«O caso dos convites feitos pela Galp a vários governantes e deputados para irem assistir a jogos do europeu de futebol em França oferece matéria para estudo. É evidente que, em particular, o caso do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade, causou mal-estar no Governo, no PS e na maioria parlamentar que o apoia. É evidente, em particular, que o caso causou mal-estar ao próprio Rocha Andrade, que se deu conta, tarde demais, do erro que cometeu. Mas o governo, em vez de reagir como devia, reconhecendo o erro, não escondendo o mal-estar causado pelo erro e reparando de forma cabal esse erro, decidiu, envergonhadamente, tentar minimizar o incidente, pela voz de Rocha Andrade, primeiro, e de Augusto Santos Silva, depois. Chama-se a isto tentar reparar um erro cometendo outro. E, como sempre, é o segundo que dá dimensão ao primeiro. O que deveria ter feito o Governo? Declarar simplesmente: “Foi um erro. Não se repetirá.”
Essa era a declaração que esperávamos. Ficaríamos a saber que este governo tem a mesma escala de valores que nós – e não a de Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque, Miguel Relvas, Paulo Portas e companhia. As pueris tentativas de minimização do caso (“não há conflito de interesses”, “o litígio com a Galp está na mão dos tribunais e não do Governo”) só agravam o caso porque nos deixam a impressão de que talvez o Governo não distinga o que está certo do que está errado e isso é altamente perturbador. Mais perturbador, e politicamente mais relevante, que o pouco discernimento revelado por Rocha Andrade ao aceitar os convites da Galp.
Quero dizer com isto que todo este caso se resume a “um problema de comunicação”? Não. É mais grave do que isso. Significa que o Governo (ou parte do Governo) ainda não percebeu aquilo que Catarina Martins explicou de uma forma claríssima: o facto de “este Governo estar sujeito a uma expectativa e a uma exigência sobre a sua conduta ética muito superior aos governos que o antecederam”. Neste Governo, estas falhas são inadmissíveis.(…)
Rocha Andrade deve demitir-se? Sim. Não pelo convite que aceitou, mas por não ter reconhecido o seu erro quando ele lhe foi posto à frente dos olhos. Era difícil fazê-lo individualmente? Deveria ter sido o Governo a fazê-lo? Sim, mas o resultado é o mesmo. Foi aliás o primeiro-ministro em exercício, Augusto Santos Silva, o primeiro a considerar que o seu secretário de Estado Jorge Costa Oliveira, outro convidado da Galp, tinha agora uma capacidade diminuída. O mesmo acontece com os outros secretários de Estado e a Galp é demasiado grande para que três SE possam ficar impedidos de despachar seja o que for que tenha a ver com a sua actividade.
E os deputados do PSD? Basta-me que não escarrem na mesa. Não seria lícito esperar mais deles.»
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