15.11.11

A libertação da Grécia


Todos os dias nos chegam notícias de Atenas, por razões óbvias e quase sempre desagradáveis. Depois de arrumada a questão do (não) referendo e de ser arquitectado um novo governo, e de se estar a viver, aparentemente, numa fase de intervalo nas grandes manifestações de rua, dão-nos agora relatos de um dia-a-dia cada vez mais duro, em entrevistas feitas por enviados das nossas televisões ou em desinteressantes relatos nos jornais.

Excepção feita para a excelente crónica de Paulo Moura, editada na revista Pública de ontem e entretanto publicada no seu blogue. E excelente não pelos factos relatados, mas pela atitude que transmite, concretizada aliás na própria escolha do título: «Como a Grécia se está a libertar».

Se pode ser inquietante perceber que uma sociedade está virada do avesso quando se deixa de pagar impostos, quando até os sindicatos apoiam ligações eléctricas clandestinas porque já não há dinheiro para pagar electricidade, quando «as pessoas têm prazer em não cumprir nada» e a desobediência alastra a todos os domínios, há que ver também o outro lado da questão e é nesse sentido que os parágrafos finais do texto de Paulo Moura são especialmente esclarecedores e estimulantes:

«Há um limite abaixo do qual ninguém aceita viver. A felicidade não se pode impor por decreto, mas a infelicidade também não. Se o contrato social deixa de servir a uma das partes, quebra-se, como qualquer contrato. A ideia de que uma geração pode ser sacrificada é absurda por definição. Sacrificada a quê?

Ninguém entende como podem os gregos viver submetidos a tanta pressão. Pois a explicação é esta: à margem das notícias, eles já estão a libertar-se.»
(O realce é meu.)

Também creio que sim. Os gregos estão a bater ou já bateram no fundo. Não só mas também por isso mesmo, estão certamente já perto de uma saída, mesmo que ainda não vejam claramente qual. Muito provavelmente, bem mais perto do que nós.
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