«Na última semana, vários bancos portugueses divulgaram as suas contas e anunciaram lucros e aumentos das respetivas margens para níveis que podemos chamar, sem grande hesitação, “muito simpáticos”. Os valores anunciados falam por si: as cinco maiores instituições nacionais tiveram em conjunto, nos primeiros seis meses do ano, lucros de 2619,4 milhões de euros. Qualquer coisa como 14 milhões por dia…
Vivemos num sistema económico em que é quase impossível não querer retribuir os investimentos, ou seja, é benéfico para todos que os bancos sejam rentáveis. É um sinal de boa saúde da economia. Aliás, este mesmo debate aconteceu há seis meses, quando foram divulgadas as contas do ano anterior. E os argumentos são idênticos: de um lado, quem defende os lucros como sinal saudável e necessário para o futuro do setor e, do outro, quem aponta a imoralidade destes resultados num período em que as famílias enfrentam inflação, aumento das taxas de juros e do desemprego.
Na verdade, há algo desequilibrado quando colocamos todas estas parcelas nos pratos da balança. Sim, é verdade que não podemos desejar que os bancos tenham prejuízos e enfrentem dificuldades como muitos cidadãos. Já percebemos que eles são essenciais para a saúde financeira da sociedade em que vivemos. Mas não deixa de ser inaceitável que quando a situação está mais complicada para os cidadãos, alguém tire daí benefícios diretos.
Não se trata aqui de discutir teorias económicas e, em especial, quais delas trazem melhores resultados para os cidadãos. Trata-se de questionar, tão simplesmente, se não haverá uma forma de equilibrar tudo isto: a banca poder remunerar o seu capital, mas os cidadãos comuns não serem espremidos quando mais precisam de ajuda.
Ou, de forma quase humorística, trazer para a economia o velho conceito asiático que defende o equilíbrio. Uma espécie de yin e yang que nos permita algum apoio sem que isso signifique a destruição de nenhum setor da economia.»
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