3.6.10

Rosa Coutinho – o último


Para trás, tinham ficado os primeiros telefonemas da madrugada de 25, a rua desde o amanhecer, o Terreiro do Paço, o Largo do Carmo, o megafone de Francisco Sousa Tavares, os cravos nas espingardas, a inesquecível saída do tanque com Marcelo Caetano, as primeiras edições de jornais sem censura.

E depois? Serão de festejo e de alívio? Nem tanto assim: é fácil esquecer hoje a inquietação pela ignorância sobre o que se seguiria, as longas horas com os olhos colados aos televisores, a espera por um comunicado repetidamente adiado, o desconforto provocado pelo carácter genérico e ambíguo do mesmo, o ar sinistro do estúdio.



No dia seguinte, regressou-se à rua, à António Maria Cardoso, à saída dos presos em Caxias. Voltou a alegria.

Ontem, quando caiu a notícia da morte de Rosa Coutinho, só me ocorreu o seguinte: com o desaparecimento do último dos protagonistas daquela noite televisiva, virou-se uma página. Fechou-se a memória possível, fica apenas a história.

O resto? Elogios e acusações que estão a inundar a blogosfera e não só. Passam-me ao lado.
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