13.8.16
Incêndios: e se os políticos não fizessem promessas?
«Será que os políticos não podem fazer um voto de silêncio até ao fim da época de incêndios, no que diz respeito a promessas? Acima de tudo, não nos tratem como crianças. Nós sabemos que este é o país do eucalipto, do abandono do interior e da decadência da agricultura. Nós vivemos no país onde a floresta entra pelas povoações dentro e os proprietários não limpam terrenos, e já por cá andávamos quando foi aprovado, em 2006, o Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios. E, sim, nós também sabemos, mesmo que façamos de conta que não, que temos um quadro legal duro para com os incendiários e que, mais do que com mangueira, os incêndios se têm de combater de enxada e machado.»
David Pontes
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Dica (359)
Neoliberalism– the ideology at the root of all our problems. (George Monbiot)
«Financial meltdown, environmental disaster and even the rise of Donald Trump – neoliberalism has played its part in them all. Why has the left failed to come up with an alternative?»
. Embaraços na chamada União Europeia
«Estabelece-se esmerada confusão entre o propósito e o realmente tido como tal. O recente imbróglio, estabelecido na "União" Europeia, durante meses, a fim de apavorar Portugal e Espanha, resultou numa coisa pífia, afinal conducente a um resultado nulo. Mas preocupou populações durante meses. O próprio presidente da UE alimentou esse equívoco, especialmente provocado pela Alemanha. O mal-estar desenvolveu-se durante meses. E criou embaraços insistentes em países como Portugal. Entendeu-se que esta Alemanha deseja, antes de tudo, criar um nivelamento com duas nações a dirigir e o resto a ser dirigido.
Nada disto é vital, nada disto é normal e escapa ao equilíbrio estabelecido pelos ideais fundadores da União Europeia, que desejavam um equilíbrio de forças impeditivo de qualquer hegemonia. (…)
A União Europeia é tudo menos aquilo que a expressão pretende enunciar. Constituiu para nós, portugueses, uma ignomínia. As comissões dirigidas por Sócrates ou Passos Coelho, cuja subserviência em relação a Angela Merkel assumiram, tiveram sempre as características de total sujeição. E as coisas não vão melhorar. Alguns países não escondem a incomodidade em submeterem-se às injunções alemãs, ameaçando abandonar a União. Esta, devido a circunstâncias especiais, tem sido dirigida pela gestão de Direita, com os resultados conhecidos e uma crescente incomodidade da parte de alguns recalcitrantes.
Isto, para assinalar que as coisas não correm no melhor dos mundos. As grandes questões são constantemente ocultadas ou dissimuladas, e a recente saída do Reino Unido assinalou os abalos que a União atravessa. As coisas estão seriamente ameaçadas, e não se trata, apenas, da supremacia alemã, mas sim das próprias debilidades da construção do projecto. As coisas estão à vista, e nem os discursos apaziguadores dos dirigentes europeus conseguem neutralizar o mal-estar que se vive na Europa.»
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12.8.16
O meu marido hoje nem me bateu
«A posição dos euroconfortados é portanto perigosa, porque quanto mais se acentua a divergência europeia como consequência desejada das suas regras discriminatórias, mais nos pedem que “aguentemos, aguentemos”, para lembrar um célebre dito de um banqueiro. O Tratado Orçamental existe precisamente para garantir que, no percurso até 2034, Portugal estará todos os anos sujeito a multas e reprimendas, se não cumprir as determinações orçamentais de vigilantes comissários europeus. A não sairmos desse colete de forças, os próximos vinte anos da nossa vida vão ser esta farândola de sanções, até haver o governo que transija e cumpra o receituário recessivo.
Augurar que a pressão da União Europeia virá a ser aliviada é proceder exactamente como aquela vítima da violência doméstica que nos assevera que o marido até é boa pessoa, porque hoje não lhe bateu.»
Francisco Louçã
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O IMI dos caracóis
«Estando de férias, apenas consigo pensar que os caracóis têm uma casa e que põem os pauzinhos ao sol e receio que, em vez de IVA, passem a cobrar IMI no caracol e que o pires vá para os 800 euros.»
João Quadros
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Os portugueses são estúpidos?
«Todos os anos temos a mesma lengalenga. O país cobre-se de incêndios de norte a sul passando pelas ilhas.
Às televisões, invadidas pelas labaredas e por uma histeria maior do que a habitual, acorrem especialistas enumerando as causas dos sinistros, propondo as mesmas soluções de sempre, misturados com o natural desespero dos populares que tentam apagar fogos com baldes e mangueiras precárias. Já os jornalistas nunca resistem a falar dos cenários dantescos revelando que nunca leram "A Divina Comédia" de Dante. De resto, os políticos expressam solidariedade com as populações, o que é à borla e fica sempre bem, enquanto o Governo promete mais meios, coisa que diga-se em abono da verdade, têm cumprido ao longo dos anos. Nunca houve tanto bombeiro, tanto carro, avião e helicóptero. E, no entanto, o país continua a arder. (…)
O problema dos fogos é também esse. Instalou-se em Portugal um poderoso lóbi, que há quem, menos comedido, chame uma verdadeira máfia, que canaliza todas as verbas disponíveis para o combate ao fogo. A gestão da floresta e a prevenção ficam com as migalhas. Portugal não precisa de mais bombeiros. Precisa de mais engenheiros florestais. (…)
Infelizmente, aquilo que se ganhou em ligeiro progresso económico não se conquistou em inteligência. Ter habitações no meio de matos ressequidos não é uma boa ideia. A preguiça em prevenir o fogo, limpando as matas, faz com que este consuma as casas, outro património e vidas. É assim tão difícil de perceber?
A dificuldade em encontrar os proprietários, em obrigá-los a fazer a limpeza ou a inércia das entidades responsáveis também não servem de justificação. O Estado, como todos sabemos, é eficiente sempre que quer. Há quem diga que isto não vai lá com multas. A realidade diz o contrário: vai, vai. Não há outra maneira. Infelizmente a maioria das pessoas só muda à força. Não o faz por informação, persuasão e raciocínio.
Arrume-se a floresta, modernize-se a sua gestão, aplique-se a lei e multe-se pesadamente quem não a limpa. Quem não tem capacidade para o fazer venda. A propriedade não é um bem absoluto. Inútil, abandonada, é um risco para todos.
Em suma: passe-se da estupidez para a inteligência.»
Leonel Moura
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11.8.16
Dica (358)
«The recent spate of deadly attacks in Germany have highlighted the need to intervene with angry young men before they turn to extremism or violence. But the country has a lot of catching up to do -- and the work can be controversial.»
. Solidariedade de «quem»?!
Esta senhora ministra vive em Marte, este governe não aprende! Ajuda da Europa???
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Incêndios e opinantes
Eu não percebo nada de incêndios nem de estratégias para os evitar.
Entretanto, já li e ouvi um batalhão de opinantes que vão dizendo tudo e mais ou menos o seu contrário. Mas se aprendi alguma coisa foi com EUGÉNIO SEQUEIRA, ontem, 10/8, pouco depois das 21h, na RTP3. Se puderem, rebobinem com ajuda da box porque julgo que vale a pena.
P.S. – Afinal, pode ser visto também AQUI, a partir de minuto 24:30.
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Globalização desconectada
«Embora aparentemente elegante, em teoria, a globalização sofre na prática. Essa é a lição do Brexit e da ascensão de Donald Trump, nos Estados Unidos. E também está na base da cada vez mais virulenta reacção contra a China que se estende, agora, a todo o mundo. Aqueles que veneram o livre comércio – incluindo eu – devem enfrentar esta desconexão gritante. (…)
Nos Estados Unidos, a ascendência de Trump e a tracção política adquirida pela campanha do senador Bernie Sanders nas primárias reflectem muitos dos mesmos sentimentos que levaram so Brexit. Da imigração à liberalização do comércio, as pressões económicas sobre uma classe média sitiada contradizem as promessas centrais da globalização. (…)
Naturalmente, esta não é a primeira vez que a globalização enfrenta problemas. A globalização 1.0 - o aumento do comércio global e dos fluxos de capitais internacionais que ocorreu no final do século XIX e início do XX – chegou ao fim entre a Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão. O comércio global diminuiu em cerca de 60% entre 1929 e 1932, com as grandes economias a virarem-se para dentro e a abraçarem políticas comerciais proteccionistas, como a lei americana Smoot-Hawley, de 1930.
Mas os riscos podem ser maiores se a poderosa globalização de hoje tiver um destino semelhante. Em contraste com a Globalização 1.0, que estava largamente confinada ao intercâmbio transfronteiriço de bens tangíveis, o alcance da Globalização 2.0 é muito mais amplo, incluindo o comércio crescente de muitos dos chamados intangíveis - outrora serviços não transaccionáveis.
Da mesma forma, os meios da Globalização 2.0 são muito mais sofisticados do que os da sua antecessora. A conectividade da Globalização 1.0 ocorreu através de navios, ferrovias e veículos motorizados. Hoje, esses sistemas de transporte são muito mais avançados - reforçados pela internet e pela melhoria das cadeias de abastecimento globais. A internet também permitiu a disseminação transfronteiriça instantânea de serviços baseados no conhecimento, como programação de software, engenharia e design, avaliação médica e contabilidade, trabalho jurídico e de consultoria.
O contraste mais nítido entre as duas ondas de globalização está na velocidade de absorção e disrupção da tecnologia. Têm sido adoptadas novas tecnologias da informação a um ritmo anormalmente rápido. Só foram precisos cinco anos para 50 milhões de domicílios dos EUA começarem a navegar na Internet, enquanto que foram necessários 38 anos para que um número semelhante tivesse acesso a rádios. (…)
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A formulação de políticas mais adequadas deve ter em conta as pressões poderosas que recaem agora sobre um conjunto muito mais amplo de trabalhadores. A hiper-velocidade da Globalização 2.0 sugere a necessidade de apoios mais rápidos e de maior alcance para a requalificação profissional dos trabalhadores, subsídios de deslocalização, assistência na procura de emprego e subsídios de desemprego com duração superior.
Como nos adverte a história, a alternativa – seja o Brexit ou o novo isolacionismo dos Estados Unidos - é um acidente prestes a acontecer. Cabe aos defensores do livre comércio e da globalização evitar esse cenário, através de soluções concretas que resolvam os problemas muito reais que afligem tantos trabalhadores.»
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10.8.16
O caso dos secretários de Estado viajantes
A esperança de que Marcelo e António Costa consertassem e concertassem uma decisão decente deve ter escapado entre as labaredas e os pingos das mangueiras dos dias que correm.
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Dica (357)
«Google Maps est accusé d’avoir rayé la Palestine de sa carte et Internet s’émeut. Mais ce n’est pas nouveau, et ce n’est pas une erreur.»
, O fogo e o gelo
«Em "Fahrenheit 451", a notável obra de Ray Bradbury, Guy Montag é um bombeiro que queima livros. Nesse mundo do futuro os bombeiros não apagam fogos.
O mundo está virado do avesso: as pessoas não lêem livros, não apreciam a natureza, não pensam por si próprios. Pelo contrário, conduzem demasiado depressa, vêem quantidades excessivas de televisão e escutam rádio com auriculares colocados nos ouvidos. É um mundo mórbido. Nos dias de 40 graus à sombra que hoje vivemos (que nos faz recordar a canção dos Radar Kadafi), os corajosos bombeiros são diferentes: tentam apagar os fogos que, como Gremlins, se reproduzem sem cessar. Vivemos tempos de brasa. Que se repetem todos os anos como cenas de uma telenovela infindável. Já não há palavras para descrever a descrença de que algo possa ser feito a menos que os marcianos aterrem aqui.
No ano passado, houve mais fogos em Portugal do que em Espanha e França juntas. Nos anos anteriores, a situação foi idêntica. Este ano, não deverá ser diferente. Há meios e há bombeiros. Não há aquilo que se sabe há muito: limpeza das florestas, prevenção junto dos proprietários, rentabilidade económica das propriedades, ordenação territorial, acção criminosa sem consequências judiciais sérias. Há relatórios e estudos que terminam como o célebre de Michael Porter: na gaveta do esquecimento. Há tudo e não há nada. Não há vontade política para alterar radicalmente as coisas, com a força que o Estado ainda detém. Basta ver as reacções dos dirigentes políticos: vamos reforçar meios e prevenir para o futuro. É gelo falsificado nestes dias de fogo.
As desculpas são faúlhas quando se assiste à desertificação de mais uma parte do país. Era preciso que alguém do Governo, o poder executivo neste país, chamasse a si a decisão. Dizendo: acabou! Porque é nestes momentos que se concretiza o desleixo português aos olhos de todos: deixamos queimar uma das poucas riquezas do país entre lamentos e promessas de futuros mais radiosos. Não há mais tempo.»
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9.8.16
O homem não mordeu o cão
Esta farta desta fotografia, que corre mundo, e das mais variadas ilacções, na maioria delirantes, que tenho visto sobre a mesma.
Uma egípcia e uma alemã, no torneio de voleibol de praia. Não era 100% espectável? Se a egípcia estivesse de biquíni e a alemã de hijab é que devia ser notícia! Aqui, o homem não mordeu o cão.
. Este Governo deve corresponder a uma exigência ética acrescida
«O caso dos convites feitos pela Galp a vários governantes e deputados para irem assistir a jogos do europeu de futebol em França oferece matéria para estudo. É evidente que, em particular, o caso do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade, causou mal-estar no Governo, no PS e na maioria parlamentar que o apoia. É evidente, em particular, que o caso causou mal-estar ao próprio Rocha Andrade, que se deu conta, tarde demais, do erro que cometeu. Mas o governo, em vez de reagir como devia, reconhecendo o erro, não escondendo o mal-estar causado pelo erro e reparando de forma cabal esse erro, decidiu, envergonhadamente, tentar minimizar o incidente, pela voz de Rocha Andrade, primeiro, e de Augusto Santos Silva, depois. Chama-se a isto tentar reparar um erro cometendo outro. E, como sempre, é o segundo que dá dimensão ao primeiro. O que deveria ter feito o Governo? Declarar simplesmente: “Foi um erro. Não se repetirá.”
Essa era a declaração que esperávamos. Ficaríamos a saber que este governo tem a mesma escala de valores que nós – e não a de Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque, Miguel Relvas, Paulo Portas e companhia. As pueris tentativas de minimização do caso (“não há conflito de interesses”, “o litígio com a Galp está na mão dos tribunais e não do Governo”) só agravam o caso porque nos deixam a impressão de que talvez o Governo não distinga o que está certo do que está errado e isso é altamente perturbador. Mais perturbador, e politicamente mais relevante, que o pouco discernimento revelado por Rocha Andrade ao aceitar os convites da Galp.
Quero dizer com isto que todo este caso se resume a “um problema de comunicação”? Não. É mais grave do que isso. Significa que o Governo (ou parte do Governo) ainda não percebeu aquilo que Catarina Martins explicou de uma forma claríssima: o facto de “este Governo estar sujeito a uma expectativa e a uma exigência sobre a sua conduta ética muito superior aos governos que o antecederam”. Neste Governo, estas falhas são inadmissíveis.(…)
Rocha Andrade deve demitir-se? Sim. Não pelo convite que aceitou, mas por não ter reconhecido o seu erro quando ele lhe foi posto à frente dos olhos. Era difícil fazê-lo individualmente? Deveria ter sido o Governo a fazê-lo? Sim, mas o resultado é o mesmo. Foi aliás o primeiro-ministro em exercício, Augusto Santos Silva, o primeiro a considerar que o seu secretário de Estado Jorge Costa Oliveira, outro convidado da Galp, tinha agora uma capacidade diminuída. O mesmo acontece com os outros secretários de Estado e a Galp é demasiado grande para que três SE possam ficar impedidos de despachar seja o que for que tenha a ver com a sua actividade.
E os deputados do PSD? Basta-me que não escarrem na mesa. Não seria lícito esperar mais deles.»
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09.08.1945. Depois de Hiroshima, Nagasaki
Há 71 anos, os EUA lançaram, em Nagasaki, uma bomba que matou 80.000 pessoas. Seis dias mais tarde, em 15 de Agosto de 1945, o Japão rendeu-se – no chamado Dia V-J que esteve na origem ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Hoje, Parque da Paz de Nagasaki:
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8.8.16
De refugiadas a prostitutas
Expresso diário, 08.08.2016:
Chegaram a Itália 4.000 destas mulheres nos primeiros seis meses de 2016.
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Dia de Portugal 2019 no Cabo Horn
Porque não? O Magalhães / Magellan não era nosso?
O homem não pára: Marcelo admite celebrar o Dia de Portugal no Brasil em 2018.
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Rocha Andrade, o perdedor
«A literatura, o cinema ou a política estão repletos de perdedores. Sem eles seria mais difícil perceber o mundo. O que seria a nossa cultura sem Dom Quixote, o fidalgo que perdeu sempre contra os moinhos de vento.
Ou Charlot, que tem de pedir ajuda a uma bengala para não cair. Ou, se quisermos, Barry Goldwater, eterna esperança dos republicanos americanos, que nunca conseguiu ser presidente. Chegando a dizer: "A América é um grande país onde todos podem crescer para ser presidente - excepto eu." Há, claro, quem nunca tenha sido derrotado porque nunca se dignou ir, de peito aberto, para o campo de batalha. A política portuguesa tem muitos desses exemplos. E há, claro, quem perca por ingenuidade e por ter uma tendência para se suicidar politicamente.
Temos um caso recente de um pequeno ou médio perdedor: Rocha Andrade. Não é um grande perdedor: é apenas vítima das circunstâncias que criou. Ao contrário dos outros dois secretários de Estado que, no meio da euforia de ir ver a Selecção a França, também esqueceram o dever de recato quando se tem funções estatais, Rocha Andrade tem uma posição central no Executivo. Quem gere o Fisco não pode pedir frugalidade aos comuns cidadãos, investigando se há desvios nas facturas, se vão ao cabeleireiro ou se vendem caracóis nas esquinas, se depois recebe ingenuamente um bilhete e uma viagem aprazível. Mesmo que seja patriótica. O Código de Conduta inventado pelo Governo é agora gás lacrimogéneo para fazer lacrimejar os tolos. E a tentativa de Rocha Andrade pagar o bilhete do jogo é como atirar um "boomerang" para acertar na cabeça de quem o lançou: o próprio secretário de Estado. O que o torna um perdedor visível. Porque, a partir de agora, Rocha Andrade tornou-se um fantasma político que vagueia pelo Governo. No país ninguém lhe vai dar a mínima importância, porque todos se lembrarão de ter ido à borla ao Euro em França. Mesmo continuando no Governo, Rocha Andrade tornou-se um Dom Quixote apeado.»
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7.8.16
Globalização? Segue dentro de momentos…
«A globalização, tal como foi sonhada nos anos 80 após o "Big Bang" do sector financeiro britânico, está ferida de morte. A mensagem está a ser deixada em várias caixas do correio. Mas há quem ainda esteja demasiado distraído para o entender.
Afinal, o fenómeno do Brexit é apenas um sinal disso, com o corte com a livre circulação de pessoas, algo que decorre da circulação planetária de dinheiro e de bens. A crise dos migrantes que afecta a Europa e a crescente robotização da indústria, que a curto prazo vai afastar as fábricas da Ásia, vai atirar milhões de "beneficiários" locais para o desemprego. O que levará a movimentos de nacionalismo económico. E a isso alia-se o patriotismo político que está a crescer desenfreadamente em diferentes países fulcrais para a continuação desta globalização como a conhecemos. Como é o caso dos Estados Unidos.
A pátria de todas as formas de globalização (da cultural de Hollywood à da economia digital representada pelas Microsoft, Amazon ou Facebook deste mundo) assiste a uma das suas cíclicas tentativas de se refocar em si próprio. A lógica proteccionista que está a ser o íman da campanha de Donald Trump (prometendo uma América mais forte se afastar os emigrantes e voltar a garantir trabalho a todos os que, no sector industrial, foram excluídos pela deslocalização de fábricas) não é um mero fogacho. É o resultado de um sintoma extremamente forte que contagia a sociedade americana.
O ataque de Trump aos tratados de comércio internacional, que têm sido uma das linhas de força da presidência de Barack Obama (veja-se o esforço derradeiro que está a ser feito para que, à porta fechada, seja assinado o acordo EUA-Europa [TTIP]), mesmo que ele seja extremamente gravoso em termos de segurança alimentar para os europeus e dê às empresas uma força legal sobre os Estados que é bastante controversa, mostra como a fasquia da discussão está alta. E essa mensagem de Trump está a cativar os eleitores norte-americanos, castigados (sobretudo as suas classes médias) por uma globalização que lhes foi vendida como fascinante e que redundou em desemprego e salários estagnados. No fundo, o fim do "american dream".
A força da mensagem do agora candidato republicano a Washington é tal que está a contaminar o sector democrata que até aqui era um forte adepto dos tratados comerciais internacionais sob a direcção de Obama. Hillary Clinton, percebendo para onde corre a brisa eleitoral (e tendo em conta a necessidade de não perder demasiados votos em estados fundamentais como o Ohio, onde este é um tema-chave), também já questiona os benefícios do tratado com o México e com o Canadá (Nafta) e com os países da Ásia/Pacífico, outra das prioridades de Obama. Não é por acaso: nos últimos 15 anos desapareceram perto de cinco milhões no sector industrial americano, resultado da deslocação de empresas, sobretudo no México e na Ásia. Algumas estão a regressar, mas usam robôs para baixar os custos.
Esses americanos, cantados por Bruce Springsteen, estão zangados. E o discurso de Trump assemelha-se, para eles, ao de uma sereia. O medo dos novos tratados é real. E garante votos ao candidato republicano. Mas este sentimento, aliado ao fecho de fronteiras a que se assiste na Europa, tem um significado mais vasto. Que será claro a muito curto prazo.»
Fernando Sobral
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