15.5.17

40 estações para o metropolitano?



«Quando o metropolitano de Lisboa abriu ao público, às 6 horas da manhã de 30 de Dezembro de 1959, entraram na composição que partiu dos Restauradores várias artistas espanholas que actuavam numa "boîte" lisboeta, acompanhados dos músicos, e que tornaram a viagem uma festa. Desde então o metro tornou-se o Speedy Gonzalez dos lisboetas: permitiu-lhes chegar mais rápido a vários locais. Com o tempo perdeu as pilhas. Cresceu, mas tornou-se menos dinâmico. As linhas do metropolitano são as veias de Lisboa. Sem elas, seria impossível circular numa cidade onde há mais trânsito do que a capital pode comportar. Mas, depois dos sonhos de grandiosidade (e que levaram a um erro trágico: querer transformar o metro num transporte suburbano), concretizadas pelas grandes obras da Expo'98, a decadência foi-se intensificando. Quando mais cresceu a rede mais ela se foi degradando. Muitas estações ficaram obsoletas, as escadas rolantes funcionam quando lhes apetece, os funcionários desapareceram dos átrios, as composições envelheceram. A linha verde tornou-se o símbolo da degradação de serviços: com metade das carruagens necessárias, parece uma carroça apinhada.

Os últimos dias tornaram-se anedóticos. O Ministério do Ambiente iniciou as hostilidades hilariantes prometendo duas estações novas apenas uma hora depois de afirmar que iriam ser quatro. Para mostrar que tem muitas ideias para Lisboa, Assunção Cristas surfou a onda e pediu 20 novas estações de metro. Porque não 40 ou 60? O direito ao dislate é constitucional, mas custa vê-lo exercido por uma líder que costuma ser regrada no menu de promessas. Até porque Cristas não pode esquecer que foi quando esteve no Governo que o metro de Lisboa passou a ter de circular em velocidade reduzida, com menos carruagens e denotando "falhas de operação" que exasperavam qualquer utilizador. Tudo em nome do dinheiro. Agora, como por magia, passamos da fome à fartura. Pelo meio, o metro continua a arrastar-se. Sem dinheiro para funcionar com o mínimo de decência.»

Fernando Sobral

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