«Não me sinto confortável com aquilo que a maioria das pessoas acha bem: os donos das principais "redes sociais" (com excepção do Twitter) estão a fazer censura a páginas de notícias falsas, páginas individuais e de grupo consideradas promotoras de ódio, racismo, teorias conspirativas, etc. Parece-me um caminho perigoso, alimentado por uma espécie de complexo de culpa pelo que permitiram no passado. Agora querem lavar as mãos prometendo que apenas passam no crivo dos novos censores, páginas limpas, sanitárias e sem mácula. Aliás o zelo censor é muito mais fácil do que o zelo na protecção da privacidade, visto que estas redes sociais são negócios que vivem da informação privada que as pessoas irresponsavelmente e por ignorância lhes dão. O caso da Cambridge Analytica e da utilização de big data para fazer perfis eleitorais e depois orientar a propaganda, as provocações, os boatos e as falsidades é muito mais grave do que as conspirações do InfoWar.
É um caminho muito perigoso e institucionaliza como normal a censura, daquilo que não gostamos nem concordamos, aquilo mesmo que na Constituição americana era o pilar básico da liberdade de expressão. A liberdade de expressão não é para o que consideramos conveniente, com que aceitamos e concordamos, para exactamente aquilo que, dito de forma directa, nos mete nojo. Começar a separar o que se pode dizer daquilo que não se pode dizer acaba por caminhar para a cabeça das pessoas e mata a liberdade. Claro que eu sei que o problema não está apenas nos conteúdos, mas na utilização das "redes sociais" como máquinas de guerra, manipuladas por especialistas na desinformação que em vários pontos do mundo, e não só Moscovo, há muito perceberam o potencial de controlo na Internet.
Mas há outras formas sem ser a censura. O que é crime deve ser tratado como crime, e a defesa face a boatos, falsidades, e insultos deve permitir e facilitar as condenações, mesmo que isso implique diminuir drasticamente o anonimato. O anonimato profundo, protegido, justifica-se nalguns casos, mas não para 90% dos frequentadores das redes sociais. Podem usar pseudónimos, mas o nome deve ser detectável caso haja delitos de opinião e abusos. Mas a principal arma é a educação, desde o jardim-de-infância que as crianças, assim como os adultos, devem conhecer o jogo perigoso em que estão metidos. Não é fácil, porque muito do que acontece nas redes sociais é impulsionado por tendências de fundo da sociedade, mas parece-me bem melhor do que a censura.
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