6.2.24

Ou o centro ou as frentes

 


«As eleições açorianas confirmam a aliança profunda da política portuguesa: é a aliança do PSD e do PS. É o centro democrático. É o bipartidarismo. É a alternância: ora governas tu, ora governo eu.

Só governarão juntos em caso de grande emergência, mas sabem que essa possibilidade, a aliança social-democrata, está sempre de atalaia.

Pedro Nuno dos Santos, que esteve muito bem, falou disso, ao explicar porque é que PS e PSD não governavam juntos. É porque um dos dois tem de ficar sempre de fora, para apanhar o descontentamento e preparar a sucessão. Se governassem juntos, disse ele, sabe-se quem apanharia o inevitável descontentamento. Não foi preciso especificar.

O PS e o PSD estão tão mal habituados que nem sequer sonham em vencer as eleições. Dão de barato as maiorias relativas. Só sonham com as absolutas. E isto porque há sempre uma maioria absoluta na política portuguesa: é a maioria do centro, é a maioria do PS com o PSD, de pessoas mais ou menos sociais-democratas, mas sempre democratas, que se hão-de sempre entender e que hão-de sempre ser rivais — para mais ninguém, para mais nenhum partido poder ser.

Luís Montenegro, que também esteve muito bem, não se preocupou com a questão da maioria absoluta, dizendo que, para a AD fracassar nos Açores, o PS e o Chega teriam de se juntar para fazê-la cair.

Os dois partidos grandes gostam de usar os pequenos para se espicaçarem um ao outro. Mas os pequenos estão condenados a viver nas pequenas margens que faltam para as maiorias absolutas do PS e do PSD.

É a política dos interstícios: metem-se por onde podem. É a política do caruncho, a ver se, dando mil dentadinhas por minuto em cada perna, o móvel vem abaixo.

Os pequenos querem transformar o bipartidarismo em bifrentismo. Precisam de uma frente de cada lado, de direita e de esquerda.

Precisam que o PS e o PSD se desentendam de verdade. Querem desmantelar o centrismo.

Mas querem uma coisa impossível: querem radicalizar os sociais-democratas.»

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