7.1.17

A guerra dos tronos e a geringonça



«A teoria dos jogos permite analisar a racionalidade das estratégias políticas. Em princípio, qualquer que seja o assunto, a opção mais vantajosa para qualquer jogador consiste em participar em jogos de soma positiva, com o qual os participantes melhoram conjuntamente as posições iniciais. Os acordos de comércio livre exemplificam este tipo de jogo. Na área política, PS, PCP e BE estabeleceram um jogo de soma positiva, ainda mais valioso porque removeram PSD e CDS da área governativa. (…) Todos ganham. (…)

O certo é que, contra todas as previsões, a chamada "geringonça" manteve-se. E, exceptuando riscos externos (…), a situação deverá manter-se até ao OE de 2018 e às autárquicas. (…) É aí que este jogo de soma positiva pode descambar, porque os seus jogadores pouco terão a ganhar com ele. Isso terá de coincidir com a alteração de liderança no PSD que Marcelo Rebelo de Sousa espera para que um rearranjo do puzzle político no poder seja possível. Todos sabem que daqui a um ano será difícil continuar a manter uma política distributiva aliada aos condicionalismos europeus da dívida e do défice. E com juros de dívida cada vez mais impossíveis de pagar. Tudo num quadro de crescimento económico medíocre e falta de investimento público (para se poder manter o défice imposto pela Europa) e privado.

É aí que a "geringonça" poderá soçobrar. Mas isso não é nada que não seja previsto pelo mais pragmático e intuitivo político no activo, António Costa. Ele sabe os limites da "entente cordiale" com Belém e as fronteiras do jogo com os partidos que à esquerda o apoiam no Parlamento. É uma travessa feita de equilibrismos vários no trapézio, que um dia não terá rede por baixo. Mas esse é o desafio que daqui a meses se começará a colocar aos principais partidos. E aqueles que aspiram vir um dia a chegar ao poder, como o BE.»

Fernando Sobral
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