Miguel Sousa Tavares, no Expresso de hoje, 07.03.2015 (excerto):
«Vamos na pista para Tamanrasset, mas ninguém sabe se até lá encontraremos água no poço assinalado nas cartas militares e se encontraremos gasóleo na cidade tuaregue para podermos prosseguir viagem. Não temos GPS nem telemóveis, apenas a navegação incerta da bússola e o mapa das estrelas para nos guiar num imenso vazio sem horizontes conhecidos. Aqueles que tinham por obrigação liderar a caravana Portugal nesta travessia do deserto — Presidente da República e primeiro ministro — não fazem a menor ideia se o que julgam enxergar à distância é um oásis ou uma fatal miragem.
Cavaco Silva, concretamente, já não tem remissão possível: se fica longas temporadas invisível ou em silêncio (o que o país agradece), revela a sua absoluta irrelevância, conquistada por exclusivo mérito próprio; se resolve mostrar-se e abrir a boca, cai-lhe irremediavelmente em cima a irritação e o desprezo de um povo que já não o suporta e que, se pudesse, o despachava de vez já este fim-de-semana.
Pedro Passos Coelho, o jotinha a quem nenhuma pitonisa se atreveria a prever um destino de PM, “o português mais bem preparado para ser primeiro-ministro de Portugal”, como nos garante o líder parlamentar do PSD, é um náufrago da política: figurante na Europa, encostado ao abrigo da nave-capitã, e uma espécie de amanuense da República, para efeitos internos. Dali jamais saiu e jamais sairá uma ideia para Portugal, um rasgo de ousadia ou de pensamento próprio, fora do modelo em que foi formatado. Definitivamente, não foi com líderes destes que descobrimos o mundo, mas, como dizia alguém, o nosso erro é julgar que somos descendentes dos portugueses que partiram à descoberta do mundo, quando, afinal, somos, sim, descendentes dos que ficaram.»
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