Crónica de Diana Andringa, hoje, na Antena 1:
Há alguns, largos anos, numa época de constantes críticas sobre as escolas públicas, uma amiga, professora, comentou: “É curioso, mas são as pessoas que não têm filhos nas escolas que mais criticam. As que têm vêem o bom e o mau, e são menos críticas.”
Lembrei-me disso há dias, quando uma queda, acompanhada de fractura, me levou à urgência do Hospital de Torres Vedras. As semanas anteriores tinham sido pródigas em notícias de caos nas urgências hospitalares, longas horas de espera, tendo alguns doentes morrido entretanto – embora não forçosamente pela espera. Ia, portanto, preparada para o pior.
Declaração de interesses: do tempo de fugaz estudante de Medicina ficou-me a consciência de que não é uma Ciência Exacta, que nem todas as doenças têm cura, que o erro médico – mesmo quando tudo se faz para o evitar – é uma possibilidade impossível de excluir e que as condições e ritmos de trabalho desempenham papel fundamental no processo.
Isto dito, posso agora infringir a regra jornalística de que notícia é quando o homem morde no cão. É que tudo correu como devia. Embora fosse a primeira vez que ia àquele hospital a burocracia foi rápida, não esperei muito pela triagem e, colocada a pulseira amarela, embora antes de mim a perna partida de uma criança exigisse mais tempo do médico, no máximo uma hora depois estava a fazer radiografias, para logo a seguir passar à fase de redução da fractura, repetida depois de segunda radiografia, até se concluir pela necessidade de operação. Assinada a respectiva concordância – o consentimento informado – restou-me esperar, com o braço devidamente imobilizado, por vaga no bloco operatório, umas 7 horas depois. Tal como o ortopedista, o anestesista explicou-me todo o processo e toda a equipa esperou, sorridente, pelo meu acordar e... a oportunidade de jantar.
A noite de internamento foi calma e, apesar do cansaço evidente de uma das auxiliares, a simpatia do pessoal nunca esmoreceu. Saí na tarde seguinte, com consultas marcadas e – apesar de ser cedo para saber se a fractura fica devidamente consolidada – uma vontade reforçada de defender o Serviço Nacional de Saúde.
Ah, que bem que sabe dizer bem!
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