5.8.15

A Grande Muralha da Europa



«A Europa deixou de ser o mundo do Iluminismo. Apagou as suas luzes. Com vergonha.

Quando o império Qin começou a construir a Grande Muralha da China não havia perigo nas suas fronteiras. E ela, anos mais tarde, não impediu que as hordas dos mongóis de Gengis Khan assolassem o império. Ou seja, sempre foi um mito poroso. A construção da Grande Muralha da Europa, que está em marcha, é um equívoco semelhante. Não impedirá que milhões de africanos, que fogem à guerra, à fome e à falta de futuro, tentem escalá-la. O seu paraíso é aqui e não serão cercas electrificadas, cães ou soldados que os afastarão. (...)

A prova de que o pânico é total é demonstrado pelas afirmações de David Cameron sobre as "pragas" e do Labour que diz ao primeiro-ministro britânico para pedir uma compensação a França. Patético. Se a crise grega já não o tivesse provado, tal como as aventuras bélicas de franceses e ingleses na Líbia e na Síria (que destruíram regimes que eram um tampão para a Europa), toda esta vergonhosa situação mostra a falência do projecto da União Europeia, hoje apenas amarrado por regras financeiras.

A Europa do Iluminismo apagou as luzes e esconde-se com vergonha. A Europa já não é uma fortaleza voadora nem uma fortaleza democrática. É um B52 sem destino. Não há uma política conjunta europeia para este problema. Há só um "salve-se quem puder!". A Europa abdicou de ser a Europa que desejaríamos.»

Fernando Sobral

1 comments:

septuagenário disse...

Há milhões de jovens nas capitais dos novos países africanos, vagueando pelas ruas, sem qualquer prespectiva de vida.

Não sabem regressar às raízes e não se conseguem libertar dessas mesmas raízes.

Mas não são vítimas apenas da colonização/descolonização europeia.

Mas vai ser a Europa a suportar com o maior fardo deste problema.

A ONU, URSS e USA e CHINA deviam assumir parte do fardo.

Portugal teve um papel muito crítico quanto ao desfecho da descolonização.