Ocupada ontem noutras arenas, só muito tarde li umas das mais badaladas notícias do dia: as declarações de João Duque, à margem de um relatório sobre o futuro da serviço público de televisão e rádio.
A propósito da RTP Internacional, terá afirmado que «A promoção de Portugal através da imagem ou do som deve ser enquadrada numa visão de política externa e portanto quase que sob a orientação ou em contrato de programa com o Ministério dos Negócios Estrangeiros.»
Mas foi ainda mais claro e preciso sobre o papel do governo:
«Se quiser manipular mais ou manipular menos, opinar, modificar, é da sua inteira responsabilidade. Porque estamos convencidos que o faz a Bem da Nação, porque foi sufragado e foi eleito para isso.»
(Transcrito do som publicado aqui.)
«Se quiser manipular mais ou manipular menos, opinar, modificar, é da sua inteira responsabilidade. Porque estamos convencidos que o faz a Bem da Nação, porque foi sufragado e foi eleito para isso.»
(Transcrito do som publicado aqui.)
Com boa vontade, prefiro crer que o «A Bem da Nação» de João Duque está ao nível do «Dia da Raça» de Cavaco Silva – gafes de quem não tem memória nem sensibilidade. Mas repito: com (muito) boa vontade.
Pior, muito pior, é que o desgraçado governo que temos tenha escolhido alguém que conhece muito bem e que, descaradamente, aconselha a ressurreição da censura. Sim, porque é disso que se trata, explícita e claramente. Há outra etiqueta para «manipular, opinar e modificar» informação?
Já outros o pensaram e disseram, por outras palavras. Há 75 anos.
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3 comments:
Este tipo de pensamento censório parte sempre do pressuposto que o Governo é o único intérprete fiel dos interesses da Nação.
Não há, assim, espaço para qualquer pensamento divergente que, a esta luz, será sempre considerado subversivo.
Este governo não tem feito mais do que desenterrar os mais apodrecidos e mal-cheirosos cadáveres do "pensamento" político português.
A maior parte dos jornalistas dispensam o ideário.
Não porque pensem o contrário, mas apenas porque foram educados para o acto...
Caríssima: As profecias do bom do Boaventura Sousa Santos confirmam-se. A Nova Direita portuguesa está a tentar tornar impossível o próprio exercicio da paupérrima democracia representativa que respirávamos, já, é certo, com grande dificuldade por causa de um PS completamente desbussolado e indigente criado por José Sócrates. Bom e corajoso artigo. Niet
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