8.11.09

Este ano com dois dias de atraso


...mas é um ritual de que não prescindo: recordar o frente-a-frente entre Soares e Cunhal, em 6 de Novembro de 1975, a pouco mais de duas semanas do fim do PREC. O país parou para os ouvir, durante quase quatro horas.

Trinta e quatro ano depois: tudo diferente? «Olhem que não!» Vale a pena imaginar os dois primeiros minutos interpretados hoje por… José Sócrates e Jerónimo de Sousa. Eu sei que é um exercício quase impossível, por muitas e variadas razões, mas não custa tentar.

3 comments:

Eduardo Miguel Pereira disse...

Vou ter de discordar, porque o exercício nem é assim tão difícil.
Acho até que poderia ser, em alguns aspectos, muito parecido.
Eu explico, em 75 assistimos a um debate entre um político profissional, com jogo de cintura suficiente para ter atingido os mais altos cargos na hierarquia política nacional. Era, e é, um indíviduo que sempre que lhe convém, se esquece da ideologia, e atalha caminho rumo ao poder.
O outro, em 75, jamais se desvinculou da sua ideologia até ao final dos seus dias, manteve-se fiel ás suas convicções, mesmo tendo a consciência, que a sua enorme inteligência lhe conferia, que jamais chegaria ao poder. Mas o que o movia não era o poder, antes a crença absoluta e inabalável na sua ideologia.

Hoje, temos um Sócrates que só difere de Soares por ser ainda pior que este, em todos os aspectos. E um Jerónimo que, poderá não ter o carisma de Cunhal, mas que mantém a característica de fidelidade ideológica e intelectual.

Ou seja, seria um debate com alguns traços comuns. No fundo, o que pretendo dizer é que o PS continua a ser um partido que visa uníca e exclusivamente o poder, enquanto o PCP continua fiel às suas directrizes ideológicas.

E expresso esta minha opinião, totalmente à vontade, porque a mesma nem está afectada pela eventualidade de eu ser Comunista. Pois nunca o fui, e penso que dificilmente serei. Sou de esquerda sim, mas não necessáriamente comunista.

Joana Lopes disse...

Obrigada pelo seu comentário - importante e completo.
A questão do dificuldade do exercício era quase uma figura de estilo.

Claro que há semelhanças nas situações (de alianças ou não, à esquerda e / ou à direita) e foi por isso que referi os dois primeiros minutos.

Mais ou menos de acordo, também, quanto ao que diz sobre os dois líderes do PS. Quanto aos dos PCP, fia mais fino: a coerência nem sempre é virtude, porque arrasta também rigidez, falta de sentido crítico em relação a erros da História, etc., etc.

Eduardo Miguel Pereira disse...

"...falta de sentido crítico em relação a erros da História"

Como eu a entendo perfeitamente, e como eu lastimo que o próprio partido (todo o seu dito, aparelho partidário) não consiga alterar essa sua (nefasta) característica.
Fazia falta a Portugal um PCP que de facto ganhasse esse sentido crítico em relação aos erros da história.