3.6.23

Entradas

 


Porta de entrada do edifício Les Chardons (Cardos), Paris, 1903.
Arquitecto: Charles Klein. Ceramista: Émile Muller.

[Mais informação sobre o prédio aqui.]


Daqui.
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Qualidades únicas

 


«Marcelo recuou ao tempo em que o antigo primeiro-ministro e Presidente da República era um “militante partidário de base” para recordar a sua “vantagem comparativa”. “Era altíssimo, chegava onde ninguém chegava e, no colar cartazes acima dos cartazes dos outros, tinha uma utilidade única.»

Expresso, 01.06.2023
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A novela que esconde o drama

 

«Um dia que se faça a história de todos os casos que abalaram o Governo de António Costa desde que obteve a maioria absoluta, contar-se-á como o mais infantil dos acontecimentos se avolumou na opinião pública e na Oposição como uma arrastada e desconcertante arma de arremesso político. Sobre a menoridade da prepotência e a maximização da opacidade. Os tristes episódios de "faroeste" no Ministério das Infraestruturas são o caso político mais irrelevante, desinteressante e inconsequente dos últimos tempos, esponja que tudo absorve e tudo seca sobre o que verdadeiramente importa. Aqui jaz tudo o que aconteceu à TAP, tudo o que ainda mexe sobre o seu presente, tudo o que pode ou não fazer o seu futuro, reduzido a nada senão - quando muito - à miséria da condição humana a fazer os seus rotineiros estragos.»

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Nunca, jamais, em tempo algum

 


«O português tem as palavras suficientes, claras, claríssimas: nunca, jamais, em tempo algum. Como todas as questões importantes, elas são muito simples. Pode haver complicações a jusante, mas há um momento, que é o da decisão, em que tudo é muito simples. Porque é que o PSD em 2023 não diz esta simples frase: “Nunca, jamais, em tempo algum, o PSD fará qualquer acordo seja de que natureza for, nem parlamentar, nem governativo, nem por cima da mesa, nem por baixo da mesa, com o Chega para governar caso as eleições legislativas o tornem o maior partido, logo com a responsabilidade de formar Governo, mesmo sem ter a maioria de deputados.”

É muito simples: nunca, jamais, em tempo algum. Se o Chega permitir um Governo do PSD, porque entende que o deve fazer, sem qualquer acordo explícito ou implícito, o problema não é do PSD. O mesmo em relação ao conjunto da governação. Se querem abster-se e votar para permitir a passagem de legislação, como já fazem hoje com o PS, é um problema do Chega, não do PSD. Tudo isto devia ser muito claro, mas não é.

A razão é também muito simples, a actual direcção do PSD não quer impedir a possibilidade de um entendimento com o Chega para garantir um Governo PSD, com uma frase taxativa, e é por isso que anda com rodeios de confusão e ambiguidade. É também pelos rodeios que percebemos que essa hipótese está mais que presente na cabeça dos actuais dirigentes do PSD, que sabem que não haverá maioria absoluta e que é pouco provável que os eleitos da IL cheguem para ter uma maioria de governo. Mais sabem que, no modo como as coisas estão, os eleitos do Chega vão ser suficientes, e é por isso que se anda a enganar o povo com vacuidades ambíguas.

Tudo será feito em nome do “anti-socialismo”, princípio que, para um PSD muito radicalizado à direita, se considera permitir e valer tudo. Na verdade, permite apenas chegar ao poder, e às benesses do poder que uma parte do aparelho do PSD deseja com uma fome tão grande como o actual Tutti-Frutti e os muitos tutti-frutti revelam, em que partidos como o PSD e o PS são especialistas. Dominados pelos seus aparelhos, com os militantes como massa de manobra, pouco lhes importa a perda de qualquer honra passada, ou coerência política e ideológica, pelo apoio venenoso do Chega. E o Chega sabe que pode esperar sentado que o PSD ir-lhe-á pedir qualquer esmola. E ele far-se-á caro, porque também sabe que nessa altura tem o PSD na mão. Qualquer manual de Ciência Política explica para os totós que numa aliança deste tipo, mesmo minimalista que seja, é o partido mais pequeno mas indispensável que manda, que tem o outro capturado.

Espero que tenham vergonha e não venham com o nome de Sá Carneiro, que era de uma grande consistência política, e que, nunca, jamais, em tempo algum, consideraria que o PSD era um partido de direita, a cabeça de uma frente de direita, ainda mais de extrema-direita, o braço armado da direita radical. Sempre o colocou ao centro, entre o centro-esquerda e o centro-direita, esse lugar maldito que hoje mais que tudo a direita radical esconjura, porque acha que estar aí é “ser do PS”.

Entre os esquecimentos úteis está o facto de Sá Carneiro, na constituição da AD, ter incorporado quer os Reformadores, quer o próprio PPM, que era muito diferente do de hoje. E, como o conhecimento da abundante documentação do seu espólio revela (no Arquivo Ephemera e de há muito colocada à disposição de todos os envolvidos na publicação das suas obras, que continuam a ser publicadas sem qualquer trabalho crítico, porque fazer de outro modo incomodaria muita gente…), as piores relações eram com o CDS, só salvas pelo papel de Adelino Amaro da Costa.

Qualquer ambiguidade com o Chega, como as que teve Rui Rio e tem agora Montenegro, muda o carácter do PSD, que é isso que Sá Carneiro perceberia com uma linear clareza. Não se trata de “moderar” o Chega, nem sequer arranjar uma desculpa qualquer para eliminar o carácter racista e xenófobo do partido, a sua homofobia, o ódio às mulheres, o revivalismo da relação colonial em nome dos “combatentes”, a justificação do Estado Novo, e a desculpa da ditadura, como a sua enorme corrupção interna, ou os namoros com tudo que há de pior na extrema-direita portuguesa e europeia, do Vox a Le Pen, aos neofascistas italianos, trata-se de perceber que o seu lugar, com falinhas mais mansas, ou silêncios de oportunidade, é infecto. A falta das palavrinhas – nunca, jamais, em tempo algum – deixa o PSD bem dentro desse lugar infecto, de onde não se sai incólume, nem limpo.»

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2.6.23

Luzes

 


Luzes de parede "Trigo", bronze e vidro fosco, 1907.
René Lalique.


Daqui.
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Nova sondagem – Chega desce, Bloco sobe e PS está em queda

 


Intercampus, 02.06.2023

Detalhes AQUI.
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You got a problem Mr. Galamba

 


Expresso, 02.06.2023. Mais AQUI.
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Inteligência Artificial: um novo alerta, num contexto geopolítico imprevisível

 


«Mais de 350 especialistas e personalidades de topo acabam de publicar uma declaração alarmante sobre os perigos que podem resultar da expansão desregulada da Inteligência Artificial (IA). A lista de signatários é impressionante. Reúne os nomes mais conhecidos e mais influentes na matéria. Quase todos vivem nos Estados Unidos ou no Canadá, aos quais se juntam alguns académicos europeus e três chineses. As empresas representadas estão essencialmente baseadas na Califórnia. O depoimento é surpreendentemente breve. É um grito de alerta de uma só frase.

Aí se diz, na minha versão em português: "Mitigar o risco de extinção que pode advir da IA deverá ser uma prioridade global, e o mesmo se aplica a outros riscos de grande escala, tipo pandemias e guerra nuclear." Ao escrever extinção, referem-se à espécie humana. É uma afirmação muito séria, numa área tecnológica de ponta, de transformação social e de criação de riqueza, incluindo, como as últimas semanas o mostraram, de fortunas baseadas na valorização em bolsa de empresas de IA. É simultaneamente um aviso categórico, sem mais explicações. Porém, não pode ser ignorado. Provém de muitas das melhores cabeças na matéria.

Pode-se perguntar o que está por detrás dessa declaração. Mais, ainda. Recordo que em finais de março, Elon Musk e muitos outros assinaram um apelo a uma pausa de seis meses na expansão da IA. A petição, vinda de personalidades que têm sido pioneiras no desenvolvimento e na aplicação da IA, deixou muitos analistas perplexos. Tal como agora. Na essência, a moratória que sugeriam só seria levantada quando as autoridades - norte-americanas, na mente da maioria dos subscritores - tivessem adotado sistemas de controlo da IA, capazes de distinguir o real do falso, e posto em funcionamento as instituições de supervisão, suscetíveis de definir as regras e evitar a manipulação da opinião pública, nomeadamente nos domínios económicos e políticos. A referência à política encaixa nos que veem nas novas tecnologias instrumentos que podem ser utilizados para destruir a democracia por parte de ditadores de todas as cores, e de segmentos radicais, populistas e oportunistas.

Eles sabem do que falam. Mas hesitam em aprofundar algumas verdades que são de facto aterradoras. Não me refiro apenas à automatização dos postos de trabalho, que desta vez irá sobretudo afetar os "colarinhos brancos". A estrutura laboral será bastante diferente da atual, embora o ensino continue a formar futuros frustrados. Também não menciono os preconceitos, os enviesamentos e a filosofia de vida que estão por detrás das respostas dadas por máquinas criadas por elites com valores muito próprios.

Uma dessas verdades diz respeito à concorrência desenfreada entre as empresas de computação mais determinantes, que procuram vencer a corrida através do desenvolvimento e a comercialização de sistemas numéricos cada vez mais avançados e autónomos, com capacidades de aprendizagem automática. Pode ser uma corrida para o desastre.

Um outro alerta apontaria para as indústrias da guerra. Os signatários sabem que certas forças armadas estão a transformar a IA no instrumento fundamental das guerras de amanhã. Podemos chegar a um ponto em que não haverá tempo para uma decisão humana: a máquina decidirá por si só disparar, e disparará.

E temos pela frente a problemática da competição geopolítica entre os EUA e a China, as superpotências que de facto contam. Se houver guerra, que muitos temem que possa acontecer na segunda metade desta década, vencerá quem estiver mais avançado na utilização da IA. Neste momento, a vantagem parece estar do lado americano. E mais ainda: sempre que outros países desenvolvem algo de novo, como é o caso da Índia, que está a investir a sério na formação de especialistas e na criação de start-ups, o sistema de atração e as forças do mercado levam grandemente à transferência desses conhecimentos e empresas para a Califórnia.

Não se sabe em que ponto se encontra a China. Mas devemos estar cientes que os avanços da IA no domínio militar poderão provocar, em caso de conflito, uma situação fora do controlo humano. E com isto voltamos ao ponto de partida: se não houver cooperação nesta matéria, estaremos de facto numa via que pode levar a um desastre em larga escala. Por isso, o G7 acaba de criar um grupo de trabalho sobre a IA. A UE e os EUA também procuram criar uma referência comum. Mas tratando-se de um risco global, a sua gestão deveria caber a uma instituição multilateral, no quadro da ONU. Como o apelo deixa entender.»

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1.6.23

Molduras

 


Molduras Arte Nova, final do século XIX/início do século XX.

Daqui.
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01.06.1967 – Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

 


Foi há 56 anos que os Beatles lançaram o álbum em Londres (e, nos Estados Unidos, no dia seguinte). Considerado um dos mais importantes exemplares da história do rock e, em 2003, colocado em primeiro lugar na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame, pela revista «Rolling Stone», foi gravado numa fase de um certo «recuo», com os Beatles cansados de digressões e no rescaldo do escândalo provocado pelas declarações de John Lennon quando afirmou que o conjunto de Liverpool era mais popular do que Jesus Cristo. Trata-se de um álbum extremamente inovador, desde a capa à técnica de gravação.

A BBC considerou que várias canções tinham letras influenciadas por drogas e proibiu que fossem transmitidas («A Day in The Life», «Lucy in the Sky with Diamonds»), mas, só nos EUA, foram vendidas mais de 11 milhões de cópias do LP.

Bem difícil se torna a escolha de algumas canções, entre as treze, mas repesco três: 






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Mudam-se os tempos

 

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Quando a política vira comédia... ou drama

 


«Um "simples" adjunto de um ministro pode fazer cair o governo, obrigando a eleições antecipadas, se o bom senso do Presidente da República não prevalecer.

Nas últimas duas semanas o líder da oposição, ajudado por figuras do arquivo do próprio partido, tem conseguido distrair jornalistas e comentadores políticos com o desaparecimento/recuperação de um computador a que pretensamente se juntam agressões entre colegas ou ex-colegas de serviço.

Uma comissão de inquérito à TAP, cujo assunto é verdadeiramente importante, anda ocupada com o assunto do computador: interveio supostamente o SIS, onde deveria ter sido a Polícia Judiciária, ou a PSP, a mando não se percebeu ainda de quem, nem porquê.

Sejamos honestos: ao cidadão comum o assunto interessa pouco ou nada. Ainda que pareça que os elementos do governo envolvidos não estão à vontade com a história que veio a público e que as verdades possam não ser coincidentes, não justifica tanto e permanente alarido nos órgãos de comunicação, nem tão pouco inquirições na CPI de 7 horas aos envolvidos.

O que importa verdadeiramente no caso TAP é como estão a ser usados os milhões que os Portugueses lá investiram e quando é que a empresa deixa de precisar de ajudas financeiras que são necessárias para as melhorias que são urgentes na saúde, no ensino, na justiça, na ferrovia e em muitos outros investimentos essenciais.

Aos portugueses importa que governo e oposição se concentrem em apresentar soluções que melhorem financeiramente a vida de todos nós, que permitam melhores empregos, melhores condições de vida, menos impostos e mais qualidade dos serviços que destes dependem.

Os portugueses não precisam de instabilidade política permanente. Não precisam que o governo e a maioria falhem na gestão que lhes cabe, ou que adotem comportamentos que ponham a causa a credibilidade das instituições e da ação política. Mas precisam ainda menos de uma oposição sem ideias, que se limita a repetir até à exaustão que estamos muito mal e que é obrigatório mudar de governo, porque o SIS interveio e não devia.

Na realidade no meio de tanta distração, ainda não ouvimos grandes comentários aos indicadores da economia, que cresceu 1,6% no primeiro trimestre do ano e ficou no pódio da zona euro, à travagem da inflação de 7,4% para 5,7%, ou à melhoria da confiança dos portugueses que atingiu o seu máximo desde fevereiro de 2022.

Aos portugueses interessa verdade, seriedade, ética e bom senso, aplicados aos assuntos que podem mudar a vida de cada um. Não nos esqueçamos que as mesmas forças políticas que reclamam eleições antecipadas, já o fizeram há um ano atrás, embora com outros protagonistas, tendo os portugueses respondido em sentido antagónico ao que estes pretendiam.»

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Estátuas? Não é o mesmo o nosso forte

 


Agora este Eduardo Lourenço!
#valhanosdeus
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31.5.23

Vitrais

 


Janelas com vitrais florais, Château Astremoine abandonado, Allier, França, cerca de 1890.

[Informação sobre a história do castelo aqui.]

Daqui.
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Nada a esconder, antes pelo contrário

 

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Classe média redescoberta

 


«Coincidência ou não, depois de alguns meses de consecutivas peripécias e de pressões multilaterais para remodelar o Governo, António Costa redescobriu a classe média. Não sei se o seu ângulo de abordagem é o que interessa mais ao partido que lidera ou ao país, mas a verdade é que há aqui laivos de uma epifania política cujos próximos episódios podem cativar vasta audiência.

E o que disse, afinal, o primeiro-ministro? Para se defender a democracia e a liberdade, é necessário "dar oportunidades à classe média", considerando que, quando esse estrato social se sente "desamparado", cria-se "terreno fértil" para a extrema-direita. Não querendo desmentir o secretário-geral do PS, a verdade é que a frase "dar oportunidades" pode significar o início de um caminho rumo às legislativas de 2026. Quando há riqueza gerada, com ou sem ajuda de fundos europeus, a inteligência estratégica dos políticos aconselha a distribuí-la de forma sábia e pausada. Ou seja, não convém gastar as munições de uma vez só, tendo em conta que o beneficiário das medidas governamentais costuma ser mal-agradecido devido à sua memória curta.

Desde 2015, o discurso de Costa tem-se centrado mais na defesa dos mais pobres entre os pobres - atente-se no ritmo de aumento do salário mínimo e dos múltiplos apoios sociais criados ou reforçados -, mas terá agora chegado o tempo de olhar para o meio da pirâmide. A classe média representa mais de metade da população votante e tem sido empurrada sucessivamente para baixo, colando-se à base. Basta olhar para os setores e profissões que mais têm contestado o Governo através de greves. Estamos a falar de professores, oficiais de justiça e de enfermeiros. Não estamos a falar de quem ganha o salário mínimo, pese embora possa auferir rendimentos cada vez mais baixos em termos reais, devido à inflação, sem contar com apoios do Executivo para mitigar esse empobrecimento.»

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Obrigada, José Pinho (1953-2023)


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30.5.23

Elevadores e vitrais

 


Vitrais e elevador Arte Nova, Gran Hotel Cidade do México, 1899.
Projecto do edifício por Daniel Garza, clarabóia de vitrais por Jacques Grüber.

Daqui.
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Espanha: desastre nas autárquicas, legislativas à vista

 


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O fim do «Maio de 68»

 


Há 55 anos o general de Gaulle pôs fim a um mês verdadeiramente alucinante que a França viveu em 1968. Numa alocução difundida pela rádio dissolveu a Assembleia Nacional e anunciou a realização de eleições antecipadas: contra o perigo do «comunismo totalitário»: «La Réplubique n'abdiquera pas!»

Nessa mesma noite, uma gigantesca manifestação de apoio (fala-se de 500.000 pessoas) invadiu os Campos Elíseos e marcou o desejo de «regresso à ordem», que os resultados das eleições, que tiveram lugar em 23 e 30 de Junho, confirmaram com uma vitória esmagadora da direita.

Dois vídeos, um com o discurso de De Gaulle, outro sobre a manifestação, AQUI.
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Uma outra dor

 


«Vasos com flores secas. Calendários desatualizados. Ordens de serviço afixadas, mas já fora de prazo. Cadeiras partidas e não removidas. O que tem isto que ver com recursos financeiros e respetivas prioridades? Tem que ver apenas com desleixo, ausência de zelo e irresponsabilidade. De quem? Das respetivas administrações.

Hesitei muito tempo em tomar uma posição pública sobre o que se passa no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e particularmente no Instituto Português de Oncologia (IPO), de que sou utente há mais de uma década. Por razão da responsabilidade institucional e pública que exerço. E porque não pretendo qualquer atendimento distinto daquele que têm os restantes utentes. Mas a admiração que tenho por todos os profissionais, que nas condições mais adversas trabalham nos hospitais públicos e os direitos dos doentes, levam-me a quebrar o silêncio.

Esperei meses para obter um exame, pese embora as diligências dos médicos, atendendo a ter uma doença em progressão com elevado grau de risco, o que veio a confirmar-se quando finalmente realizei o exame; faltas constantes de material básico como adesivos ou desinfetante adequados à natureza da intervenção; a ausência de um simples cabide para pendurar a roupa na sala de quimioterapia; esperas prolongadas; um contentor transformado em sala de quimioterapia; tudo bem diferente, para pior, de quando comecei a ter necessidade de recorrer aos serviços daquela que é considerada, em Portugal, uma unidade de referência no domínio oncológico.

Há poucos anos, um dos mais qualificados quadros do corpo médico, um especialista de referência, suicidou-se no próprio serviço. Ignoro os motivos. Ou se teve algo que ver com o serviço. Mas não ignoro como o assunto foi rapidamente retirado de qualquer escrutínio. Quem lá trabalha, médicos, enfermeiros e restante pessoal de apoio, imagino as estórias que tem para contar. Porque, nas horas de espera em que se aguarda o atendimento, o que escutamos de gente simples, que viaja centenas de quilómetros para poder acrescentar alguma esperança à vida, é aterrador.

A responsabilidade política pelo que hoje se passa no Serviço Nacional de Saúde tem uma dimensão inaudita. O facto de o recurso ao SNS ser feito na esmagadora maioria por pessoas de níveis sociais baixos, sem meios financeiros para recorrer ao privado, com pouca capacidade expositiva e reivindicativa, faz com que o que é do conhecimento público seja sobretudo canalizado pelos grupos profissionais que lá trabalham e respetivas organizações de classe e de uma ou outra denúncia da comunicação social.

A completa partidarização de cargos de topo de responsabilidade administrativa e gestionária, a presença de pessoas preparadas para perceber de números e contas, mas completamente insensíveis à doença e ao sofrimento dos outros, no plano humano e comunicacional, traduz-se na degradação de um serviço justamente apontado como uma das grandes conquistas do regime democrático.

Durante muito tempo também me cansava das sucessivas denúncias dos responsáveis da Ordem dos Médicos ou da classe dos enfermeiros sobre a situação do setor. Hoje sinto que fazem falta. E que as suas denúncias eram, e são, afinal, as únicas que não silenciam o que se passa no SNS.

Quem entra uma vez no IPO nunca mais de lá sai. Nem que seja para saber que a situação que lá o levou está ultrapassada. Mas é sempre preciso lá voltar para verificar se não ocorreu uma recidiva. É um regime de visitas periódicas. De liberdade vigiada. Nem a quem é preso isto ocorre. Cumprida a pena, se não houver novo crime, não regressa. No IPO é para o resto da vida. E, à medida que ela encurta, percebemos que o que devia estar a corresponder ao que dele necessitamos se está a degradar, acrescentando à doença uma outra dor.

Este é o testemunho de um doente cansado, triste, desalentado, mas não resignado. Que ele possa ser útil aos que a vida, um dia, levou para aquelas bandas!»

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29.5.23

Sofás

 


Sofá para fumadores, Museu Orsay, Paris, 1897.
Hector Guimard.

[Há quem diga que caixa à esquerda, em cima, era para repouso do gato…] 

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Maria Mortágua, 28.05.2023

 


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Que se lixe o circo

 


«Apesar do crescimento económico, os portugueses vivem um momento extraordinariamente difícil. Os salários não acompanham a inflação e os aumentos das taxas de juro sobrecarregam os orçamentos das famílias endividadas. Os excedentes orçamentais não escondem a degradação dos serviços públicos e a sangria de profissionais qualificados do Estado. Jovens e menos jovens são expulsos de cidades transformadas em activos financeiros, numa crise da habitação sem precedentes. Há uma década, Luís Montenegro dizia, em defesa do Governo de Pedro Passos Coelho, que a vida das pessoas não estava melhor, mas o país estava muito melhor. Esse parece ter voltado a ser o discurso oficial.

O Serviço Nacional de Saúde, que já foi um dos maiores orgulhos da nossa democracia, tem sido uma das principais vítimas do desinvestimento nos profissionais do Estado e nos serviços públicos. No início do mês de Maio, abriu um concurso para 978 vagas para medicina geral e familiar. Apenas 393 médicos foram admitidos, todos os que concorreram. Num país onde quase 1,7 milhões de utentes não têm médico de família, este brutal falhanço não teve grande impacto mediático. A comunicação social estava concentrada noutros temas.

É com estupefacção que os subscritores deste texto observam o divórcio entre o debate político e mediático e a vida concreta das pessoas. Não desprezamos episódios que põem em causa a dignidade das instituições, mas nada corrói mais os alicerces da democracia do que a ausência de resposta às necessidades mais básicas da população. É incompreensível que as duas principais figuras do Estado se entretenham a medir forças entre si enquanto o país lida com dificuldades quotidianas.

É com estupefacção que acompanhamos as intermináveis novelas mediáticas. Entre o que é simbólico ou circunstancial e os crescentes problemas concretos das pessoas, existe uma absurda desproporção de atenção. Esta secundarização da crise social acompanha a tentativa de alimentar uma crise política artificial, instalando a ideia de que é preciso é mudar de governo sem que se discutam as grandes opções orçamentais.

Fora da bolha mediática onde Presidente da República e primeiro-ministro jogam o seu jogo cínico, o país tem tentado fazer-se ouvir. Nos protestos dos profissionais do Estado, abandonados no foguetório dos excedentes orçamentais. Nas manifestações de jovens pelo direito à habitação. E agora, em mais uma manifestação em defesa do SNS – depois da que se realizou no dia 20 de maio –, marcada para 3 de junho no Largo Camões, em Lisboa.

Defender a dignidade das instituições é, antes de tudo, travar a degradação dos pilares do Estado Social. A democracia portuguesa assenta na Escola Pública, no Serviço Nacional de Saúde e na conquista de direitos sociais e económicos para grande parte da população. A redução da política a episódios mais ou menos caricatos, para não discutir a vida concreta das pessoas, dirige o descontentamento para o populismo de extrema-direita, que se naturaliza perante comportamentos indignos de governantes sem ter de revelar as suas propostas.

Como democratas, desejamos condições políticas para que, à esquerda ou à direita, se confrontem alternativas que respondam aos problemas das pessoas. Temos problemas mais graves do que o paradeiro de um computador, tema que ocupou três semanas do tempo mediático. É urgente recentrar o debate político. O nosso lado é a defesa do poder de compra do povo e da dignidade do Estado Social.

É para dar voz a um país que não se contenta com o entretenimento informativo e quer a vida das pessoas no centro do debate político que, no próximo dia 3, exigimos que a salvação do SNS se transforme numa verdadeira emergência nacional. Há uma década gritámos: "Que se lixe a troika, queremos a nossas vidas". Hoje, é tempo de gritar: "Que se lixe o circo, queremos as nossas vidas".

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Obrigada Catarina Martins, força Mariana Mortágua!

 

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28.5.23

 


Porta de entrada de um edifício, Estrasburgo, 1901-1903.
Arquitectos: Franz Lütke e Heinrich Backes.


Daqui.
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28.05.1926 – Data inesquecível

 


Recordo a data quase todos os anos, não só para preservar a memória, mas porque ela deixou marcas – talvez mais visíveis hoje do que há alguns anos.

Em 1926, um dia terrível e decisivo na nossa História marcou o fim da 1ª República e esteve na origem do Estado Novo. Todos os anos havia comemorações, mas duas ficaram na memória.

Foi num outro 28 de Maio, mais concretamente em 1936, no 10º aniversário da «Revolução Nacional», que Salazar proferiu um discurso que viria a ficar tristemente célebre: «Não discutimos a pátria...»





Ainda num outro aniversário – no 40º, em 1966 – o chefe do governo, então com 77 anos, viajou pela primeira vez de avião até ao Porto (entre os outros passageiros, acompanhado pela governanta) para assistir às celebrações que tiveram lugar em Braga.

Fez então um discurso que ficou célebre sobretudo pela expectativa que criou e que deixou o país suspenso - lembro-me como se fosse hoje!. Vale a pena ver a partir do minuto 30:44:

«Neste lindo dia de Maio, na velha cidade de Braga (…), ao celebrar-se o 40º ano do 28 de Maio (…), eis um belo momento para pôr ponto nos trinta e oito anos que levo feitos de amargurado Governo.» Depois de uma interrupção provocada por muitos gritos de protesto da assistência, continuou: «Só não me permito a mim próprio nem o gesto nem o propósito, porque, no estado de desvairo em que se encontra o mundo, tal acto seria tido como seguro sinal de alteração da política seguida em defesa da integridade pátria e arriscar-se-ia a prejudicar a situação definitivamente conquistada além-mar pelos muito milhares de heróis anónimos que ali se batem. É então mais que justo que os recordemos e saudemos daqui».





E ficou – até que uma cadeira cumpriu a sua missão histórica.
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Comboios

 

Uma boa leitura para uma tarde de domingo? Este texto de António Araújo:

Pouca-terra
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Populismo é... Cinco cromos

 


«Podíamos fazer uma colecção de cromos cujo título na capa da caderneta fosse “Populismo é...”. Se os políticos parecem baralhados sobre o que é o populismo, imaginem os nossos filhos.

Aqui vai uma modesta contribuição.

1. Populismo é dizer que os imigrantes entram em Portugal “de qualquer maneira” para usar “os nossos bens públicos”, como ouvi há dias no Parlamento.

Há 660 mil estrangeiros legais em Portugal que contribuem para o sistema da Segurança Social (SS).

Esta semana, foi revelado que a SS tem um excedente de 4000 milhões de euros, o maior em mais de uma década. Das receitas da SS, 13% são pagas por trabalhadores estrangeiros.

Em 2021, os trabalhadores estrangeiros contribuíram com 1200 milhões de euros para a SS, na altura um recorde.

Em 2022, os trabalhadores estrangeiros contribuíram com 1500 milhões de euros para a SS, um novo recorde — mais 19%.

O Observatório das Migrações já mostrou que os imigrantes dão muito mais do que aquilo que recebem do Estado português.

Estas contribuições são pagas por muitos dos 95.122 cidadãos dos Países de Língua Oficial Portuguesa que trabalham em Portugal (eram 100.928 em 2010) e os 21.015 nepaleses (eram 797 em 2010) e os 9916 bangladeshianos (eram 1007 em 2010) e os 6381 paquistaneses (eram 2604 em 2010).

Mas também pelos 16.981 espanhóis (eram 8918 em 2010) e os 28.629 ucranianos (eram 49.505 em 2010) e os 46.239 britânicos (eram 17.202 em 2010).

Sim, há ilegais, há tráfico humano e há até — imagine-se — um esquema de venda de cartas de condução falsas a motoristas estrangeiros de TVDE, como ainda ontem ouvi no Parlamento. Mas são a excepção.

Desde 2015, o peso das contribuições dos trabalhadores estrangeiros no sistema português aumentou de 3% para 13% — são mais 400 mil trabalhadores a contribuir em oito anos.

Entre o que os estrangeiros pagaram ao Estado e o que receberam do Estado, o saldo foi de 968 milhões de euros — 968 milhões de lucro para o país. Não é menos, é mais.

Legenda para pôr na caderneta dos cromos: os imigrantes estrangeiros usam “os nossos bens públicos”, é verdade, mas pagam por eles e dão lucro a Portugal. Pagam mais ao Estado do que ganham em benefícios do Estado.

2. Populismo é dizer que os portugueses emigram para “fugir do socialismo”.

Se fosse verdade, o que dizer dos milhares de cidadãos que decidem mudar-se para cá e deixam os seus países governados por partidos de direita?

Exemplos de doidos varridos que escolheram um “país socialista” vindos de paraísos governados por políticos conservadores:

— 946 húngaros (eram 428 em 2010);

— 3061 polacos (eram 1195 em 2010);

— 10.392 holandeses (eram 4725);

— 1372 austríacos (eram 494);

— 16.041 alemães (eram 8967);

— 28.159 italianos (eram 5067);

— 46.239 britânicos (eram 17.202).

Ah, são reformados que vêm gozar o nosso sol, tranquilidade e preços baixos.

Mas todos?

Claro que não. Há 50 mil estrangeiros reformados em Portugal e os três grandes grupos são os britânicos (11.610), os brasileiros (5600) e os franceses (2969).

Ah, são os que compraram um “visto dourado” — já agora uma política que é zero socialista. Alguns, sim, mas a minoria. Os “vistos gold” foram sobretudo atribuídos a pessoas que vieram de países comunistas como a China (5281), países capitalistas como os EUA (579) e países que tiveram governos consecutivos dos extremos opostos como o Brasil (1187).

Além disso, há duas décadas que os portugueses saem para trabalhar no estrangeiro em fluxos mais ou menos estáveis, sobretudo para os países mais ricos do que nós e que estão “à mão”, como a Suíça, o Reino Unido, a Espanha e a Alemanha. Em 2021, terão emigrado 60 mil portugueses, menos 20 mil do que em 2019.

Legenda para pôr na caderneta dos cromos: de entre os portugueses que emigram, há com certeza muitos que detestam o Partido Socialista. Mas à excepção dos anos da troika, em que emigraram mais, nos anos em que o PSD esteve no governo os portugueses emigraram mais ou menos em números iguais. Estavam a fugir do PSD?

3. Populismo é dizer que os imigrantes “roubam os nossos postos de trabalho”.

Mais de 50% dos estrangeiros que trabalham em Portugal fazem trabalhos pouco qualificados (por oposição a 38% dos portugueses), trabalhos que muitos portugueses, mesmo estando desempregados, não querem ou não conseguem fazer.

Não sou eu que o digo, é o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).

Dos 295 mil desempregados que temos hoje, 27% são “trabalhadores não qualificados”, 20% são “trabalhadores dos serviços pessoais, de protecção e vendedores” e 12% são “pessoal administrativo”, ou seja, 60% dos desempregados.

Além disso, o desemprego recuou: os 295 mil de Abril são menos do que em Março e menos do que em Abril do ano passado. Não são mais desempregados, são menos. Mesmo com os imigrantes a aumentar de ano para ano.

4. Populismo é dizer que mais imigração faz aumentar o crime.

Basta ver as estatísticas do crime e o número de estrangeiros presos em Portugal para ver que isso é falso.

— Em 2021, tínhamos o número recorde de estrangeiros a viver em Portugal, os tais 660 mil.

— Em 2013, havia 2600 reclusos estrangeiros em Portugal e em 2021 havia 1600. Não é mais, é menos.

— Em 2013, houve 20.147 “crimes violentos e graves” e em 2022 houve 13.281. Não é mais, é menos.

Vi notícias que diziam que o crime violento e grave aumentou 14% em 2022. Mas isso é daquelas coisas que são verdade e mentira ao mesmo tempo. É verdade, porque quando se compara com 2021. Mas em 2021 tinha diminuído 14%, porque estávamos ainda muito fechados em casa por causa da pandemia. Se compararmos com 2019, o ano pré-pandemia, vemos que a criminalidade geral aumentou — 2,5% — e que a criminalidade violenta diminui 8%. Não é mais, é menos.

5. Populismo é dizer que é preciso debater “o problema da segurança” no Parlamento, quando Portugal é um dos países mais seguros do mundo — é o sexto no ranking mundial, a seguir à Islândia, Nova Zelândia, Irlanda, Dinamarca e Áustria. O Brasil está na posição 130.ª.

As legendas omissas são todas tão óbvias que nem vale a pena fazê-las.»

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