

P.S. - O Miguel Serras Pereira adaptou o texto dos dois comentários que aqui deixou e transformou-o em post publicado agora no Vias de Facto. A discussão passa para um outro patamar.

Quem diria, quem nos diria


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Um país, muitos sistemas


Olhamos para a China de fora, elogiamos ou condenamos os seus efeitos na inevitável globalização, protestamos contra a repressão dos que pretendem exprimir-se livremente, comentamos as manobras, louváveis ou nem por isso, do tipo de permanência do Google no país - sempre com as imagens da Praça Tiananmen em pano de fundo e com a herança de Mao na memória e nas prateleiras.

Pouco sabemos, no entanto, da movimentação interna de centenas de milhões de pessoas, do seu significado e das consequências ainda certamente imprevisíveis que ela terá, a médio prazo, não só naquele país mas no mundo em geral.

Estima-se em pelo menos 200 milhões o número de camponeses migrantes para os arredores das grandes cidades, onde vivem em péssimas condições depois de, na melhor das hipóteses, terem conseguido uma autorização de residência temporária que pode caducar em qualquer momento pelos mais variados motivos, sendo os seus portadores recambiados para o local de origem. Mas, num país onde não há «liberdade de habitação», muitos vivem ilegais ou mesmo na clandestinidade.

28.3.10

Basta!


Gillermo Fariñas, em greve de fome há mais de um mês, piorou e tem um septicemia generalizada


«É indispensável encontrá-los dominá-los concenvê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas» (Daniel Filipe)
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Quase aos 5


«Pai, estou a gostar da vida.»
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«Para as bandas da Playboy»


O Central Nacional de Cultura tem vindo a divulgar, no seu blogue, algumas das crónicas que João Bénard da Costa publicou no Público. Lembro-me muito bem desta,de Janeiro de 2004.

1 - Uns artiguitos, por aqui e por acolá, informaram-me que a "Playboy" fez 50 anos. Primeiro pensei: "Meu Deus, como o tempo passa!" Depois, melancólico, realizei que as mais tenrinhas das "bunnies" de há 50 anos têm hoje a minha idade. Marilyn - na celebérrima foto nua do número 1 - era bastante mais velha. O que vale (vale a quem?) é que o tempo não corre à mesma velocidade para os homens e para as mulheres. Marilyn morreu, ainda quase todas vocês nem nascidas eram. As coelhinhas desmamadas de 1953 têm agora idades assustadoras. Mas aquele que, ainda hoje, continua a ser tratado por Hef (Hugh Hefner, o patrão), nascido no mesmo ano de Marilyn (1926) continua, aos 77 anos, mais Viagra menos Viagra, a "dating" três coelhinhas em simultâneo e a ter um harém permanente de vinte e tal. A acreditar em Pedro Rolo Duarte, Sting, que entre parêntesis já vai nos cinquenta e picos, compara-o "a uns daqueles imperadores romanos decadentes, cercados pelos bárbaros da Internet, que estão a acabar com o seu império". Mas as fotos da festa das bodas de ouro, que se podem ver na "Playboy" de Fevereiro de 2004, já à venda por aí, mostram-no em bastante boa forma e excepcionalmente num impecável "tuxedo". Duvido que os bárbaros, quando lá chegarem e se lá chegarem, consigam o mesmo estardalhaço.»

Continua aqui.

A tradição onde menos se espera


Na foto, Obama mostra um emaranhado de correcções a um texto de um dos muitos discursos que fez para defender a reforma da saúde – escritas à mão, quem sabe se com caneta de tinta permanente.

Longa vida para o papel.