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25.8.18
Dica (802)
Prison labor is modern slavery. I've been sent to solitary for speaking out (Kevin Rashid Johnson)
«This week, a nationwide strike was launched across US prisons that has the potential to become the largest protest of incarcerated men and women in the history of this country.»
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Pode um vídeo “simpático” ressuscitar o troikismo?
Francisco Louçã no Expresso Economia de 24.08.2018:
«O vídeoo de Mário Centeno sobre a Grécia tem várias leituras possíveis, desde a sua intenção (uma promoção para a almejada carreira internacional) ao seu conteúdo e impacto.
Que lições, faz favor?
O conteúdo merece ser escrito em pedra. Houve um processo do qual “todos aprendemos as lições”, começa por dizer o presidente do Eurogrupo, acrescentando logo que “isso agora é História”. Admita-se que possa haver alguma mensagem cabalística por revelar, pois não foi esclarecido o que seriam as tais saborosas “lições”, mas, se forem as referências subsequentes às “más políticas do passado” na Grécia, estaremos em puro dijsselbloemês. No mesmo dicionário cabe o paternalismo da “responsabilidade” acrescida que agora incumbe aos gregos. Mas o mais significativo é que, segundo Centeno, “a economia foi reformada e modernizada” com as medidas de austeridade, mesmo sabendo-se que “estes benefícios ainda não são sentidos em todos os quadrantes da população”, mas “gradualmente, serão”. “Por isso, bem-vindos de volta”, um sorriso e está cumprida a função, assim tipo moralista, como agora se diz.
Sobre o fracasso da política europeia imposta à Grécia já escrevi a minha opinião aqui há poucas semanas. Notei então que Moscovici, um socialista francês, se tinha excedido no paternalismo bacoco (Ulisses volta à pátria, escrevia o homem) mas que Regling, do mecanismo europeu que vai gerir os dinheiros, mostrava a mão dura que vai garantir a agiotagem. O facto é que a economia da Grécia foi destroçada, sobrevive com um surto de turismo barato e é um barco de papel lançado ao mar à espera de um milagre que se tornará num pesadelo na primeira oscilação dos mercados. O elogio do “regresso à normalidade” por Centeno é, por isso, uma forma de endossar uma política que o Governo português repetiu até à exaustão que achava errada.
A direita, o centro e a esquerda depois da austeridade
Confesso por tudo isto que agora me interessa mais o significado das respostas a Centeno, que definem contornos velhos e interessantes da política portuguesa, mas também algumas novidades.
A direita aferrou-se ao assunto. Argumento: o ministro é contraditório, apoia na Grécia o que diz rejeitar em Portugal. Tudo certo. Mas este argumento é um berbicacho para o CDS e o PSD. Primeiro, porque o que criticam a Centeno não é o que faz, mas é não dizer o que faz, porque no seu sucesso só estaria a completar o que a direita iniciou, essa austeridade que é o caminho da virtude. Ora, é pueril atacar um governo por fazer o que o próprio crítico entende estar certo.
Na questão grega, outra vez a mesma efervescência: “duas caras”, diz Miguel Morgado, “duas caras”, protesta com originalidade João Almeida. Mas de que cara é que gostam e qual odeiam? A austeridade portuguesa foi ótima, a grega mais exagerada, dizem, mas Centeno é continuador de Vítor Gaspar e por isso é dos nossos, logo detestamo-lo. Que haja alguém nesta direita que ache que esta conversa move o eleitorado é um sinal fatal de perda de sentido da realidade. Morgado e Almeida, que estavam de turno no comentário estival, aproveitam todas as oportunidades para lembrar ao milhão de eleitores que lhes fugiram em 2015 que estão contentíssimos com aquela política que levou Portugal a agravar a recessão. Tudo previsível, portanto.
Na esquerda, alguma desilusão. O PCP fez o comunicado do costume, o problema é o “embuste” da União Europeia. E é, mas o problema é também quando não se discute o problema. O Bloco preferiu dizer que a tese implícita de Centeno, o sucesso do programa grego, seria “insultuosa para os gregos e esclarecedora para os portugueses”. Será assim tão claramente? Em todo o caso, faltou a pedagogia do debate. O discurso de Centeno mereceria mais perguntas: se este é o “regresso à normalidade”, se é assim que a “economia é reformada e modernizada”, então vale mesmo o corte nos salários e pensões? E a privatização dos portos, aeroportos, energia e banca, e a destruição dos serviços públicos? Porque essas são as questões que importam sempre que há uma crise e, isso sim, serve de “lição” para Portugal.
Finalmente, a resposta mais significativa de todas veio do PS, precisamente do seu anterior porta-voz, João Galamba, no mais duro dos comentários. Disse-se que foi voz única, mas o silêncio deve ser medido não tanto por não ter havido outras críticas escritas, mas muito mais pelo silêncio constrangido dos dirigentes do PS. Só depois de muita celeuma é que Ana Catarina Mendes lá veio tecer loas ao presidente do Eurogrupo, limitando-se a dizer que ele é muito importante e evitando o assunto melindroso, explicando que ela não gosta da austeridade (mas ele gosta se for na Grécia). O embaraço é visível, afinal não foi nada disto que disseram na campanha eleitoral.
A troika é um debate dentro do governo
Há nestes debates uma revelação e isso é importante. Há pelos vistos quem tema o peso da aliança Centeno-Santos Silva no Governo, e que sinta que, se assim for, a política vai sendo conduzida por atoardas cínicas de um ministro anónimo nos jornais, mais uma austeridade que se sente irracional (o ministro das Finanças ir ao Parlamento responder na comissão de saúde pelo atraso dos concursos de médicos especialistas para poupar uns tostões, ou adiar investimentos que serão depois mais caros, por exemplo).
A cruz do problema é que, ao elogiar a troika na Grécia, o ministro está também a dizer que, afinal, quando a economia aperta, a receita tem que ser a mesma de sempre. Note-se que a chave da austeridade na Grécia era a mesma da de Portugal: aumentar impostos e cortar rendimentos. E que o congelamento de pensões mais o corte em prestações não contributivas mais a redução da TSU patronal estavam no programa de Centeno e que teriam sido cumpridas se o PS tivesse tido maioria absoluta em 2015. Assim, se há coisa que o episódio do vídeo “simpático” demonstra é que estas velhas obsessões com a troika cortista se mantêm na “propaganda norte-coreana” da austeridade.»
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24.8.18
Dica (801)
«'Middle class' doesn't mean what it used to. Owning a home, two cars, and having a summer vacation to look forward to is a dream that's no longer possible for a growing percentage of American families. So what's changed? That safe and stable class has become shaky as unions collapsed, the gig economy surged, and wealth concentrated in the hands of the top 1%, the knock-on effects of which include sky-high housing prices, people working second jobs, and a cultural shift marked by 'one-percent' TV shows (and presidents).»
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Entretanto, na Festa do Avante
«Acabo de saber que da lista de livros que selecionámos para estarem na Festa do Avante foi retirado o diário de prisão do Luaty Beirão, com o argumento que incomodaria os camaradas do MPLA que irão á Festa.
É uma tristeza verificar que para o PCP os presos políticos continuam a ter nacionalidade, e que os que interessam são só os nossos, durante o Estado Novo.»
Bárbara Bulhosa no Facebook
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Franco fora do Valle de los Caídos – finalmente!
«"Es urgente porque vamos tarde. Un dictador no puede tener una tumba de Estado en una democracia consolidada como la española. Es incompatible". La vicepresidenta, Carmen Calvo, dejó claro que el Gobierno y el PSOE admiten que, después de 40 años de democracia, es evidente que la exhumación de los restos de Francisco Franco del Valle de los Caídos tenía que haberse hecho mucho antes.»
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Os dilemas dos liberais
«Por estes dias o liberalismo voltou a ser a palavra da moda em Portugal. Várias facções discutem quem é mais liberal e emergem possíveis partidos liberais como se fossem cogumelos.
Rapidamente irão, como fez a extrema-esquerda nos seus mais brilhantes momentos de loucura, discutir quem é mais liberal. Santana Lopes surge como "liberal" e diz-se inspirado em Macron mas, no fundo, o que está em causa é uma profunda reorganização do centro-direita e da direita em Portugal. O PSD de Rui Rio é hoje um partido em busca de ideias e de uma estratégia clara (excepto transformar agora jornalistas em "inimigos públicos"). Assunção Cristas, apesar dos esforços, não descola. Há assim um espaço órfão que necessita de cuidados políticos. Resta saber se é com discursos "liberais" ou com populismo. Tudo isto nos lembra a carta que António Alçada Baptista escreveu a Marcelo Caetano em 1970. Dizia ele: "Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas". Pouco mudou. Um dos principais problemas é que muitos dos defensores do "liberalismo" em Portugal só olham, quando lhes convém (e não estão à espera da mão aconchegadora do Estado para os seus negócios), para a parte económica do conceito ideológico. Tudo é reconduzido ao mercado. O resto é varrido para debaixo da mesa.
A esquerda conseguiu (quando não se adaptou a ele, como foi o caso da "Terceira Via") transformar o liberalismo numa caricatura do capitalismo explorador. Só que o verdadeiro liberalismo não defende verdades absolutas. Tem um denominador comum (a ideia de liberdade) e de que esta é o valor supremo e indivisível. Não é apenas liberdade política ou económica, mas também cultural ou social. Como se pode ser liberal quando se dinamita a possibilidade de mobilidade social através de políticas de empobrecimento generalizado e de salários baixos como fonte de "competitividade"?
Como se pode ser liberal quando se apela ao nacionalismo?
Karl Popper dizia que o progresso era deixar para trás a tribo. E a tribo de hoje é o regresso do nacionalismo. Como se pode ser liberal quando se crê, de forma semelhante à marxista-leninista relativamente ao estado, que o mercado resolve todos os problemas? Nem Adam Smith, Popper ou Isaiah Berlin disseram alguma vez isto.
O mercado pode resolver problemas económicos. Mas para o progresso é preciso progresso cultural e social. Ao crer-se que o mercado é uma fórmula mágica, os "liberais" tornam-se eles próprios dogmáticos, o contrário da ideia de liberdade que está na essência do verdadeiro liberalismo. A questão é que para ganhar eleições os verdadeiros liberais têm de criar emoções fortes. E aí estão em desvantagem face aos populistas. É este o dilema das diferentes facções "liberais" que, em Portugal, buscam um lugar ao sol no meio do deserto ideológico mais à direita. Resta saber se descobrem a fórmula do poder.»
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23.8.18
Dica (800)
Paradise Lost. How Tourists Are Destroying the Places They Love (SPIEGEL Staff)
«Travel is no longer a luxury good. Airlines like Ryanair and EasyJet have contributed to a form of mass tourism that has made local residents feel like foreigners in cities like Barcelona and Rome. The infrastructure is buckling under the pressure.»
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Os Monchiques e a falta de espuma do CDS
«Após três anos de governo PS com apoio parlamentar das esquerdas, a direita quando governou estava tão convencida da inevitabilidade da austeridade que ainda não se encontrou consigo própria, nem com um programa que a possa guindar ao poder.
Rui Rio tem consciência do estado de alma do partido que se acomodou tanto a nível de direção como localmente. Está burocratizado e disponível para lutas internas por postos que assegurem a vidinha aos seus membros. Mobilizam-se em torno dos líderes que alimentam as suas esperanças de não serem esquecidos na hora da vitória.
A aproximação de Rio ao PS, que conta com muita gente dentro do PS, constitui para os anteriores círculos dirigentes do PSD uma traição ao projeto neoliberal que defenderam à outrance, pois sabem que não tem, num eventual bloco central, a mesma intensidade. E é isso que os une, o galope neoliberal.
É a esta luz que Santana abandona a família para se arvorar em ser o único e legítimo filho do que alegadamente era o PPD de Sá Carneiro e que ninguém sabe. Os cismas são vários sobre o verdadeiro pensamento de Sá Carneiro.
Congeminou que pode ter um resultado eleitoral para lhe dar capacidade de contar na cena política, o que não sucederia com Rio.
A Santana não lhe basta um cargo proeminente em qualquer instituição pública. Quer mais; e esse mais o PSD não lho dá, nem provavelmente viria a dar.
Santana e Pedro Duarte, Montenegro e outros largaram o fogo no PSD e agora são muitos os Monchiques que Rio enfrenta e ao que parece sem ajuda de meios aéreos.
Tenta apagá-los fazendo da época dos incêndios devido às elevadas temperaturas a sua oposição ao governo.
O CDS, sacrificado pela estratégia de Rio, aproveita-se da falta da falta de espuma para apagar os Monchiques do PSD. Está, porém, tolhido. A visibilidade que Portas lhe deu no governo de Passos, incluindo a de Cristas, vira-se contra o próprio partido, mesmo que este hoje proclame o contrário de tudo o que aprovou no governo desde o congelamento dos salários na função pública e do salário mínimo nacional, os cortes nas pensões, os aumentos nas taxas moderadoras, o aumento da carga de horas de trabalho na função pública, os cortes nos guarda florestais, os cortes nas quotas do pescado, os despejos, a reforma dos tribunais afastando os cidadãos da justiça, as privatizações sem lei nem roque, até ao pavor que era viver sob o chicote destes mandarins impiedosos, pois todos os dias os bilionários tinham boas notícias e o resto da população más. Foi o período em que uma ínfima minoria ficou mais rica e a imensa maioria com menos rendimentos e se espalhou deliberadamente a pobreza.
Enquanto o PSD lambe as feridas, o CDS chega-se à frente nas críticas ao governo. Enquanto Rio ensaia o bloco central, o CDS preterido demarca-se, marcando o terreno.
O CDS cavalga a crise do parceiro de tantas ocasiões para ganhar estaleca. Não parece vir a ter sorte.
Surpreende que um partido como o PSD se encerre dentro de si próprio por falta de um programa que una quadros e dirigentes. Rio bem tenta fazer da aproximação ao PS um guião, mas sem sorte.
É algo inesperada a incapacidade destes partidos terem um programa, um guião para apresentarem. Vivem de incêndios, roubos de armas e pouco mais. Como dizia o seu protetor Cavaco - chocam com a realidade…»
Domingos Lopes
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22.8.18
Zeca Afonso no Panteão? Deixem-se de patetices!
«O então Presidente da República, António Ramalho Eanes, atribuiu a José Afonso a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusou-se a preencher o formulário.
Em 1994, o Presidente da República, Mário Soares, tentou condecorar postumamente José Afonso com a Ordem da Liberdade, mas Zélia Afonso recusou, alegando que o músico não desejou a distinção em vida e também não seria condecorado após a sua morte.»
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21.08.1986 – O dia em que Alexandre O'Neill se foi embora
Alexandre O'Neill morreu há 31 anos e a melhor maneira de o recordar é regressar a textos seus. Aqui fica um.
Idiotia e Felicidade
Como pode ser-se idiota e, ao mesmo tempo, feliz, pergunta-me um leitor? Pois explico já. A idiotia e a felicidade são ideias muito vagas, difíceis de cingir em conceitos de circulação universal, digamos. Mas, pensando melhor, acho que certa idiotia é susceptível de conferir ao idiota seu proprietário (ou seu prisioneiro) uma espécie de segurança em si próprio que o levará, em determinados momentos, julgo eu, a uma beatitude muito próxima do que se pode chamar estado de felicidade.Assim sendo, não vejo incompatibilidade entre o ser-se idiota e o ser-se feliz. Bem sei que há várias maneiras de se chegar a idiota. Uma delas foi experimentada comigo. Uma parente minha queria por força reconverter-me ao Catolicismo e, deste modo, passava a vida a dizer-me: «Alexandre, não penses. Se começas a pensar estragas tudo. A crença em Deus, se, em vez de pensares, reaprenderes a rezar, vem por si. É uma graça, sabias? Vá, reza comigo.» E ensinava-me orações que eu, muitas vezes de mãos postas, repetia aplicadamente. Acabei por não me casar com ela.
Não quero dizer, com isto, que não acredite na chamada (creio eu) revelação. Se revelação não existisse, como poderia um poeta do tomo de Paul Claudel entrar um dia em Notre-Dame e sentir-se, naquele preciso momento, convertido irresistivelmente ao Cristo e à irradiação da sua verdade e da sua beleza? E não pode afirmar-se que o grande poeta fosse um idiota.
Agora a minha parente era-o, de certeza, e queria fazer de mim outro idiota. Não por desejar reconverter-me, mas por aconselhar-me, como meio, o de eu não pensar, o de eu principalmente não pensar. Se tivesse casado com ela (que não era filha da minha lavadeira) talvez tivesse sido feliz - não se sabe - idiota e feliz. Assim, fiquei longos anos idiota e infeliz, infeliz por ser idiota e saber que o era e que não podia deixar de o ser. Ora, um idiota que é infeliz por saber que é idiota já pode estar a caminho de deixar de o ser. É uma possibilidade. É a tal luz no fundo do túnel, como se disse tantas vezes a propósito da situação económica deste idiota de país.
Não se espante, por conseguinte, o leitor de que um qualquer idiota possa, ao mesmo tempo, ser feliz. É, até, assaz corrente. Há idiotas que se consideram inteligentíssimos, o que é uma forma muito comum de idiotia, e extraem dessa certeza alguma felicidade, aquela maneira de felicidade que consiste em uma pessoa se julgar muito superior às que a rodeiam.
O leitor gostaria de ser ministro ou secretário de Estado? Pois fique sabendo que há quem goste, embora - será justo dizê-lo - também há quem o seja a contra-gosto, por dever partidário ou patriótico.
Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima como poder, é, quase sempre, um perigo.
Oremos.
Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa.
Alexandre O'Neill, in Uma Coisa em Forma de Assim
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Dica (799)
Centeno e a tragédia grega (Anselmo Crespo)
«Centeno, o presidente do Eurogrupo, nada tem a dizer sobre isto. Mas Centeno, o economista que ajudou a construir o programa do PS, tinha várias teorias sobre a economia europeia e sobre o que de errado estava a ser feito. Era aliás, todos se lembrarão, um crítico feroz das políticas impostas pela troika, em Portugal como na Grécia. E um crítico ainda maior da forma como a Europa assobiava para o lado quando alguém tentava discutir o problema da dívida pública. Mas isso foi antes. É história. Faz parte do passado. Agora, Centeno é o presidente do Eurogrupo - e parece bastante satisfeito com o trabalho que a troika fez na Grécia.»
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Putin no seu labirinto
Presta-se a muitas reflexões, mas a primeira que me veio à cabeça foi esta: o jeito que isto me dava cá em casa para ser obrigada a fazer exercício físico antes de chegar à rua!
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Centeno encontra-se com Mr. Hyde
«Há encontros mais prováveis do que outros. Mas o de Mário Centeno com Mr. Hyde não cabe apenas numa canção dos saudosos Ban. Não se sabe se Centeno é, de dia, o Dr. Henry Jekyll e, de noite, o ruim Mr. Hyde. Ou melhor, se é Jekyll quando está no Ministério das Finanças do Governo PS e Hyde quando está sentado na cadeira dourada do Eurogrupo. Esta confusão de personalidades é, claramente, desgastante. Porque, às tantas, não sabemos já quem é Mário Centeno. Duvida-se mesmo de que Mário Centeno saiba quem é Mário Centeno. Centeno queria ser um pauzinho na engrenagem mas, depois do seu teledisco sobre a Grécia, tornou-se na engrenagem que devorou o pauzinho. Sabia-se que quando se sentasse na cadeira da presidência do Eurogrupo, Mário Centeno iria transformar-se num sorridente Jeroen Dijsselbloem, também ele uma voz do Partido Trabalhista holandês. Mas não se julgava que o choque eléctrico criasse um problema de duplicidade de identidade. Centeno, depois de dizer que "a Grécia voltou à normalidade", deixou de ser especialista em finanças: é um ilusionista com diploma passado por uma universidade alemã. Nada que admire.
Grécia e Portugal foram os bodes expiatórios da incompetência e dos dogmas económicos e culturais de Bruxelas e Frankfurt para enfrentar a crise financeira global. Foram os sacrificados para salvar Itália e Espanha. Se era necessária austeridade, ela tornou-se uma obsessão que corroeu a sociedade e todos os contratos sociais. Na Grécia, começou-se por salvar os bancos alemães e franceses. Depois foi o PIB a cair a pique, as centenas de milhares de gregos a sair do país e a "recuperação", com uma dívida externa que nunca poderá ser paga, uma economia sufocada e salários cada vez mais baixos. E já nem se fala na forma como a gentil Europa abandonou os gregos nos dias mais críticos da chegada de migrantes às suas costas. O caldo de cultura perfeito para o crescimento da extrema-direita. O custo social da tragédia grega é a maior dívida da Europa a esse país. Só Mr. Hyde não a vê.» .
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21.8.18
Praga 1968, ainda
No 50º aniversário da invasão de Praga, muita informação disponível:
***** Pacheco Pereira: "Cunhal e Fidel quebraram o isolamento dos soviéticos" em 1968.
***** Prague 1968: lost images of the day that freedom died.
***** Rusia vuelve sin tanques a Europa central.
***** How (and why) I still remain a Czech and a Slovak. A 2018 afterword.
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Grécia: um enorme falhanço
«Greece has been a colossal failure. It is a tale of incompetence, of dogma, of needless delay and of the interests of banks being put before the needs of people. And there will be long-term consequences.»
E acaba de se saber que o desemprego subiu para 22,29%, apesar da época de Verão.
Parabéns Mr Centeno Hyde. Dr. Centeno Jekyll deve estar de férias, orgulhoso das suas performances.
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Há 50 anos, deixou de ser Primavera em Praga
A não perder, este belíssimo vídeo com mais fotografias.
(Texto e fotos de Josef Koudelka, Invasion of Prague, Thames & Hudson, 2008.)
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Centeno?
Houve aqui alguém que se enganou
Interrompo um longo silêncio, porque, como dizia Sofia Melo Breiner, vemos, ouvimos e lemos não podemos ignorar.
O governo de António Costa assentou numa vasta aliança de posições diversas que o que tinham mais em comum era a recusa da Troika e o fim da austeridade. Aceitamos que nem sempre as coisas fossem como queríamos, porque muitas foram as que seguiram um bom caminho. As várias declarações do ministro Mário Centeno parecem apontar para um regresso ao passado. O video de hoje tem um só qualificativo: inaceitável, e não se esqueçam como pode ser divisivo do suporte ao governo.
Eduardo Paz Ferreira no Facebook
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20.8.18
Porque será que este vídeo me faz lembrar «sucessos« e «vitórias» em Monchique?
A ler também:
A troika sai da Grécia, mas a austeridade continua .
"Lamentável" e "ridículo": aumentam as críticas ao vídeo de Mário Centeno.
Faltava isto:
A troika sai da Grécia, mas a austeridade continua .
"Lamentável" e "ridículo": aumentam as críticas ao vídeo de Mário Centeno.
Faltava isto:
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A censura feita pelo Facebook, Google, etc.
«Não me sinto confortável com aquilo que a maioria das pessoas acha bem: os donos das principais "redes sociais" (com excepção do Twitter) estão a fazer censura a páginas de notícias falsas, páginas individuais e de grupo consideradas promotoras de ódio, racismo, teorias conspirativas, etc. Parece-me um caminho perigoso, alimentado por uma espécie de complexo de culpa pelo que permitiram no passado. Agora querem lavar as mãos prometendo que apenas passam no crivo dos novos censores, páginas limpas, sanitárias e sem mácula. Aliás o zelo censor é muito mais fácil do que o zelo na protecção da privacidade, visto que estas redes sociais são negócios que vivem da informação privada que as pessoas irresponsavelmente e por ignorância lhes dão. O caso da Cambridge Analytica e da utilização de big data para fazer perfis eleitorais e depois orientar a propaganda, as provocações, os boatos e as falsidades é muito mais grave do que as conspirações do InfoWar.
É um caminho muito perigoso e institucionaliza como normal a censura, daquilo que não gostamos nem concordamos, aquilo mesmo que na Constituição americana era o pilar básico da liberdade de expressão. A liberdade de expressão não é para o que consideramos conveniente, com que aceitamos e concordamos, para exactamente aquilo que, dito de forma directa, nos mete nojo. Começar a separar o que se pode dizer daquilo que não se pode dizer acaba por caminhar para a cabeça das pessoas e mata a liberdade. Claro que eu sei que o problema não está apenas nos conteúdos, mas na utilização das "redes sociais" como máquinas de guerra, manipuladas por especialistas na desinformação que em vários pontos do mundo, e não só Moscovo, há muito perceberam o potencial de controlo na Internet.
Mas há outras formas sem ser a censura. O que é crime deve ser tratado como crime, e a defesa face a boatos, falsidades, e insultos deve permitir e facilitar as condenações, mesmo que isso implique diminuir drasticamente o anonimato. O anonimato profundo, protegido, justifica-se nalguns casos, mas não para 90% dos frequentadores das redes sociais. Podem usar pseudónimos, mas o nome deve ser detectável caso haja delitos de opinião e abusos. Mas a principal arma é a educação, desde o jardim-de-infância que as crianças, assim como os adultos, devem conhecer o jogo perigoso em que estão metidos. Não é fácil, porque muito do que acontece nas redes sociais é impulsionado por tendências de fundo da sociedade, mas parece-me bem melhor do que a censura.
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19.8.18
Dica (797)
O jornalismo português é burro? (Pedro Tadeu)
«Tirando alguma informação sobre Angola e o Brasil (normalmente noticiário ideologicamente motivado, setorialmente influenciado ou lusocêntrico, o que não tem mal nenhum, mas é limitativo para nos dar um retrato sério e completo desses países) sabemos muito pouco sobre o dia-a-dia social e político dos povos que gostamos de apelidar de "irmãos". (…)
Estas notícias dizem mais ao coração de centenas de milhares (milhões?) de imigrantes desses países que residem em Portugal, potenciais leitores de órgãos de comunicação social portugueses, do que qualquer manifestação contra imigrantes num país do centro da Europa.»
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Les beaux esprits se rencontrent
A ministra dos Negócios Estrangeiros da Áustria casa-se e dança com o convidado e amigo Putin.
(Mais aqui.)
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Lorca e os ciganos
Federico García Lorca conta-se entre as primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola. Foi fuzilado, com apenas 38 anos, em Agosto de 1936, entre os dias 17 e 19, pelo seu alinhamento político com os Republicanos e por ser declaradamente homossexual.
Todos os anos nesta data, em Viznar, perto de Granada, ciganos cantam, dançam e dizem poesia em honra de Lorca e de cerca de 3.000 fuzilados pelos franquistas, cujas ossadas se encontram por perto. De madrugada, à luz de velas e das estrelas, sem nada programado, sem nenhuma convocação formal.
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