No «Passa Palavra», Manolo e João Bernardo publicam hoje o último de cinco capítulos de um longo estudo sobre África. A não perder. Para abrir o apetite:
«Nesta série, tentaremos traçar em linhas gerais as idas e vindas do retorno à África. Via de regra, estes que retornaram transformaram-se num grupo separado dos africanos “nativos”, quando não numa verdadeira classe dominante. Trata-se de tendência antiga, com raízes nas lutas antiescravistas iniciadas com a própria escravização.»
«Muitos dentre os libertos “retornados” envolveram-se com o tráfico negreiro como forma de sobrevivência e sua estadia forçada nas Américas impôs-lhes o aprendizado de outros ofícios com os quais se sobrepuseram às populações africanas. Graças aos libertos retornados, formava-se na costa ocidental da África uma elite profissional e política.»
«Quando um dos mais importantes políticos negros dos Estados Unidos afirmou ter inspirado Mussolini, não foi apenas jactância de uma inegável megalomania, mas algo muito mais sério.»
«É sob a dupla influência da religiosidade popular e dos escritos e do mito em torno de Marcus Garvey que se forma o movimento rastafari, responsável pela última onda do retorno à África e pela “canonização” do imperador etíope Haile Selassie.»
«O pan-africanismo, expressão ideológica do difícil processo de integração da África ao capitalismo internacional (privado ou de Estado), funda nações onde so há Estados e legitima o estabelecimento de novas relações de dominação.»
«Não cremos que no desenvolvimento do capitalismo uma região possa considerar-se mais avançada do que outra apenas porque tem um PIB per capita superior ou porque aí ocorrem num dado momento as mais recentes formas de industrialização. Esses são resultados de sistemas sociais já existentes de há mais ou menos tempo. Por isso, numa perspectiva dinâmica do desenvolvimento do modo de produção é para as transformações sofridas desde já pelas relações sociais que devemos estar atentos, e serão essas que produzirão no futuro resultados econômicos materiais contabilizáveis em termos de progresso estatístico. A fase mais avançada é aquela cujas formas de organização social incluem as restantes e vão além delas. É essa que serve de paradigma à evolução do sistema; e é o que vem se desenrolando na África há mais de meio século. Se pretendemos entender os rumos do capitalismo mundial, não é somente para os países ditos “desenvolvidos” que devemos atentar; é também, e fundamentalmente, para a África que devemos nos voltar.»
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