16.11.11

Não discutimos a pátria


Ocupada ontem noutras arenas, só muito tarde li umas das mais badaladas notícias do dia: as declarações de João Duque, à margem de um relatório sobre o futuro da serviço público de televisão e rádio.


Mas foi ainda mais claro e preciso sobre o papel do governo:

«Se quiser manipular mais ou manipular menos, opinar, modificar, é da sua inteira responsabilidade. Porque estamos convencidos que o faz a Bem da Nação, porque foi sufragado e foi eleito para isso.»
(Transcrito do som publicado aqui.)

Com boa vontade, prefiro crer que o «A Bem da Nação» de João Duque está ao nível do «Dia da Raça» de Cavaco Silva – gafes de quem não tem memória nem sensibilidade. Mas repito: com (muito) boa vontade.

Pior, muito pior, é que o desgraçado governo que temos tenha escolhido alguém que conhece muito bem e que, descaradamente, aconselha a ressurreição da censura. Sim, porque é disso que se trata, explícita e claramente. Há outra etiqueta para «manipular, opinar e modificar» informação?

Já outros o pensaram e disseram, por outras palavras. Há 75 anos.


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3 comments:

Tiago R. disse...

Este tipo de pensamento censório parte sempre do pressuposto que o Governo é o único intérprete fiel dos interesses da Nação.
Não há, assim, espaço para qualquer pensamento divergente que, a esta luz, será sempre considerado subversivo.
Este governo não tem feito mais do que desenterrar os mais apodrecidos e mal-cheirosos cadáveres do "pensamento" político português.

Rogério G.V. Pereira disse...

A maior parte dos jornalistas dispensam o ideário.
Não porque pensem o contrário, mas apenas porque foram educados para o acto...

Niet disse...

Caríssima: As profecias do bom do Boaventura Sousa Santos confirmam-se. A Nova Direita portuguesa está a tentar tornar impossível o próprio exercicio da paupérrima democracia representativa que respirávamos, já, é certo, com grande dificuldade por causa de um PS completamente desbussolado e indigente criado por José Sócrates. Bom e corajoso artigo. Niet