«Os célebres "Jogos sem Fronteiras", programa televisivo que teve muito sucesso em Portugal, nasceram alguns anos depois do Tratado de Roma. O criativo de serviço não estava habituado a pensar em formatos televisivos.
Chamava-se De Gaulle e era um general que, também por acaso, era Presidente de França. A sua ideia é que os divertidos jogos permitissem às juventudes alemãs e francesas reforçar a amizade. No fundo, era o lado fraterno da divisão política da futura Europa unida entre França e a Alemanha. A pouco e pouco, tal como a União Europeia, os "Jogos sem Fronteiras" alargaram-se a outros países até ao seu fim, pouco glorioso, em 1999. Os jogos bizarros acabaram por enfadar o público, farto de ver concorrentes a cair em piscinas. E as tentativas de os ressuscitar depararam com o problema europeu do costume: quem paga o delírio? A igualdade de circunstâncias entre os concorrentes alemães e franceses também se esfumou com o tempo: no fim, os alemães ganham sempre. Os "Jogos sem Fronteiras" dizem-nos muito sobre esta Europa burocrática que se celebra a si própria, com políticos que mais parecem estar a velar alguém em estado vegetativo do que a comemorar o futuro.
Não é para admirar: a "nomenklatura" europeia, sediada em Bruxelas e Frankfurt e tutelada por Berlim, procura apenas sobreviver. Para combater a crise financeira e as crescentes assimetrias tirou do bolso a austeridade militante, para resolver o problema da emigração decidiu pagar à Turquia para o fazer. Como se não bastasse, os líderes que decidem o que quer que seja estão ao nível do gongórico Dijsselbloem: são os melhores propagandistas do populismo latente. Porque se enganam os que acham que a extrema-direita holandesa foi derrotada: ela conseguiu a hegemonia cultural ao colocar os temas da emigração, da desigualdade e da identidade no centro do debate político. Os líderes europeus são praticantes deploráveis de uns "Jogos sem Fronteiras" que afectam a vida dos cidadãos. Tem tudo muito piada, mas já ninguém se diverte com isso.»
.
0 comments:
Enviar um comentário