O Dia do Estudante ainda existe e continua a ser celebrado a 24 de Março. Mixed feelings quanto ao que leio na imprensa e o que vou recebendo por mail.
Sentimentos negativos quando leio isto, sabendo o estado em que estão as universidades e a indiferença, pelo menos aparente, dos responsáveis das organizações estudantis:
Positivíssimos relativamente ao texto da carta que transcrevo no fim deste post, que convoca para uma manifestação organizada pela Delegação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Secundário e Básico. Não só, nem talvez principalmente, pela manifestação em si, mas pela correcção certeira dos objectivos e pela maturidade que revela. Fico optimista quanto ao que aí vem.
Um parêntesis. A carta vem assinada por Pedro Feijó, aluno do 12º ano do Liceu Camões, um caso muito especial de liderança. Na sessão solene presidida por Cavaco Silva, que marcou as festividades do centenário da escola, foi ele que falou em nome dos alunos.
«Dirigiu-se ao palanque que a presença de Cavaco Silva impunha, e começou por se dizer portador de uma escola de sonho. Falou de improviso. Comentou as medidas que, na sua análise, puseram em causa a escola democrática. Deu casos, explicou os efeitos das medidas ministeriais. Mas demarcou-se dos sindicatos, porque trouxe às centenas de camonianos, pessoas de muitas diferentes idades, uma proposta de comunhão, inspirada na cultura da sua escola (…), com a necessidade de criar projectos para dar vida a um espaço que o merece.» (Intervenção, na íntegra, aqui)
Assunto: 24 de Março, Dia do Estudante
Boa noite,
Venho por este meio informar que no próximo dia 24 de Março, Dia do Estudante, haverá uma manifestação em Lisboa que juntará estudantes dos distritos de Lisboa e Setúbal. Esta, organizada pela Delegação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Secundário e Básico, tem início marcado para as 10h na praça do Saldanha, devendo estar pronta para partir por volta das 11h00, e percorrerá a Av. da República até à Av. 5 de Outubro, onde se concentrará à frente do Ministério da Educação.
Já lá, alguns estudantes e Associações de Estudantes de várias escolas organizarão um protesto teatral simbolizando a falta de possibilidade de participação democrática nas escolas. Pretende também apelar aos alunos conscientes em todo o país que se organizem na luta pelos seus direitos. A ideia geral desta acção é montar uma sala da aula em frente ao Ministério, os seus pormenores só poderão ser conhecidos na altura.
As razões para estes protestos são várias, mas podem resumir-se ao combate aos ataques que têm sido feitos a um ensino que queremos que seja realmente público, gratuito e democrático:
O actual estatuto do aluno apresenta uma visão redutora e preconceituosa da juventude actual; o novo regime de gestão das escolas é retrógrado e anti-democrático, afastando os estudantes dos órgãos de gestão da escola e centrando o poder na figura do director; um pouco por todo Portugal há ataques à liberdade e à representatividade dos estudantes, desde atropelos às Associações de Estudantes a ofensivas ao direito de manifestação e reunião, perante os quais o Ministério nada faz, mesmo quando avisado; a privatização dos serviços escolares prejudica imenso os alunos, principalmente aqueles com menos condições económicas; é necessário um real investimento na Educação, nomeadamente na melhoria das condições humanas das escolas – a falta de funcionários atinge níveis preocupantes em várias escolas.
Foram, obviamente, enviadas cartas ao Ministério pedindo uma reunião dia 24 para discutir as questões supra referidas.
Agradecia se pudesse contar com a devida divulgação e difusão destes protestos e desta mensagem. Muitas vezes os estudantes têm aparecido a nível da comunicação social como sendo todos inconscientes relativamente aos problemas do ensino. Se por um lado é verdade que é frequente haver alunos assim nas manifestações, por outro, na generalidade dos casos, a maioria dos estudantes presentes sabe e sente estes problemas no dia a dia. É preciso mostrarmos a realidade destes problemas e a realidade das várias Associações de Estudantes que lutam conscientemente contra estes. Em alturas como esta, em que está em causa a possibilidade da melhoria (ou degradação) do ensino é necessário deixar de passar uma imagem preconceituosa e redutora do movimento estudantil, mostrando os activistas que, por obra do Ministério, não conseguem aumentar a democracia nas suas escolas. Pedimos que seja tido em conta que os alunos elegeram democraticamente representantes para falar por eles (a partir do Encontro Nacional de Associações de Estudantes que aconteceu no passado dia 20 de Fevereiro, e no qual participaram dezenas de AEs).
Obrigado pela atenção,
Esperamos que nos possamos encontrar no dia 24 ou até antes,
Pedro Feijó,
pela Associação de Estudantes da Escola Secundária de Camões
Co-representante distrital da Delegação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Secundário e Básico
PS: Gostaria de fazer notar que, pela primeira vez em vários anos, o movimento nacional de estudantes não defende a abolição de Exames Nacionais, embora considere necessário mudanças neste sistema de avaliação.
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