«Não basta ver fotografias de Roger Federer e Rafael Nadal a chorar por ocasião do último jogo de ténis de Federer. É preciso ver o filme. Ou um excerto dele.
Chorar faz parte da inteligência destes dois homens tão diferentes, tão rivais, tão parecidos. Desencadeiam-se um ao outro, estes dois grandes desportistas que nunca mais veremos a jogar um com o outro.
Durante anos desencadearam-se a jogar ainda melhor do que já jogam. Na sexta-feira, desencadearam-se a chorar, como dois meninos, como também se poderiam ter desencadeado a rir, ou a bocejar.
Choram a passagem do tempo, o envelhecimento, a queda que todas as coisas têm para acabar, por muito boas que sejam, aliás, particularmente quando são muito boas e - o que é raro - quando acabam muito bem.
Não há excepções para os desportistas perfeitos, para os que se mantêm mais em forma, para os que foram considerados os melhores de sempre.
A tristeza é a mesma. Mal chegam aos 22 anos, já há jogadores mais novos a emergir como papoilas na Primavera, desejosos de derrotar os velhadas, cuja virtude principal passa a ser, de um dia para o outro, a maldita “experiência”, a experiência dessa outra palavra maldita, dos “veteranos”.
Federer e Nadal (cujas idades somam só 71 anos) foram derrotados por Jack Sock e Frances Tiafoe (54 anos de soma). É uma diferença de 17 anos, que é praticamente a idade do número 1 do ténis, Carlos Alcazar, que fez 19 anos em Maio.
O tempo é que é a tartaruga da fábula da lebre e da tartaruga: o tempo ganha sempre. A lebre começa bem mas, a certa altura, começa a perder velocidade e começa, cada vez mais, a precisar de dormir e descansar.
A lebre vive 4 anos, a tartaruga vive dez vezes mais. Quem é que fica a ganhar? É a tartaruga, por 36 anos. Ora, 36 anos é precisamente a idade de Nadal. E Federer só tem mais cinco aninhos.
Choram porque sempre souberam que a corrida contra o tempo estava perdida.
Mas só agora chegou o tempo de perdê-la.»
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