3.11.10

Alô, mercados?!



O que ainda não percebi é se alguém acreditou realmente que aconteceria o contrário, conhecendo à partida os jogadores em campo e depois de tudo a que nós assistimos – e os olheiros dos mercados também – durante o edificante diálogo entre governo e PSD para o acordo eternizado na ridícula foto de telemóvel.

Mais: as transmissões em directo da AR são assassinas e o que foi ontem exibido deve ter sido mais prejudicial para o país do que umas décimas de prevaricação no deficit! Calor no debate, normal em arenas deste tipo? Não: comportamento puramente inaceitável de PS e PSD.

Isto tudo, obviamente, assumindo, erradamente, que a opção correcta é desenhar orçamentos em função dos mercados e não acreditar, como Paul Krugman, que o que estes pretendem é «dinheiro para cocaína e prostitutas».

(Acesso ao texto de PK via Ladrões de Bicicletas)
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3 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Os juros da dívida são formados por uma de duas formas: ou em conluio entre os potenciais credores, ou em concorrência.
Se são formados em conluio, isso constitui um crime em quase todos os países do mundo, e certamente nos países onde operam os nossos potenciais credores.
Se são formados em concorrência, são calculados em função da avaliação que cada potencial credor faz do risco da operação, ou seja, do risco de o devedor vir a não pagar a dívida, e o leilão permite seleccionar o credor de preço mais baixo.
O que o facto de os juros continuarem acima dos 6% apesar da aprovação garantida do OE nos diz é que os potenciais credores não consideram a aprovação do OE suficiente para nos passarem a ver como um devedor de risco baixo.
Os OE nunca devem ser desenhados para satisfazer os mercados, devem ser sempre desenhados para conciliar os objectivos estratégicos do país com uma situação financeira sustentadamente saudável. Os mercados vão atrás disso, e não dos esforços para os satisfazer.

Joana Lopes disse...

E, na tua opinião, este OE respeita isto que dizes? «Os OE nunca devem ser desenhados para satisfazer os mercados, devem ser sempre desenhados para conciliar os objectivos estratégicos do país com uma situação financeira sustentadamente saudável.»

Manuel Vilarinho Pires disse...

Se a pergunta é se este OE consegue "conciliar os objectivos estratégicos do país com uma situação financeira sustentadamente saudável", não te sei responder de ciência certa, porque não sou economista nem financeiro.
Mas qualquer OE com déficit conduz a uma degradação da nossa situação financeira, a um aumento da dívida e a um incremento da nossa dependência dos "mercados" e da avaliação que fazem da nossa capacidade de honrar compromissos.
E qualquer OE com excedente caminha no sentido oposto.
Mas a minha opinião não influencia nem o "rating" nem a percepção de risco que os "mercados" têm de Portugal. É a percepção deles que conta na formação dos preços do crédito, e não a nossa.

Se a pergunta é se o OE foi "desenhado para satisfazer os mercados", infelizmente estou convicto que foi, quer sejam os mercados, quer seja a UE, e não para devolver aos portugueses a liberdade que a situaçao de devedores compulsivos lhes confiscou. As tentativas de transformar o TGV em "fait accomplit" sugerem-me que foi.