23.12.17

Esta sai todos os anos


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Ladainha dos póstumos Natais



Ladainha dos póstumos Natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

David Mourão-Ferreira, in «Cancioneiro de Natal»
 

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Experiências natalícias



A verdade é que eu sei de quem já tenha pegado num jeep da GNR, nas mesmas circunstâncias, e chegado bem a casa.
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A insuportável evidência das coisas



Miguel Sousa Tavares no Expresso de 23.12.2017 (excerto): 

«Assim que foram privatizados, os CTT encerraram o posto de correio que ficava a cem metros de minha casa, em Lisboa — um entre dezenas ou centenas que vêm encerrando pelo país todo, e em especial no interior, que todos os políticos juram não querer ver desertificado. Agora o mais próximo da minha área de residência fica a dois quilómetros. É preciso ir de carro e só por milagre se arranja lugar para estacionar nas proximidades. Seria de crer que o encerramento de balcões tivesse conduzido a uma concentração de pessoal em menos, mas maiores e melhores balcões, mas, no caso concreto, foi pura ilusão: aparentemente, nenhum dos funcionários do posto extinto se transferiu para este. Mas os utentes, esses sim, dobraram em número e nem sequer têm cadeiras suficientes para se sentarem enquanto esperam: da última vez esperei 25 minutos para levantar uma carta registada — a pior coisa que alguém me pode mandar hoje em dia. Do fundo do coração, só posso agradecer a Passos Coelho, Paulo Portas, Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque o notável benefício que trouxeram ao concreto da minha vida. Eu e milhões de outros portugueses.

Os CTT públicos eram uma empresa eficiente e rentável: dava, em média, €60 milhões de lucros por ano ao Estado e cumpria, sobretudo na província, uma função social preponderante. Isso, mais o facto de ser um serviço público funcionando em regime de monopólio, deveria aconselhar qualquer pessoa minimamente dotada de sensatez (já não falo de ideologias) a pensar dez vezes antes de se decidir pela sua privatização. Mas nada deteve a teimosia de Passos, feita de um liberalismo enxertado à pressa, talvez pelo mestre António Borges, o je-m’en-fichisme de Portas e, desculpem a ousadia, a impensável incompetência económica de que a dupla Gaspar/Maria Luís deram provas.

Mas podiam ao menos ter revelado algum sentido de história, lembrando-se do que foi a privatização dos correios ingleses, levada a cabo por Margaret Thatcher, e que conseguiu transformar um serviço, que já no reinado da Rainha Vitória era conhecido por ter duas distribuições diárias de correio, numa atividade quase terceiro-mundista. Porém, preferiram privatizar os CTT, dando ainda como benesse uma licença bancária, cuja finalidade era transformar os postos de correio em agências bancárias e as pensões dos reformados em depósitos à ordem ou em investimentos a cargo do banco. Hoje, três anos decorridos, constatamos várias coisas: que o serviço postal é uma droga, sem apelo; que fecharam balcões e despediram trabalhadores; que os accionistas retiraram uma média de €80 milhões por ano, onde o Estado só retirava €60 milhões; e que estão semifalidos. Por conseguinte, acabam de anunciar mais 800 despedimentos, e mais uns quantos encerramentos de balcões. E sabem o que aconteceu no dia a seguir a este anúncio? As acções dos CTT chegaram a subir 10% na bolsa. Ou seja: aquilo que é mau para o país e para os trabalhadores da empresa, é bom para os accionistas. Alguém quererá pedir desculpa pela privatização dos CTT?»

(Texto daqui.)
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22.12.17

Dica (685)

E agora, Rajoy?



Daniel Oliveira no Expresso diário de 22.12.2017:

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«Descabezado» é uma bela palavra




«Rajoy não admite dialogar com Carles Puigdemont, que propôs uma conversa fora de Espanha. O presidente do Governo espanhol disse que só vai falar "com quem ganhou as eleições, que foi a senhora Arrimadas". À questão sobre se admite encontrar-se com Puigdemont se ele vier a ser o líder de um Governo formado pelos partidos separatistas, Rajoy deu uma resposta institucional, que não esclarece se Puigdemont poderá assumir essa posição devido ao facto de ser procurado pela Justiça espanhola: "Tenho de falar com a pessoa que vier a exercer a presidência da Generalitat."»

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Uma reflexão de Natal



«É Natal e eu gostava de fazer uma crónica que unisse todos os povos do mundo ou que, pelo menos, reduzisse a metade os insultos nos comentários, se bem que, do meu ponto de vista, os insultos são melhor do que palmas. Palmas, qualquer um bate, seja ao que for, inclusive ao discurso do nosso patrão, que não podemos ver à frente. O insulto é algo que sentimos necessidade de fazer. Quer dizer que não ficámos na mesma. Que mexeu connosco. Por isso, agradeço desde já a todos os que, nos comentários online, me têm motivado a continuar a mexer convosco. O Natal é isto, gratidão (e algumas greves).

A ideia era fazer uma crónica politicamente correcta, mas o politicamente correcto, hoje em dia, não tem o mesmo grau de aprovação do politicamente incorrecto. Imaginem que eu fazia uma piada que envolvesse o PM Costa e uma consoada com chamuças. A ausência de graça, e a referência xenófoba, era compensada pelo meu atrevimento e capacidade de ser livre e de rejeitar o politicamente correcto, mesmo sacrificando princípios.

A pergunta que mais vezes me fazem, a seguir a "Quadros, como é que aos 53 anos tens esse corpo escultural?", é "Quais são os limites do humor?" Eu acho que os limites do humor são aquilo que deve ser ultrapassado sem darmos por isso. É uma coisa natural porque não sabíamos que havia limites.

É diferente de fazermos uma piada apenas porque queremos chocar quem tem esses limites. Uma espécie de bimby da piada politicamente incorrecta. Pomos uma lésbica, um gay, um deficiente, um judeu, um forno, um tipo a morrer de fome, uma mãe que perdeu um filho e umas pitadas de pedofilia, e temos material que faz de nós um comediante livre e sem barreiras. Achincalhar as minorias faz de nós homens corajosos.

Ninguém nega a existência de uma espécie de polícia do politicamente correcto das minorias, mas lembro-me que sempre existiu uma do politicamente correcto das maiorias. Sou do tempo em que "sketches" com bichas era na maior, mas um com o Santuário de Fátima dava origem a cancelamento de programa. Apesar de achar que Fátima é uma cena um bocado bicha. É como a Amália e a Madonna. Cá está, uma "piada" que é politicamente incorrecta e que pode ser ainda mais se eu disser que é uma "piada" que dá para os dois lados.

Tenho a certeza de que se Hitler fosse vivo, hoje, seria considerado um tipo politicamente incorrecto e sem papas na língua e escreveria para o Observador, ia à RTP 3, jogava padel com o David Dinis e estava em quase todos os Prós e Contras e a Fátima tratava-o por Doutor Adolfo.

Esta era para ser uma crónica de Natal porque eu gosto muito de vocês, estimados e magníficos leitores, e era suposto ser a minha prenda. Pela vossa cara, vejo que preferiam Mon Chéri, mas o que conta é a intenção. Bom Natal.»

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A grande derrota de Rajoy!


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21.12.17

Carlos Carmo, 78 anos



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21.12.1988 – Lockerbie: o dia em que eu não morri



Em 1988, eu trabalhava e vivia na Bélgica com a família. Para evitar uma das habituais e terrivelmente cansativas vindas a Lisboa em tempo festivo, decidimos passar o Natal nos Estados Unidos.

Por razões de férias escolares do meu filho, só poderíamos partir já bem perto de 24 de Dezembro, de preferência a 21. No meu local de trabalho tínhamos uma agência de viagens, gerida por um companheiro quase quotidiano dos meus almoços. Quem me conhece sabe que detesto desistir seja do que for e quase o torturei para que me conseguisse os lugares que eu pretendia nos voos Bruxelas / Londres / Nova Iorque – os tais do dia 21. Sem sucesso, fomos obrigados a ir na véspera.

Já num hotel em Manhattan, vi as imagens do PAN NAM 103 do dia 21 de Dezembro de 1988. Sempre que volta a falar-se de Lockerbie ainda fico paralisada. E não estaria aqui para contar.
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Balanço dos balanços do ano



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:



Na íntegra AQUI.
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Por que votar independentista no #21D mesmo sem o ser



«El 21 de diciembre votaremos a partidos independistas aunque algunos de nosotros no lo seamos. Podríamos argumentar que lo hacemos por democracia y no por la independencia, pero es algo todavía mucho más básico:

Lo haremos por instinto de autoconservación. Los brutales recortes de derechos que estamos viendo con la excusa de “los catalanes” son terribles.

La posibilidad de que el bloque del 155 gane el #21D da puro y franco miedo.

Siempre hemos considerado el hecho de votar en las elecciones solamente como un movimiento estratégico dentro de una lucha cotidiana mucho más compleja. Nada puede haber menos democrático que reducir la política a la lucha electoral partidista.

Prácticamente nunca la opción a la que votas te representa de verdad o coincide con tus ideas al 100%.

Pero nuestros votos diseñan el tablero en el que tendremos que luchar en los próximos años.

Si en Catalunya gana el “bloque del 155”, está claro que este ahondará en la represión y en el recorte de los derechos más básicos como el de tener opiniones y poderlas expresar. No solo más gente en prisión o perseguida, sino también más leyes creadas en Catalunya que son paralizadas para que no podamos avanzar. Ya van 47, la mayoría sin relación con la independencia y algunas de ellas socialmente urgentes. Quieren empobrecernos – en Catalunya y en toda España – para que no tengamos más fuerzas y seamos obedientes y completamente dependientes.

Si el “bloque del 155” tiene un solo voto más que el “bloque independentista” sus líderes se comportarán como los vencedores en un país ocupado.

Si es al revés, tendremos un contexto en el que haya la legitimidad para el diálogo, para que Catalunya sea escuchada y no sea una simple colonia.

Si llega a solucionarse la actual situación no será gracias a los que se han mantenido equidistantes repitiendo mantras irrealizables como “referéndum pactado”, si no a la gente de cualquier bando que no acepta la brutalidad de un gobierno que se niega a cualquier solución.

Comprendemos el cansancio por la dinámica del procés. Lo escribimos ya en marzo 2017. Ahora lo reafirmamos: desde el 22D, sea cual sea el contexto, hay que avanzar a través de una construcción concreta, es decir, crear y defender un marco legal detallado y concreto que nos permita transformar y prosperar. Esto no se puede hacer en un tablero en el que un bando tiene la legitimidad de usar la fuerza bruta para callar a todos los demás.

Por esto votar a Catalunya en Comú no ayuda a salir del bucle narrativo de “procés sí” o “procés no”. Solo sirve a que el bloque del 155 pueda afirmar ser el triunfador y ahonde en su prepotencia.

Los que se sienten afines a Catalunya en Comú no deben preocuparse: por una cuestión puramente matemática es más que probable que Catalunya en Comú sea quien tenga la llave del futuro gobierno, independientemente de si recibe muchos o pocos votos.

Pero muy diferente será la situación con una Catalunya en Comú operando con un “bloque del 155” desbocado, que con la dignidad de un “bloque independentista” que gane a pesar de estar siendo discriminado, perseguido y represaliado.»

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20.12.17

Costas e Cristas




Via Carlos Oliveira no Facebook.
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E sobre os CTT, é isto





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Pedido de auxílio financeiro urgente para o Observatório do Controlo e da Repressão e para o caso de tortura, agressão e racismo na esquadra de Alfragide – Cova da Moura



O Observatório do Controlo e da Repressão (OCR) anuncia a todos os interessados que está a levar a cabo uma campanha de apoio financeiro, de forma a poder continuar o auxílio que desde a primeira hora tem sido dado ao caso da infundada “invasão de esquadra” do dia 5 de Fevereiro de 2015, o célebre caso da Cova da Moura.

O OCR foi criado em 2011 tendo com objetivo responder, por via do apoio e solidariedade, às medidas repressivas de que eram alvo os movimentos sociais e as populações mais desfavorecidas.

Até à data, o OCR já gastou cerca de 5000 euros em apoio médico e legal para com as vítimas. Estas, tendo sido ilibadas de qualquer crime, são agora autoras no processo em que 18 elementos das forças policiais são acusados de sequestro e tortura agravada por discriminação racial.

Os fundos providenciados pelo OCR resultaram de contínuos donativos de particulares e de associações que se foram solidarizando com o caso. Mas esgotou-se, estando neste momento as contas do coletivo a zeros.

De forma a poder continuar o seu trabalho de apoio a este e a outros casos futuros, torna-se imprescindível a solidariedade de todos os que têm consciência da importância de casos como os dos da esquadra de Alfragide que está já a movimentar outras vítimas de casos idênticos para que avancem com os seus processos.

Assim, agradecemos todas as contribuições que possam ser realizadas para o IBAN/NIB do observatório: PT5000350100 0003237453069 / CGDIPTPL.

(Daqui)
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As bitcoins desta vida


«Cristiano Ronaldo vai construir um hospital pediátrico em Santiago do Chile, em 2020. (…)
Deixa pesquisar melhor... O CR afinal não é sócio do Proto. Afinal este encosta-se a famosos e dá notícias sobre amizades e negócios que não tem. E se tudo... Olha, é mesmo, última hora: o CR desmente a notícia do hospital pediátrico. E que não tem nada a ver, "nem negócios", com o famoso Alessandro. Ora, ora, não há fumo sem fogo: Santiago é no Chile. Publique-se.»

Uma deliciosa crónica de Ferreira Fernandes.
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A Catalunha e o regime



«Depois da eleição na Catalunha a Espanha terá, fatalmente, de confrontar-se com uma crise de regime que põe em causa a Constituição pós-franquista de 1978 e deslegitima a monarquia.

A radicalização secessionista de nacionalistas conservadores na última década reforçou o republicanismo na Catalunha e abriu caminho para a esquerda, extrema-esquerda e movimentos anarquistas assumirem a liderança ideológica da reivindicação de ruptura com Madrid.

O momento de viragem ocorreu em Junho de 2010 quando o Tribunal Constitucional declarou inconstitucional o Estatuto de Autonomia aprovado pelo "Parlament" de Barcelona no final de Setembro de 2005 com o voto contra dos deputados do Partido Popular.

O texto rejeitado pelo Tribunal Constitucional era, contudo, um compromisso negociado entre Artur Mas, líder da conservadora "Convergència I Unió", pela "Generalitat", e o chefe do governo socialista de Madrid José Luis Zapatero.

Nessa versão, votada nas Cortes na Primavera de 2006, o "Preâmbulo" fora expurgado da referência a Espanha como "estado plurinacional" e da afirmação peremptória da Catalunha como "uma nação".

O texto mitigado e inconclusivo afirmava que o parlamento de Barcelona definira "de forma amplamente maioritária a Catalunha como nação. A Constituição espanhola, no seu artigo segundo, reconhece a realidade nacional da Catalunha como nacionalidade".

A constitucionalidade da maioria das disposições do Estatuto foi contestada pelo PP e pelo Provedor de Justiça, enquanto a Comunidade Autónoma de Murcia, La Rioja, "Generalidad Valenciana", Governos de Aragão e das Ilhas Baleares requereram a anulação pontual de artigos diversos.



19.12.17

Dica (684)

Dias Coelho foi assassinado há 56 anos



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O telemóvel, um dia, morrerá. E nós?



«Estava a arrumar umas gavetas em casa e encontrei um velho relógio, abandonado há anos, escondido para ser esquecido debaixo de um monte de papéis anacrónicos. Quando deixei de usar relógio? Quando abandonei um objeto que me guiou a medida do tempo, imprescindível, durante a maior parte da minha vida adulta?...

... O telemóvel! Sim, o telemóvel no meu bolso acabou com a utilidade do relógio no meu pulso. O telemóvel, com o seu tempo sincronizado pelas redes informáticas mundiais, exato ao milésimo de segundo, sem atrasos, sem corda, sem pilha, de bateria carregada para um dia de eletricidade, em cima da minha mesa de cabeceira à noite, enquanto durmo, para me garantir, quando estou acordado, entre muitas outras coisas, horas quanticamente certas, matou, impiedoso, o relógio.

Leio no site do Dinheiro Vivo um texto típico de final de ano: "30 coisas que vão desaparecer até 2020." A lista de previsões inclui a morte por homicídio, via telemóvel, de câmaras fotográficas, discos rígidos, pen drives, mapas em papel, dispositivos GPS, CD, DVD, Blu-ray, calculadoras, despertadores, telefones fixos, cabinas telefónicas e sei lá que mais. No final aparecem, claro, os jornais e as revistas em papel, substituídos pela informação que vemos nos ecrãs de pixel em alta definição, OLED de negros profundos e cores infinitas.

A lista de previsões não difere muito, afinal, das listas semelhantes que editei nos meios de comunicação social onde trabalhei em 2010 ou em 2000, quando a revolução tecnológica do final do século XX já era uma banalidade rotineira nos países mais desenvolvidos e no dia-a-dia das pessoas e das empresas com dinheiro para pagar, consumir e produzir pelo poder da informática, da internet e das telecomunicações.



18.12.17

Irresistível


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O admirável mundo novo como nunca o imaginámos!



Expresso diário de 18.12.2017.
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China e barbaridade




«Execuções aconteceram imediatamente a seguir ao julgamento. Vários dias antes, os habitantes locais foram convocados a comparecer à sentença.»

Pode ser que os responsáveis por estas barbaridades sejam um dia executados por robôs.
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Solidariedade com a Catalunha




«Londres, París, Milán o Berlín se han levantado teñidos de amarillo en una acción conjunta de los CDR internacionales. El ‘Millenium Bridge’ de Londres, junto a la Tate Modern y a la catedral de St Paul’s, la Plaza 25 de Abril de Milán, la Passerelle Léopold-Sedar-Senghor de París o los alrededores de la Alexanderplatz de Berlín se han levantado este domingo teñidos de amarillo en protesta a los encarcelamientos de los líderes políticos y civiles catalanes y la aplicación del artículo 155.»
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O primeiro golpe no império – Índia, 1961



Foi na manhã de 17 de Dezembro de 1961 que tiveram início as operações militares que levaram à ocupação da cidade de Pangim, capital de Goa, na noite do dia seguinte. O «império português» levou então uma grande machadada com a anexação de parte do seu território pela União Indiana. Lembro-me bem da consternação, quase generalizada, que os acontecimentos provocaram no país, mesmo em certos meios da oposição. Houve algum tempo depois uma peregrinação a pé a Fátima (julgo que para que os céus nos devolvessem a «católica» Goa).

Os factos são conhecidos, mas vale a pena recordar o célebre discurso que Salazar fez na Assembleia Nacional, em 3 de Janeiro de 1962 (*). É um longo elogio (de 24 páginas A5) ao «pequeno país» que manteve o seu território «com sacrifícios ingentes», ignorados e combatidos por quase todos e, antes de mais, pela ONU, desde sempre objecto de um ódio muito especial.

Ficam algumas passagens a começar pela primeira frase do texto: «Não costumo escrever para a História e sinto ter de fazê-lo hoje, mas a Nação tem pleno direito de saber como e porque se encontra despojada do estado Português da Índia». Mais: «Não sei se seremos o primeiro país a abandonar as Nações Unidas, mas estaremos certamente entre os primeiros. E entretanto recusar-lhes-emos a colaboração que não seja do nosso interesse directo.» Há que perguntar se vamos no bom caminho «quando se confiam os destinos da comunidade internacional a maiorias que definem a política que os outros têm de pagar e de sofrer».

Amplamente conhecida é a frase que encerra o discurso: «Toda a Nação sente na sua carne e no seu espírito a tragédia que se tem vivido, e vivê-la no seu seio é ainda uma consolação, embora pequena, para quem desejara morrer com ela.»

(*) Estava afónico «com as emoções das últimas semanas» e quem o leu, de facto, foi Mário de Figueiredo.
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17.12.17

17.12.1974 – Abolição da censura



Foi nesta data que foi extinta a Comissão de Censura aos livros e publicações em Portugal. Não me lembrava de que tinha durado tantos meses depois do 25 de Abril.
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Creches para a Autoeuropa?




«“O governo assumirá as suas responsabilidades e há algumas dimensões que poderão ser concretizadas com um envolvimento mais forte, sobretudo no que toca à criação e reforço de equipamentos sociais de apoio à família e que responda a um novo quadro horário de funcionamento da empresa, com mais creches e creches com horário diferenciado, por exemplo. O governo irá empenhar-se, desde já, na promoção desse tipo de equipamentos”, anunciou Vieira da Silva.»

Há aqui qualquer coisa que não bate certo: existe um problema laboral numa empresa como a Autoeuropa e é o governo que se propõe intervir proporcionando creches com horários especiais? E fará o mesmo para quem trabalha por turnos sete dias por semana, como, só para citar um exemplo, os enfermeiros e outros profissionais da área da saúde? Ou para empregados de hipermercados?
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Dica (683)



Entrevista a Naomi Klein: Ao ataque contra Trump. 

«Numa entrevista a propósito do seu mais recente livro, No Is Not Enough (Não Basta Dizer Não, em tradução livre), Naomi Klein explica como a marca “Donald Trump” é o último sonho capitalista e um perfeito exemplo de exploração da crise em benefício da elite.»
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Catalunha, a quatro dias de eleições




Já não é permitido divulgar, em Espanha, sondagens relativas às eleições de dia 21, mas continuam a sê-lo feito em Andorra, como é habitual.
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Não há raças, só há cidadãos?



«Reconhecendo a existência de cidadãos portugueses negativamente discriminados em função da visibilidade somática (e.g. a cor da pele, a textura dos cabelos), os peritos do Comité para a Eliminação da Discriminação Racial (CERD) da ONU recomenda(ra)m ao Estado português a necessidade de reconhecer a existência de uma minoria racial e de estabelecer políticas específicas contra aquela ilegítima discriminação.

Porém, argumenta-se que a existência de uma minoria racial acompanhada de políticas públicas específicas para minimizar a discriminação configura uma solução racista para o problema da discriminação racial. Com efeito, se a ciência já provou a inexistência de raças, invocar uma minoria racial faz subsistir na esfera pública e na legislação política uma categoria intrinsecamente discriminatória, a de raça, cujo impacto político devastador é testemunhado por inúmeros factos históricos (e.g. escravatura, trabalho forçado, apartheid e Holocausto).

Neste contexto, se não há raças e se há cidadãos (ou organizações) que defendem a existência de uma minoria racial que carece de protecção pública contra o tratamento discriminatório de que são alvo, então aquela defesa prova mais o racismo de quem a propõe do que a hetero-discriminação. Doravante, os verdadeiros fautores da discriminação racial são todos aqueles que denunciam um tratamento baseado numa realidade que não existe e atribuem a falsos obstáculos exteriores (a hetero-discriminação) a incapacidade interior de prossecução dos seus fins. Nesta perspectiva, as barreiras raciais e racistas no acesso à educação, aos serviços públicos e ao emprego são exclusivamente interiores e, por serem autoignoradas, são erroneamente atribuídas a uma entidade imaginária. Assim, a violência policial pune comportamentos intrinsecamente desviantes e a recusa em participar na sociedade é resultado de uma deliberada e desafiante vontade de auto-exclusão. Em última instância, a reivindicação de uma minoria racial resulta do processo de vitimização do grupo minoritário, incapaz de reconhecer que a discriminação de que reputa ser alvo é uma consequência (natural e social) da sua menoridade.

Conquanto fosse desejável que a denúncia da vitimização fosse acompanhada pela da torcionarização, i.e. do esclarecimento da diferença social e política na perspectiva das qualidades intrínsecas (naturais ou sociais) do grupo de cidadãos discriminados, a ideia de que a constituição de uma minoria racial é uma ideia racista parece-nos precipitada.