«É um abuso recorrer ao título do ensaio de José Gil e transpô-lo para um momento de paralisação que nada tem a ver com a sua reflexão sobre as prováveis causas do medo de arriscar e de enfrentar dos portugueses.
Mas há, no processo de transição que hoje iniciamos, um ambiente de alarme e uma sensação de anormalidade que nos confronta com decisões que têm tanto de existencial como de crise sanitária.
Muitos portugueses passaram o último mês e meio isolados. Se alguns estão ansiosos por mexer-se, outros receiam deixar a redoma protegida que criaram. Não há respostas seguras nem certezas. Mas também não há razões, nem sequer médicas, para considerar que pôr um pé na rua é uma fatalidade. A absoluta prevenção é perfeitamente compatível com a confiança. Confio na minha esteticista, nos cabeleireiros, na minha ótica e lojas de roupa. Confio nos outros e na nossa capacidade de nos protegermos solidariamente. Voltarei a viajar e a estar em hotéis assim que tiver condições para isso.
Parecendo uma banal frase feita, viver é de facto mais do que estar vivo. Não tenho a existência por garantida, nem ambiciono opções desprovidas de riscos. Continuo a preferir um mundo aberto e amplo, ainda que com imprevistos e incerteza acrescida, à visão de pessoas ensimesmadas e territórios cheios de fronteiras. Não podemos ficar de tal forma paralisados pelo medo que deixemos de viver.
Não é altura de ficarmos infinitamente a olhar para nós mesmos, nem a procurar culpados. O que nos faz mover, coletivamente, é a procura de soluções para os problemas. E por isso acredito que rapidamente teremos medidas para mudar um dos mais graves que persiste, no meio deste calendário para a reabertura: o isolamento dos mais velhos e a sensação de abandono de tantos que estão em lares. É a resposta mais urgente em que as autoridades da Saúde, o Governo e as instituições têm de trabalhar.»
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