30.4.09

Não, não estamos em 30 de Abril de 1973













Leio no Avante! de hoje:
«Em Portugal, a política de direita, que se instalou, golpe a golpe, após o 25 de Novembro de 1975 (...) veio destruindo todos os grandes avanços e conquistas democráticas iniciadas em 25 de Abril de 1974 e cerrando todas as portas que Abril abriu ao viver colectivo dos portugueses (O realce é meu.)
Portanto, para o autor do texto, estamos praticamente no 24 de Abril de 74 – é isso? Confundir tudo com tudo e usar este tipo de linguagem é fazer objectivamente o jogo da direita que apregoa «mordaças» a torto e a direito. É não ter qualquer sentido do passado, é usar mal e demagogicamente a história e a memória.
30 de Abril de 2009 tem pouco a ver com a mesma data em 1973. Nesse dia, estavam presas dezenas de pessoas (quase 100, se bem me lembro) que a PIDE tinha ido buscar a casa para que não preparassem manifestações (clandestinas). Quanto ao que se passou no 1º de Maio desse ano, passo a citar:
«Em Lisboa, numerosos trabalhadores se concentraram na Baixa a partir das 19:30, sendo brutalmente carregados pela PSP à bastonada, soco, pontapé, do que resultaram dezenas de feridos que tiveram de receber tratamento no hospital, sendo feitas várias prisões.» O resto pode ser lido no Avante! de Maio de 1973 - número clandestino, evidentemente.
Não sei se o autor do texto assistiu a isto. Eu estava no Rossio.

14 comments:

Jorge Conceição disse...

Na verdade para o PCP deveríamos ainda estar antes de 1974. E porque a repressão hoje já não é o que era, por conta e risco mandou instaurar um processo a três militantes seus, dirigentes do sindicato SITAVA, como poderá ser visto no Público in http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1377063&idCanal=23.

Eu fui sócio do Sitava até meados do ano passado, altura em que me reformei. Conheci pelo menos dois dos três dirigentes agora sujeitos a processo. São homens de convicções e de acção. Perfeitos sindicalistas. Têm vindo a desenvolver um trabalho sindical digno de referência, pelo que se candidataram a novo mandato integrando uma lista onde surgiam outros nomes que não eram militantes do PCP, como aliás tem acontecido ao longo dos anos, pois não tem sido fácil convencer mais gente em trabalhar em prol do comum dos trabalhadores, dando bastante mais tempo do seu tempo de descanso. Bem, uma vez a lista constituída e anunciada, o PCP decidiu apresentar uma outra só com militantes seus. Esta foi uma das poucas vezes em que concorreram duas listas. Ainda bem, dizemos. Só que a integridade dos outros sindicalistas e a sua estatura perante os associados os impediu de desistirem. Indo a votos, a primeira lista teve o "azar" de ganhar e com uma votação de 1,5 vezes da lista B, do PCP. Claro que os "culpados" foram os três sindicalistas que também eram militantes deste partido. Resultado: processo para cima, que é para aprenderem a não se meterem em democracias. Que esta coisa do 25 de Abril é já coisa do passado!

Assim se entende "resignadamente" o citado artigo do Avante.

Só uma nota mais sobre os sindicalistas processados: pelo menos um deles (ou mesmo dois) são homens que quizeram ou aceitaram continuar sindicalizados depois de reformados e, nessa situação, darem o seu tempo ao trabalho sindical...

Anónimo disse...

"Na verdade para o PCP deveríamos ainda estar antes de 1974". Com tão nojenta asserção do senhor Conceição, qualquer comentário a Joana Lopes perde actualidade e arrisca-se a contribuir para o lodaçal da palavra que por aqui vai. Onde no texto do Avante se diz que estamos praticamente no 24 de Abril de 1974? "Interpretação livre do costume"? Aprender a ler, aprender a ler, sempre.

O PEIXINHO VERMELHO

Joana Lopes disse...

«Peixinho Vermelho»
Acha que estão «cerradas todas as portas que Abril abriu»? Há que pesar as palavras antes de as utilizar!

Anónimo disse...

"Não estão cerradas todas as portas que Abril abriu, porque não as deixamos cerrar...mas enquanto alguns o tentam, outros divertem-se com as semânticas...
O Peixinho Vermelho

LUIS PARREIRA disse...

Felizmente que as pessoas têm memória para recordar que foi precisamente o PCP que tentou frchar as portas que ABRIL abriu, quem não se recorda de alguns acontecimentos com forte memória: o cerco da Assembleia da República e os deputados do P.C.P . a atirarem os ossos do jantar aos restantes membros; a manifestação da Alameda, de iniciativa do P.S. e em que os partidos democráticos participaram vindos de todo o País e em especial do Porto, vencendo as barreiras colocadas na auto-estrada pelas tropas do RALIS; a greve do Governo; o discurso do General Vasco Gonçalves em Almada; a entrevista do Dr. Álvaro Cunhal à jornalista Oriana Fallaci, em Maio de 1975... "jamais haverá democracia parlamentar"... "viverão bem pouco os que não chegarem a ver a implantação do socialismo (tipo soviético) em Portugal"...; pois foi...fica aqui o registo.

Joana Lopes disse...

Não, Luís Parreira, não vou por aí: o PCP teve o seu papel, a sua acção, mesmo no PREC, não pode ser reduzida à enumeração «negativa» de factos que faz. As coisas foram muito complexas, não podem ser reduzidas a preto e branco.

LUIS PARREIRA disse...

Joana naturalmente respeito a sua opinião, embora me pareçam lugares comubs, como reparou não fiz nenhum juizo de valor, limitei-me a ser factual, tentei ser claro, conciso e preciso, também entendo que essa época não pode ser avalada a preto e branco, mas não podemos nem devemos reescrever a história, os jovens têm que saber, que Álvaro Cunhal, foi um "cidadão" do Partido Comunista Internacional pondo em primeiro lugar os interesses da URSS, embora tentasse a todo o custo transmitir a ideia que o PCP era uma realidade patrioticamente portuguesa como, por exemplo, que sobrevivia à custa de donativos dos seus partidários nacionais e não de apoios financeiro de Moscovo. A queda do Muro de Berlim e da influência da URSS veio demonstrar o contrário com a grave crise financeira que tais factos desencadearam no PCP, já sei isto é a preto e branco, será?

Jorge Conceição disse...

Sr. Anónimo, que assina Peixinho Vermelho (vá-se lá saber porquê...), foi preciso um certo esforço de vontade para achar o meu comentário "nojenta asserção". Não tenho dúvidas, no entanto, em afirmar que por muito suja que seja a minha asserção, ela não estará no mesmo nível de sujidade que o acontecido a três sindicalistas dirigentes dum Sindicato criado em tempos APENAS devido à boa vontade, entrega e entusiasmo de vários trabalhadores das empresas da aviação e aeroportos. Destes recordo o falecido e generoso Luís Vilas-Boas, homem do jazz e dos projectos de convergência social. Recordo que foi demorado o processo do SITAVA se ter filiado na Intersindical, exactamente porque não desejava perder o seu estatuto de plataforma de encontro de todos os trabalhadores - com essa característica: TRABALHADORES - em favor dum menor estatuto de funcionários e burocratas partidários.

Cada qual escolhe o nível da sua porcaria!...

Anónimo disse...

Cada qual escolhe o nível da argumentação, digo eu. O senhor Conceição navega nas águas do pseudo confronto trabalhadores/sindicatos, procurando encontrar espaço para sindicatos "independentes". Veremos a evolução do SITAVA e os compromissos que assumirão no futuro. O senhor Parreira não passa de um reaccionário anticomunista, que aproveitou a "boleia".
O PEIXINHO VERMELHO

LUIS PARREIRA disse...

Caro PEIXINHO VERMELHO claro que sou um reaccionário, é da Fisica, a uma acção corresponde uma reacção, claro que sou anticomunista, a maioria da população portuguesa acompanha-me nesse pecado.
Por falar em pecados, faça como o camarada Jerónimo, visite o Bispo e converta-se, sabe-se lá ainda está a tempo, de deixar essas posições pacóvias.

Joana Lopes disse...

Peço aos vários comentadores que discutam conteúdos e evitem pequenos insultos pessoais que em nada ajudam...

JHS disse...

Joana Lopes
Compreendo a sua argumentação, mas acho exagerada a conclusão a que chega. O autor do texto não pretendia certamente dizer que estamos em 1973, nem desvalorizar as conquistas de Abril que ainda se mantêm. Uma interpretação literal do tecto poderia conduzir a essa interpretação, mas eu creio que é forçada. O autor quis chamar a atenção para uma série de regalias perdidas pelas classes trabalhadoras, certamente no campo social e económico, mais até do que no campo político. E sobre este aspecto essencial julgo que estamos todos de acordo.

Joana Lopes disse...

JHS, entendo o que diz mas repito o que disse mais acima: há que pesar as palavras, tiradas empolgantes não ajudam a perceber a realidade objectivamente.

Anónimo disse...

Joana Lopes
Lido tudo outra vez, estou de acordo consigo. Quem avalia a realidade de um ponto de vista histórico, como é o seu caso, tem o dever de apontar estes excessos.
Temos, todavia, de compreeender que quem carrega a espinhosa missão de intervir na realidade presente a favor dos que precisam não tem, às vezes por falta de preparação teórica, a noção suficiente das realidades históricas. Mas o seu trabalho é tão importante...
Obrigado por permitir que entrasse no seu blog, de que fico leitor atento.
Saudações democráticas e de amor à liberdade do
JHS