28.4.09

Do outro lado do mesmo mundo
















Durante a minha recente estadia no Cambodja, escrevi, a propósito de uma viagem de barco no lago Tonle Sap:
À beira de uma estrada e de um canal, e sobretudo num extensíssimo lago, muitos milhares de pessoas vivem numa situação absolutamente inimaginável. Em barracas sobre estacas ou flutuantes, acumulam-se famílias cheias de filhos e até de animais, sem quaisquer condições de higiene.
Deixo hoje aqui algumas fotos que estão longe de poder dar uma pálida ideia da realidade, talvez melhor apreendida através deste pequeno vídeo.



Vi pessoas beberem a água do lago e é com ela que se cozinha e que se toma banho. Não consegui fotografar, mas também vi, um pequeno curral flutuante com quatro porcos, amarrado à um dos lados de uma casa. Saltavam crianças mais ou menos esfarrapadas de tudo o que era buraco.
Devo dizer que estas imagens ficarão entre as piores que guardo das muitas viagens que já fiz, apenas suplantadas pelo horror que a recordação do Ganges, em Varanasi, me inspira ainda, já a alguns anos de distância. Nesse caso, horror aliado a um sentimento de revolta pelo carácter religioso do que se passa – não fosse eu já ateia quando lá estive e teria certamente vivido o meu último dia de respeito por religiosidades obscurantistas e maléficas. Do Cambodja, vim com a sensação de que a revolta nascerá naquele lago e de que os que sobreviverem acabarão um dia por ter uma vida normal e decente, humanos que são como nós.

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